sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sobras de tesouros em solar transmontano

A opulência da ruína ainda exala beleza... decadência ...
Inusitado o almoço só podia ser Bacalhau à Conde! 
Sobras de tesoiros de casa abastada  na voz de  um amigo. Perdido o fausto dos solares de outrora onde condes, duques, barões e viscondes foram gente fidalga, até ao dia o último tostão, se perdeu a continuidade em revalidar títulos…Ao percorrer o nosso país de norte a sul sempre me instigou o abandono de solares e casas apalaçadas por tudo o que é canto ao Deus dará semeado!
Resignados à penúria da ruína a pior sina para uma maioria deles. As causas foram diversas. Flagrante a falta da continuidade na fonte de rendimentos na agricultura, floresta, indústrias, sobretudo, por não terem ensinado aos descendentes a quem chamavam " meninos " que o dinheiro não cai do céu, deve ser gasto com peso e medida, sendo preciso sapiência no comando dos negócios de família, sobretudo jamais descuidar de supervisionar o património no dever da sua vigilância constante. Sabendo-se que uma maioria foi descuidada, o viria a perder para arrendatários, por via de pagamentos de rendas sempre adiantadas, além de outros confiscados por dívidas ao Estado, no gáudio egoísta, a esbanjar fortunas "sem rey nem roque até caírem pelintras "...
Problemático a partilha da herança. Muitas vezes a melhor das hipóteses, a única solução que se mostra facilitada é a venda, por falta de dinheiro dos herdeiros para comprar as sortes dos outros, por quezílias, e outros interesses. Melhor sorte, tem tido outros solares e palacetes com os mesmos problemas -, sem medo se tem aventurado em pedir subsídios ao Feder, e outros organismos estatais, para a sua preservação e manutenção. Na teimosia de os transformar em espaços lúdicos de turismo de habitação, classe histórico -, na preservação de não perderem o fausto, ao abrir portas à fonte de rendimento, também despertar a curiosidade ao visitante, que em delírio uma vez chegado, adora sentir pedras com passado, e recheios de esplendor nestes ambientes de elixir, sendo um mundo de descobertas, que os transporta em viagens com estórias, e contos de Reis, príncipes e fidalguia em pleno século XXI. A mais-valia ? Ganhos para os proprietários, que resolvem a continuidade do património na família, e na sua manutenção, que se revela de gastos muito dispendiosa .
Depreendo a angústia de gente de linhagem sobre o triste fim do solar que foi pertença dos seus antepassados por não ter havido ninguém com visão de os preservar, e neste agora se mostram na paisagem em ruína quase total, outros a caminho, um desalento!
Ricas bibliotecas desde sempre vendidas, o mesmo de mobiliário trazido nas naus das Índias, Europa e África com arcas carregadas de porcelanas, baixelas de prata, arte sacra, carpetes, quadros e roupas de linho bordadas a oiro, prata e cravo, em passamanaria...
Desde sempre neste País os antiquários sobreviveram ao bater de porta em porta-, claro está sempre em portas ricas, ou de pobres(?) pelo desvio de bens a ricos, no objetivo de encontrarem bons objetos, angariados com sabedoria, a baixo custo...Havia um nos arrabaldes de Lisboa que corria o norte de comboio, vinha carregado de relógios, pratas, arte sacra, faiança, assim nesta vida de olheiro farejador uma vida inteira!
Na decadência uma vez perdida a opulência apenas resta o anel, único símbolo da riqueza perdida e memórias, para quem as tem!
Trabalhei com colegas descendentes de viscondes que ostentavam o anel, já de outros se ouvia falar que gostavam de saber que deles se falava, terem "sangue azul...
Lembro o deslumbre na hora do almoço a mirar montras de ourivesarias há 30 anos nos artigos em 2ª mão - anéis em oiro brasonados e sinetes. Até me passou na ideia um dia comprar um em ouro reluzente, apreçado por 100 contos, na deixa de me querer perder com as Armas dos Valentes...
Debalde julgo nem há!
Acredito ainda existam descendentes desligados das suas origens, de nada ou pouco quererem saber de pais ainda vivos que no tempo se foram comprometendo de esquecer a sua história, recheada de estórias de família na fatal perda da sua identidade, que deveria ser sagrada, sendo que perdidos supostamente sempre estiveram -, na decisão do afatamento, para viver nas grandes cidades onde formaram novas famílias, modernas,na continuidade o privilégio real do trato por você, jamais se questiona o passado, que geralmente é ignorado pelos elementos mais novos, vivência de aparências de vidas de fachada, com total pavor das raízes, sem denotar valor pelos familiares, nem pelo espólio de família herdado de herança em herança, guardado vidas, em sótãos e armazéns, pese o seu valor emocional e monetário. Para pensar!
Antiquários as gentes que desde sempre se tem governado com riquezas perdidas em lugares recônditos. Já os colecionadores conhecem os canais de escoamento e leilões.
A continuada lapidação de recheios valiosos de solares e afins, traduz-se no imediato, na falta de liquidez dos donos, geralmente em idade avançada, solitários resistentes sem o fausto de antanho, nem serviçais, sendo criados de si mesmos muitos deles. Alguns de aspeto se assemelham a mendigos, sendo gente ainda rica,mal vestida de cabelos e de roupa, desplanta afastamento dos filhos por vergonha desta família (?) desprezível muito conservadora. Mas a culpa não morre solteira -, progenitores votados ao abandono pelo mau feitio, arrogância e petulância, esquecem que o amor para se receber também tem de ser dar, outros ao tempo tendo sido castradores, recebem no resulto o contínuo abandono pelo Natal, Páscoa ou aniversário. Raras as vezes, ou até nunca, na caixa do correio onde só caiem despesas há chegada de notícias, ou telefonema que peca por tardio com desculpas -, invocando a falta de tempo, muito ocupados com afazeres, não podendo se deslocar para os visitar porque a casa não reúne condições, por serem imensamente grandes, se tornam frias, sem conforto, mausoléus de opulência ofuscada, uma mixórdia! 
Perdido o luxo no tempo de riqueza é frequente ver-se nestes solares pelo chão bacias "ratinho" a ser usadas para comedouro de couves com sêmea para galinhas, e outras para os cães, ou a servir de vaso da caleira a suster águas do beirado, o mesmo de pratas com utilidades estranhas e outros objetos.
Vida triste longe de tudo e de todos, ainda assim alguns amparados por alguém que vive a seu lado ou perto, que vai por companhia e sobrevive das suas migalhas . Neste estar, só lhes resta a espera da morte anunciada. Sendo legítimos donos, se desfazem do seu património, a seu belo prazer, para se suprir, e quiçá no desejo de pouco ou nada deixar a herdeiros -, na vingança de uma vida votados ao desleixo pela lacuna enorme da falta de carinho e de atenção. A maioria consegue, já outros, os filhos de olho gordo em tempo fazem chegar à justiça certidão dando o pais como imputável...
Neste fim de vida de rico maldita, se torna bendita para uns, e fel para outros !
O desleixo, o desamor, a ambição, desde sempre forte desejo de deserdar descendentes e destitui-los do poleiro de cabeça de casal.
A propósito há dias estive a almoçar num arraial junto a mim uma família de três gerações. A idosa mostrava-se visivelmente arreliada pela demora do almoço, mal chega o copo alto de vinho, o saboreia em delícia no vaivém da língua nos beiços. A filha de pêlo na venta, falava alto, mostrava-se zangada com a vida, me pareceu revoltada a precisar de tratamento, impulsiva e rebelde, já a neta coitada aguentava as pontas...
Comeram, na hora de pagar a conta a idosa puxa pela carteira, aproveita para dar uma gorjeta à neta, que mal a recebeu se levanta e sai do recinto, situação que indispõe a progenitora aflorando no confronto em tom de raiva a mãe -, você devia era dar-me dinheiro a mim e não a ela, eu é que preciso, não tem nenhuma pena de mim...
Responde a idosa de silhueta pequenina, marreca de coluna, ainda assim de cara engraçada e firme de ideias " porque haveria eu de ter pena de ti se moras na minha casa ?"...
Até espuma lhe saia das bentas...
Sabes onde guardei o tesouro? Claro que sim, não podia ser de outra forma!
Só notícias boas que quis partilhar contigo minha amiga. 
Bem hajas tu meu bom amigo pela confiança, pelo prestígio, pela dedicação, pelo carinho que desde sempre me dedicaste, sobretudo, gostares de me ver feliz, a viajar nas coisas, que eu gosto!
Clímax no auge da manhã fresca, a falar de tesoiros de casa abastada em decadência!Lisonjeio por ter sido mais uma vez agraciada com o louvor da partilha deliciosa de um bom amigo de peito ...
Na segunda-feira fui ao encontro de um rico, pobre velho, que vive num solar apalaçado, numa aldeia perdida no costado de serranias, pedras e campos em planura, debruada a arbustos da paisagem "Bocage", a lembrar arrabaldes minhotos na raia espanhola da Galiza com lameiros serpenteados por riachos e gado bovino a pastar, de cajado na mão a linda pastora loira, de belos cabelos ao vento, olhos lânguidos verdes a lembrar lago de nenúfares -, a pensar na linda Inês de Castro, ou na bela Ribeirinha, a amante favorita de D.Sancho I...
Sozinho naquele lugar no meio de tudo e de nenhures, ainda assim perdido!
Levava na ideia perguntar se tinha para vender loiças antigas , rendas, linhos, livros, e ainda me lembrei de perguntar sobre chapas de vidro dos finais de 1800 na voga ao tempo no registo da fotografia.
Encontrei-o ao meio da manhã em casa acompanhado.
Informa-me que em tempos já vendeu loiças e os Santos, sobre as chapas de vidro, tem umas poucas, porque outras, as levou há uma "catrefada" de anos para o Porto, para uma casa forrada a belos azulejos em relevo da Fábrica de Santo António do Vale da Piedade, e de beirado em faiança azul e branco -, o fausto que todo o senhor rico gostava noutros tempos de ostentar na cidade do Douro a contemplar a Ribeira …
Ouvi-o atentamente a falar na porta entreaberta, perdi-me por segundos a sonhar em percorrer a casa, a subir e descer degraus, sei que apressado olhei tudo, nada retive, ou quase nada, ou antes vi demais, com isso nem durmo…
Ali senti que tinha que te falar ...Como terias adorado conhecer! 
Vou-te confidenciar é uma casa de rico. Descendência de gente letrada, instruída no seio da medicina, igreja, justiça, ensino, e outras artes!
Pobre homem de idade avançada, no caricato neste agora sem ofício de qualquer arte (?) vive dos rendimentos, sem descendência direta, aparentemente se revela pensativo ao que venho... Astuto mas sem delongas, filtra a minha postura de homem de bem, e mandou-me entrar. Fecha a porta, e dá-me ordem de o seguir no seu passo vagaroso na frente dos guias-, os cães. De passada curta e olhos pregados no chão a desviar de "cagalhões para não sujar sapatos"...Senhor, se revela sem jamais abordar a imundice!
Subimos escadas que outrora foram cobertas a carpetes persas, neste agora cobertas de porcaria de cão de todos os tamanhos, cores e maturação!
Passei por uma capela despida de imagens santas e lajes encardidas "conspurcadas de merda por todos os cantos" e paredes desmaiadas de laivos marmoreados, onde distingui o sítio da pia da água benta, de onde sem pejo foi arrancada, imagem de arrepiar pelo constrangimento… 
Abriu-se uma sacada grande cheia de sol que trazia no vento o cheiro nauseabundo das fezes ao léu -, poiso eleito para os cães de rico andarem à vontade no seu reino a "ajavardar" de rabo no ar sendo donos do espaço há anos a estercar boas madeiras!
O sótão que me pareceu ser falso, por ser aparte da casa. Mal abriu a porta fiquei arregalado de olhos espantado, aflito em conter a respiração, por segundos senti-me a viajar perdido nesta aventura real por entre lixos, caca e quilos de poeira, numa multiplicidade de teias de aranha pendidas como se fossem rendas copiosas suspensas das telhas na descida abrupta mostrando-se presas de pontas nas tachas das arcas, que logo as imaginei abarrotar de tesoiros, como se fosse um filme nos tempo dos piratas, embora naquele estar de mãos vazias sem mapa, senti estar no seio do esconderijo!
Tanto mobiliário solto de baús cobertos a couros, cadeiras altas, malas e centenas de livros antigos por todo o lado perdidas pelo chão em palco favorito de ratazanas, alguns mordidos, outros salvos pela bicheza que lhes comeu a traça nos anos aqui estacionados pelo ambiente arejado, e ainda loiças partidas com "gatos" no motivo casario e, …
No teu bom dizer senti um orgasmo intelectual!
A extinção das Ordens Religiosas em 1834 pelo António Augusto de Aguiar que ficou conhecido por "Mata frades" dizia o diploma "sendo declarados extintos todos os Conventos, Mosteiros, Colégios, Hospícios, e quaisquer outras casas das Ordens Religiosas regulares, sendo os seus bens secularizados e incorporados à Fazenda Nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos que seriam entregues aos ordinários das dioceses ". 
Assim depreende-se que na linhagem haver antepassados nobres no ensino, medicina e sacerdócio -, a grande possibilidade da proveniência de mais de dois mil livros do século XVII/I e ainda outros mais antigos, foi a compra da biblioteca de um convento ou mosteiro que encerrou portas, já as alfaias eclesiásticas adquirida em herança por familiar sacerdote.
Fiquei perplexo a imaginar coisas, disse-lhe que lhe comprava o espólio...
Ofereci uma quantia. Descemos e foi falar com a familiar que viria a acrescentar mais dinheiro à minha proposta...
Aceitei apesar de ter ficado na penúria neste negócio legal de papel assinado, o certo!
O que transparece nesta descoberta digna de espólio de Museu -, que alguém com dois dedos de testa se saiba mexer para angariar fundos e a adquirir para que fique neste País. No pior é sentir que todos os dias estrangeiros se deslocam ao Algarve, holandeses e ingleses, para comprar antiguidades que levam para os seus países, e claro em Lisboa, e no Porto, e até nos sites da especialidade internacionais para quem domine o inglês.Sabes que mais ainda não estou em mim...Olha para mim igualzinha a ti...
Mereces esta sorte inusitada, por seres um homem especial, com uma Família de excelência, pela mulher extraordinária, e filhos maravilhosos, nesta vida de esforço e trabalho, tens vindo a mostrar-te um nato visionário, de obra grandiosa feita, que só engrandece as gentes que contigo convivem, acredito que tanta LUZ te seja endereçada e velada pelos teus queridos pais ... E que luz imensa te alumia, meu Deus!
Mas cuidado nem tudo o que luz é oiro. Acalma e reflete. Os livros mesmo antigos sobre religião ninguém os quer, o que quer dizer tem pouca valia, apesar da antiguidade.Os paramentos apesar dos oiros e pratas bordadas no mesmo, só mesmo Museus e pagam mal. As revistas e jornais esses vendem-se bem, porque tem qualidade. 
Supostamente os oiros, faianças, porcelanas, pratas, linhos, e pedras trabalhadas já partiram há muito...Ficou o resto que ninguém praticamente quer, ainda assim tem a valia que tem e deve continuar em Museus da especialidade.PARABÉNS A TODOS DE CORAÇÃO ! 
Aleatoriamente ao calhas, a opulência da ruína ainda exala beleza, apesar da decadência nestas fotos retiradas da net ... 
Casa do Professor ou Quinta do Parreira – Oliveira de Azeméis 
http://palavraeamusica.blogspot.pt/2014/03/dez-lugares-espectaculares-ao-abandono.html


 http://umbigopudico.pt/2013/10/17/palacios-ao-abandono/

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Isto é saber viver Almada!

Segundo uma publicação hoje lida no face  "a elevada exposição pessoal dos usuários da rede social com a publicação de fotos, deve-se ao nível de carência sexual. Segundo o estudo as fotografias denominadas selfies seriam um grito de socorro de pessoas oprimidas pelo abandono." 
Pois será, não será? O que sei adoro as selfis. Quanto às carências quem as não tem, mesmo acompanhado, ainda assim, se sente só?
Agora oprimidas por abandono-, só se sente abandonado(a) quem quer, eu jamais me senti, ou sinto em abandono, antes pelo contrário, não tenho tempo para me dar como gostaria, a quem merece a minha atenção, merecida -, amigos angariados depois dos 50 anos, alguns começaram por ser virtuais, outros da vida profissional, e conterrâneos

Ainda ontem um partilhou comigo um segredo que os filhos ainda nem sabem ...

Hoje casualmente outro que ainda não conheço pessoalmente...

“Gosto da ingenuidade com que olha o mundo... As coisas simples, os momentos fugazes, os lugares do quotidiano, os dias de Sol em que não acontece nada de especial são uma boa parte da nossa vida que frequentemente deixamos escapar por estarmos demasiado ocupados a pensar nos problemas que estão lá longe…”

-Depois do belo almoço que fiz e degustei, (arroz de pato com chouriça, salada de alface com cebola, pêssegos carecas e bolachas de limão (aproveitei o forno).
Melhor alerta de ler, impossível. Pois sempre soube desde que o conheço que é de inteleto grandioso, cultura enciclopédica e observador nato, a descrição da minha pessoa que me dedicou é assim mesmo como me sinto, só que a ingenuidade tão intrínseca em mim, já me lixou nesta vida...Em contrapartida deu-me bons amigos, gente de valia como o PM que estimo muito. Bem-haja pelo carinho.

“Lisonjeia-me demais e creio que os seus elogios sejam algo exagerados mas sei que o faz movida pela bondade que, já percebi, a caracteriza! Um dia gostaria de a conhecer pessoalmente embora sinta que já a conheça há séculos!  Acredito que a ingenuidade pela qual foi tantas vezes "lixada" já a fez mais feliz do que aqueles que a lixaram!!!”

- Meu caro amigo tinha um extenso comentário, debalde foi-se ao sair da página inadvertidamente...Sabe que o preso imenso, sem o conhecer pessoalmente no mesmo desejo sinto, que o conheço há muito, um dia quando for fazer a feira a Leiria, comunico. Seja pela sensibilidade, e pela liberdade no uso das palavras ditas pelo coração que tal como eu assim as gosto de transcrever, ao invés de gente que escreve retórica básica, fria desprovida de sentimentos de amizade e afetividade. Só pouca gente se mostra assim com bondade no coração e prazer de fazer, partilhar e dar. Pois os que me lixaram devem andar lixados, pois se queriam ver-me na lama, enlameados estão, por ver que me divirto com pequenos nadas, mas sobretudo depois do abismo encontrei os verdadeiros amigos onde o Pedro se inclui, isso foi a mais-valia nesta vida que ganhei depois dos 50 anos. Bem-haja pela amizade que me dedica, pois sabe que não sou de elogios por hipocrisia, simplesmente dou eco à voz do chamamento que bem de mim, quando gosto, gosto!

Minha cara amiga...as suas palavras ternas são um colírio para a minha alma. Terei muito prazer em encontrá-la quando estiver por Leiria. Beijinhos e um caloroso abraço.”

- Fica prometido. Sabe que ao lê-lo soa-me a poesia? "Colírio para a minha alma... E o remate não fica nada atrás " caloroso abraço" só um homem de cariz especial sabe sentir um abraço...Uma lufada de coisas boas nesta tristeza sentida da morte inesperada da minha conterrânea Rosa.

“O poeta é um fingidor!!  Uma partida precede sempre uma chegada... que a sua amiga esteja em paz lá onde estiver... e que a ilusão da vida não nos distraia da certeza da morte...”

- Acedi ao meu instinto cusco, descobri que o nº 5 -, elo comum que ambos abraça pelo nascimento nesse dia, segundo o Zodíaco, o elemento terra também nos é comum, por isso a loucura cúmplice, estatizante se mostrar tão dominante, sendo eu mui mais velha, ao tempo descuidei a instrução, e fiz mal, os meus pais pagaram fortunas para eu estudar, debalde não surtiu efeito, hoje sinto pena dessa perda brutal, por isso muito menos instruída, ainda assim capaz de pensar. E nesta derradeira deixa de me ir embora ainda a pensar que não há duas sem três, a fazer jus ao ditado, no pressuposto, e supostamente, a pensar no ofício da nossa amiga comum, seja o mesmo ambiente seu que em tempos de antanho vivi  até aos 15 anos no Tribunal de Ansião a mexer em maquinas pretas alemãs, a ver cozer lombadas de processos com guita, a desfrutar da sala de audiências -, ousada gostava de me sentar no palco do Sr Dr. Juiz, amigo de casa, e com o martelinho bater para  silêncios poderosos da sala no esplendor dos veludos vermelhos que engalanavam a porta e janelas, ainda o gabinete do Sr Procurador com mobiliário preto com torcidos e gavetas para a frente manhosas que não abriam...No antigo solar do Luís de Menezes onde no jardim  que hoje não existe, só de pensar doí o coração e a alma me deliciava a comer neste tempo cerejas, que em mais lado nenhum as havia, e brincava por entre buxinhos de cheiro esquisito a lembrar cedros do cemitério, ainda assim tropelias nos bancos de pedra ovais sob vigilância do meu pai pelas grandes janelas, do escrivão e do oficial de diligencias que das crianças gostavam... 
Ao montar a crónica percebi o éllan do encantamento saudável e franco de boa amizade e troca de ideias, sendo que há uma diferença de 17 anos de idade...Houve um homem nascido a 4 do mesmo mês que amei e me amou, na altura em 72 escreveu para a Rádio a pedir um disco pedido para me dedicar" a namorada que sonhei de Nilton César...Infelizmente a vida não lhe sorriu faleceu cedo!  
Ultimamente tenho encontrado  no meu caminho homens desta faixa etária, na casa dos 40 anos, com muito interesse, valia, que noutras idades inegavelmente não!
Todos os dias recebo mensagens  e emails de carinho, e sei me "cuscam por aqui"...
Também os mimo, sou uma mulher de afetos , quando gosto, gosto mesmo, não sou parca nas palavras, escrevo com o coração.

Mas claro só pessoas especais sentem o alcance do que acabo de escrever-, porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa!
Amo a fotografia pelo prazer que me dá a apanhar instantâneos, pessoas, flores, património, gastronomia, de tudo em geral, e claro sempre mas sempre da minha pessoa -, que venha ainda longe o tempo de acolhida num Lar, sei vou entreter-me a olhar, voltar a sorrir, e a fotografar trémula momentos, que passarei à escrita histórias dos colegas que sei me vão deliciar...sou louca a espicaçar tímidos!...
Nesta manhã de sol de trovoada o passeio ao jardim da igreja reparei num homem que mexia no quadro elétrico, gentil acedeu ao meu pedido em abrir o repuxo para sentir o clímax da água em altura a cair em lágrimas, salutar é apreciar cultura dos painéis de azulejos assinados pelo Cargaleiro  em 56.
Ainda não satisfeita fomos ao outro jardim urbano ver o relvado a ser cortado e a montarem a estrutura para o ecrã gigante para o jogo Portugal EUA, eu que nem gosto de escultura em ferro, senti naqueles braços de mãos abertas uma silhueta deliciosamente bela que seja de boa sorte para o jogo...
Para acabar em êxtase com as flores brancas e pálidas da magnólia perene


As bolachas de limão como sou trapalhona, usei a clara do ovo para não a deitar fora, com isso a massa ficou mole, não deu para as tender com o copo...O que garanto ? O meu marido deu-me os parabéns, até ganhei um beijo-, ora só posso rematar que tudo se resumiu a um autentico orgasmo inteletual!
O brasão da cidade.
Isto é  saber viver ALMADA!

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Feiras de velharias a delinear memórias…

Feiras de velharias de bancas e estaminés de chão com álbuns e fotografias avulso antigas, a preto e branco, algumas de pontas a puxar séptia pelo acastanhado, vagueiam perdidas moribundas de recortes encaracolados pelo sol em caixotes ao desbarato, já outras podem ser bem mais caras pelo porte, emolduradas que as vejo ser adquiridas para abrilhantar cafés vintage e espaços de laser ...
  • Saudosismo dos brasões -, o de D. Carlos em faiança de Coimbra na banca da Nazaré, venda à consignação de uma amiga, já tinham sido vendidos do Gungunhana, D. Maria e,...
A falta de dinheiro tem destas coisas!

Sinto calafrios quando dou comigo a pensar no retrato do bebé que esteve na cómoda da madrinha tantos anos, a fotografia dos avós na parede, a foto do casamento dos pais, o instantâneo do irmão que morreu novo e,...
Memórias de luxo  de gente querida com limite de idade, algumas vezes reutilizável a moldura, em que viram a foto com dedicatória, encontrei uma de 47!
Amálgamas de entulhos à mistura com serviços da Vista Alegre ou SP de Coimbra e vidros da Marinha Grande -, prendas de casamento uma vida guardados na cristaleira, muitas vezes jamais estreado, neste fim de vida vendido por atacado "tudo ao molho e fé em Deus" à mistura com lençóis bordados, toalhas de linho, camisas de dormir em estoupa  para afugentar as pulgas com monograma a vermelho, outras de cambraia debruadas a rendas delicadas-, a melhor peça do enxoval com a colcha, e naperons delicados em renda de  linha fina, com horas e horas a crochetar...
Com 8 anos participei após a morte da minha avó materna nas sortes da herança ao retirar da lata enferrujada que foi do Milo os papelinhos:dois relógios de parede, cordão, brincos, toalhas, loiça e,...Pelo chão da sala haviam dispersos 6 montes, o número de filhos na divisão da herança dos haveres. Recordo que a minha mãe ao chegar a casa deixou tudo no patim para fazer escolhas -,foi para dentro de casa para mudar de roupa par ir trabalhar, nesse ensejo peguei no quadro "Anunciação da Morte" moribundo às portas da morte deitado numa cama de ferro com o Diabo em forma de morcego sobre ele a esvoaçar de capa vermelha e cornos...Maldito quadro, o que me atormentou nas vezes que dormi na casa da avó, logo o parti em mil bocados pisado com os pés, e enterrei no quintal junto do facalhão de matar o porco, por ser uma arma perigosa que o meu pai nalgum momento de loucura se lembrasse usar...A minha mãe nem se deu conta, muitos anos mais tarde é que lhe contei.
Hoje praticamente os filhos nada querem dos pais, exceptuando pratas, e outras valias que dêem dinheiro, além das poupanças que procuram nos bancos ainda com o corpo quente...
Doí o coração ver recheios de casas de toda uma vida que acabam despejados sem vaidades junto dos contentores do lixo nas grandes cidades. Todos os dias passam carrinhas que selecionam materiais: ferro; madeira; roupas; cartão; livros e diversos-, até os indianos andam ao lixo, outros ao cartão e mulheres que sondam Bairros onde a faixa etária é alta, mal ocorre um falecimento passam a rondar diariamente as imediações e os caixotes, até o espólio encontrar para se governarem na feira da ladra em vendas de ocasião, outras famílias já dividem o recheio por categorias, algum vendem nos sites da especialidade, sendo o "lixo" vendido ao desbarato, mas cuidado -, uma amiga confidenciou-me que comprou por 3€ e rendeu 1000 € e outra peça de preço igualmente ridículo veio a render 3.000€ não se adiantou sobre a matéria da peça, fiquei estupefacta. Supostamente um olheiro varejador de oiros, pedras preciosas, marfins, e madeiras exóticas percorre as feiras apressado, sendo feio de ventas, apareceu-me de surpresa em Óbidos  a mexer numa caixa que tinha em cima da banca, de olhar altivo o adverti  " desculpe ainda não arrumei as coisas  e assim no imediato pediu desculpas, voltaria a -lo apressado pela Ladra, e em Paço D'Arcos, depois de ter enfeirado pedia explicações para ir a S. Domingos de Rana em dia de estreia nas velharias -, homem moinante de faro apurado em raridades, que gente não sabendo o que tem em casa, pela falta de cultura, nem avalia outro pensar  que não seja no primeiro momento passar os tarecos, a patacos...Outra colega comentou comigo que rematou um recheio, no final as herdeiras lembraram-se de três relógios de parede na garagem por 25 €  sendo que apenas um no mínimo, vale 40 €...O mesmo os vidros da Vista Alegre, a maioria nem sabe que a fábrica se iniciou na vidraria em 1874. No pior os chineses percorrem todas as feiras à procura de Companhia das Índias a 1 € e impecáveis...Com intermediários pelo País que esmiúçam as feiras para enviar as peças para  a China para reprodução. Um minorca de rodas curtas apreciava um pratinho Mandarim século XIX, pintado a ouro, agachado, ergue o olhar a rir em gozo provocante -, a mulher não sendo de levar desaforos sem resposta, sem modos nem maneiras lhe deu resposta por entre dentes em sussurro irónico " pois não é do século XIX é ali da loja dos chineses, vai para o car..., para  a put que te pariu..." Farta deles como uma maioria,eu também, a passearem-se em desportivos de luxo-, Maserati!
Ora bolas sou uma senhora, sei que deveria estar calada -, infelizmente farta deles, desta comandita de olhos em bico, só de lembrar o cubismo de esperma que um teimou deixar na parede de uma casa, para mal dos meus pecados, me vi na iminência de limpar  com raiva de mãos metidas no esfregão de arame e de boca aberta a praguejar raios e coriscos, jamais conheci gente mais porca, vivem na imundice!

Claro e transparente como a água a promissão em saber que muitos de nós estamos sujeitos a ver a nossa vida um dia destes a ser deitada num contentor do lixo, ou doada a seitas de toxicodependentes, depois do falecimento limpam as casas dos móveis, que reutilizam, o mesmo com candeeiros, sofás, loiças e roupas, sobrevivendo com as vendasPior todos aqueles que não tem descendentes se deveriam acautelar em deixar instruções por testamento, ou doações em vida. Gente com riquezas em casa, no passado e neste agora supostamente outros continuam, a viver sozinhos com criadas de "olho gordo" delas há relatos que sempre deram despacho a pratas e outros haveres, se abarbatando como propriedade sua, sabendo de antemão que são do patrão e seus descendentes -, como ouvi falar duma governanta  do Visconde da Várzea nas vezes que o antiquário sondava o solar para comprar mobiliário, a prataria negra que já nem a limpava lha vendeu, assim dito na ligeireza da sua boca...Outra sortuda na herança de sobrinha vendeu a casa da tia e o recheio, algumas coisas deu, o resto ainda bastante acabou no lixo, nem as uvas brancas amarelinhas da latada quis saber, que saboreei saltando o muro baixo junto do poço na recordação dos anos que as comia das mãos da gentil tia, sempre  me agraciava, por nesta vida não ter sido abençoada com filhos... 
  • Mas esta gente de agora parece não querer saber do seu passado para nada, só muito poucos! 
  • Ora o certo é deixar bens a quem os estime, caso contrario, os devem deixar a Instituições de beneficência!
Pessoalmente sei que eduquei a minha filha no respeito pelo património, passado e raízes. Um dia disse-me " o que faço com as tuas velharias?" Uma doação para o Museu de Ansião-, responde explosiva "isso nunca, não merecem nada, tinham um Museu na antiga cadeia, onde fui , havia trajes tradicionais, alfaias e outras peças, sem pejo o fecharam por não reunir condições de acessibilidade, e assim se deixam neste agora ainda quedos"...
As velharias que tenho, são isso mesmo velharias, e não antiguidades. Contudo exalam valor emocional sabendo que com o tempo algumas, poucas, poderão ser encaradas como um investimento duradouro, cujo benefício reverterá para ela se as vender. Certamente investimento mais seguro e menos perecível que automóvel, grande plasma e telemóveis de 5ª geração... 
Alguns como eu sabemos bem que os objetos são apenas vãs vaidades, que nada fica depois da morte, mas quem quer saber da morte? 
Nesta vida quero visitar Museus onde coleções me regalem o olhar, me façam pensar no passado preservado, nas doações de gente que felizmente pensa alto, na exaltação em querer deixar perpetuar  objetos de valor nas gerações vindouras. 
Por enquanto quero gozar as minhas velharias, admira-las, estuda-las e conserva-las, pois o presente cada vez que me aborrece mais…
Sobretudo gostaria de ver respeitar o património de todos nós!

Marco em Paço d'Arcos de formato fálico...
Outra das minhas paixões são as pedras-, um dia a minha irmã levou-me a casa de uma senhora no Rabaçal para comprar queijos sendo queijeira certificada, se revelou ajuntadora amante de pedras. A minha irmã premeditou esta visita, sabia que eu ia adorar a sua coleção -, uma das suas melhores surpresas, porque  sabe do que gosto. 
Maravilhada com o esplendor que se abriu na minha frente, senti rarear o ar com a beleza das pedras e o brilho das faianças dispostas elegantemente naquela entrada enorme, seiscentista, enquadrada em ambiente de móveis antigos, parecia um Museu que aguçou o meu inteleto-, como é que aquela mulher, com pouca instrução (?) se tinha enfeitiçado por elas, as ditas pedras ? 
Disse-me que foi a surpresa aliada à curiosidade com a primeira encontrada " pastava o rebanho, de repente saltou-lhe à vista uma pedra talhada em formato do órgão sexual masculino ereto " ...As mãos que lhe deram a forma tão real, com outras pedras a bater só podiam ser de grande artista, seria um dildo?

Confesso que não resisti a senti-lo na mão…Fascinante pela grande perfeição, clímax sem explicação aquele sentir da pedra afeiçoada pelo homem há milhões de anos de cariz fálico  nas minhas mãos trémulas , júbilo de vibrações, apesar de frio! 
A dita senhora a partir daí começou a olhar para as pedras dando-lhe mais valor, detendo invejável coleção de fósseis marinhos, pedras esculpidas do Neolítico (?) e outras pela erosão. Tanta beleza rara que despertava o interesse e curiosidade do arqueólogo do Museu do Rabaçal, dito por ela, a sua casa vinha de vez em quando para ver as novidades. Abençoada de lindos olhos azuis nasceu no Alvorge, aqui casou e viveu nesta bela casa de pedra de paredes meias com a igreja, infelizmente falecida precocemente, espero que a família saiba o valor que ela deixou, o estime, ou doa ao Museu do Rabaçal onde a coleção merecia honras com o seu nome em destaque... 
As minhas reflexões sobre pedras não pretendem de modo algum criar situações de susceptibilidade com quem quer que seja, apenas pretendo alertar os interessados, que ainda se tiverem vontade se poderá fazer alguma coisa para defesa das mesmas no concelho. Umas têm sido vendidas, outras roubadas, outras soterradas...Espanta-me a existência de uma língua de grutas que se sabe da sua existência desde as Taliscas onde nasce o Dueça, Ateanha, Olhos d’Agua, Lagoas, Sarzedela, Pinheiro, Poios, e o que parece (?) ninguém lhe querer dar importância, não é estranho? A gruta das Lagoas onde fui com a minha turma do 3º ano do Externato numa aula de mineralogia ao vivo, foi soterrada há uns 3 anos para plantação de pinhal...
Tenho momentos que me atrevo em plena serra da Ameixieira a sair do carro para sentir a liberdade de saltar muros de pedra seca para me perder com o cheiro dos tomilhos -, a erva de Santa Maria, e dos lírios abrolhar pela Páscoa, apreciar contrastes dos terrenos, com marcas das pedras que as gentes vão sulcando para revestimentos e ornamentação, ainda outras semeadas à toa que o tempo se incumbiu de esculpir em milhões de anos, algumas magníficas de tirar a respiração, também as há no Carril aos Matos, a que chamo "parideiras " fossilizadas que me fazem perder horas à sua procura, e elas a mim-, no fardo pesado as trago nos bolsos ou debaixo do braço, encontro sempre alguma cinzelada pela erosão que me fascina e não resisto -, indescritível as sensações sentidas no meio delas e do nada, perdida, no seio de beleza esfuziante de contrastes em silêncios, meditação, assim sentida nestes meandros encantados -, casamento feliz em clímax sem igual pelas serranias de Ansião!

A cada dia a vegetação cresce  desalmadamente em fúria, desde o Alqueidão pelas veredas arriba ao endireito do alto da serra, se mostram vigorosas de manta encrespada em cúpulas de cariz mediterrânico -, no caricato convivem com outras  áridas, ao lado de matos em altura, em tonalidades díspares de verdes, salpicadas por riachos e regateiras atulhadas de calhaus rolados, no verão em secura, onde proliferam fósseis a céu aberto até ao Camporês...
Um dia de carro com a minha irmã seguimos a estrada da serra onde apreciamos a extensa plantação de carvalhos, viramos de direção no seguimento do novo caminho roteado em brutal descida  abrupta onde me achei por momentos a vaguear perplexa e perdida, a mirar pedras semeadas à toa pelas ribanceiras que as maquinas sulcaram da terra para fazer o caminho-, lajes planas que o povo utilizou em tempos de antanho nas entradas das casas, sem contudo deslumbrar o vale profundo quase desconhecido pela adversidade do terreno, com a chuva no momento deve estar inacessível (?) mal chegadas à planura deparamos num paraíso selvagem de arvoredos frágeis em verde ervilha pelo fresco com aves de porte a circundar riachos, inesperadamente avista-se uma muralha, nada mais que um alto muro calcário, impressionante pela grandeza corrida em jeito de contraforte da Serra do Mouro e da aldeia que lhe roubou o mesmo nome.
A floresta dos costados das serranias deitada em declives desce para vales com hortas, vinhedos e olival  a perder de vista pelo planalto do Camporês.

Quem me conhece e à minha irmã de pequenas sabe que nunca nos negamos ao trabalho, apesar de termos tido uma vida desafogada, pais funcionários públicos, criadas e "pessoal contratado à jorna" quase todas as semanas para as fazendas, mesmo assim sentimos ambas um chamamento pela terra que se traduz na paixão pela agricultura, e pela floresta, de querer, fazer e preservar. Ativas e destemidas para qualquer trabalho. Elogio ao desembaraço da minha irmã que desde pequena carregava a máquina de sulfato às costas em cobre, aquela sempre foi "levada da breca" nunca abandonou a terra, apesar de uma vida profissional muito ativa, mantêm a tradição, agora de moto-enxada vai ajudando a minha mãe nas culturas de época de minifúndio no quintal. Faço o que posso quando vou a Ansião, este ano com a enxada de pontas cavei um leirão que produziu boa batata, pois a cava foi funda e a grama toda tirada à mão, queimada na borralheira, mesmo assim estou sempre a ouvir reparos da sua boca em jeito de maledicência a meio riso amarelo " anda aqui uma pessoa a esfolar-se em trabalho com a tua mãe e tu mal chegas toca de encher os sacos"…Palavras ditas da boca para fora fruto de muita liberdade após o falecimento do nosso pai, a casa transformou-se numa "família de três irmãs!"

Grande prazer em escrever as memórias na sede de as agrilhoar com chave de oiro. 
Falar que aqui nesta terra chamada Ansião, aconteceu o primeiro Comício Republicano no princípio de 1911, entre os discursantes esteve o pai do Dr. Mário Soares, ao tempo -, Padre João Lopes Soares das Cortes de Leiria. 
No dia a seguir ao casório me apareceu à porta a Ti Florinda da quelha da Atafona com uma galinha presa nas mãos que me questiona sobre o meu marido -, palavra que em abono da verdade não me soou nada bem ao ouvido, talvez por ter ido a primeira vez que a ouvi...No pior tive de matar  a franga para acercar Almada da parte de tarde do dia 5 de Setembro de 78 no carro dos meus sogros -, azar tive ao retirar os meus haveres do carro na Rua Afonso Galo, fosse pelo cansaço ou pelo calor, na pressa de tirar uma colcha onde tinha "entalado" os naperons estriados no casamento, feitos pela Alice do Ribeirinho quando foi criada no hospital , se abriu no caminho e assim se finaram na calçada… De véspera o meu marido tinha vindo com a minha irmã trazer a mala do enxoval e o fogão -, prenda do padrinho de casamento do meu primo Tó Zé, e não faltou o saco de batatas do padrinho do meu marido, Alberto de Vale Tábuas que ainda fez o favor de emprestar a carrinha . Escriturei a minha casa nova a estrear no Feijó no dia 7, paga a escritura e a sisa sobraram uns míseros tostões para comprar  parcos haveres para a casa, que de prendas pouco recebemos, ainda uns plásticos numa drogaria e um frigorífico, que a primeira sopa com o calor azedou, sobrou na carteira 200$00 para a viagem de volta a caminho de Coimbra trabalhar nos TLP…

Deu-me um gozo extraordinário escrever as minhas memórias, se acaso acrescentei um ponto ou me esqueci de algum, não foi por mal nem prejuízo direto para ninguém. Sou uma pessoa de bem e de paz. Mas isto de contar estórias sabe-se como é quem reconta acrescenta sempre alguma vírgula. Tempos e vidas que nunca mais voltam. Há sempre qualquer coisa importante que se escapa… 
Esperança que o meu registo de memórias seja o melhor investimento cultural que posso legar aos meus netos, que anseio nascimento!
Um amigo deu-me a conhecer Marguerite Yourcenar -, escritora francesa. Nas suas memórias escreveu mais ou menos isto "que se começava a fazer genealogia por vaidade, mas quando iniciávamos o desfolhar e desfolhar das gerações e gerações de gente morta, que nos antecedeu, chegava-se rapidamente ao abismo, isto é, ao precipício que antecede a morte"...
Demónios me mordam se desejo que tal me atormente tão cedo!

Afinal e o título para o livro? 
"Pelas Serras de Ansião, memórias, emoções e caminhos"
"Falar de Ansião, ontem e antes d’ontem"…
"Lusco-fusco de memórias". 
Fez-se claro no mercado, a vendedeira mulher das bandas da beira do rio, pesava-me feijão-verde, dizia-me que o poderia guardar porque o tinha apanhado no lusco-fusco, enquanto fazia o troco disse-lhe "acabou de ditar o título de um livro que acabei de escrever sobre memórias"…
Ficou estarrecida!
  • Agradecimento às gentes de Ansião. Perco-me sem perder tempo, com muitos deles a conversar, a mitigar lembranças. 
Também àqueles que de qualquer forma me ajudaram a relembrar coisas de antanho… Minha querida mãe, prima Júlia e São, Mavilde, Natércia, Carmita, Deolinda, Alice, Elisa, Albertina, Cristina do Bairro de Santo António, Isabel Bandeira, Isaura Gomes, Tina da Quelha da Atafona ; Lúcia do Ribeiro da Vide, Américo Calado São e Isaura Casal das Peras; da vila, Piedade Lopes, Américo Cardoso, Elsa, Maria Bandeira, Mena do "Marnifas", Teresa Fernandes, Odete e Fernando Moreira, Fatinha Pires, Chico Serra, António Simões "Arrebela" dos Escampados, Elisabete Mendes dos Anacos e, … 
Bem-haja a todos. 
Desculpem-me qualquer coisinha. 
Desculpem-me, se acaso me mostrei de cariz  sentencioso!


  • Ergo um caneco à vossa saúde fabrico da fábrica Sacavém  antes do Gil Man!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Acorda Portugal neste 10 de junho de 2014!

Já  foi o Dia da Raça, hoje Dia de Portugal , Dia de  Camões e das Comunidades Portuguesas!
Desesperada em fogo lançada no meu Grito de revolta sobre os iluminados deste governo, e outros achadiços da comitiva...Apresento desculpas aos leitores pela linguagem forte de cariz vernáculo. Embaraço para gente mais sensível que de mim se espanta neste travesso de limites. 
Ponderei o uso de sinónimos mas fatalmente  o Grito perdia qualidade na raiva e no desespero! 

Basta,  gajos medíocres no poleiro do poder  sem obra digna a dignificar o País!
Basta,  continuar a bater no elo mais fraco, o povo!
Basta, atitudes impensadas de roubo descarado a cada dia
Ou a ideia é tirar a pele da barriga como os nazis?
Chegou a hora de alguém fazer o que tem de ser feito
Urge mudar esta cambada de "conas de sabão"
Achadiços sem eira nem beira de conamayin street...
Julgam-se senhores a mandar em nós sem dó nem piedade
Hora de calar o  que há muito se fala, o povo sabe, eles parece que não
Escândalo mayor ajudar acionistas privados numa Banca rota anunciada
Tempo de baixar categorias, escalões, chefias e ordenados chorudos
Pôr termo a mordomias: carros, cartões, obras em gabinetes, reduzir stafs
Há gente a mais que continua a não produzir riqueza ao serviço público
Chega de compadrio com entrada direta em cargos técnicos de fachada
Dar fim a pavões nos encontros a toda a hora no breek fast a esfumaçar!
Chegou a hora de alguém fazer o que tem de ser feito
O País só se levanta das cinzas com gente de mais-valia
Onde a honra, luta e força em vencer, são mote de trabalho
Cortes a doer no governo e na máquina governamental , já!
E, nunca debaixo para cima como o fazem a toda a hora aos pobres
O esmifrando, e sendo pacífico, agoniado estrebucha , não aguenta mais!
Chegou a hora de todos dizerem - Basta! Basta! Basta!
"Cabrones" filhos duma puta fora as mães que vos pariram
Culpa não tem nenhuma a não ser do excesso de mimo vos estragaram de mimo!
"Cabrones" filhos duma égua vadia, corruptos de meia tigela
diplomados com aldravices abarrotam de riquezas em paraísos fiscais!
"Cabrones" filhos dum corno, raio vos caísse em cima, derretesse em merda
levada pelo Tejo além mar, nunca mais serem vistos  nem a boiar!
"Cabrones" panascos d'uma cabra figa não valem na política  o espirro d'uma "punheta"!
"Cabrones" de "meia foda" não valem um "caralho" e sendo gente,  não o são é coisa nenhuma!
" Cabrones" tomem nota isto vai dar guerra e não seja de cravos!

Nada na vida pode substituir a persistência nem o talento. Porque o mundo está cheio de Homens de talentos fracassados, e muitos diplomados medíocres. 
Só a persistência e a determinação são omnipotentes!
Prefaciando um pensamento: 
 " A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no Amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."
Julgo que às vezes a frivolidade, pode ser uma forma de afirmar que ainda cá estou, e por isso não me tento a deixar derrotar.
Urge tempo de irmos a eles porque ontem já era tarde!
Fantasia demasiado alimentada pode criar uma ilusão, porque é fácil construir um "castelo no ar", no entanto, a sua demolição é normalmente muito dolorosa… Resumindo: Há que manter os pés no chão atento a estes gajos que teimamos manter no poleiro, afinal a culpa é NOSSA!

Belo prato decorativo da Fábrica Constância/Batistini
Pintado por Maria de Portugal-, nada mais a propósito. 
A fazer jus ao pensamento de D. Manuel II
"Portugueses unam-se pela Pátria: sejamos fortes e mostremos ao mundo e àqueles que nos seguem atentamente com cobiça, que Portugal há-de renascer ainda, numa era de grandeza e prosperidade. Pensemos no País, sem outras ideias do que a que devemos ter sempre presente: Nascemos Portugueses, queremos reviver as glórias passadas, queremos levantar bem alto o nome de Portugal, queremos viver e morrer Portugueses!

Neste dia a fazer fé ao pensamento " Portugal há-de renascer ainda, numa era de grandeza e prosperidade, queremos reviver as glórias passadas "...

Fechar esta raiva com o  belo poema de Carlos Fragata! 
Dedicada ao 10 DE JUNHO
Tanta pompa e circunstância,
Tanto hipócrita brilhando...
Tanto mal, tanta ganância,
Ignorando a importância
Do que o povo está passando!
Tanto "glamour" e riqueza, 
Tanto ouro, ostentação, 
Tanta ofensa à pobreza, 
Tanta casa portuguesa 
Sem uma côdea de pão!! 
Tanto pobre envergonhado 
Fingindo, p'ra não chorar, 
Tanto lar desmoronado, 
Por ficar desempregado 
Quem quer o lar sustentar!... 
Tanto erro cometido 
Por um povo bom e crente, 
Que hoje está arrependido 
Por ter um dia elegido 
Monstros, crendo serem gente! 

domingo, 8 de junho de 2014

Visconde da Vargem da Ordem na feira de Azeitão

Nome e apelido a somar a mais treze por iniciais no bilhete de identidade,  num total de quinze, tendo o  seu saudoso pai sido batizado com dezoito, já nos filhos reduzido, e nos netos o mesmo a fazer fé na lista da Wikipédia  dos viscondados em Portugal,  cuja data de criação ocorreu em  1863  a 23 de janeiro,  ao seu avô Gaspar Pessoa Tavares de Amorim da Vargem, o 1º Barão da Vargem da Ordem -, supostamente a Ordem de Santiago com propriedades no seguimento da Comporta, no concelho de Grândola. O título atualmente encontra-se extinto.
Montou estaminé ao meu lado, homem  de estatura baixa, peito emproado, estar altivo a puxar  linhagem monárquica, na deixa se revela de perfil castiço pelo uso de bigode à imagem do herdeiro da coroa portuguesa, dele fala com algum desdém pela falta na ousadia de se mostrar líder no dom da palavra nesta terra que foi herança dos seus antepassados, em prática se mostra apagado no estar e no fazer, já do acessório bigode se evidencia de arrebites arrebitados como usava o D.Carlos, já o visconde apenas puxa parecenças aos genes do herdeiro de Portugal pelo peito emproado, cabelos finos e aparente sorriso envergonhado, encoberto de pêlos na boca pequena, debruada a lábios finos onde se abre a montra de dentes cerrados em miniatura , armado de humor sarcástico de sabor ao estilo irónico típico aquariano, homem sonhador e gosto pela aventura.No discernimento esteja atravessar uma fase de boa fortuna , assim creio neste agora a dissipar a considerável tensão inteletual dos últimos tempos, na boa nova da esperança, deste modo a trate, como coisa penosa do passado, sendo mais feliz  no presente!

Impressionante tanta revelação de conversa fluída arremedar o enciclopédico, sem paranço. Nato contador de estórias da história deste nosso Portugal, no tempo do passado feudal e títulos angariados, por feitos prestados à pátria!
Haveria na curiosidade do questionar sobre a ostentação do anel brasonado do anelar debruado a oiros. Orgulhosamente me confidenciou que todos os anos, pelo menos um dia, tem o prazer da presença do Dom Duarte Pio de Bragança, sentindo orgulho duma foto ainda em bebé, ao colo do seu pai,  ladeado pelo rei D. Carlos. Haveria de confidenciar a família envolvida com o armamento que assassinou este rei...
Fanática  a paixão da bandeira da monarquia que nele  exala auto estima e sem peneiras, ainda assim peneirado de clichés, senti o orgulho do autocolante no seu porta bagagens ...
Azeitão decorria no desfile da hora tardia num palco de poucas vendas na feira de artesanato e velharias .
O visconde logo de manhã armou na calmaria a sua banca sob toalha lavrada em damasco cor púrpura com ligeiro buraco, alinhando estrategicamente as peças na elegância e requinte, a fazer inveja à sua bonita idade de 84 anos, bem conservado, dinâmico, dizendo à boca cheia  "quando me perguntam a idade digo que tenho 48..." Quando o elogiei sobre as peças da banca não se faz rogado ao gabanço falando do que deixou na mala do carro...Nisto abala à procura de porquinhos para alargar a coleção que já vai em 180  em que o questionei do porquê -, diz-me dizem que dá sorte!
Preocupado, atento, cavalheiro e bom colega, nas minhas deambulações a namorar peças e olhares ficou de olho na minha banca,  e me chamou para dar atenção a quem nela parou o olhar.
Prevenido e poupado neste tempo de recessão, de avio trouxe o farnel  de casa. Calmo e metódico abriu o termo para tirar a lata de coca cola fresquinha que ingeriu num copo de café,  ao mesmo tempo degustava grandes pastéis de massa tenra uma tradição nas casas ricas de antanho, isto ao almoço, porque na ceia, ao meia da manhã , saboreou metades de pãezinhos de leite com presunto. Em cima da banca sem colidir com a mostra de peças  tinha o pacote de toalhetes húmidos usado para limpar o rabinho aos bebes, sem pedir licença os foi usando para desinfetar as mãos, só um olhar mais atento o identificava ao lado do leque de madeira aberto em declive...
Refastelado na sua cadeira, estilo realizador de cinema, armado de chapéu de palhinha na cabeça, uma vez arreigado do poiso na despedida se revela no papel de galã, pelo corte de cabelo sob o comprido, com ligeiro encaracolar em tom amaciado de cinza seda, stlyle que lhe confere ar travesso no disfarce disfarçado da pouca altura, mas o faz grande!
Falou de Angola e Moçambique , o ultramar onde nasceu, e de onde teve de sair apressado, sem nada do que nesta vida conquistou pela força do trabalho...Houve criados e empregados após a fuga dos portugueses apressada das colónias que à posterior o haviam de voltar a questionar "quando regressa o patrão"...A que lhes respondeu " vocês é que lutaram pela independência...". Agonia-se no pensar de ter falhado na altura a hipótese de ter ido para a Austrália onde tinha emprego garantido...
Casado há 58 anos onde nem sempre a relação foi "um mar de rosas"  incrível aos dias d'hoje sendo esse tempo mais idoso do que a minha própria pessoa...Homem abençoado com dois filhos, deles falou com orgulho, também de um irmão que viu falecer numa semana com 62 anos, ainda hoje se constrange na saudade.Neste agora de recessão lamentou-se por mais de uma vez com o dinheiro que o Estado lhe detém, não devolve, e deveria! Tristeza tamanha com o filho mais velho por práticas e atitudes indevidas por desajustadas, na sua boca um mãos largas em relação às mulheres, quando as deixa, faz gosto em as deixar amparadas, a última, simples cabeleireira a deixou de salão montado. Homem  licenciado em gestão, sem emprego, com meio século de idade, remedeia-se na companhia da mãe nas vendas ...Senti as dores com a  ajuda nesta idade tardia e do regresso imprevisto à casa paternal, a que acresce a pensão ao neto, e à filha que não o sendo de sangue, mas que quis perfilhar...Pesada cruz  nesta bonita idade que merecia ser de descanso e lazer.Teimei aligeirar "olhe pelo que fala puxou costela ao bisavô da Vargem da Ordem, nesse pressuposto , quem sai aos seus, não degenera na geração..."
Do filho mais novo vibrou de gálio ao falar com satisfação e orgulho do seu estatuto profissional  quiçá auspiciado e ganho supostamente ao abrigo da organização da Opus Dei, por ter dado credibilidade ao alto cargo que teve no Bcp, o trampolim para outros cargos de valor credetício noutras empresas, com boas regalias e vencimento, dizia-me satisfeito " se calhar já ouviu falar dele, ou o viu na televisão, ou..." fiquei a ponderar o bom senso a tentar equilibrar o que um engenheiro faz num banco? Logo parei o pensar ao recordar o Engº Jardim Gonçalves...
Relata o dia  que precisava de falar com o filho engº com urgência, a secretária dizia sempre o mesmo"o Sr. Dr. não pode atender " sem jamais se anunciar na paternidade na vestidura de semblante chateado por não gostar de ver o filho ser tratado por Dr. sendo é Engº não hesita em derradeiro telefonema armado de raiva  que transmite em tom grave   " diga ao Sr. Dr. que o pai dele morreu..." .Remédio Santo o filho apareceu em casa num repente!
De olhos bem abertos o questiona de tal atitude a que lhe responde " foi a única maneira que arranjei para falar contigo..."
Na verdade o visconde mostra-se homem imprevisível  e destemido, não olha a meios para atingir os fins.
Na vaidade arreigada solta delírio de grandeza sobre o filho, agora passeia-se de Porsche, já a mulher está um palito erguendo o dedo num gesto de comparação...Respondi, então se está bem na vida só tem de gozar desde que se acautele em segurança, o certo!
Sem estreia estreado, se revela na excelência sem lamentações, supostamente pelo orgulho do titulo que carrega...Na verdade  teima manter o brio da boa disposição no rol de horas a somar a horas, em  que o sol se fez brilhar nas mesmas vezes no modo encoberto de nuvens escuras a descarregar algures, porque salpicos de clientes o foram parcos a interromper  silêncios; no preço da jarra de cristal, e da a gorda que se encadeia com a cópia de Limoges, e outro de ar refinado mirou e remexeu os talheres de banho a prata. Ainda assim  o visconde sem estreia nas vendas continuava alegre, de sorriso de orelha a orelha lança o repto final " quando chegar a casa vou dizer à minha mulher, olha foram 600 euros... " Mas afinal foram 6 €, o valor da casota para o gato que uma colega de Sintra ao constatar arrumação da bancada muito antes das quatro, de modo apressada se faz chegar em aflitos e lança a deixa lançada se a vendera ? Ao que ele lhe responde, já a levei para o carro...Colega que todo o dia se fez passear de coroa de flores em jeito de grinalda a embelezar os cabelos oxigenados queria só dar 5 €  dos 7,50 € solicitados aflorando que era para a Luisinha, a gata que encontrou abandonada a juntar a mais dez, agora onze que tinha em casa  por isso pedia desconto, o Visconde Botelho de olhar e sorriso matreiro, mata-a com o ultimato, então dá 6 € que só sofro de prejuízo 50 cêntimos...De volta ao carro para buscar a casota larga o desaforo " é lucro, a casota era do meu gato siamês que morreu, ainda o pensei vender, mas no entretanto  finou-se..."
Do visconde  seu avô falou ter sido um homem que gozou uma boa vida com muita mulher, sem poiso certo em nenhuma, vivia acima da média à conta do rendimento anual das propriedades de Grândola, cujos rendeiros sucessivamente foram adiantado as rendas anuais ao "menino" na recompensa delas um dia serem os donos, assim perdidas supostamente para o avô da família do toureiro Núncio. Quanto ao palacete de família nas imediações do Tourel em Lisboa, hoje entaipado, o viria a perder para pagamento de dívidas ao Estado, sendo ao tempo obrigado a se mudar para o Campo Grande para morar num pequeno solar, alugado com capela, para sua companhia trouxe as duas criadas com as malas e o espólio que restava. As criadas após ele falecer foram viver com o primogénito, o sucessor do anel brasonado,  até morrerem, em prática continuaram no trato, a pequenos e graúdos por "meninos"...Assim é difícil gente crescer e se fazer homem, não nascendo príncipes, o trato era como se o fossem na vivências de fartura e desperdício, sem aprendizado para administrar os bens de família, apenas o gozo e desfrute em viver na  luxuria da  grandeza , enquanto houver rendimento, sem jamais pensar que um dia tudo se pode acabar,  por falta de orientação e olhamento ao que é seu , sim porque quem não cuida do seu património o acaba perdendo duma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde. Militantes de conduta egoísta no estar e no pensar na defesa apenas e somente do  próprio coiro, sem elevar o pensar nos seus descendentes, que sem pejo de vergonha deixaram derradeiramente pobres, tendo sido oriundos de famílias abastadas, por isso neste País tanto conde, visconde, barão falido o mesmo de palacetes e solares em ruína!
Da herança herdada pelas Índias, a dizimou na totalidade...O caricato aconteceu quando faleceu para lhe fazerem o funeral  tiveram de vender um tinteiro em prata vindo da Índia onde o pai dele tinha sido Governador.
Armada de sofisma lancei o repto sem medos na questão do herdeiro do anel brasonado, com uma história de mais de trezentos anos na família e não se engasga na resposta dizendo, o certo na linhagem da hierarquia...Apreciou o meu olhar sem palavras, sentindo o que pensei...
Não se fez rogado e de  soslaio e olhar sereno, solta a voz  de visconde  mas pode não ser !
Estória deliciosa contada na primeira pessoa pelo Visconde da Vargem da Ordem, sem pudor, nem vergonha, antes gálio dos seus antepassados, e do presente na luta nesta sua vida na bonita idade cheio de vitalidade, fatalmente o que senti, espero não se amofine comigo, não me pediu sigilo, nem segredo, simplesmente o gosto da conversa desatou nele a falar, falar, sem limites...Chegou um tempo que sentados lado a lado na sombra da árvore e me levantei da cadeira receosa de não absorver tanta informação para não cair na tentação da escrita, debalde o encanto da personagem foi de tal ordem delicioso, pela energia, pelo carisma, pelas histórias, um nato provocador de cariz simpático e mui amável ao invés de tantos outros aristocratas de meandros de riqueza passada, que agora de ruína presente, ainda assim com desgostos semelhantes e se revelam camaleões farsantes que não valem o chão que pisam na mania de grandeza, sem grandeza alguma, apenas tostões, uns coitados sempre a viver num tempo passado quando deveriam assumir o presente de cabeça erguida!
Confidenciaram- me sobre o perfil da sua esposa como a melhor vendedora que se conhece, a fazer fé a este atributo de valia logo a imaginei na sorte se tivesse vivido ao tempo do barão na sorte de o ter conhecido, sendo uma grande mulher de visão para as vendas, por certo não deixaria cair por mãos alheias o património de família!

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