sexta-feira, 1 de maio de 2020

O ritual de celebrar as Maias em Ansião!

O primeiro de Maio desde sempre muito respeitado pelos cristãos, foi  durante anos considerado Dia Santo de Guarda. Depois do 25 de abril é feriado, a celebrar o  Dia do Trabalhador. 
O ritual das Maias acontece no primeiro de Maio, com Cruzes feitas de flores campestres  espetadas nas sementeiras e outras colocadas  nas portas dos currais. No meu tempo eram deixadas de véspera, a 30 de abril, para a grande celebração se iniciar ao amanhecer do primeiro de Maio. A caminho da  Missa distinguia as flores, as maias, dispostas em forma de Cruz, na tramela dos currais e nos terrenos arados, ao Ribeiro da Vide, grandes  Cruzes feitas com flores ali senhoras e rainhas em campo semeado, sem ainda germinar . Também  havia a simbologia da Maia - um espantalho, nada mais que um boneco ou boneca feito de palha de centeio vestido com roupas velhas, para afugentar os pássaros e melros das sementeiras , porque da moléstia do pulgão, não havia remédio senão voltar a semear... Havia quem fazia as Cruzes com parte do Ramo benzido em Domingo de Ramos, a que juntavam outras flores;  Madresilva, lírios e jarros para abençoar as boas colheitas do  milho e do feijão. O ritual encontra-se aos dias d'hoje desvirtuado com a Cruz a ser colocada em Dia de Páscoa à porta de casa - sem as Maias - a flor tradicional do ritual, por florescer mais tarde. Em sua substituição usam outras flores em amarelo, porque a cor tem de ser mantida. Em pleno séc. XXI, a evolução normal no ritual ainda assim imbuído no mesmo espírito.

Fotos retiradas do goole
As flores não são maias, e sim giestas
A minha escolha de dois exemplares da pagina facebook de amigos de Ansião 
Dra Teresa Fernandes 
A Cruz com jarros , hera , trepadeira branca e alecrim e oliveira 
Isilda Simões de Ansião
Cruz  de jarros e um estrelícia engalanada de fita de seda, mote para pintor fazer uma tela!
A minha Cruz
Vivo a maior parte do tempo num andar. Por isso a  minha Cruz tem um significado especial, é perene, feita pelo meu marido em  madeira com o Cristo uma vida guardado num  envelope na gaveta de uma mesinha de cabeceira da sua avó Rosa da Mouta Redonda. Depois de limpo o  engalanei  à moda do Minho. Faz parte de um dos meus três  oratórios.
Não me recordo de ver danças nem cantares neste primeiro dia de Maio. Todas estas demonstrações do ritual abarcam um único objectivo - celebrar "As Maias" na boca dos mais antigos afastava o diabo encapuçado de mau olhado, quem traz a desgraça, a doença e a fraca colheita para encher o celeiro  e se suprirem no inverno, então  personificado com alcunhas "O Carrapato", "O Maio", "O Burro" . O burro associado às castanhas «Quem não come castanhas no 1º de Maio, monta-o o burro». A região de Ansião foi inicialmente povoada por celtas, nórdicos, moçárabes vindos da Galiza, Minho e Trás os Montes,  trouxeram a  tradição da castanha  para a  Lousã que se estendeu à serra de Nexebra, Pousaflores e em Ansião, recordo um enorme castanheiro, no Pinhal, na beira da que foi a estrada real. Nos meados do século XX uma moléstia dizimou os castanheiras da Nexebra , mas em Pousaflores perdurou o topónimo  Chousa , nome transmontano dado a  buracas feitas  junto aos pés dos castanheiros onde se guardavam as castanhas tapadas com folhas para durarem até ao dia das Maias, onde eram finalmente comidas. Ritual ancestral celta ainda vivo num misto cristão e pagão. Segundo a tradição, Maio é o mês dos burros ...Para afastar a moléstia aos animais, então a sua  maior riqueza, os leitões e os bois, para os livrar da esfoira e outras doenças obra do diabo... Nada mais que resulto da incultura e do atraso no País, tanto ontem como hoje o mesmo dilema de bactérias, vírus , viroses e várias gripes que atacam o homem e animais .Sem nada saberem continuavam a dar ênfase à tradição ancestral  herdada dos seus antepassados no intuito de afastar os malefícios do diabo, no seu julgar ingénuo, o ritual na pretensa em proteger as suas maiores riquezas- os animais e as sementeiras, para os livrar de um ano de fome. 
O primeiro de Maio celebrizado por deus Maius , ou o deus da Primavera e ainda de Maia, mãe de Mercúrio com reminiscências da herança romana das celebrações em honra de Flora, a deusa das flores e da juventude (mãe da Primavera), no novo ano agrícola na Roma antiga, atingiam o ponto alto nos três primeiros dias de Maio. Por isso no dia 3 de maio era celebrado o dia de Vera Cruz , da descoberta do Brasil. Também o dia das Maias era lembrado a fuga de Jesus para o Egipto."Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino Jesus, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de maias floridas nas portas, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto."
A mística do ritual profano e pagão  foi proibida várias vezes em Lisboa no ano de 1402, por Carta Régia de 14 de Agosto, onde se determinava aos Juízes e à Câmara "que impusessem as maiores penalidades a quem cantasse Maias ou Janeiras e outras coisas contra a lei de Deus...". 

O ritual  das Maias de raiz profana/pagã, da herança romana e celta , ainda vivo em muitas partes de Portugal, onde Ansião não é excepção. 

Em 2019 a Santa Casa da Misericórdia de Ansião revitalizou o ritual das Maias
Presenteou o público com magníficos exemplares -  fantásticos e desafiadores carregados de muita imaginação e criatividade.A exposição esteve patente no Jardim  da Vide, a rivalizar a falta de estátuas em Ansião e que bem,  naquele contexto histórico de antigo baldio e feira quinzenal do gado  ganhou novo espaço requalificado,  pese não ter sido idealizado ao jus de La fabrique de jardin- com pedras antigas no seu embelezamento ( por onde andarão os despojos de demolições de pedras antigas, do portal gótico do Vale Mosteiro e dos arcos de volta perfeita, apenas sei  do estaleiro das pedras do hospital...)
A Santa Casa da Misericórdia de Ansião  fez-se representar  no stand das Festas do Povo em agosto do ano passado, em instantes o stock dos  delicados e graciosos souvenir de íman com os mini espantalhos, foram vendidos. Na passagem da comitiva do cerimonial da abertura das festas, sem porta moedas, não cabia na pochete, voltaria  após o jantar, debalde só  restavam  parcas peças e a simpatia e franco acolhimento das suas anfitriãs ...por isso nem fotos tenho!
Brutal sucesso desta iniciativa em artes plásticas de elevada estética e confecção, ninguém fazia melhor tanta obra de arte, a merecer louvor, só possível pelo muito querer que a equipa teimou colocar em topo e, ainda armada de espírito comunitário  empenhada em sistema empowerment  a dar mote a  levantar uma tradição, quase perdida em Ansião, só por isso, tanto deve orgulhar novos e mais velhos,  agora renascida das cinzas qual Fénix em  ribalta, para não mais se perder, ao apelo do que foi o  nosso passado. Iniciativa de âmbito cultural de extraordinária importância ao avivar os valores herdados, em vias de  extinção, pelo progresso e globalização,  na pretensa os evocar, ao se afirmar no contínuo Compromisso a SCM de Ansião, valorizou um ritual e o enriqueceu com mãos de utentes, os que quiseram ajudar, se sentindo úteis a recordar outros tempos e suas emoções. Grande lição a retirar desta Provedoria a dar passos largos ao progresso e inovação  liderada pela Dra Teresa Fernandes, sua coadjuvante, a minha irmã Mena, directora e demais staf da direção e colaboradores, equipa imbuída neste desafio com tanta dedicação no seio da comunidade da Instituição concretizando um projecto de sucesso, afinal veio a granjear tamanha  admiração a todos.
Em  Ansião, empresa  inédita a dar palmarés à CULTURA  em se afirmar quer no concelho quer se mostrar ao Mundo onde chega pelas novas tecnologias e imprensa.
Resta-me formular PARABÉNS a todos os que contribuíram para concretizar tão grande e gratificante objectivo onde imperou sapiência ao envolver a equipa para  se distinguir  em excelência o alto resultado, além de coesa, organizada, motivada e feliz com produção de excelsa qualidade, sem quaisquer conflitos, aos dias d'hoje raro, para invocar a capacidade de licença  de craveira e  excelência, a premiar!
Slogan da SCM de Ansião
 "Não contes os dias, faz com que cada dia conte!"
Os maios
A simbologia da flor do girassol a rivalizar na cor as maias em agosto...
O site da Santa Casa da Misericórdia tem muitas fotos das suas obras de arte
Tarde de expressão plástica na Santa Casa da Misericórdia de Ansião

Os girassóis no quintal da minha mãe

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