quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Projecto para classificar a Senhora d´Ó, Santo Cristo e S. Martinho de Tours em Ansião

Urge acordar mentalidades no direito de cidadania na premente necessidade de classificar a panóplia de espólio religioso das igrejas e capelas do concelho de Ansião. Em atitude cultural, ao jus de convite, sugiro elevar o leitor a viajar em citações de Guilherme d' Oliveira Martins no dever a todos interiorizar – a que acrescento a Arte Sacra, na sua cabal importância, proteção e merecido estrelato, em parceria com a Autarquia, sua Igreja e Misericórdia.
É a compreensão do património cultural que nos permite assumir uma cidadania civilizada. As políticas públicas de cultura devem, assim, começar pelo cuidado da herança e da memória. Ter memória é, assim, respeitarmo-nos. Cuidar do que recebemos, é dar atenção, é não deixar este acervo ao abandono. E não se diga que o património é constituído pelos marcos de pedra ou pelos grandes monumentos da arquitectura - o património cultural é constituído por pedras mortas e por pedras vivas, por monumentos e tradições, o património imaterial, mas também pela natureza, pela paisagem e pela criação contemporânea, pelo valor acrescentado que adicionamos ao que recebemos das gerações que nos antecederam. Quando falamos de património cultural, pensamos falar de coisas do passado, perdidas num recôndito da memória colectiva. Puro engano! O património cultural é um tema do presente, apela a todos e projecta-se no futuro. Testemunha e expressa valores, crenças e saberes em contínua evolução e mudança. Longe das boas intenções que enchem o inferno, precisamos de cuidado e atenção para o que somos, de onde viemos e para onde vamos.
No que toca ao património religioso, como agir? Priorizá-lo na escolha de equipa com  perfil para levantar o cadastro de toda a Arte Sacra, parece ser o primeiro passo. Realizar o seu registo fotográfico e estudar o estado de conservação das obras que se encontram em mostra pública e em reservas em sacristias, dividida por espécie - pedra, roca, terracota e madeira. Importa ainda reconhecer a segurança dos locais e apostar na sua dinamização, fomentando a união e parceria  da  Câmara, Igreja e Misericórdia  eventualmente, com campanha de angariação de Mecenas para a recuperação do espólio mutilado no Politécnico de Tomar a expor em ala própria, no futuro Museu de Ansião! 
Evite-se o que o Padre Coutinho referenciou em 1980 quanto à Imagem da Nossa Senhora da Orada, hoje desaparecida, a empobrecer o concelho! 
Encontram-se classificadas as Imagens 
Imagem  de N. Sra. da Graça na Torre de Vale de Todos de João de Ruão e na Misericórdia de Ansião a N. Sra. do Pranto de Oficina do Porto.
Falta estudo e datação 
Imagem da Rainha Santa Isabel na MisericórdiaImagens de Roca da Padroeira da matriz de Ansião, N. Sra. da Conceição e de N. Sra. da Paz na Constantina, julga-se tenha sido espólio da primitiva igreja de Ansião. Confirmar a  imagem de N. Sra. da Guia, se não era a Imagem de NSGraça da Igreja da Aguda. 
A Misericórdia de Ansião devia dar conhecimento do paradeiro do Senhor dos Passos da capela da Misericórdia que desapareceu desta quando há poucos anos foi alterada para capela mortuária.

No Tombo de Anciaõ, Livro 56 do Cartório de Santa Cruz, num Auto de Reconhessimento que fez o Reuerendo Antonio Martinz Vigário da Igreja de Ansião  a 19 de Março de 1627, é feito o elenco das capelas (...)Na freguesia de Ansião as capelas do Escampado de Santa Marta, Casal de S. Brás, Espírito Santo e S. Silvestre na Sarzedela, S. Luís da Fonte Galega, Nossa Senhora da Paz da Constantina e Nossa Senhora dos Anjos na Ribeira do Açor. É interessante que tirando a da Constantina e a da Ribeira do Açor que era particular e já não existe, todas as outras guardam imagens do século XVI. Deste século é também a fundação das paróquias de São Tiago, Ateanha, Torre, Lagarteira e Cumeeira, entre outras. E todas têm imagens quinhentistas.
Na Matriz, a Imagem em pedra de S. Roque, Sto André em madeira, entre outras, a Imagem de N. Sra. da Graça do primitivo orago da Misericórdia quando se abateu o telhado na centúria de 700 foi transferida para a Matriz e saber se na Capela das Lagoas está o orago  N. Sra. da Boa Morte. 
Tomei conhecimento de N. Sra. d´Ó pelo meu compadre Fernando Moreira  - Irmão da Irmandade da Igreja. O Sr Padre Manuel Ventura Pinho  confidenciou-me que tinha pedido ao Sr. Bispo de Coimbra para a expor, debalde sem altar que a suporte...e, podia tirar foto para mim sem contudo a poder publicar pelas razões de segurança que se compreendem, preferi não tirar.
Sem  foto deixem-se os leitores guiar na excelsa escultura de pedra de fino e delicado detalhe na candura de fino e delicado rosto oval ao jus  ao da minha filha que herdou do pai, a reportar para genes do povo eslavo  da centúria de 300, quando a Imagem supostamente teria sido esculpida (?), vestes de mangas com fila de botões delicados e abas sobrepostas da saia com folhos, cingida por cinto de pedrarias e manto apertado ao peito por pregadeira quadrada, a mão de dedos aberta na carícia ao filho, no ventre. Pintada em policromia, os cabelos compridos caem em caracol, pouco pronunciados - uma chave que autentica obras de Mestre Pêro. Um tesouro medieval possivelmente com 700 anos  a juntar ao Calvário do Santo Cristo da Matriz, quinhentista e da Imagem de S. Martinho de Tours da Ateanha, a que se juntam outras peças quinhentistas; o Apóstolo São Tiago e N. Sra. da Graça em Santiago da Guarda, o S. Lourenço, Santa Marta, Nossa Senhora da Esperança, S Bartolomeu…E a Cruz de pedra do Vale Mosteiro,que assinalava o Esmoliadouro, referido na escritura da quinta ao Mosteiro em 1175 . Teria sido vendida para a capela do novo  cemitério de Santiago da Guarda.O que ainda não apurei. A que se juntarão outras  para o merecido estudo, por especialistas, na solicitude de algumas poderem vir a ser atribuídas a Mestre Pêro, Telo Garcia, João de Ruão ou Tomé o Velho.
Impressionada com a Imagem havia de partilhar o que senti numa conversa casual com o Renato Freire da Paz e ao falar do escultor Mestre Pêro, autor de algumas Imagens de Virgens e de Nossa Senhora d'Ó, além do túmulo da Rainha Santa Isabel que me diz « esta Imagem das senhoras gravidas teve inspiração na Isís no Egipto, inspiradas em cultos mais antigos, o que não invalida a evolução da humanidade na direção a Deus . Na igreja do castelo de Montemor o Velho também existe uma.»
Nossa Senhora Grávida, da Expectação,  do Ó ou da Hora 
Mayor Tesouro na Religiosidade de Ansião
Poucos conhecem!
Sem menção  no Livro Património Religioso do Concelho de Ansião publicado em 2008 pela Câmara de Ansião no mandato PSD dos autores António Jesus Simões, Joana Patrícia Dias e Manuel Augusto Dias
A capa do livro com a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte pelo autor referenciada erradamente como de S João...Na passagem dos invasores franceses em 1810  a incendiaram ,perdendo o interior todo o seu esplendor e riqueza .Em 1955 servia para guardar mato. Na década de 60 os netos de Fructuoso da Veiga, os manos; Chiquinho e Zézinho venderam o brasão, para Coimbra. Confrontando a foto de Gustavo Sequeira em  55 com esta foto constacto que desapareceu um óculo lobalado , o nicho, a Cruz e os sinos, na boca do povo estão na igreja da Redinha. O óculo desaparecido esteve na frontaria da capela de S João que se identifica na foto deste livro e na ultima requalificação com traço de arquitecto ter sido substituído por um redondo- atitude incorreta, deve-se preservar o antigo, em prol de ostentar o moderno.Nesta capela  da quinta das Lagoas já foram encontrados cinco registos de óbito aqui sepultados de donatários da Quinta das Lagoas. O brasão referenciado no Inventario de 1955 por Gustavo Sequeira era emoldurado entre motivos vegetalistas estilizados e o chapéu episcopal ornado com dois núcleos laterais de cordões e três ordens de borlas pendentes, segundo o Padre Coutinho, houve um Bispo na família. Na minha investigação em Lamego em 1547 era bispo D Manuel de Noronha, filho de Simão Gonçalves da Câmara, capitão da Ilha da Madeira e de D. Joana Valente – o brasão da Câmara de Lobos fecha o teto da capela da Casa dos Condes Castelo Melhor em Santiago da Guarda e na fachada esteve até 1955 o brasão dos Vasconcelos Ribeiros e Sousa do Prado. Pode ser este ou outro, houveram vários bispos na família.
Chama-se a esta carolice na descoberta do passado de Ansião - paixão  com investigação, o que parece não ter no mesmo índice e prior o autor!
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O livro reforça o que o Padre José Eduardo Reis Coutinho já tinha referenciado nesta temática no seu Livro de 1986 a que foi acrescentada  a simbologia de Alminhas , cariz fúnebre e outras, a vida dos Santos e o culto mariano - apresenta alguns erros e omissões, ainda assim pioneiro sem o ícone Maior do Património Religioso de Ansião na referencia à Imagem da Senhora d´O e de património religioso desaparecido!

Imagem de S Lourenço
Tão pouco nenhum dos autores referenciou a Imagem de S. Lourenço da capela do cemitério
Por mim dada a conhecer quando a encontrei em dia que a porta estava aberta, assim prostrada no chão...Pedi ajuda do Padre Manuel Ventura Pinho que se deslocou à capela onde a Imagem foi recolocada no altar e reconhecida como sendo de S. Lourenço. Imagem em pedra antiga a reportar para semelhança da Imagem de Santa Marta e de Santa Luzia nos Escampados - o livro de baptismos na centúria de 500 com  forte ligação de gente deste lugar (Vale Mosteiro) em apadrinhar crianças a merecer estudo e catalogação das Imagens.
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Despertei para a existência de outras Imagens de valia na leitura  da crónica de Severim Faria
(...) o povo da Constantina veio em procissão de noite à sacristia da matriz de onde levaram uma Imagem de uma Senhora . O orago Nossa Senhora da Paz foi  acrescentado à Imagem  pelo povo da Constantino, os mentores que a foram buscar de noite  para os ansos não se darem conta, pois eram muito chegados àquela Senhora - Imagem leve em roca escura e sem roupagem a evidenciar antiguidade, sem se saber a sua origem - se da primitiva Igreja sediada no palco do actual cemitério ou da ermida que foi a primeira da Misericórdia ou da actual matriz... a diferença das duas Imagens reside na Senhora actual chamada Nossa Senhora da Paz se mostrar maior que a Imagem da padroeira da matriz, e por isso invocar ter sido espolio da primitiva Igreja de Ansião. Lendo a Confraria de Nossa Senhora da Paz do Dr Manuel Dias correlaciono  o povo de Ansião não gostou desta atitude do roubo da Imagem, por isso não aparece a dar esmolas nem oliveiras para a Confraria, que o autor nada disse, apenas se limitou a transcrever os manuscritos.
A Imagem levada da sacristia da matriz não retrata a Nossa Senhora da Paz, pela falta do Menino nos braços com o Mundo na mão e a Senhora sem o  ramo de oliveira,  e sim uma Nossa Senhora simples , teriam ambas sido executadas na mesma oficina cuja arte do santeiro perdurou no tempo.

Nossa Senhora da Paz na Constantina
 Imagem atribuída a Nossa Senhora da Paz
Escultor Mestre Pêro do séc. XIV
A vida e obra deste escultor no Matriznet
«(...) Na história da escultura portuguesa, Mestre Pero, de provável origem aragonesa, tem sido distinguido como o escultor cuja produção se individualiza com personalidade artística própria, entre o segundo início e o fim do terceiro quartel do século XIV. Tal facto justifica-se sobretudo porque a sua oficina foi identificada documentalmente o que, por análise formal comparativa, permitiu outorgar-lhe outras obras distribuídas pela quase totalidade da geografia do território nacional, com a particularidade de ter esculpido quase todas elas em calcário oolítico extraído das pedreiras da região de AnçãConsidera-se que a primeira das suas obras tenha sido o túmulo de D. Isabel, princesa de Aragão e mulher de D. Dinis, executado para o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, plausivelmente em execução c. 1326 e já terminado em 1330. Apesar da presumível ligação ao conjunto de encomendas empreendidas sob a égide desta Rainha, só volta a surgir documentado anos mais tarde, em 1334, referido como o “mestre das imagens” do túmulo do Arcebispo de Braga D. Gonçalo Pereira (m. 1348), que executou em parceria com mestre Telo Garcia, este último identificado como morador em Lisboa, conservado na Capela da Glória da Sé de Braga. Ainda em 29 de Janeiro de 1337, o pagamento do Túmulo de D. Vataça Lascaris de Ventimiglia, dama da corte da rainha Isabel, na Sé Velha de Coimbra, volta a mencioná-lo como mestre. Por comparação estilística com a obra destes túmulos documentados e a associação ao túmulo da rainha Isabel (hoje na igreja de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra), a fortuna escultórica de Mestre Pero tem sido sucessivamente enriquecida, estando-lhe atribuídos sepulcros, como o de Domingas Sabanchais e Domingues Joanes (capela dos Ferreiros, Oliveira do Hospital), a arca tumular de Rui do Casal (São João de Alporão, Santarém), o túmulo de João Gordo conservado na Sé do Porto, uma hipotética participação na obra do Apostolado da Sé de Évora (Dias 2003), e um conjunto de imagens devocionais, que denotam afinidades nos modos de tratamento das figurações. 
Segundo Reynaldo dos Santos e Vergílio Correia uma série de esculturas femininas lavradas na primeira metade do século XIV podem relacionar-se com o léxico formal dos túmulos de Coimbra e de Braga (Correia 1940; Santos 1948). 
Uma Virgem com o Menino que se conserva no Museu Nacional de Arte Antiga - Inv. 984 Esc, proveniente da Colecção de Ernesto Vilhena (Carvalho 1999, p. 72) – foi identificada como a cabeça de série ou modelo deste grupo de imagens que representam Santas de várias invocações ou a Virgem Maria e aproximada do grupo da Anunciação (Arcanjo São Miguel e Virgem Maria) da igreja de Santa Maria da Alcáçova de Montemor-o-Velho. As figuras apresentam um ritmo corporal de atitude levemente sinuosa, rostos ovais emoldurados por madeixas de cabelos alisados caídos sobre os ombros - mas formando um caracol muito característico sobre a orelha -, queixos pequenos, triangulares e salientes, olhos amendoados delineados à face, mãos com dedos cilíndricos e alongados. Véus curtos, muitas vezes presos nas coroas, túnicas que envolvem os pés em pregas requebradas, drapeados de volume generoso a criarem sombras profundas nas partes inferiores dos vestidos, jóias lobuladas a ornamentarem os decotes largos ou a cingirem os mantos, cintos a reproduzirem com preciosismo o trabalho do couro, retratam roupagens que seguem a moda da época trecentista. Na composição escultórica regista-se o contraposto denunciado pela postura das pernas sob os requebros das vestes: em quase todas as imagens ora o joelho direito se anuncia flectido para deixar a perna esquerda em tensão, ora os pés se apresentam um mais avançado do que outro ao recortarem-se das bases. Nestes moldes enquadra-se não só o busto da Virgem (Inv. 3995 E22), proveniente de Montemor-o-Velho, mas também a escultura de uma Santa Mártir (Inv. 647 E19) do MNMC, a Virgem proveniente de Podentes, igualmente do MNMC (Inv. 4069 E24), como outra Virgem com o Menino do MNAA (Inv. 1087 Esc) ou as Virgens da Expectação do MNAA (Inv. 1990 Esc), do Museu de Lamego (Inv. 129 e Inv. 130) e a do MNMC (Inv. 645 E20), todas elas de maior escala do que a imagem-modelo feminina associada pelos historiadores directamente à mão do mestre. A proporção alongada comum a estas esculturas femininas seria paralela ao domínio técnico que o mestre estava habituado a aplicar nas dimensões naturais dos jacentes tumulares. Outras características formais de imagens esculpidas nos túmulos documentados, nomeadamente dalgumas personagens masculinas, como a do chapéu de copa alta e pala da arca de D. Gonçalo Pereira, repetem-se em esculturas de vulto exentas, como acontece no São Tiago do chapeirão, proveniente da Colecção do Comandante Ernesto Vilhena conservado no MNAA (Inv. 992 Esc), ou a tão característica modelação dos cabelos masculinos em dois cachos enrolados compridos dispostos paralelamente ao rosto presente, por exemplo, no São Tiago do MNMC (Inv. 644 E 17). A origem e a formação de Mestre Pero; os motivos da sua vinda para Portugal; a ligação aos círculos de encomenda da corte dionisina e isabelina; a estrutura e organização da sua oficina; a permanente opção pelo calcário brando de Ançã que tem feito com que o seu nome surja à cabeça de uma "escola" de escultura trecentista em Coimbra dominando sobre outros centros de produção nacionais, assim como a distinção entre o que foi o seu trabalho de imaginário e o dos oficiais seus colaboradores, mantêm-se historiograficamente como questões em debate.»

Na pagina Facebook das suas Memórias o Padre Manuel Ventura Pinho 
«Negavam os albigenses a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo e, em consequência, todas as outras verdades da Fé, com especial ênfase na Sagrada Eucaristia.Para suster a expansão dessa doutrina deletéria esforçaram-se os monges cistercienses e, sobretudo, o grande São Domingos de Gusmão, que criou a chamada Ordem do Pregadores para ensinar ao povo a verdadeira doutrina e afastá-lo daquelas heresias. E o nosso Santo António, embora pertencendo à Ordem fundada por S. Francisco – os Mendicantes - para ajudar os pobres, foi encarregado do mesmo trabalho: ajudar as pessoas a compreenderem que tudo foi criado por um único Ser, o Deus amoroso de Jesus Cristo. Procurou-se também fomentar a devoção a Nossa Senhora grávida, ou seja, à tradicional Senhora do Ó. Penso que as muitas igrejas e capelas consagradas à Senhora do Ó, ou onde ainda existe essa imagem da Senhora grávida terão origem nesse movimento de contrariar essas doutrinas maléficas de achar que o corpo - e sobretudo o sexo - é obra do Diabo.É o caso da Capela da Senhora do Ó de Câneve na Cumeeira, a Senhora da Orada de Santiago da Guarda e mesmo a igreja de Ansião onde ainda existe a imagem da Senhora do Ó que foi de uma capela particular. 
Interroga o Padre Manuel Ventura Pinho os seus leitores
Porque é que as imagens da capela da Senhora da Orada de Santiago da Guarda ou da Senhora do Ó de Câneve da freguesia da Cumeeira não são de uma senhora grávida mas de uma senhora com o filho nos braços? E a  resposta é que decerto as primitivas Imagens dessas capelas - que são muito antigas - seriam mesmo de senhoras grávidas mas uma outra heresia - o jansenismo - fez com que fossem retiradas do culto. Umas desapareceram mesmo outras foram modificadas ou vestidas com roupas largas e até - conta o Padre José Eduardo Coutinho que fez parte do inventário artístico da Diocese de Coimbra - houve imagens grávidas que foram modificadas para não apresentarem o ventre dilatado, pois a gravidez era considerada demasiado sagrada para ser mostrada. Há ainda quem se recorde que os  leigos não podiam sequer mexer no cálix ou nos panos que o tinham limpado, pois, achava essa heresia que isso era demasiado sagrado para ser tocado pelos leigos. E diziam mais: as pessoas deviam confessar-se muitas vezes mas comungar poucas. O sexo era tão sagrado que nem se devia falar nele. Nem os pais deviam falar no sexo aos filhos!...Coisas de uma heresia, aparentemente oposta à dos cátaros ou dos albigenses, que dominou muitas mentes e que eu ainda encontrei bem viva em várias pessoas ao longo da minha vida sacerdotal. Este erro foi pouco combatido pela igreja e por isso durou vários séculos. Ainda haverá muita gente que acha que isso é que era o certo e ainda hoje deveria ser ensinado pela igreja. Mas, como diz o povo, no meio é que está a virtude.»

Não conheço a capela de Câneve em Penela 
Conheço a que foi a igreja da Orada na Granja em Santiago da Guarda referenciada nas Memórias Paroquiais Setecentistas «(...) A dinamização da colonização do território de Façalamim pelos cónegos regrantes de Santo Agostinho na sua granja deu origem a casais em 1141 e, mais tarde, a lugares e aldeias, gerando a necessidade de se edificar uma ermida ou uma capela e, posteriormente no século seguinte é fundada em 1259 uma pequena igreja ( hoje capela da Orada) que nesse tempo se chamava "Senhora da Hora de Façalami.." e foi matriz de Santiago da Guarda até ao século XIX»  «A 30 de abril de 1758, pelo cura da Freguesia de Nossa Senhora da Orada, Padre João Mendes Baptista, para orago da sua igreja:« Orago he de Nossa Senhora da Expectação (do Nascimento de Cristo) o que também se diz Senhora do Ó e vulgarmente se diz Senhora da Orada». Ainda hoje quando falo a gente da Senhora do Ó dificilmente alguém a identifica no estado de gravidez, na alusão do "O" fechado a simbolizar o ventre. O que quer dizer que a incultura ainda é muito grande neste século XXI. A Imagem de Nossa Senhora da Hora na Igreja da Orada encontra-se desaparecida há poucos anos, depois da década de 80, segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho.

Imagem da Virgem com o Menino em Maças de Caminho
Vulgo Maçanicas, Alvaiázere
Dada a conhecer no Inventário Artístico de 1955 por Gustavo Sequeira
A merecer estudo, uma variante da Senhora d'O como era a Imagem da capela da Orada em Santiago da Guarda e parece ser a de Caneve. No enquadramento na região de esculturas antigas e valiosas.


Ansião
A Igreja de Ansião detêm inestimável património religioso por classificar
Capela do Santo Cristo
Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes Serra «(...) Depois desta segue-se a Capela em que está um Santo Cristo, feita de abóbada sem algum ornato, e tem mais as Imagens da Senhora do Ó e S. Roque feitas em pedra bem esculpidas e a de Santo André feita em pau necessitam de ser incarnadas; esta Capela é particular; é seu administrador atual Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha; todas as Imagens nela colocadas lhe pertencem exceto o Santo Cristo que dizem é da Igreja; tem uma toalha, dois frontais de ostentação já muito usados, umas cortinas em damasco encarnado em bom uso, e não tem mais ornamentos alguns; já ficou prevista que o administrador mandasse fazer um retábulo quando lhe o noticiei respondeu que quando os Padres Cruzios fizeram também a tribuna que na mesma se lhe mandava, que então faria ele o retábulo.»
Capela particular, com um lagar e fazendas para a sua manutenção e celebração de 14 Missas anuais
Se em 1769 o padre diz que o administrador desta capela é Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha reporta para a família que viveu na Quinta de Sarzedas, hoje Sarzeda, a sul da vila de Ansião com lagar que hoje ainda existe em ruína. Nesta quinta de Sarzedas nasceu em 1738 a nobre Mariana Josefa Pimentel de Almeida da Silva e Sequeira Ponce de Leão de Mendanha , filha de Gaspar Godinho de Nisa e Reis Capitão Mor de Ansião e de Josefa Silva e Sequeira Ponce Leão e Mendanha. Casou com Suplício José Pimentel de Almeida nascido em Montemor-o-Velho.
Imagem da Senhora d'Ó 
Ansião
Nossa Senhora do Ó, Hora, Virgem do Ó, Nossa Senhora da Expectação e Virgem da Esperança 
São algumas designações atribuídas à Virgem da Expectação, invocação mariana da Virgem Maria grávida, que vigorou com plena aceitação na produção nacional, repercutindo-se o protótipo medieval até aos tempos presentes.
Uma das três iconografias marianas mais representadas durante os séculos XIV e XV. 
Impressionante o Dr. Manuel Dias, não a ter descoberto. Foi o Sr. Padre Manuel Ventura que a pretendeu expor na igreja, mas o Sr. Bispo e Coimbra, disse-lhe que não tinha altar que a suporte - era fácil, mandar fazer um pedestal em pedra.
Ao mundo a dei a conhecer embora na altura sem foto e agora sem amostragem na sua totalidade, ainda assim é digna de ser vista.
Autodidata, sem titulo académico, muito menos estudei História e Arte, ainda assim imbuída em atrevimento para dizer que se trata de uma obra importante da escola coimbrã, a ser mote e desafio a quem sempre esteve adormecido a esta riqueza escondida e ainda alencar outras imagens mutiladas, em reservas em sacristias !
Dizer ainda  que a herdade de Nossa Senhora da Esperança, mais tarde quinta das Sarzedas, esteve sob domínio do Mosteiro do Lorvão,  e se perceber a brutal analogia das Imagens.
Nas Memorias Paroquiais retira- se no excerto do Padre Luís Cardoso em 1763  (...) He Lorvão o nome desta terra cuja freguezia tem outros varios cazais e povoacois.  O orago da mesma freguezia he a Senhora da Esperanca cuja Paróquia é Nossa Senhora da Expectação.

Imagem da Senhora d'Ó  obra da escola coimbrã?
O Mestre Pêro viveu na centúria de 300 e a atual igreja de Ansião data de 1593. Falta estudo à Imagem da Senhora d'O, ao Calvário  do Santo Cristo e S. Martinho de Tours da capela da Ateanha, entre outras de pedra espalhadas por igrejas e capelas do concelho, que jamais foram alvo de cuidada atenção para a sua classificação por  técnicos da especialidade, historiadores de arte .
Será que temos alguma obra do Mestre Pêro, Mestre Telo Garcia ou Tomé o Velho ? Porque temos na Tore de Vale de Todos, uma imagem de João de Ruão. 
Uma característica na escultura de Mestre Pêro são os cabelos das virgens a cair em caracol. A  Imagem de Nossa Senhora d'Ó de Ansião, na segunda vez, analisei os cabelos, e são pouco pronunciados a cair em caracol. Portanto, reporta para um discípulo do Mestre, que pode ter sido João de Ruão, sendo obra mais ardia, pintada em policromia em tons vermelhos. Um tesouro escondido merece vir à ribalta para ser classificada.
Calvário de pedra do Santo Cristo na matriz de Ansião 
Rico tesouro em policromia aventa ter pertencido à igreja primitiva que foi sita no actual cemitério,  cujo autor seja o mesmo escultor da Imagem da Senhora d'Ó em reservas  na igreja de Ansião (?), e antes ninguém assim alvitrou! .
Nas Memórias paroquiais - A capela particular pedindo permissão para a decorar com  o Calvário, se comprometendo em mandar fazer um retábulo, que nunca o mandou fazer pelo despique que teve com os padres crúzios na obrigação destes fazerem a tribuna, que nunca a fizeram. As Imagens desta capela particular  eram da família do donatário,  a Senhora d´O se deva à devoção que existia em  Montemor o Velho na igreja do castelo na ligação familiar .Os seus donatários nobres com influência no poder com cargo  em Ansião, com costado familiar à família "Niza, Feio e Godinho".
No ano passado distingui as esfinges de patrícios romanos; soldado e mulher no rodapé da moldura do Calvário, jamais antes referido...
                               
Comparar o Cavaleiro medieval de Mestre Pero
na semelhança com a escultura do bispo S Martinho de Tours na capela da Ateanha...
Bispo S. Martinho de Tours da capela de Ateanha
Foto possível retirada do Inventário Artístico de Portugal de 1955 de Gustavo Sequeira
Onde se guarda uma Imagem do Século XIII ou século XIV que figurou na Exposição de Arte Sacra em Leiria efetuada em 1950 conserva restos de policromia primitiva. Aparentemente sem ninguém a lhe deferir valor...O Padre Coutinho lendo o Inventário transcreve esta mensagem e também nada aflora sobre o seu alto valor e a necessidade de vir a ser estudada. Pois eu acredito que tem muito valor, o povo tem de conhecer o seu património para saber exigir, além da segurança é preciso esta Imagem vir a ser classificada por especialista em Historia e Arte e claro o local certo para ela e outras que avancei no artigo de Opinião no Jornal Serras de Ansião deste mês, virem a ser espólio em ala de arte sacra no futuro Museu que tarda abrir em Ansião!
Obras atribuídas ao Mestre Pêro
Igreja da Matriz de Oliveira do Hospital Capela Ferreiros 
A Imagem de Ansião na pintura é semelhante a esta
A Virgem de Podentes do Mestre Pero
Podentes, pertenceu à Ordem do Templo. Desconhece-se a origem da sua igreja.
A sua rica preciosidade uma Imagem da Virgem atribuída ao Mestre Pero foi transferida para o Museu Machado de Castro em Coimbra, sem saber em que data e a razão, ficando assim mais pobre uma terra que foi no passado com muita história.
Igreja do Castelo de Montemor o Velho
Virgem do Mestre Pêro na Igreja de Santa Maria da Alcáçova do castelo
Museu Nacional Machado de Castro
Virgem do Séc. XIV do Mestre Pero
Exemplar, proveniente da Sé Velha, é uma das mais conseguidas realizações do seu grande divulgador: Mestre Pêro. Das suas mãos saíram algumas das melhores imagens que se conhecem deste período. São esculturas devocionais, de vulto, quase sempre em calcário policromado, apresentando características devoção a Nossa Senhora é um dos fenómenos religiosos mais significativos do período gótico. A figuração mais original deste período é a Virgem em pé, expectante, popularmente designada como Virgem do Ó. Representa um tipo iconográfico de grande aceitação na Península Ibérica.
Museu de Lamego
Virgem da Expectação, 1330-1340, proveniente do Mosteiro de São João de Tarouca 
Criada pelo trabalho escultórico de Mestre Pêro, a Virgem do Ó foi o grande modelo da invocação mariana da Expectação, no âmbito da imaginária, possuindo o Museu de Lamego dois exemplares.
«(...) O núcleo de imaginária medieval do museu seria complementado por uma segunda imagem da Virgem da Expectação que, apesar de alterada por posteriores repintes, possui as caraterísticas das anteriores. De origem incerta, a sua presença em Lamego, deve estar relacionada com a nomeação de D. Frei Salvado Martins para a catedral lamecense, onde governou entre 1331-1349. Frade franciscano, de quem se refere a singular devoção à Virgem , foi, igualmente, uma figura preponderante na corte de Isabel de Aragão, a quem coube, enquanto seu confessor, redigir o testamento e assistir na morte a rainha (1336), sendo possivelmente de sua autoria a primeira biografia de Dona Isabel, escrita pouco tempo depois do seu desaparecimento. Como é sabido, foi justamente com o intuito de executar o túmulo da que viria a ser Santa Isabel (c. 1330, ainda em vida da rainha), que mestre Pêro veio para Coimbra .

Museu Regional de Lamego
Nossa Senhora d'Ó do altar do  antigo Hospital da Misericórdia de Lamego  
Mestre Pêro
Anjo Atlante, no Museu Nacional de Machado de Castro
Igreja da Aguda
Na Igreja da Aguda no concelho de Figueiró dos Vinhos encontrei o que resta da sua antiguidade a reportar para terem sido na mesma altura ou não, em que a primitiva Imagem do orago em pedra foi partida possivelmente pelos invasores franceses e se perdeu?
Bela escultura acima do lintel da porta de entrada
                                                      Baixo relevo de Cristo na Cruz 
Pasmei quando contemplei esta escultura de inegável valor, as imagens laterais são absolutamente ímpares pela postura das mãos- grande escultor, de onde seria a cantaria? E era em policromia que o tempo e o sol poente no tempo apagou...
A passar despercebido e não devia...
O arco da capela baptismal com caras de anjo com asas pintado em policromia
Sacristia, com o  antigo sacrário emoldurado em baixo relevo
Capela do Pereiro, Pousaflores, Ansião
Cara de anjo com asas em cor crua
Pia batismal na matriz de Ansião

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Clamar a urgente necessidade de um Projeto de classificação, em Ansião, com parceria da Câmara Municipal e da Igreja matriz no pedido à Direção Geral do Património Cultural no que esta crónica pretende vir a credenciar a Imagem da Senhora do Ó da Igreja de Ansião, o seu Calvário e a Imagem do Bispo S. Martinho de Tours na Capela da Ateanha, e outras eventualmente venham a ser catalogadas. Interesse mayor em colocar ANSIÃO NAS ROTAS TURÍSTICAS atualmente a se quedarem por Santiago da Guarda, quando se deviam estender à vila de Ansião, para admirar a Igreja da Misericórdia com uma sepultura brasonada do Padre João Crisógono Figueiredo Perdigão Vilas-Boas Amaral.

Porque é Hora, outro nome que foi dado à Senhora do Ó, de mais se fazer pela Cultura em Ansião
O meu Grito de alerta  com esta partilha na esperança que o PS venha a pôr Ansião no mapa da Cultura!

 A partilha da crónica desplantou curiosidade no meu amigo Engº Rui Manuel Mesquita Mendes como Researcher  no Instituto de História da Arte ao indicar-me a especialista do Mestre Pêro - Dra Carla Varela Fernandes, que trouxe a Ansião, mas, apesar da escultura ser bela não será do Mestre Pêro pelos cabelos, ao ter sido  ignorada no Inventário Artístico de 1955 de Gustavo Sequeira, sorte ou não, pese embora se mantenha em reservas, sem estrelato merecido! 
Faz-se hora! 
Venham clamar a mais se fazer pela Arte Sacra do concelho de Ansião, no dever e obrigação de a valorizar para a vir dar a conhecer aos Ansianenses e ao Mundo, no júbilo ao nosso passado onde afinal, em glória dizer, nem tudo se perdeu, vendeu, roubou ou desapareceu!
Mais uma crónica  a partilhar cultura em âmbito do  património religioso !

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