Crónica que destaquei excerto para publicação no Jornal Serras de Ansião
A missão autárquica de Ansião aposta numa empresa para apresentar um estudo ao tema em epígrafe. Estive presente na reunião no Centro de Negócios no Camporês. Sonante - insurge-se o Turismo do Centro, na intenta a primar o centro interior do país. Nesse pressuposto, parto em dissertação verve, avivando vetores, a realce, ao quase desconhecido, pese a transição climática de seca poder condicionar os recursos endógenos como o alerta de guerra.
Ansião está na moda e recomenda-se à justíssima aspiração turística. De mãos dadas à sabedoria e conhecimento do povo, ganho na universidade da vida - temos terra rica em natureza natural e, gente rica em tradições, sabores gastronómicos, doçaria e etnografia ao reavivar - a exemplo a tradição dos Lenços dos Namorados em cor monocromática. Herança dos povoadores do Minho que perdurou até ao século XX, em Pousaflores e Ansião. Assistimos, cada vez mais, a iniciativas que visam atingir público de todas as idades que valorizam caminhadas e trailers. O turismo natureza - a ciência viva em âmbito do património natural - alia-se a um estilo de vida saudável, ecológico e sustentável. Na gíria do povo “ a nossa cara” pinta-se cársica de terra rossa, vestida a costados cravados de pedra, a salpico de outras afeiçoadas pela erosão, ornada a vegetação raquítica e crespa mediterrânica, com alas de floresta variada – Ansião, insurge-se como território a descobrir! Ao desafiar o visitante em mil horizontes, de vários quadrantes, pela infinita e magnifica paisagem de contrastes de incomum multiplicidade, a debruo por todo o lado de muros de pedra seca, exala convite a monitorizar a interpretação ambiental, com respeito à matriz rural da nossa história e da riqueza arqueológica, a par da modernidade. E, ao apelo da conservação do meio com aposta em novos pontos para piqueniques; com mobiliário de pedra e sombreiro em canas ao possibilitar a entrega de merenda com produtos endógenos: pão, queijo, chouriça, leitão, mel, nozes, tremoços, vinho e doces.
A cativar empresários nacionais e estrangeiros para investir num Hotel Boutique com SPA, quiçá, na quinta das Lagoas - seria top, como a reinventar riquezas perdidas; da vinha, com marca de vinho patenteada . E do ganho do passado com as varas de suínos ao ar livre engordados com bolota, a nova aposta na indústria de enchidos, com morcelas de sabor a cominhos. Hoteleiros a valorizar os nossos sabores típicos à laia do Ciclo do Pão. Ao inovar pólos atrativos desativados; abrigo dos Caçadores na Ameixieira e, a Quinta das Lagoas em bem servir leitão que é herança romana - pitéu, na casa do meu avô José Lucas Afonso, na Mouta Redonda em Pousaflores, nos anos 20 do séc. XX. Na Mó, em Chão de Couce, a sua cunhada Maria, quando pressentia a moléstia a rondar os leitões, logo os trazia para a irmã os assar, suprindo assim com a divisão, um mal menor familiar. Em dias festivos a tradição do cabrito assado com grelos. O comer à moda da terra ou sopa de carnes, herança levada pelos "ratinhos" para a apanha da azeitona no Ribatejo, que bem eternizaram na sopa da pedra… Os cominhos, herança árabe nas morcelas e nas couves do cozido. Os aferventados de couve ou de nabo, com feijão-frade, em sopas de broa. O meu pai com a broa do aferventado noutro prato a esmigalhava com ovos cozidos e regava com azeite - as migas, que continuo a fazer. No dia de aferventado feito na panela maior para sobrar para a janta - nada mais que um requentado. A minha avó materna Maria da Luz, dizia fertungado - termo que continua na família, feito no tacho de barro em azeite a fervilhar alhos e louro. A cacholada com o fígado entalado na brasa, a galinha estufada com couves - na tradição pobre da perdiz à moda de Coimbra, a ceia do "pessoal ao dia fora" caldeirada de bacalhau com batata e arroz e, as sopas - a tranca da barriga com a rainha couve-galega, no caldo verde ou sopa de espigos, e a famosa sopa à lavrador com feijão. As azeitonas retalhadas, os tremoços, as nozes e as castanhas. Com renovada oferta gourmet e sushi no Ensaio. Na doçaria, o bolo de noiva, pasteis de pinhão, lesmas, pão-de-ló, merendeiras dos Santos, filhoses de farinha e veloses de abóbora e claro o arroz doce. A doçaria do Nabão, a recriar o doce de colher – Formigos, com sobras de bolo de noiva ou pão-de-ló, passas e nozes, as cavacas, farófias e, jesuítas, a jus dos jesuítas da Granja ou, dos frades do mosteiro de Santo Tirso que foi o dono por duas vezes da quinta de Cima em Chão de Couce, minúsculos com a variante de pinhão.
Imortalizar o miradouro do Senhor do Bonfim, na parceria com os donatários, para eventos e comemoração do feriado municipal no Dia da Espiga, seria de apostar. Ao criar um passadiço da capela pelo correr da escarpa à gruta do Calais, dando segurança ao trilho, acrescida da oferta de escalada, apreciar o vale do Nabão, a ponte Galiz, açude, poldras e os munhos, nos Moinhos João da Serra. Sugeriria outro passadiço da Serra de Ucha ao Vale Garcia, regado a cheiro de aromáticas e flores silvestres, biodiversidade abrigada pela muralha do chamado castelo da Serra do Mouro. Em Pousaflores, Chão de Couce e Avelar existe afloramento de lajedo vermelho, pedra broesa e xisto, a salpico de castanheiro secular.
A excelência à água em terra cársica ao dar nova vida aos Olhos d’Água como à Ribeira da Rapoula, ao apostar em praia fluvial no Pego - açude de pedras alinhadas pela mão do homem, do tempo que a herdade foi do Mosteiro de Toro, Zamora. Valorizar acessibilidades como o caminho a sul até à nascente da ribeira nas Lapas, com painel identificativo à casa do pai do ilustre Dr. Bissaya Barreto na Rapoula, à sombra da capela de S. Roque. Como desassorear as lagoas cársicas, serpenteadas outrora pela perdida riqueza das matas de grã, resta a toponímia – Gramatinha e Graminhal, hoje vestida de carvalho cerquinho, a alvitre de novos pontos de água e de lazer ; o Rio do Pessegueiro entre o Brejo e Entre Águas. E, o Rio Jardim, que nasce numa mina entre o Martim Vaqueiro e o Outeiro, de 300 metros com represa onde se lavou roupa com rega por levada concertada em horário. Como o Rio da Sarzedela e a Fonte da Bica, a alvitrar requalificação para ponto de lazer. Em rota de azenhas e, levadas, encontra-se preservada a azenha do Pessegueiro. A do Ribeirinho bela, a merecer atenção como as que existem nos Moinhos João da Serra, e quiçá outras em iminente ruína; Constantina, Ribeira do Açor, Moinho das Moutas, Além da Ponte, Pereiro, Pensal, Mouta Redonda de Baixo, Alvorge e na margem do Nabão, a sul ao limite do concelho. Julgo desaparecidas os moinhos de água no Avelar. Já os lagares, ainda se encontram muitos em bom estado, no entanto desativados. Tem sido aposta a modernização, sendo hoje uma grande riqueza na região.
Aos amantes da romanização, trago o desafio de conhecer habitats catalogados e de cruzar trilhos das via principal vinda de Conímbriga de onde derivaram secundarias a sulcar Ansião , com troços catalogados na Togeira e Vale de Boi. Porém sem sinalética nem manutenção, julgam-se perdidos... com a grande ajuda do testemunho do olival milenar na Lagarteira aos Verdes, Casal Soeiro, entre outros pontos. A cisterna do Carvalhal e, dos poços de chafurdo ou fontes de mergulho. Perspectiva em recuperar o poço do Carril e o do Carvalhal, a ser seguida de outros no futuro ; Junqueira, Granja, Minchinho, Sobral, Ameixieira e outros a catalogar no Alvorge, Chão de Couce, Pedra do Ouro, Fonte Galega, Freixo, Alqueidão, Fonte da Costa, Escampado de Calados, Vale Mosteiro e,...Com as fontes a saciar sede ao viajante, na rota de Santiago de Compostela, Carmelitas e Fátima.
Aos amantes da pedra, a oferta da arte na cantaria em Igrejas, Capelas e grades em varandins; Lagarteira, Lagoas e vila. Destaco a tradicional casa judaica de balcão e do “V” invertido a sustentar o lintel da porta, enquanto herança árabe, bem como a dupla simbologia maçónica e cristã, no Cruzeiro ao Cimo da Rua em Ansião e, na estela da Capela da Venda do Negro. Estatuária moderna na Serra da Portela, a salpico de belas cúpulas de pinheiro manso, herança trazida do Mediterrâneo, em rota de moinhos de vento de madeira, em rasto de tomilho, a glorificar o denominado, queijo Rabaçal!
Relembrar o passado buliçoso das quintas como pontos de interesse: Torre da Ladeia, Quinta da Mouta de Bela, o lagar da Quinta de Serzedas, a Quinta das Lagoas, Quinta da Bica, a Quinta de Cima, entre outras – bem como das lendas: da Princesa Flor em Pousaflores, da Rainha Santa Isabel e do Milagre da Fonte Santa. O palco da Residência jesuíta no Alvorge que se transferiu para a Granja com a Vintena, ao apostar num paço, Seminário e casas para serviçais. Com a expulsão dos jesuítas passou para o bispado de Coimbra, que teve também um Seminário no Curcial de S. Bento. O Santuário da Constantina e a sua Confraria a NSPaz, criada pela mãos de judeus que instauraram o conceito da Banca. A romaria da Senhora da Guia no Avelar e, a sua indústria têxtil. A vila do Alvorge sempre vistosa. O certame da tricentenária Feira dos Pinhões, a arte sacra dispersa e mutilada sem Museu Municipal para ser exposta , como valorar o culto das Maias e outros de origem celta, mezinhas, infusões e crendices – rótulos a trazer nova vida à nossa velha história. Não menos ousado seria lançar um festival de Verão no planalto de Aljazede – a eco da lenda da batalha de Ourique. Em deleite, panoramas a fluir emoções ao identificar vestígios romanos, escalar a muralha natural da Atenha, poetar ou pintar a descomunal vegetação nua crua, porém, bela, vestida a cascalho, guardiã em milhões de anos de fósseis marinhos. Fascínio em paragens idílicas ao pôr-do-sol: Alvorge, Ameixieira ou Portela, a tons quentes ao digno vermelho África, a fugir de mansinho pelo Vale da Vide … Cada um sentirá o seu encanto e fascínio - os que contam aos amigos e, os que guardam no seu intimo as vivências que querem preservar.
Curiosidades e sentido de aventura irão imperar e motivar a decisão de conhecer ou voltar a Ansião, pela mais-valia da marca conceituada - Territórios de Pedra com a nossa marca – Ansião Coração de Sicó, estimando auspicioso e sublime sucesso na hora do “Adeus” a este concelho na partilha exponencial aos amigos nas redes sociais e no célebre boca-a-boca.
Fecho a crónica com resumo a publicar no Jornal Serras de Ansião em Março de 2022, em deleite ao pôr do sol da Ameixieira, em sonho mítico em inverno, porém primavera, com ribanceiras vestidas a madressilva quase a florir em chão vestido a orquídeas selvagens de costados divididos por muros de pedra a lembrar rástias, inundada a sol intenso em cores fortes imitando a voz de Pedro Abrunhosa!
Ilumina-me...
Ilumina-os Senhor, neste querer !
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