quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Projecto para classificar a Senhora d´Ó, Santo Cristo e S. Martinho de Tours em Ansião

Urge acordar mentalidades no direito de cidadania na premente necessidade de classificar a panóplia de espólio religioso das igrejas e capelas do concelho de Ansião. Em atitude cultural, ao jus de convite, sugiro elevar o leitor a viajar em citações de Guilherme d' Oliveira Martins no dever a todos interiorizar – a que acrescento a Arte Sacra, na sua cabal importância, proteção e merecido estrelato, em parceria com a Autarquia, sua Igreja e Misericórdia.
É a compreensão do património cultural que nos permite assumir uma cidadania civilizada. As políticas públicas de cultura devem, assim, começar pelo cuidado da herança e da memória. Ter memória é, assim, respeitarmo-nos. Cuidar do que recebemos, é dar atenção, é não deixar este acervo ao abandono. E não se diga que o património é constituído pelos marcos de pedra ou pelos grandes monumentos da arquitectura - o património cultural é constituído por pedras mortas e por pedras vivas, por monumentos e tradições, o património imaterial, mas também pela natureza, pela paisagem e pela criação contemporânea, pelo valor acrescentado que adicionamos ao que recebemos das gerações que nos antecederam. Quando falamos de património cultural, pensamos falar de coisas do passado, perdidas num recôndito da memória colectiva. Puro engano! O património cultural é um tema do presente, apela a todos e projecta-se no futuro. Testemunha e expressa valores, crenças e saberes em contínua evolução e mudança. Longe das boas intenções que enchem o inferno, precisamos de cuidado e atenção para o que somos, de onde viemos e para onde vamos.
No que toca ao património religioso, como agir? Priorizá-lo na escolha de equipa com  perfil para levantar o cadastro de toda a Arte Sacra, parece ser o primeiro passo. Realizar o seu registo fotográfico e estudar o estado de conservação das obras que se encontram em mostra pública e em reservas em sacristias, dividida por espécie - pedra, roca, terracota e madeira. Importa ainda reconhecer a segurança dos locais e apostar na sua dinamização, fomentando a união e parceria  da  Câmara, Igreja e Misericórdia  eventualmente, com campanha de angariação de Mecenas para a recuperação do espólio mutilado no Politécnico de Tomar a expor em ala própria, no futuro Museu de Ansião! 
Evite-se o que o Padre Coutinho referenciou em 1980 quanto à Imagem da Nossa Senhora da Orada, hoje desaparecida, a empobrecer o concelho! 
Encontram-se classificadas as Imagens 
Imagem  de N. Sra. da Graça na Torre de Vale de Todos de João de Ruão e na Misericórdia de Ansião a N. Sra. do Pranto de Oficina do Porto.
Falta estudo e datação 
Imagem da Rainha Santa Isabel na MisericórdiaImagens de Roca da Padroeira da matriz de Ansião, N. Sra. da Conceição e de N. Sra. da Paz na Constantina, julga-se tenha sido espólio da primitiva igreja de Ansião. Confirmar a  imagem de N. Sra. da Guia, se não era a Imagem de NSGraça da Igreja da Aguda. 
A Misericórdia de Ansião devia dar conhecimento do paradeiro do Senhor dos Passos da capela da Misericórdia que desapareceu desta quando há poucos anos foi alterada para capela mortuária.

No Tombo de Anciaõ, Livro 56 do Cartório de Santa Cruz, num Auto de Reconhessimento que fez o Reuerendo Antonio Martinz Vigário da Igreja de Ansião  a 19 de Março de 1627, é feito o elenco das capelas (...)Na freguesia de Ansião as capelas do Escampado de Santa Marta, Casal de S. Brás, Espírito Santo e S. Silvestre na Sarzedela, S. Luís da Fonte Galega, Nossa Senhora da Paz da Constantina e Nossa Senhora dos Anjos na Ribeira do Açor. É interessante que tirando a da Constantina e a da Ribeira do Açor que era particular e já não existe, todas as outras guardam imagens do século XVI. Deste século é também a fundação das paróquias de São Tiago, Ateanha, Torre, Lagarteira e Cumeeira, entre outras. E todas têm imagens quinhentistas.
Na Matriz, a Imagem em pedra de S. Roque, Sto André em madeira, entre outras, a Imagem de N. Sra. da Graça do primitivo orago da Misericórdia quando se abateu o telhado na centúria de 700 foi transferida para a Matriz e saber se na Capela das Lagoas está o orago  N. Sra. da Boa Morte. 
Tomei conhecimento de N. Sra. d´Ó pelo meu compadre Fernando Moreira  - Irmão da Irmandade da Igreja. O Sr Padre Manuel Ventura Pinho  confidenciou-me que tinha pedido ao Sr. Bispo de Coimbra para a expor, debalde sem altar que a suporte...e, podia tirar foto para mim sem contudo a poder publicar pelas razões de segurança que se compreendem, preferi não tirar.
Sem  foto deixem-se os leitores guiar na excelsa escultura de pedra de fino e delicado detalhe na candura de fino e delicado rosto oval ao jus  ao da minha filha que herdou do pai, a reportar para genes do povo eslavo  da centúria de 300, quando a Imagem supostamente teria sido esculpida (?), vestes de mangas com fila de botões delicados e abas sobrepostas da saia com folhos, cingida por cinto de pedrarias e manto apertado ao peito por pregadeira quadrada, a mão de dedos aberta na carícia ao filho, no ventre. Pintada em policromia, os cabelos compridos caem em caracol, pouco pronunciados - uma chave que autentica obras de Mestre Pêro. Um tesouro medieval possivelmente com 700 anos  a juntar ao Calvário do Santo Cristo da Matriz, quinhentista e da Imagem de S. Martinho de Tours da Ateanha, a que se juntam outras peças quinhentistas; o Apóstolo São Tiago e N. Sra. da Graça em Santiago da Guarda, o S. Lourenço, Santa Marta, Nossa Senhora da Esperança, S Bartolomeu…E a Cruz de pedra do Vale Mosteiro,que assinalava o Esmoliadouro, referido na escritura da quinta ao Mosteiro em 1175 . Teria sido vendida para a capela do novo  cemitério de Santiago da Guarda.O que ainda não apurei. A que se juntarão outras  para o merecido estudo, por especialistas, na solicitude de algumas poderem vir a ser atribuídas a Mestre Pêro, Telo Garcia, João de Ruão ou Tomé o Velho.
Impressionada com a Imagem havia de partilhar o que senti numa conversa casual com o Renato Freire da Paz e ao falar do escultor Mestre Pêro, autor de algumas Imagens de Virgens e de Nossa Senhora d'Ó, além do túmulo da Rainha Santa Isabel que me diz « esta Imagem das senhoras gravidas teve inspiração na Isís no Egipto, inspiradas em cultos mais antigos, o que não invalida a evolução da humanidade na direção a Deus . Na igreja do castelo de Montemor o Velho também existe uma.»
Nossa Senhora Grávida, da Expectação,  do Ó ou da Hora 
Mayor Tesouro na Religiosidade de Ansião
Poucos conhecem!
Sem menção  no Livro Património Religioso do Concelho de Ansião publicado em 2008 pela Câmara de Ansião no mandato PSD dos autores António Jesus Simões, Joana Patrícia Dias e Manuel Augusto Dias
A capa do livro com a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte pelo autor referenciada erradamente como de S João...Na passagem dos invasores franceses em 1810  a incendiaram ,perdendo o interior todo o seu esplendor e riqueza .Em 1955 servia para guardar mato. Na década de 60 os netos de Fructuoso da Veiga, os manos; Chiquinho e Zézinho venderam o brasão, para Coimbra. Confrontando a foto de Gustavo Sequeira em  55 com esta foto constacto que desapareceu um óculo lobalado , o nicho, a Cruz e os sinos, na boca do povo estão na igreja da Redinha. O óculo desaparecido esteve na frontaria da capela de S João que se identifica na foto deste livro e na ultima requalificação com traço de arquitecto ter sido substituído por um redondo- atitude incorreta, deve-se preservar o antigo, em prol de ostentar o moderno.Nesta capela  da quinta das Lagoas já foram encontrados cinco registos de óbito aqui sepultados de donatários da Quinta das Lagoas. O brasão referenciado no Inventario de 1955 por Gustavo Sequeira era emoldurado entre motivos vegetalistas estilizados e o chapéu episcopal ornado com dois núcleos laterais de cordões e três ordens de borlas pendentes, segundo o Padre Coutinho, houve um Bispo na família. Na minha investigação em Lamego em 1547 era bispo D Manuel de Noronha, filho de Simão Gonçalves da Câmara, capitão da Ilha da Madeira e de D. Joana Valente – o brasão da Câmara de Lobos fecha o teto da capela da Casa dos Condes Castelo Melhor em Santiago da Guarda e na fachada esteve até 1955 o brasão dos Vasconcelos Ribeiros e Sousa do Prado. Pode ser este ou outro, houveram vários bispos na família.
Chama-se a esta carolice na descoberta do passado de Ansião - paixão  com investigação, o que parece não ter no mesmo índice e prior o autor!
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O livro reforça o que o Padre José Eduardo Reis Coutinho já tinha referenciado nesta temática no seu Livro de 1986 a que foi acrescentada  a simbologia de Alminhas , cariz fúnebre e outras, a vida dos Santos e o culto mariano - apresenta alguns erros e omissões, ainda assim pioneiro sem o ícone Maior do Património Religioso de Ansião na referencia à Imagem da Senhora d´O e de património religioso desaparecido!

Imagem de S Lourenço
Tão pouco nenhum dos autores referenciou a Imagem de S. Lourenço da capela do cemitério
Por mim dada a conhecer quando a encontrei em dia que a porta estava aberta, assim prostrada no chão...Pedi ajuda do Padre Manuel Ventura Pinho que se deslocou à capela onde a Imagem foi recolocada no altar e reconhecida como sendo de S. Lourenço. Imagem em pedra antiga a reportar para semelhança da Imagem de Santa Marta e de Santa Luzia nos Escampados - o livro de baptismos na centúria de 500 com  forte ligação de gente deste lugar (Vale Mosteiro) em apadrinhar crianças a merecer estudo e catalogação das Imagens.
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Despertei para a existência de outras Imagens de valia na leitura  da crónica de Severim Faria
(...) o povo da Constantina veio em procissão de noite à sacristia da matriz de onde levaram uma Imagem de uma Senhora . O orago Nossa Senhora da Paz foi  acrescentado à Imagem  pelo povo da Constantino, os mentores que a foram buscar de noite  para os ansos não se darem conta, pois eram muito chegados àquela Senhora - Imagem leve em roca escura e sem roupagem a evidenciar antiguidade, sem se saber a sua origem - se da primitiva Igreja sediada no palco do actual cemitério ou da ermida que foi a primeira da Misericórdia ou da actual matriz... a diferença das duas Imagens reside na Senhora actual chamada Nossa Senhora da Paz se mostrar maior que a Imagem da padroeira da matriz, e por isso invocar ter sido espolio da primitiva Igreja de Ansião. Lendo a Confraria de Nossa Senhora da Paz do Dr Manuel Dias correlaciono  o povo de Ansião não gostou desta atitude do roubo da Imagem, por isso não aparece a dar esmolas nem oliveiras para a Confraria, que o autor nada disse, apenas se limitou a transcrever os manuscritos.
A Imagem levada da sacristia da matriz não retrata a Nossa Senhora da Paz, pela falta do Menino nos braços com o Mundo na mão e a Senhora sem o  ramo de oliveira,  e sim uma Nossa Senhora simples , teriam ambas sido executadas na mesma oficina cuja arte do santeiro perdurou no tempo.

Nossa Senhora da Paz na Constantina
 Imagem atribuída a Nossa Senhora da Paz
Escultor Mestre Pêro do séc. XIV
A vida e obra deste escultor no Matriznet
«(...) Na história da escultura portuguesa, Mestre Pero, de provável origem aragonesa, tem sido distinguido como o escultor cuja produção se individualiza com personalidade artística própria, entre o segundo início e o fim do terceiro quartel do século XIV. Tal facto justifica-se sobretudo porque a sua oficina foi identificada documentalmente o que, por análise formal comparativa, permitiu outorgar-lhe outras obras distribuídas pela quase totalidade da geografia do território nacional, com a particularidade de ter esculpido quase todas elas em calcário oolítico extraído das pedreiras da região de AnçãConsidera-se que a primeira das suas obras tenha sido o túmulo de D. Isabel, princesa de Aragão e mulher de D. Dinis, executado para o Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, plausivelmente em execução c. 1326 e já terminado em 1330. Apesar da presumível ligação ao conjunto de encomendas empreendidas sob a égide desta Rainha, só volta a surgir documentado anos mais tarde, em 1334, referido como o “mestre das imagens” do túmulo do Arcebispo de Braga D. Gonçalo Pereira (m. 1348), que executou em parceria com mestre Telo Garcia, este último identificado como morador em Lisboa, conservado na Capela da Glória da Sé de Braga. Ainda em 29 de Janeiro de 1337, o pagamento do Túmulo de D. Vataça Lascaris de Ventimiglia, dama da corte da rainha Isabel, na Sé Velha de Coimbra, volta a mencioná-lo como mestre. Por comparação estilística com a obra destes túmulos documentados e a associação ao túmulo da rainha Isabel (hoje na igreja de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra), a fortuna escultórica de Mestre Pero tem sido sucessivamente enriquecida, estando-lhe atribuídos sepulcros, como o de Domingas Sabanchais e Domingues Joanes (capela dos Ferreiros, Oliveira do Hospital), a arca tumular de Rui do Casal (São João de Alporão, Santarém), o túmulo de João Gordo conservado na Sé do Porto, uma hipotética participação na obra do Apostolado da Sé de Évora (Dias 2003), e um conjunto de imagens devocionais, que denotam afinidades nos modos de tratamento das figurações. 
Segundo Reynaldo dos Santos e Vergílio Correia uma série de esculturas femininas lavradas na primeira metade do século XIV podem relacionar-se com o léxico formal dos túmulos de Coimbra e de Braga (Correia 1940; Santos 1948). 
Uma Virgem com o Menino que se conserva no Museu Nacional de Arte Antiga - Inv. 984 Esc, proveniente da Colecção de Ernesto Vilhena (Carvalho 1999, p. 72) – foi identificada como a cabeça de série ou modelo deste grupo de imagens que representam Santas de várias invocações ou a Virgem Maria e aproximada do grupo da Anunciação (Arcanjo São Miguel e Virgem Maria) da igreja de Santa Maria da Alcáçova de Montemor-o-Velho. As figuras apresentam um ritmo corporal de atitude levemente sinuosa, rostos ovais emoldurados por madeixas de cabelos alisados caídos sobre os ombros - mas formando um caracol muito característico sobre a orelha -, queixos pequenos, triangulares e salientes, olhos amendoados delineados à face, mãos com dedos cilíndricos e alongados. Véus curtos, muitas vezes presos nas coroas, túnicas que envolvem os pés em pregas requebradas, drapeados de volume generoso a criarem sombras profundas nas partes inferiores dos vestidos, jóias lobuladas a ornamentarem os decotes largos ou a cingirem os mantos, cintos a reproduzirem com preciosismo o trabalho do couro, retratam roupagens que seguem a moda da época trecentista. Na composição escultórica regista-se o contraposto denunciado pela postura das pernas sob os requebros das vestes: em quase todas as imagens ora o joelho direito se anuncia flectido para deixar a perna esquerda em tensão, ora os pés se apresentam um mais avançado do que outro ao recortarem-se das bases. Nestes moldes enquadra-se não só o busto da Virgem (Inv. 3995 E22), proveniente de Montemor-o-Velho, mas também a escultura de uma Santa Mártir (Inv. 647 E19) do MNMC, a Virgem proveniente de Podentes, igualmente do MNMC (Inv. 4069 E24), como outra Virgem com o Menino do MNAA (Inv. 1087 Esc) ou as Virgens da Expectação do MNAA (Inv. 1990 Esc), do Museu de Lamego (Inv. 129 e Inv. 130) e a do MNMC (Inv. 645 E20), todas elas de maior escala do que a imagem-modelo feminina associada pelos historiadores directamente à mão do mestre. A proporção alongada comum a estas esculturas femininas seria paralela ao domínio técnico que o mestre estava habituado a aplicar nas dimensões naturais dos jacentes tumulares. Outras características formais de imagens esculpidas nos túmulos documentados, nomeadamente dalgumas personagens masculinas, como a do chapéu de copa alta e pala da arca de D. Gonçalo Pereira, repetem-se em esculturas de vulto exentas, como acontece no São Tiago do chapeirão, proveniente da Colecção do Comandante Ernesto Vilhena conservado no MNAA (Inv. 992 Esc), ou a tão característica modelação dos cabelos masculinos em dois cachos enrolados compridos dispostos paralelamente ao rosto presente, por exemplo, no São Tiago do MNMC (Inv. 644 E 17). A origem e a formação de Mestre Pero; os motivos da sua vinda para Portugal; a ligação aos círculos de encomenda da corte dionisina e isabelina; a estrutura e organização da sua oficina; a permanente opção pelo calcário brando de Ançã que tem feito com que o seu nome surja à cabeça de uma "escola" de escultura trecentista em Coimbra dominando sobre outros centros de produção nacionais, assim como a distinção entre o que foi o seu trabalho de imaginário e o dos oficiais seus colaboradores, mantêm-se historiograficamente como questões em debate.»

Na pagina Facebook das suas Memórias o Padre Manuel Ventura Pinho 
«Negavam os albigenses a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo e, em consequência, todas as outras verdades da Fé, com especial ênfase na Sagrada Eucaristia.Para suster a expansão dessa doutrina deletéria esforçaram-se os monges cistercienses e, sobretudo, o grande São Domingos de Gusmão, que criou a chamada Ordem do Pregadores para ensinar ao povo a verdadeira doutrina e afastá-lo daquelas heresias. E o nosso Santo António, embora pertencendo à Ordem fundada por S. Francisco – os Mendicantes - para ajudar os pobres, foi encarregado do mesmo trabalho: ajudar as pessoas a compreenderem que tudo foi criado por um único Ser, o Deus amoroso de Jesus Cristo. Procurou-se também fomentar a devoção a Nossa Senhora grávida, ou seja, à tradicional Senhora do Ó. Penso que as muitas igrejas e capelas consagradas à Senhora do Ó, ou onde ainda existe essa imagem da Senhora grávida terão origem nesse movimento de contrariar essas doutrinas maléficas de achar que o corpo - e sobretudo o sexo - é obra do Diabo.É o caso da Capela da Senhora do Ó de Câneve na Cumeeira, a Senhora da Orada de Santiago da Guarda e mesmo a igreja de Ansião onde ainda existe a imagem da Senhora do Ó que foi de uma capela particular. 
Interroga o Padre Manuel Ventura Pinho os seus leitores
Porque é que as imagens da capela da Senhora da Orada de Santiago da Guarda ou da Senhora do Ó de Câneve da freguesia da Cumeeira não são de uma senhora grávida mas de uma senhora com o filho nos braços? E a  resposta é que decerto as primitivas Imagens dessas capelas - que são muito antigas - seriam mesmo de senhoras grávidas mas uma outra heresia - o jansenismo - fez com que fossem retiradas do culto. Umas desapareceram mesmo outras foram modificadas ou vestidas com roupas largas e até - conta o Padre José Eduardo Coutinho que fez parte do inventário artístico da Diocese de Coimbra - houve imagens grávidas que foram modificadas para não apresentarem o ventre dilatado, pois a gravidez era considerada demasiado sagrada para ser mostrada. Há ainda quem se recorde que os  leigos não podiam sequer mexer no cálix ou nos panos que o tinham limpado, pois, achava essa heresia que isso era demasiado sagrado para ser tocado pelos leigos. E diziam mais: as pessoas deviam confessar-se muitas vezes mas comungar poucas. O sexo era tão sagrado que nem se devia falar nele. Nem os pais deviam falar no sexo aos filhos!...Coisas de uma heresia, aparentemente oposta à dos cátaros ou dos albigenses, que dominou muitas mentes e que eu ainda encontrei bem viva em várias pessoas ao longo da minha vida sacerdotal. Este erro foi pouco combatido pela igreja e por isso durou vários séculos. Ainda haverá muita gente que acha que isso é que era o certo e ainda hoje deveria ser ensinado pela igreja. Mas, como diz o povo, no meio é que está a virtude.»

Não conheço a capela de Câneve em Penela 
Conheço a que foi a igreja da Orada na Granja em Santiago da Guarda referenciada nas Memórias Paroquiais Setecentistas «(...) A dinamização da colonização do território de Façalamim pelos cónegos regrantes de Santo Agostinho na sua granja deu origem a casais em 1141 e, mais tarde, a lugares e aldeias, gerando a necessidade de se edificar uma ermida ou uma capela e, posteriormente no século seguinte é fundada em 1259 uma pequena igreja ( hoje capela da Orada) que nesse tempo se chamava "Senhora da Hora de Façalami.." e foi matriz de Santiago da Guarda até ao século XIX»  «A 30 de abril de 1758, pelo cura da Freguesia de Nossa Senhora da Orada, Padre João Mendes Baptista, para orago da sua igreja:« Orago he de Nossa Senhora da Expectação (do Nascimento de Cristo) o que também se diz Senhora do Ó e vulgarmente se diz Senhora da Orada». Ainda hoje quando falo a gente da Senhora do Ó dificilmente alguém a identifica no estado de gravidez, na alusão do "O" fechado a simbolizar o ventre. O que quer dizer que a incultura ainda é muito grande neste século XXI. A Imagem de Nossa Senhora da Hora na Igreja da Orada encontra-se desaparecida há poucos anos, depois da década de 80, segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho.

Imagem da Virgem com o Menino em Maças de Caminho
Vulgo Maçanicas, Alvaiázere
Dada a conhecer no Inventário Artístico de 1955 por Gustavo Sequeira
A merecer estudo, uma variante da Senhora d'O como era a Imagem da capela da Orada em Santiago da Guarda e parece ser a de Caneve. No enquadramento na região de esculturas antigas e valiosas.


Ansião
A Igreja de Ansião detêm inestimável património religioso por classificar
Capela do Santo Cristo
Excerto do Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas 1769 Relação do estado das Igrejas, confrarias e capelas de Ansião do Padre José Fernandes Serra «(...) Depois desta segue-se a Capela em que está um Santo Cristo, feita de abóbada sem algum ornato, e tem mais as Imagens da Senhora do Ó e S. Roque feitas em pedra bem esculpidas e a de Santo André feita em pau necessitam de ser incarnadas; esta Capela é particular; é seu administrador atual Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha; todas as Imagens nela colocadas lhe pertencem exceto o Santo Cristo que dizem é da Igreja; tem uma toalha, dois frontais de ostentação já muito usados, umas cortinas em damasco encarnado em bom uso, e não tem mais ornamentos alguns; já ficou prevista que o administrador mandasse fazer um retábulo quando lhe o noticiei respondeu que quando os Padres Cruzios fizeram também a tribuna que na mesma se lhe mandava, que então faria ele o retábulo.»
Capela particular, com um lagar e fazendas para a sua manutenção e celebração de 14 Missas anuais
Se em 1769 o padre diz que o administrador desta capela é Gaspar Godinho da Silva e Sequeira Mendanha reporta para a família que viveu na Quinta de Sarzedas, hoje Sarzeda, a sul da vila de Ansião com lagar que hoje ainda existe em ruína. Nesta quinta de Sarzedas nasceu em 1738 a nobre Mariana Josefa Pimentel de Almeida da Silva e Sequeira Ponce de Leão de Mendanha , filha de Gaspar Godinho de Nisa e Reis Capitão Mor de Ansião e de Josefa Silva e Sequeira Ponce Leão e Mendanha. Casou com Suplício José Pimentel de Almeida nascido em Montemor-o-Velho.
Imagem da Senhora d'Ó 
Ansião
Nossa Senhora do Ó, Hora, Virgem do Ó, Nossa Senhora da Expectação e Virgem da Esperança 
São algumas designações atribuídas à Virgem da Expectação, invocação mariana da Virgem Maria grávida, que vigorou com plena aceitação na produção nacional, repercutindo-se o protótipo medieval até aos tempos presentes.
Uma das três iconografias marianas mais representadas durante os séculos XIV e XV. 
Impressionante o Dr. Manuel Dias, não a ter descoberto. Foi o Sr. Padre Manuel Ventura que a pretendeu expor na igreja, mas o Sr. Bispo e Coimbra, disse-lhe que não tinha altar que a suporte - era fácil, mandar fazer um pedestal em pedra.
Ao mundo a dei a conhecer embora na altura sem foto e agora sem amostragem na sua totalidade, ainda assim é digna de ser vista.
Autodidata, sem titulo académico, muito menos estudei História e Arte, ainda assim imbuída em atrevimento para dizer que se trata de uma obra importante da escola coimbrã, a ser mote e desafio a quem sempre esteve adormecido a esta riqueza escondida e ainda alencar outras imagens mutiladas, em reservas em sacristias !
Dizer ainda  que a herdade de Nossa Senhora da Esperança, mais tarde quinta das Sarzedas, esteve sob domínio do Mosteiro do Lorvão,  e se perceber a brutal analogia das Imagens.
Nas Memorias Paroquiais retira- se no excerto do Padre Luís Cardoso em 1763  (...) He Lorvão o nome desta terra cuja freguezia tem outros varios cazais e povoacois.  O orago da mesma freguezia he a Senhora da Esperanca cuja Paróquia é Nossa Senhora da Expectação.

Imagem da Senhora d'Ó  obra da escola coimbrã?
O Mestre Pêro viveu na centúria de 300 e a atual igreja de Ansião data de 1593. Falta estudo à Imagem da Senhora d'O, ao Calvário  do Santo Cristo e S. Martinho de Tours da capela da Ateanha, entre outras de pedra espalhadas por igrejas e capelas do concelho, que jamais foram alvo de cuidada atenção para a sua classificação por  técnicos da especialidade, historiadores de arte .
Será que temos alguma obra do Mestre Pêro, Mestre Telo Garcia ou Tomé o Velho ? Porque temos na Tore de Vale de Todos, uma imagem de João de Ruão. 
Uma característica na escultura de Mestre Pêro são os cabelos das virgens a cair em caracol. A  Imagem de Nossa Senhora d'Ó de Ansião, na segunda vez, analisei os cabelos, e são pouco pronunciados a cair em caracol. Portanto, reporta para um discípulo do Mestre, que pode ter sido João de Ruão, sendo obra mais ardia, pintada em policromia em tons vermelhos. Um tesouro escondido merece vir à ribalta para ser classificada.
Calvário de pedra do Santo Cristo na matriz de Ansião 
Rico tesouro em policromia aventa ter pertencido à igreja primitiva que foi sita no actual cemitério,  cujo autor seja o mesmo escultor da Imagem da Senhora d'Ó em reservas  na igreja de Ansião (?), e antes ninguém assim alvitrou! .
Nas Memórias paroquiais - A capela particular pedindo permissão para a decorar com  o Calvário, se comprometendo em mandar fazer um retábulo, que nunca o mandou fazer pelo despique que teve com os padres crúzios na obrigação destes fazerem a tribuna, que nunca a fizeram. As Imagens desta capela particular  eram da família do donatário,  a Senhora d´O se deva à devoção que existia em  Montemor o Velho na igreja do castelo na ligação familiar .Os seus donatários nobres com influência no poder com cargo  em Ansião, com costado familiar à família "Niza, Feio e Godinho".
No ano passado distingui as esfinges de patrícios romanos; soldado e mulher no rodapé da moldura do Calvário, jamais antes referido...
                               
Comparar o Cavaleiro medieval de Mestre Pero
na semelhança com a escultura do bispo S Martinho de Tours na capela da Ateanha...
Bispo S. Martinho de Tours da capela de Ateanha
Foto possível retirada do Inventário Artístico de Portugal de 1955 de Gustavo Sequeira
Onde se guarda uma Imagem do Século XIII ou século XIV que figurou na Exposição de Arte Sacra em Leiria efetuada em 1950 conserva restos de policromia primitiva. Aparentemente sem ninguém a lhe deferir valor...O Padre Coutinho lendo o Inventário transcreve esta mensagem e também nada aflora sobre o seu alto valor e a necessidade de vir a ser estudada. Pois eu acredito que tem muito valor, o povo tem de conhecer o seu património para saber exigir, além da segurança é preciso esta Imagem vir a ser classificada por especialista em Historia e Arte e claro o local certo para ela e outras que avancei no artigo de Opinião no Jornal Serras de Ansião deste mês, virem a ser espólio em ala de arte sacra no futuro Museu que tarda abrir em Ansião!
Obras atribuídas ao Mestre Pêro
Igreja da Matriz de Oliveira do Hospital Capela Ferreiros 
A Imagem de Ansião na pintura é semelhante a esta
A Virgem de Podentes do Mestre Pero
Podentes, pertenceu à Ordem do Templo. Desconhece-se a origem da sua igreja.
A sua rica preciosidade uma Imagem da Virgem atribuída ao Mestre Pero foi transferida para o Museu Machado de Castro em Coimbra, sem saber em que data e a razão, ficando assim mais pobre uma terra que foi no passado com muita história.
Igreja do Castelo de Montemor o Velho
Virgem do Mestre Pêro na Igreja de Santa Maria da Alcáçova do castelo
Museu Nacional Machado de Castro
Virgem do Séc. XIV do Mestre Pero
Exemplar, proveniente da Sé Velha, é uma das mais conseguidas realizações do seu grande divulgador: Mestre Pêro. Das suas mãos saíram algumas das melhores imagens que se conhecem deste período. São esculturas devocionais, de vulto, quase sempre em calcário policromado, apresentando características devoção a Nossa Senhora é um dos fenómenos religiosos mais significativos do período gótico. A figuração mais original deste período é a Virgem em pé, expectante, popularmente designada como Virgem do Ó. Representa um tipo iconográfico de grande aceitação na Península Ibérica.
Museu de Lamego
Virgem da Expectação, 1330-1340, proveniente do Mosteiro de São João de Tarouca 
Criada pelo trabalho escultórico de Mestre Pêro, a Virgem do Ó foi o grande modelo da invocação mariana da Expectação, no âmbito da imaginária, possuindo o Museu de Lamego dois exemplares.
«(...) O núcleo de imaginária medieval do museu seria complementado por uma segunda imagem da Virgem da Expectação que, apesar de alterada por posteriores repintes, possui as caraterísticas das anteriores. De origem incerta, a sua presença em Lamego, deve estar relacionada com a nomeação de D. Frei Salvado Martins para a catedral lamecense, onde governou entre 1331-1349. Frade franciscano, de quem se refere a singular devoção à Virgem , foi, igualmente, uma figura preponderante na corte de Isabel de Aragão, a quem coube, enquanto seu confessor, redigir o testamento e assistir na morte a rainha (1336), sendo possivelmente de sua autoria a primeira biografia de Dona Isabel, escrita pouco tempo depois do seu desaparecimento. Como é sabido, foi justamente com o intuito de executar o túmulo da que viria a ser Santa Isabel (c. 1330, ainda em vida da rainha), que mestre Pêro veio para Coimbra .

Museu Regional de Lamego
Nossa Senhora d'Ó do altar do  antigo Hospital da Misericórdia de Lamego  
Mestre Pêro
Anjo Atlante, no Museu Nacional de Machado de Castro
Igreja da Aguda
Na Igreja da Aguda no concelho de Figueiró dos Vinhos encontrei o que resta da sua antiguidade a reportar para terem sido na mesma altura ou não, em que a primitiva Imagem do orago em pedra foi partida possivelmente pelos invasores franceses e se perdeu?
Bela escultura acima do lintel da porta de entrada
                                                      Baixo relevo de Cristo na Cruz 
Pasmei quando contemplei esta escultura de inegável valor, as imagens laterais são absolutamente ímpares pela postura das mãos- grande escultor, de onde seria a cantaria? E era em policromia que o tempo e o sol poente no tempo apagou...
A passar despercebido e não devia...
O arco da capela baptismal com caras de anjo com asas pintado em policromia
Sacristia, com o  antigo sacrário emoldurado em baixo relevo
Capela do Pereiro, Pousaflores, Ansião
Cara de anjo com asas em cor crua
Pia batismal na matriz de Ansião

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Clamar a urgente necessidade de um Projeto de classificação, em Ansião, com parceria da Câmara Municipal e da Igreja matriz no pedido à Direção Geral do Património Cultural no que esta crónica pretende vir a credenciar a Imagem da Senhora do Ó da Igreja de Ansião, o seu Calvário e a Imagem do Bispo S. Martinho de Tours na Capela da Ateanha, e outras eventualmente venham a ser catalogadas. Interesse mayor em colocar ANSIÃO NAS ROTAS TURÍSTICAS atualmente a se quedarem por Santiago da Guarda, quando se deviam estender à vila de Ansião, para admirar a Igreja da Misericórdia com uma sepultura brasonada do Padre João Crisógono Figueiredo Perdigão Vilas-Boas Amaral.

Porque é Hora, outro nome que foi dado à Senhora do Ó, de mais se fazer pela Cultura em Ansião
O meu Grito de alerta  com esta partilha na esperança que o PS venha a pôr Ansião no mapa da Cultura!

 A partilha da crónica desplantou curiosidade no meu amigo Engº Rui Manuel Mesquita Mendes como Researcher  no Instituto de História da Arte ao indicar-me a especialista do Mestre Pêro - Dra Carla Varela Fernandes, que trouxe a Ansião, mas, apesar da escultura ser bela não será do Mestre Pêro pelos cabelos, ao ter sido  ignorada no Inventário Artístico de 1955 de Gustavo Sequeira, sorte ou não, pese embora se mantenha em reservas, sem estrelato merecido! 
Faz-se hora! 
Venham clamar a mais se fazer pela Arte Sacra do concelho de Ansião, no dever e obrigação de a valorizar para a vir dar a conhecer aos Ansianenses e ao Mundo, no júbilo ao nosso passado onde afinal, em glória dizer, nem tudo se perdeu, vendeu, roubou ou desapareceu!
Mais uma crónica  a partilhar cultura em âmbito do  património religioso !

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O cónego da Sé de Coimbra Luís de Mello natural de Ansião

Do Arquivo Distrital de Leiria, Livro de Batismos de Ansião, Dep. IV-28-A-39, assento n.º 3, fl. 661718, Registo de batismo do cónego Luís de Melo
Setembro, 6, Ansião Luís Aos seis dias do mez de setesentos digo do mes de setembro de mil e settesentos e dezouto annos baptizou, e posos Santos Óleos o Reverendo Vigário da Redinha Fr. André Freyre a Luis filho de Belchior dos Reys e de Faustina Freyre desta villa. Foram por padrinhos o sobredito Vigário e Antónia Freyre desta villa e por verdade fis este assento que asiney hoje, dia, mes e anno ut supra.(a) Manoel Sylva e Souza. Neto paterno de Manuel Roiz Bicho e de sua mulher Isabel Roiz, também eles da freguesia de Ansião, e materno de José Carvalho, natural da freguesia de Santiago de Litém, e de sua mulher, Luiza Freyre, igualmente de Ansião. »

Historiadores sobre ele apenas a referência  foi cónego na Sé de Coimbra...
Contudo para atingir este patamar na hierarquia eclesiástica correlacionei na Tese de Mestrado do Padre  Carlos Godinho da Diocese de Coimbra natural do concelho de Ferreira do Zêzere  https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream. (...) este Beneficiado, unido a seus Companheiros, produz em juízo «hum extenso, e infadonho Libello contra o Cabido», em que formulava oito pedidos, que podem agrupar-se em dois fundamentais: um «commum com os mais Beneficiados», pretendendo o titulo de Cónegos e respectivos Direitos Canonicais ; e outro, que «dizia só respeito ao seu Benefício», em que exigia que os Capelães «fossem obrigados a subsidiar o seu Cura no impedimento da doença». 

Óbvio muito extensa com termos antigos ligados à Igreja. Contudo de muita importância conhecer o que foi o  cariz de Luiz de Mello, a sua inteligência e a forma como se debateu no Cabido para ser reconhecido como Cónego e não Meio - Cónego, não satisfeito, foi a Lisboa falar com o rei para ascender nessa hierarquia e ganhar mais, torneando uma causa própria que se viria a transformar no colectivo dos colegas Meios - Cónegos.Não nega nem esconde em nada a sua ascendência judaica do seu carisma, perfil  e inteligência com tantos talentos, que ainda hoje os há em Ansião, de que tenho cota parte por simpatia e me identifico nas atitudes  de justiça!
A Monografia aborda as odisseias vividas por Luís de Mello, de quem apenas a ele se referiam antes historiadores, - cónego da Sé de Coimbra «Pedido de informação feito pelo protonotário Apostólico de Sua Santidade, Doutor Manoel Moreyra Rebello, Cónego Penitenciário na Sé Catedral de Coimbra, na chamada «Carta de Segredo», nos termos do usual na época. Nela se pede informação «sobre o procedimento, vida, costumes» do candidato às ordens sacras, a sua idade, se é ou não bem procedido, bem como se é cristão velho ou se há impureza de sangue na sua família. Acrescentam-se ainda outras informações respeitantes à freguesia de proveniência do candidato."
Sabemos, também, com base na informação «a respectivo do procedimento, vida e costumes e limpeza de sangue», que Luiz de Mello é verdadeiro cristão-velho.

1- Analisando o excerto da Tese de Mestrado salta à vista o nome incompleto do irmã  Pascoal de Mello Freire quando se chamava  - Pascoal José de Mello Freire dos Reis.
Em segundo lugar a carta de segredo referencia  nos costumes e limpeza de sangue, que Luiz de Mello é verdadeiro cristão - velho, não havendo qualquer indício em contrário relativamente aos seus ascendentes. Não acredito, pelo perfil da foto de Pascoal- evidencia cariz judaico e pelo alto talento a que se juntam os apelidos ( Freire, Melo, Roriz Reis)  viveram em Ansião e  se refugiaram na região vindos das Beiras, talkvez de Perdogão Grande onde viveu a familai dos Freire d'Andrade com muitos ramos que se estenderam aos concelhos limítrofes até ao alto Alentejo depois de 1492 fugidos da Galiza e se fixaram como foreiros, estalajadeiros e com cargos de capitão mor e outros, ainda hoje nos seus descendentes corre na oralidade "vindos de Espanha fugidos de guerras com libras em oiro" a que se juntam os nomes que ficaram atribuídos na toponímia ligados à Galiza  o pai Belchior dos Reis e o irmão João viveram no Casal do Galego; Chã Galega; Galegas; Outeiro Galego, Fonte Galega e nomes de terras na Galiza em apelidos como Medeiros entre outros já seriam cristãos velhos ou se converteram em novos .
A tese aborda as odisseias do eleito - Luis de Mello  sem falar da sua origem judaica.
Na verdade era outra temática que abrangia outra odisseia naquele tempo para se frequentar o seminário ou a universidade era necessário demonstrar que a família tinha posses para o candidato se manter, e ainda era obrigatório uma declaração a atestar que não tinha sangue impuro, portanto um verdadeiro cristão velho,mas também bastava um elemneto da familia seguir o sacerdocio para os outros irmãos estarem, libertos da declaração.Enfim hoje se perceber que ao tempo por tantos, quase todos terem passado o "crivo da impureza" denota que recebiam dinheiro ou outras contrapartidas...que envolviam além do padre as pessoas mais influentes.

«"(...) Além disso, é pessoa de «boa vida, costumes e procedimentos» e diligente no exercício dos seus estudos. Acerca do património familiar, as indicações são contraditórias: se por um lado nos é referido que os seus pais eram «abondantes de Bens», o que permitia a Luiz de Mello candidatar-se a Ordens Sacras, podendo usufruir do património necessário, sem prejuízo de terceiros; por outro, a indicação é a de que provém de uma família de parcos recursos, chegando mesmo a afirmar-se que Luiz de Mello era «muito pobre» e teve mesmo a seu encargo o sustento de seu «Pay já velho, a trez irmaãs e alguns irmãos».
«Certo é que provinha de uma família reconhecida pelo serviço militar que seu pai havia prestado à Coroa Portuguesa, aquando da Guerra da Sucessão de Espanha, com alguns benefícios que daí advieram, de que ele fez herdeiro o seu filho mais velho.»  


2 -  Sobre a sua riqueza ou falta dela apreciar no século XVI, concretamente o pensamento de Frei Heitor Pinto, célebre autor quinhentista o aforismo segundo o qual não é pobre o que tem pouco mas o que deseja muito e não é rico o que tem muito mas o que se contenta com pouco.Trata-se de uma citação de Séneca. As concepções estóicas serão uma constante na ética da Igreja, o que se justifica facilmente pela similitude das duas morais. Para no século XVIII Frei João Tavares retomar a mesma ideia que expressamente atribui a Séneca. «(...) O rico não he o que possue, se não quem não deseja possuir. O pobre, não he quem não tem, senao quem deseja ter. De maneyra que o ter não faz ricos, nem o não ter pobres; porque a verdadeira pobreza está na arreia de possuir, e a verdadeira abundância no desinteresse de lograr».
Em Ansião é escassa a informação onde morou a família e os filhos nasceram. Avento a Quinta do Bairro por nela ainda viver descendentes com apelido Reis.

"(...) Destinado à vida eclesiástica, Luiz de Mello inicia o seu processo, no sentido de receber Ordens Menores, com apenas dezanove anos, em 1738 em Coimbra. Viria a receber as primeiras Ordens nesse mesmo ano. Em 1743, após o necessário exame de cantochão, de que é «considerado capaz, é ordenado Subdiácono.
Em 1745 é ordenado Diácono, após aprovação para esta ordem a 25 de Junho desse ano e depois de, a 6 de Setembro, ser, uma vez mais, examinado no cantochão. Ainda neste mesmo ano, a 2 de Dezembro, se inicia o «pedido de averiguações» para ascender à Ordem dos Presbíteros.Como indica o processo de Ordenação, Luiz de Mello foi ordenado,neste grau do Sacramento da Ordem, «nas temporas de Santa Luzia».Tendo sido nomeado para «Ministro da Meza Eclesiastica» do Reverendo Bispo Conde D. Miguel da Anunciação, por mediação do Tesoureiro Mor e Provisor do Bispado, Doutor Manoel Rodrigues Teixeira cargo que exerceu durante alguns anos, Luiz de Mello é provido numa Meia Conezia na Sé de Coimbra, a 19 de Maio de 1749 , altura em que vagou esta «Porcionaria da Cathedral», estando a ela anexa o «Curato da Freguezia» Esta provisão havia sido confirmada por D. Miguel da Anunciação,com data de 20 de Março desse mesmo ano , tendo em consideração as necessidades económicas a que Luiz de Mello estava sujeito e a que já nos referimos. Certo é que o provido, pese embora o cuidado e « contemplação» que mereceu por parte do Bispo Diocesano e do seu Provisor, logo que viu aumentadas as suas forças e diminuída a sua dependência,«não poz tanto cuidado em moderar o seu génio», iniciando um conjunto de perturbações na Sé, movendo o Ministério da Pastoral a favor das suas causas e partindo para a Corte, «afim de atear o incêndio a que tinha dado matéria». Neste contexto, não só dá início a um processo profundamente perturbador da paz da Catedral de Coimbra, como ainda se manifesta, de «viva voz» e por escrito contra o Prelado «seu Benfeitor» e contra o «dito Doutor Provizor, a cuja mediação devera tanto», facultando ao Marquês de Pombal «de sua mesma letra hum papel do qual se formaram os Interrogatórios» da devassa a que dava origem. Não admira, por isso, que alguns autores, como Fortunato de Almeida, denominem Luiz de Mello como «astuto e intriguista», «sem escrúpulos», não refreando os meios no sentido de atingir os seus fins. Ou ainda que o Cabido, nos seus escritos, o denomine como «mais ingrato do que Judas». O próprio Bispo Coadjutor, D. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, na sequência da «Conta» que dá ao Marquês de Pombal, chega a denominar Luiz de Mello como «o Sacerdote mais miserável, que tem o Bispado», não tendo em mente outra coisa senão «o projecto de arruinar a Jerarquia da Cathedral» (...)
 Este conflito, accionado por Luiz de Mello, inicia-se quando este Beneficiado, unido a seus Companheiros, produz em juízo «hum extenso, e infadonho Libello contra o Cabido», em que formulava oito pedidos, que podem agrupar-se em dois fundamentais: um «commum com os mais Beneficiados», pretendendo o titulo de Cónegos e respectivos Direitos Canonicais ; e outro, que «dizia só respeito ao seu Benefício», em que exigia que os Capelães «fossem obrigados a subsidiar o seu Cura no impedimento da doença». A causa correu no Juízo Eclesiástico durante dois anos demorando-a Luiz de Mello com um conjunto de «incidentes , após os quais foi avocada para a Cúria Metropolitana, para que esta fizesse juízo da primeira instância ex causa retardatae justitiae ». Deferida, em Braga, a causa a favor de Luiz de Mello, reacendeu-se de imediato «hum grande incêndio de discórdias na Cathedral» , nas palavras de D. Francisco de Lemos. Como se inovava uma causa já discutida e vendo o Cabido a desordem em que se entrava recorreu este para Sua Majestade para que fosse avocada a causa para a Secretaria de Estado, como veio a acontecer, por acção do Marquês de Pombal. Deste modo, pretendia o Cabido que se mantivesse a autoridade das sentenças anteriores, que Luiz de Mello queria anular; que se mantivessem os Direitos da Catedral; e que esta se conservasse em sossego. Avocada a causa, por Decreto Real, para a Secretaria de Estado, onde permaneceu por muito tempo, pareceu que Luiz de Mello ficaria «prezo para prosseguir na execução do projecto intentado». Por outro lado, via-se «restaurada a paz no Sanctuario; desterrada a discórdia da sua corporação; e os Officios Divinos restituidos á sua antiga ordem, e formosura». Todavia, o Meio Cónego, impossibilitado de seguir por este caminho, logo abriu outro, por onde pôde prosseguir os seus intentos. Não esperando pela «Resolução, e Providencias de Sua Magestade», na causa avocada, mudou de «acção»,de « Pessoas» e de « Juízo", movendo uma força aos Capelães, no juízo da Conservatória da Universidade, tratando agora exclusivamente do artigo que lhe dizia respeito, sem que deste modo iludisse o processo anterior. Nesta segunda causa, pretendia Luiz de Mello que os Capelães fossem obrigados «a subsidiar o Cura da See em todos os seus impedimentos» petitório que havia deduzido do primeiro Libelo. Resolvida a causa a favor dos Capelães, Luiz de Mello não desarma e recorre ao «Supprêmo ribunal da Supplicação».Nesta instância, por desconhecimento da fraude do Suplicante, uma vez que a causa estava entregue ao poder régio, foi decidida a questão a favor de Luiz de Mello com data de 18 de Janeiro de 1763. Entretanto, em todo o processo, Luiz de Mello sempre se denominou como Meio Cónego. Este Beneficiado, que ora estava em Coimbra, ora desaparecia da cidade,sem conhecimento do Bispo e do Cabido, «para effeito de poder ser contado como presente», logo que viu resolvida a causa a seu favor ali se apresentou de novo com a sua Sentença. Todavia, deixou de requerer a sua execução ao longo de vários meses. Foram os Capelães, apoiados pelo Cabido quem notificou Luiz de Mello para que exibisse em Juízo a Sentença, de modo a que, conhecendo o seu conteúdo, pudesse executar-se. Opôs-se o Meio Cónego, «tanto pelos seus Procuradores, como pela sua própria letra», respondendo que «não podia a isso ser obrigado, porque o Direito lhe dava o espaço de trinta annos», para que esta se executasse. Gerou-se novo litígio entre Luiz de Mello, os Capelães e o Cabido, exigindo os últimos a exibição da Sentença e recusando o primeiro a sua execução.Por fim, instado a que se lhe desse execução, declarou nos autos que «exhibia a Sentença». Porém, não só não a exibiu, como partiu para Lisboa, queixando-se a Sua Majestade de que «o Cabido lhe impedia a execução da Sentença, e não queria estar pela authoridade da causa julgada». Além disso, na petição que dirige ao Rei, passa a nomear-se Cónego Meio Prebendado, na esperança de que assim a decisão a tomar resolvesse a causa comum avocada à Secretaria de Estado, passando Luiz de Mello e seus companheiros não só a denominar-se com o título de Cónegos, mas a exigir, igualmente, os respectivos Direitos Canonicais. Certo é que o rei providencia para que a Sentença seja executada a favor de Luiz de Mello, mediante Decreto Régio, datado de 4 de Setembro de 1766, no qual, entre outros elementos, o denomina Cónego Meio Prebendado. Além disso, o rei censura a desobediência do Cabido, pelo facto de os Capelães não subsidiarem o Cura da Sé e de este ter sido multado nos dias em que esteve doente, exigindo que se proceda à devida liquidação dos direitos que lhe assistem. 
O Cabido, resignado, obedece à Carta Real e procura liquidar as multas bem como dispor a que os Capelães procedessem segundo a régia decisão.Todavia, na procuração do Cabido, em que se fazia «Termo deste ajuste» Luiz de Mello não era nomeado «Conego Meyo Prebendado», mas simplesmente «Meio Conego». Ora, não aceitando este que se lhe negasse o título que lhe havia dado Sua Majestade, «com summa industria gritou Luiz de Mello, que o Cabido desobedecia ao Decreto». Os Capitulares, aterrados, fizeram-lhe nova proposta, no sentido de se assinar nova procuração sem menção dos «Títulos dos seus respectivos Benefícios» .Todavia, Luiz de Mello não aceitou. O Cabido propõe fazer nova procuração, em que o nomearia Cónego Meio Prebendado, mas apenas em «reverencia ao Decreto». Resiste Luiz de Mello, exigindo ser tratado pelo Título que lhe havia dado Sua Majestade.
Percebendo o Cabido o intento de Luiz de Mello, que outro não era senão o de aceder aos direitos que advinham da denominação como Cónego, «não quizerão estar pela assignação pura e simples do dito Titulo», fazendo-se a liquidação na «forma do Decreto».
Luiz de Mello não desarma e faz petição ao Provedor para que mandasse vir à sua presença os Livros do Cabido, «não só os da Fazenda, mas do Governo Espiritual, e do mais expediente». Foram colocados os livros à sua disposição, para que averiguasse não só o que respeitava aos descontos feitos, mas igualmente o que se referia ao exercício dos últimos dez anos. Luiz de Mello, todavia, «com fingidos pretextos, e soffismas», não só embaraçava a liquidação, como de imediato começa a espalhar rumores de «haver nelles falsidades, e extravios de dinheiro». Efectivamente, achando nos livros «algumas aspas» e «huma folha cortada», pediu logo ao Provedor que mandasse fazer auto destes factos.
Na verdade, não interessava a Luiz de Mello que se desse por terminada a questão, já que a sua pretensão, bem como dos seus companheiros, era a de passar do nome de Cónego para o sufruto dos direitos Canonicais, usando, portanto, deste expediente; uma vez que lhe estava vedado outro caminho pela causa avocada. Ora, neste sentido, nada lhe era mais conveniente do que «metter as cousas em confusão». Assim, «fazendo correr que havia falsidades nos livros, e extravios do dinheiro da Massa», principiou também, com os seus companheiros, a espalhar pela cidade de Coimbra que o Cabido «estava contumaz em desobedecer ao Decreto»; que o «seu governo era o mais desordenado que podia haver»; «que falsificava livros»; e que «extraviava dinheiros da Massa Commua».Mas de todas as queixas, sobressaía, particularmente, a de desobediência «formal» dos Capitulares, ao não quererem nomeá-lo como o fazia Sua Majestade. Certo é que o Cabido, no desejo de ver restabelecida a paz no seu interior, havia estabelecido com Luiz de Mello a liquidação de «seis mil e quinhentos cruzados», que fez entregar em Casa do Ministro Provedor, através de dois Capitulares procuradores, com a obrigação de «assignar o termo da ditta composição». Todavia, como na procuração não se dava a Luiz de Mello o nome de Cónego Meio Prebendado, este «não quis receber o importe da ditta composição», ficando o dinheiro depositado «em juízo», nas mãos do mesmo Procurador. Entretanto, neste contexto da denúncia de falsificação dos livros, propalada por Luiz de Mello, o Provedor Pascoal de Abranches Madeira, que desconhecia os objectivos deste Meio Cónego, «adopta os seus sentimentos» e dá conta ao Rei de que o Cabido era realmente «rebelde», «falsificador de livros», e «Administrador infiel», propondo que os Meios Prebendados e Tercenários tomassem parte no governo Capitular. Se, neste ponto do conflito, o Provedor Pascoal de Abranches Madeira tivesse agido com «justiça», «quietação» e «socego» - nas palavras de D.Francisco de Lemos –, tudo se dissiparia. Mas não: persuadido de que Luiz de Mello era Cónego; vendo a repugnância do Cabido em nomeá-lo com este título; aceitando como verdadeiras as «falsidades suppostas, de que fez Auto; decidiu não apenas dar conta do sucedido a Sua Majestade, mas igualmente propor-lhe «hum arbítrio para terminar as questões, e obviar as fraudes do Cabido». Sugere que Luiz de Mello se continue a chamar Cónego Meio Prebendado, que um dos Beneficiados fosse «perpétuo Secretário do Cabido», e que na administração do Cacifo e do Celeiro «concorressem simultaneamente com os Conegos Capitulares». Ora, nada servia melhor os intentos de Luiz de Mello, já que estes elementos eram os que constavam da causa avocada à Secretaria de Estado. Expedida a conta do Provedor, eis de novo Luiz de Mello a caminho de Lisboa, com procuração dos seus companheiros, naturalmente interessados na causa, pois que ela entrevia o fácil acesso aos direitos Canonicais. À «contado Provedor» acrescentava Luiz de Mello queixas de «grande miséria», a que o Cabido o havia «reduzido», concluindo «todo este arrazoado, com lágrimas,para extorquir dos ouvintes a compaixão. A questão esteve sem ser decidida alguns anos, permanecendo Luiz de Mello em Lisboa, «para onde hia, sem dizer nada ao Cabido, continuar as mesmas lamentações de vexação, e de miséria» .Entretanto, em 1775, o Rei decide a causa, dando razão, uma vez mais, a Luiz de Mello, por Decreto Real datado de 23 de Setembro desse mesmo, ano.No Decreto, não eram simpáticas para com o Cabido as palavras e a atitude do monarca: se considerava os Capitulares, por um lado, temerários, obstinados e desobedientes no cumprimento das sentenças régia; por outro, exigiu ao Provedor da Comarca de Coimbra que, logo que recebesse o seu Decreto, intimasse o Deão António Xavier de Brito, o Cónego Nuno Pereira Coutinho e o Cónego mais antigo da Catedral e os desterrasse para uma distância de trinta léguas de Coimbra, sem que pudessem ficar a menos de vinte léguas uns dos outros. O Decreto Real, que fazia eco das queixas de Luiz de Mello e do Provedor, nomeadamente a falsificação dos Livros do Cabido, determinava, como elemento essencial, que se fizesse integral restituição ao «Espoliado» - as multas pretéritas na quantia de seis mil, e quinhentos cruzados» –; bem como se efectuasse o pagamento apenas com recurso à «Massa dos Capitulares vogais» e não da que pertencia ao conjunto dos Beneficiados da Sé, uma vez que – alegava-se ali – «os Conegos Meyos Prebendados, e Tercenarios, não tiverão culpa» alguma. Além destas determinações, estipulava ainda que de entre os «Conegos Meyos Prebendados» se fizesse a eleição de um para «Secretario do Cabido» e que concorressem sempre hum «Conego Prebendado, e outro Meyo Prebendado» para os ofícios de Cacifeiro e de Celeireiro. Mas de todas as decisões régias, aquela que mais servia os interesses de Luiz de Mello e seus companheiros era a denominação de Cónegos Meyos Prebendados, que o monarca assumia como legítimo nome destes Beneficiados. Efectivamente, declara em relação ao Suplicante: «E na questão do nome, se fique o Restituído denominando Conego Meyo Prebendado, como athé agora se denominou, pondo-se nesta questão hum perpetuo silencio» Dirigido o Decreto ao Provedor da Comarca de Coimbra, a quem chegou em Outubro de 1775, Luiz de Mello não tardou em regressar a esta cidade sendo recebido no meio de «acclamações, e vivas dos seus sequazes» . A Sentença foi logo executada, quer no que respeitava «ás perdas, damnos e multas», quer na denominação de Cónego Meio Prebendado dada a Luiz de Mello.
Por outro lado, três dos seus colegas foram investidos nos ofícios de Secretário, Cacifeiro e Celeireiro. (...) Mas Luiz de Mello, por outro lado, «trabalha por confundilla», elaborando agora um «extensíssimo Memorial», no qual «elle empenhou todas as suas forças, e com o qual a ppareceo terceira vez na presença de Sua Magestade»(...) Mas Luiz de Mello não desarma e assume já novas atitudes: enquanto decorrem as averiguações decorrentes dos processos, procura agora perturbar a disciplina da Catedral. É neste contexto que D. Francisco de Lemos, então Bispo Coadjutor de Coimbra, decide fazer a exposição da sua «Conta» ao Marquês de Pombal, com o objectivo de que enquanto não se decidisse qual era a intenção do rei no seu Decreto, «se conservasse tudo na ordem em que estava até ali», já que os Meios Cónegos tentavam, por todas as vias, apoderar-se dos direitos Canonicais, que reclamavam nos «Papeis, e Memoriaes». É precisamente na sequência destas atitudes que D. Francisco de Lemos justifica a sua exposição ao Marquês, desabafando: «depois de terem exaurido toda a minha paciência por mais de hum anno, ultimamente me vi precisado a fallar nellas a V. Excellencia para lhes dar o opportuno remedio» .Se é verdade que a Catedral viveu momentos conturbados durante todo o século XVII, particularmente após 1615, como referimos atrás, agudizados ao longo do século XVIII, nada se compara aos tumultos que opuseram Beneficiados e Capitulares no ano de 1775, ano em que a paz se «rompeo de todo». Não é de estranhar, portanto, que D. Francisco de Lemos denomine este período como aquele em que se vive um «scisma aberto na Cathedral»  (...)Sugestiva é a atitude de Luiz deMello, numa altura em que presidia ao Coro o Cónego João Leite Cabral Tavares. Tendo este Capitular mandado a um beneficiado que suprisse a falta de um hebdomadário, e tendo ele recusado, replicando-lhe «que o fizesseelle», foi multado por desobediência. Luiz de Mello, que estava no Coro, vem em defesa do beneficiado, disputando ao presidente o direito de multar. Ora, o Cónego João Leite, vendo tamanha desobediência em Luiz de Mello, multa-o também. Mas este não se conteve e declara « que também o multava»(...) Curiosamente, com a sua habilidade jurídica, tal foi o que Luiz de Mello conseguiu para si, com os Decretos Reais resolvidos a seu favor.Não admira, portanto, que, perante tal abuso e injustiça, D. Francisco de Lemos interpele, na sua missiva, o Marquês de Pombal sobre tamanha violação «á Disciplina da Igreja» e à própria obrigação de providenciar à cura da Sé. E de tal modo se adensava esta perturbação, que o próprio Prelado chegou a pôr a hipótese, caso se mantivesse esta desordem, de rever o estatuto dos Capelães.De resto, ele mesmo afirma que, após as sentenças proferidas, a atitude de Luiz de Mello não só vai aterrando os Capelães, agravando as suas obrigações, como vai «ampliando os Direitos dos Curas». Na verdade, com as exigências de Luiz de Mello, os Capelães deixavam o ofício de aumentar em as vozes no Coro e as missas dos Legados, para coadjuvarem o cura da Sé, nas suas obrigações paroquiais.Ora, tal exigiria essa revisão do estatuto, uma vez que se alteravam, na substância, as suas obrigações.Podemos concluir que o «apetite que tem os Beneficiados de serem Conegos» – na expressão de D. Francisco de Lemos – suscitou ao longo de mais de quatro séculos vários conflitos na Sé Catedral de Coimbra.Todavia ,nenhum período foi tão conturbado como este em que Luiz de Mello, provido na Cura da Sé e, consequentemente, numa Meia Conezia, se assumiu como principal cabeça de motim, tornando-se ele mesmo advogado desta causa, que se estende praticamente a todos os Beneficiados. Estava em causa um interesse preciso. As demandas ganham proporção na justa medida em que as decisões régias – como vimos – favorecem os Beneficiados. Em tal circunstância, atinge-se um ponto tal de ruptura que não era mais viável prolongar o conflito. Ele necessitava de uma outra intervenção do poder régio para que a paz se restabelecesse em definitivo na Catedral. É para aí que aponta D. Francisco de Lemos, na sua Conta dirigida ao Marquês de Pombal, justificando assim a sua intervenção: «Á vista de tudo, V. Excellencia dará as Providencias, que lhe parecerem convenientes para parar o curso de tantas,tão continuadas, e tão antigas desordens» .Efectivamente, as contendas viriam a resolver-se a favor do Cabido. Mas não já no tempo do Marquês. Seria D. Maria I, entretanto aclamada Rainha quem viria a restabelecer a ordem na Catedral, dando o seu beneplácito à Bula Papal que reviu o Estatuto dos beneficiários da Sé.Os Meios Cónegos, para justificarem a sua pretensa condição Canonical,começam por referir que o Provedor Pascoal Abranches Madeira defendeu, na representação que fez a Sua Majestade, que o Meio Prebendado Luiz de Mello se devia chamar Cónego, uma vez que, no Decreto Régio, «o mesmo Senhor [assim] o denominava». Todavia, a questão de Luiz de Mello é uma espécie de trampolim para o reconhecimento de todos os Meios Cónegos como pertencentes, de pleno direito, ao corpo Capitular. Aliás, referem mesmo que Sua Majestade os reconheceu como tal, ao decretar que não só Luiz de Mellose chamasse Cónego, mas também todos os outros.E, num tom de apologia, dizem que esta foi uma sábia decisão, depois de terem sido envolvidos em toda a questão não só as «Partes», mas também «o mayor Tribunal do Reino». Tão pouco o facto de o rei ter denominado, no Decreto, os demais Cónegos como «vogais» implicaria qualquer forma de diferenciação.Tal expressão advém da exclusiva necessidade de diferenciar quem devia, ou não, suportar as despesas com o pagamento das demandas em curso, particularmente a Luiz de Mello, o Meio Cónego Luiz de Mello, nos petitórios que dirige a Sua Majestade, abandona este nome e passa a denominar-se Cónego Meio Prebendado, «tomando porauthoridade própria aquele Titulo». Deste modo, manifesta o seu espírito contraditório, porquanto se queixa da desobediência do Cabido, na presença do rei, e toma para si um nome por livre iniciativa, contra as leis da Catedral, «que participão da Protecção de Sua Magestade».Ora, Luiz de Mello obteve esta denominação com base na sua mentira, pois que não seria presumível que algum vassalo se apresentasse na presença do rei com qualquer título que lhe não pertencesse, o que este Meio Cónego veio a fazer «com muita meditação» .
(...) O Cura da Sé, agora confiada a Luiz de Mello,o Cabido E he certo, que esta Freguezia está ainda hoje unida a huma Meia Prebenda, de que he Titular o Meio Prebendado Luiz de Mello». Sendo o objectivo singular dos Meios Cónegos e Tercenários o de ascender ao Canonicato e que desde cedo perturbou a corporação Capitular de Coimbra, certo é que tal desiderato, na segunda metade de setecentos, ganhou um fôlego nunca visto na sua intensidade e durabilidade, o que provocou um desassossego ímpar na história da Catedral – e mesmo da cidade –, pela subversão que operou na ordem e disciplina que organizava a vida de tal instituição da igreja Coimbrã. Tão pouco as demais Catedrais do Reino, que registaram conflitos internos de natureza similar, se confrontaram com processos de litigância de dimensão equivalente. Para tanto contribuiu a personalidade ímpar e determinada de Luiz de Mello, por certo caracterizada por uma maneira de ser exaltada e buliçosa, que D. Francisco de Lemos evidencia ao afirmar que se trata de um «animo naturalmente intrépido, para logo o considerar como o «Sacerdote mais miserável, que tem o Bispado». De facto, considerado o quadro mental, político e religioso que viemos a definir, a verdade é que o conflito não teria assumido as proporções que atingiu senão pela conjugação de tais factores com a personalidade deste Meio Cónego. Efectivamente, devem-se à sua intrepidez argumentativa os meandros que as diversas demandas vieram a percorrer. Também, neste sentido, podemos considerar, uma vez mais, as palavras de D. Francisco de Lemos ao referir que Luiz de Mello é «poderoso na Arte do Foro, e cheio de infinitos recursos», com o intuito de alongar as demandas e "confundir os Direitos mais certos». Certo é que este Meio Cónego, dotado de uma clara inteligência, de força de ânimo e possuindo um vasto conhecimento do direito eclesiástico e da prática jurídica da época, denota, de facto, uma profunda capacidade argumentativa, sabendo aproveitar a seu favor as minúcias processuais, o que lhe permite alcançar aquilo que reclama. A título de exemplo, constatamo-lo na questão dos Capelães e, muito especialmente, na particularidade da atribuição, que lhe é feita, do título de Cónego Meio Prebendado – sendo ele a denominar-se assim, vê legitimada pela autoridade régia a sua pretensão, partindo daí para a reivindicação da plena condição Canonical.
Luiz de Mello foi o grande protagonista de todas estas contendas que opõem os Meios Cónegos e Tercenários ao Cabido da Sé de Coimbra. Não apenas porque a sua casa foi o espaço de «assembleias diurnas, e nocturnas, em que se trata da ruína dos Capitulares", na expressão de D. Francisco de Lemos; mas sim, particularmente, porque foi o próprio Luiz de Mello quem tratou de formar o «façanhoso projecto de arruinar a differença das Ordens da Jerarquia da Cathedral». Ele, homem «dotado de um animo naturalmente intrépido, poderoso na arte do Foro, e cheio de infinitos recursos, que ella tem inventado para confundir os Direitos mais certos, e alongar as Demandas»na expressão do mesmo PreladoEfectivamente, foi ele a «Cabeça» de todos os Beneficiados no desenvolvimento do conflito. Foi-o em Coimbra, onde reiniciou as demandas; e em Lisboa, onde se manteve por períodos diversos, e por vezes bem longo, como verdadeiro embaixador da causa dos Beneficiados, ocupando-se a fazer «papeis para as causas», e sob o auxílio dos seus companheiros, que em Coimbra lhe «fazião os gastos» de modo a que não fosse multado. Ainda que não isolado, pois que no desenvolvimento do conflito D. Francisco de Lemos se refere sempre à acção de Luiz de Mello e seus Companheiros, foi verdadeiramente o promotor e o rosto da grande perturbação que se prolongaria na Sé Catedral de Coimbra por mais de duas décadas.Em todo este processo não é de estranhar, contudo, que Luiz de Mello tenha contado com o apoio de algumas personalidades influentes. Ainda que as não conheçamos na totalidade, e tão pouco a natureza de algumas das suas possíveis intervenções, não podemos deixar de considerar a proximidade familiar deste Meio Cónego com o grande jurisconsulto Pascoal de Mello Freire, de quem é irmão. Isso não significa obrigatoriamente, é certo, qualquer participação directa deste grande legista no processo conflitual; todavia, estranhar-se-ia que Luiz de Mello o não tivesse consultado a propósito das demandas em que estava empenhado. A verdade é que Luís de Mello soube usar, no desenvolvimento do processo litigioso, a sua capacidade mobilizadora: iniciando as demandas com os Cónegos a partir de uma questão pessoal – a questão dos Capelães – rapidamente as abriu ao interesse colectivo, congregando as vontades e intervenção decidida de seus pares. Mas entendamos, todavia, que esta ordem de Beneficiados da Sé Catedral de Coimbra – Meios Cónegos e Tercenários – não agiu apenas por simpatia para com o Meio Prebendado Luiz de Mello. O seu interesse ia mais fundo. Mediante a acção deste «cabeça» de motim abria-se, como se compreendeu já, a possibilidade de ascender a uma nova posição hierárquica.E, neste sentido, de aceder a uma organização que proporcionava um claro desafogo económico aliado a um novo estatuto social Luiz de Mello, contudo, independentemente do modo como acedeu à hierarquia Catedralícia, encetou um percurso de auto afirmação que nos parece assentar num alto conceito que faz de si próprio. Realidade que nos permite compreender a forma como afrontou o Cabido da Catedral de Coimbra. Podemos concluir, portanto, que quer um quer outro destes Meios Prebendados reconheciam a existência de um profundo poder simbólico inerente à condição Capitular, que se transforma em força motivadora para lutarem pela posse do título de Cónego. Em certo sentido – reafirmemo-lo –essa titularidade constituía-se, no contexto do Antigo Regime, como cume de um percurso de valorização pessoal que se trilhou, ou como reconhecimento de um poder preexistente que, como dissemos, interessava agora complementar.
Luís de Mello privilegia-os, usufruindo de uma capacidade de organização interna dos Meios Prebendados e Tercenários, como acima se referiu, que suporta a sua contínua deslocação à capital do Reino. Ao mesmo tempo, este Meio Prebendado parece granjear aí apoios diversos, o que lhe permite permanecer em Lisboa por períodos de tempo mais ou menos longos. Todavia, também aqui não dispomos de elementos suficientes para determinar a natureza desses apoios, quem lhos podia prestar, ou ainda onde se recolhia Luiz de Mello aquando destas deslocações.

3 - Diz o autor que Luiz de Mello passou períodos mais ou menos longos em Lisboa, sem saber quem o recolhia e apoiava. Obviamente era visita da casa do seu irmão Pascoal José dos Reis, que antes em Coimbra o tinha apoiado nos estudos sendo hóspede na sua casa,  para agora a recompensa de irmão grato e lhe dar  luz e demais ensinamentos de retórica para se vir a defender como se fosse advogado.

A  descoberta do Engº Portela 
 Figura 1. Postal ilustrado de Ansião no início do século XX. Edição Manuel dos Santos Franco

A casa é esta que mostro na esquerda adoçada a um alto jardim que foi expropriado em 1937 para se fazer a Praça do Peixe e abertura de duas transversais. 
Reconhecemos, por exemplo, que em 1 de novembro de 1769 foi lavrada na cidade de Coimbra uma escritura de contrato e obrigação da obra da frontaria de umas casas na vila de Ansião (Apêndice documental – documento 2). Esta empreitada de fornecimento e aplicação de cantarias foi adjudicada pelo reverendo cónego da Sé de Coimbra Luís de Melo aos mestres canteiros José da Maia, António Martins,ambos moradores na Ribeira de Coselhas e António José morador no Vale de Linhares pela quantia de 262.400 réis. Esta casa que se julgava ter sido mandada fazer pelo mirmão Pascoal, em verdade tenha sido ela o pagante e da obra foi incumbido por estar mais perto em Coimbra. As casas nunca foram acabadas.
(...) Ficou arrolado neste contrato que em 28 de setembro de 1769 o cónego Luís de Melo havia arrematado ao mestre canteiro José da Maia a empreitada de alvenaria dessas casas pela quantia de 135.800 réis e que “ficara por seu fiador e principal pagador o referido António Jozé que fizera hum escrito particular e hums apontamentos assinados por eles, e testemunhas, e que retificava o dito escrito e apontamentos, e fiança de fiador e principal pagador na forma que em si declaram como se tudo foçe copiado nesta escritura

” De idêntica forma, assegurou também o citado mestre canteiro “
que agora novamente tinha tomado da mam do referido Reverendo Cónego toda a mais obra de cantaria, e alvenaria das ditas cazas na forma que sede clara em outros segundo os ditos apon-tamentos que se acham feitos
”, apresentando como fiadores os mestres canteiros António José e António Martins.Para o cumprimento desta empreitada, foram contratados três dos mais relevantes mestres canteiros de Coimbra, revelador de que o cónego Luís de Melo procurou a garantia de um trabalho de excelência e qualidade, prova do seu estatuto e condição social nas sociedades conimbrcense e ansianense.


DOCUMENTO 2
1769, novembro, 1, Coimbra – Escritura de contrato e obrigação da obra de cantaria da frontaria de umas casas na vila de Ansião entre o reverendo cónego Luís de Melo da cidade de Coimbra e os mestres canteiros José da Maia, António Martins e António José.Arquivo da Universidade de Coimbra, Cartório Notarial de Coimbra, Livro de Notas n.º 30 [1768-1770], do notário Manuel Francisco dos Santos, Dep. V-1ªE-8-5-87, fls. 130v-131.Fora 1.Obrigaçam que fas Jozé da Maya da Ribeira de Cozelhas,ao Reverendo Cónego Luis de Mello desta cidade.Saibam quantos este publico instromento de obrigaçam,fiança e aseitação como em Direito milhor dizer se possa e mais firme e valiozo for virem que sendo no anno do Nassimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos sesenta e nove, ao primeiro dia do mes de novembro dodito anno nesta cidade de Coimbra e moradas do Reverendo Luis de Mello, Cónego na Sé desta cidade, onde eu Tabaliam vim por vertude da Destrebuhiçam do thior seguinte: Por outra A. Santos = Obrigaçam que fas Jozé daMaya da Ribeira de Cozelhas, ao Reverendo Luis de Mello desta cidade, em vinte e nove de outubro de mil setecentos sesenta e nove, destrebuhida no Livro a folhas duzentas outenta e huma verço = De Jezus = E não dezia mais a dita Destrebuhiçam. Ahi se achava prezente o dito Reverendo Cónego Luis de Mello pessoa que reconhesso e bem assim se achavam também Jozé da Maya, Mestre Canteiro, e António Martins, ambos da Ribeira de Cozelhas e António Jozé de Val de Linhares todos Mestres Canteiros, pessoas reconhesidas das testemunhas ao diante nomeadas, e asindas, as quais eu Tabaliam reconhesso que me sertificaramserem os próprios aqui contheudos de que dou fé, e logo pelo dito Jozé da Maya me foi dito prezentes as mesmas testemunhas, que elle em vinte e outo de setembro próxim opassado do prezente anno tomara ao dito Reverendo Cónego a obra de cantaria da frontaria de humas cazas que o mesmo pretende fazer na vila de Anciam de que ficara por seu fiador e principal pagador o referido António Jozé que fizera hum escrito particular e hums apontamentos assinados por eles, e testemunhas, e que retificava o dito escrito e apontamentos, e fiança de fiador e principal pagador na forma que em si declaram como se tudo foçe copiado nesta escritura para ficarem valendo por ella; e dice mais elle dito Jozé da Maya que agora novamente tinha tomado da mamdo referido Reverendo Cónego toda a mais obra de canta-ria, e alvenaria das ditas cazas na forma que se declara e moutros segundo os ditos apontamentos que se acham feitos,e portanto dise, que a todo o contheudo dos ditos apontamentos se obrigava por sua pessoa e bens, e os avia por repetidos nesta escritura como se nela fossem tresladados,e huns e outros ficam sendo por tudo desta escritura, e coma mesma fé, para o que os primeiros apontamentos sendo asinados por eles, e no escrito particular que os comfirmou,e pelas testemunhas que no dito dia vinte e outo de setembro estiveram prezentes e os segundos apontamentos de toda a mais obra vem tambem asinados por mim Tabaliam com o meu sinal razo, e pelas testemunhas que sam desta escritura, e os // [fl. 131] E os riscos da obra vam também asinados por mim Tabaliam por onde se ham de regular, e diseram elles ditos António Jozé e António Martins que eles ficavam por fiadores e principais pagadores do referido Jozéda Maya a fazer outra declarada em ambos os ditos apontamentos dentro do tempo neles declarado e toda a falta,perda e damno, pois o dito Jozé da Maya se obrigava como se obriga a deste instromento dar feita e perfeita a dita obra no tempo ajustado nos ditos apontamentos, e que faltando a isso poderia elle dito Reverendo Cónigo meter Offeciais á sua custas, e executado por via somaria pelo que gastar que logo se dirá, e averá por liando digo e averá por liquido por declaraçam de dois dos ditos Offeciais feita nas custas desta escretura para logo por ela se thé a tiverem os desdias da Ley asim pela quantia declarada como pela perdae damno que também declararem os ditos dois Offeciais ou seja pela mora ou também pela emperfeiçam e defeito da obra contra os riscos, e apontamentos della e sendo por emperfeita na forma deles, elle dito Reverendo Cónego lhe pagará os cento e trinta e sinco mil e outocentos reis dos primeiros apontamentos, e os duzentos e sesenta e dois mil e quatrocentos reis dos segundos, e o mais que no numero quinto dos segundos apontamentos se declara, se elle dito Jozé da Maya o fizer, e do dinheiro que já lhe tem dado à conta como consta dos primeiros apontamentos valerá a quitaçam neles como escritura, e nos mesmos airá passando do mais que lhe for dando de que já resebeu sincoenta e sinco mil e outocentos reis como nos ditos primeiros apontamentos se declara, e não reseberá mais dinheiro senão a porpoçam do que valer a obra que tiver feita, e de tudo eles ditos António Jozé, e António Martins na forma dita diceram ficavam por fiadores e se obrigavam também como principais devedores, e pagadores e todos por suas pessoas e bens prezentes e futuros; e por ele ReverendoCónego me foi dito prezente as mesmas testemunhas queelle aseitava o prezente contracto na forma que se acha es-tipulado em fé e testemunho de verdade asim o outorgarame rogaram a mim Tabaliam lhe fizesse este instromento neste meu Livro de Notas em que asinaram de que pedira me comsederam hum deste thior e os mais que deste comprirem que aseitaram, e eu Tabaliam como pessoa publica por quem tocar auzente sendo testemunhas prezentes António Rodrigues Moreira, Aferidor e morador nesta cidaden a Rua da Moeda, e Felipe de Albuquerque, Sarralheiro morador na mesma, na Rua dos Sapateiros, e todos aqui asinaram depois que este lhe foi lido por mim Manoel Francisco dos Santos, Tabaliam o escrevy. Declaro que este instromento foi asinado em meu escritório sobredito o fis.(a) Luiz de Mello(a) Jozé da Maya(a) António Jozé(a) António Martins(a) Felipe de Albuquerque(a) António Rodriguez Moreira


Dissecar a partilha da crónica publicada - O Ribeira de Pera, do Engº Miguel Portela - As casas do Cónego Luís de Melo na vila de Ansião em 1769
A foto não mostra a casa citada que é ao cimo da rua onde funciona em parte o Clube de Caçadores e a outra parte é particular. Segundo o Dr Manuel Dias a casa foi referenciada por José Luís de Macedo como tendo sido mandada fazer por Pascoal dos Reis ,irmão mais novo de Luís de Mello e por ter morrido sem a ver acabada foi vendida por um seu sobrinho de Almofala sendo que o novo dono apenas lhe aproveitou as cantarias.No tardoz tem uma varanda de pedra em grade.
Então como se explica o documento de adjudicação da obra da casa em nome de Luís de Mello, irmão de Pascoal dos Reis?
Este Luís de Mello criou o pandemónio no bispado de Coimbra, jamais antes assim acontecido, por não se resignar com a categoria de meio cónego e querendo subir na hierarquia, a cónego que só aconteceu em 1766. Quem gostar de ler a formidável Tese de Mestrado do Padre Carlos Godinho da Diocese de Coimbra natural do concelho de Ferreira do Zêzere em que o autor não percebe a razão de Luís de Mello fugir de Coimbra, sem nada dizer partindo a caminho de Lisboa, e que correlacionei em aprendizado de retórica em leis com o irmão Pascoal, sendo seu hóspede na sua casa na paga de quando em Coimbra dele tratou dos 12 anos aos 19, até se formar. Luís de Mello precisava de saber como se defender para ganhar a contenda no bispado e a ganhou seguramente pela ajuda do irmão que o exercitou na arte como falar . Ora Luís de Mello não tinha dinheiro, será mais que evidente que a obra foi paga pelo Pascoal dos Reis que o incumbiu de a adjudicar por estar mais perto em Coimbra, o que seja verossímil dizer, até porque assim foi deixado escrito por quem comprou a casa ao sobrinho. 
Verossímil, nem sempre o que aparece escrito se deva seguir como certo, e neste caso parece plausível dizer.



FONTES
Livro de Noticias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
Ansianenses Ilustres do Dr Manuel Augusto Dias
Cadernos e Estudos Leirienses nº 9
Dr Vítor Faveiro
https://geneall.net/pt/forum/59276/pascoal-de-melo-ascendencia/
Tese de Mestrado
 https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream.

Jurisconsulto Pascoal José de Mello Freire dos Reys nasceu em Ansião

Livro da sua autoria com o seu nome completo
Árvore genealógica elaborada por Henrique Dias

Avós paternos Manuel Rodrigues Bicho ou Manuel Roriz Bicho
Avós maternos José Carvalho de Vila Cã (Pombal) e Luísa Freire da Ribeira do Açor , Ansião.

Os pais de Pascoal dos Reys
Encontrei registos posteriores com o apelido Bicho dito alcunha , atesta que se  fidelizou.
O pai de Belchior dos Reis viveu no Escampado de Calados, em Ansião. Encontrei um registo de casamento no Escampado de Santa Marta que o menciona. Depois de casado com Isabel Rodrigues foram morar no Casal do Galego,  hoje Pinhal, a sul de Ansião, onde ainda existem dois troços de estrada real, um deles em vias de desaparecer, se não lhe acudirem o que se lamenta. Se lhe acrescentar a  perda da toponímia antiga, que dita a origem deste casal e de outros que ali moraram vindos da Galiza. 

Belchior Reys só podia ter vivido em dois locais ao Ribeiro da Vide
Depois de casados foram morar na Quinta do Bairro, a entestar o Largo do baldio do Ribeiro da Vide, em Ansião, onde tenham nascido os filhos.Mas em que casa?
A norte, na casa que foi de João Marques André, veio a ser herança, por serem  familiares, ou noutra mais a sul do largo, também herança, que apresenta chão empedrado de calhau calcário negro no r/c , a casa no tempo devia ter sofrido alteração, ao lado encontra-se um muro baixo,  mas ainda conserva a caracteristica de duas portas à maneira judaica, seria esta a casa onde viveu Belchior dos Reys?

Chão em pedra escura a sul do largo do Ribeiro da Vide
Parede primitiva  a norte da  casa?
Encontrei este um muro baixo quase rente ao chão onde teria assentado outrora a primitiva  parede e  nos séculos seguintes foi alterada como agora se encontra mais pequena(?).
Casa atual que fez parte da Quinta do Bairro ao Ribeiro da Vide
Belchior dos Reys
Foi oficial do exército português que se distinguiu na Guerra da Sucessão de Espanha, em que Portugal participou, entre 1704 e 1712. 
Naquele tempo foi implementada uma mediada: desde que numa família, um dos filhos ingressasse numa Ordem ou Seminários, os outros filhos se quisessem estudar, ficavam libertos de fazer entrega de Declaração de pureza de sangue. Por isso, o seu primogénito Marcos, se licenciou e nada ficou escrito na sua ficha, o que seja verossímil dizer também porque já tinha a família ultrapassado a 4ª geração, então o limite de consanguinidade de sangue infestado de judeu, mouro ou outro, ou então a "paga" que pediu por ter ido a Espanha, não se sabe, tempo que se omitia informação e por isso é difícil enxergar, contudo há descendentes em Ansião de apelido Serra - sabem que são descendentes de judeus disseram-me que um deles  foi para padre, denunciado e expulso e havia um livro em casa que desapareceu.

Informação documental
O que existe é parco sobre esta família e o mesmo de outras igualmente importantes que fazem parte do passado de Ansião, estariam registadas em  Tombos e Actas da Câmara e em livros da Igreja. Esta ao fazer a entrega com a implementação da Republica se veio a perder no incêndio nos Paços do Concelho em 1937, por estar mal guardada, sem olhar à sua valia. 

Citar excerto https://geneall.net/pt/forum/59276/pascoal-de-melo-ascendencia/ de Manuel Augusto Dias, Ansianenses Ilustres, vol. I, Ansião, 2002) 
" (...) Nasce a 6 de abril de 1738 em dia de Páscoa por isso lhe é dado o nome de Pascoal. Foi baptizado a 13.04.1738. Homem dotado, e que constitui a base do carácter sisudo e austero de um magistrado público destinado a representar o soberano no exercício das gravíssimas funções do poder judicial. A partir dos 12 anos vai para Coimbra, sendo entregue aos cuidados de seu irmão Luís (padre) que se responsabiliza pelos estudos  preparatórios que antecedem a entrada na Universidade. Aos 13 anos de idade, inicia os seus estudos na Universidade onde se revela um estudante brilhante, e, no dia 13 de Maio de 1757, com apenas 19 anos de idade, doutorou-se na Faculdade de Leis, o que, naturalmente, foi considerado um feito notável e raro. Em 1772 inicia, na mesma Universidade, «uma notável carreira de lente universitário»"
«Ocupou os mais elevados cargos da nação. 
«Pascoal de Mello Freire foi provido na Colegiada de São João Baptista, de Coruche,nas Conezias Doutorais das Sés da Guarda, Faro e Braga, professor da cadeira de Direito Pátrio, Desembargador da Casa da Suplicação, Deputado da Mesa da Censura, da Bula da Cruzada, da Mesa...»
«(...) Pascoal de Mello Freire dos Reis  concorreu à cadeira de Véspera da Faculdade de Leis, que ficou a reger. No seu tempo, ocorreu em 1772 a reforma dos estudos de Direito que fundiu as Faculdades de Leis e de Cânones.
Na Torre do Tombo, encontra-se a sua habilitação de Bacharel (1778, Maço 1, n.º 32), datada de 10 de Agosto de 1778, visando aparentemente uma nomeação como Desembargador da Relação do Porto, cargo para que não chegou a ser nomeado.
Por Decreto de 21 de Outubro de 1781, ficou regente da cadeira de Direito Pátrio, em que se integrou a maior parte da sua obra escrita.»
«Cónego, jurisconsulto e professor. Foi um dos mais importantes jurisconsultos portugueses, fundador da Jurisprudência Pátria e da História do Direito Civil Português. Entre os importantes cargos e títulos.
1772-90 Professor de Direito Pátrio na Universidade de Coimbra
1783 É Deputado da Bula da Cruzada e da Assembleia da Ordem de Malta
1785 É Provisor do Grão Priorado do Crato e Desembargador da Casa da Suplicação
1787 É Deputado da Mesa da Comissão Geral do Exame e Censura dos Livros
1792 É Deputado da Casa do Infantado
1793 Deputado do Santo Ofício e Conselheiro de D. Maria I
Cónego Doutoral das Sés da Guarda, de Faro e de Braga; Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa; e Professor de Direito Pátrio na Universidade de Coimbra»
Em 1798 Morre em Lisboa, no dia 24 de Setembro, com 60 anos».

Segundo o Dr Vítor António Duarte Faveiro
"(...) Pascoal de Mello Freire e a Formação do Direito Público Nacional, Ansião, Publicações Ediliber, 1968, p. 39. Também de seu nome completo Pascoal de Mello Freire dos Reys. (Cf. Manuel Lopes de Almeida, Documentos da Reforma Pombalina, vol. I (1771 – 1782), Coimbra, Universidade de Coimbra, 1937, pp. 322 – 323)."

Citar excerto https://portal.oa.pt « (...) inaugurou a cadeira de Direito átrio (Direito Português) que o Marquês de Pombal acabara de inaugurar. Muito jovem não era o titular da cadeira que seria o arquitecto e obreiro , tendo o curioso titulo de (substituto), embora tenha sido ele quem, sem qualquer colaboração, percorreu toda a antiga e moderna legislação , e pela primeira vez a dotou de um verdadeiro sistema doutrinal.Quando foi nomeado definitivamente, nove anos somente antes da sua aposentação, um monumento jurídico havia já sido erguido pela sua pena:a primeira história do direito português, ( Historiae Juris Civilis Lusitani de 1788) ,os dois tratados fundamentais do nosso direito o Civil e o Criminal , que ninguém jamais ousara escrever e Institutiones Juris Crimilanis Lusitani de 1789, esta última numa perspectiva mais prospectiva influenciada pelo iluminismo penal de Cesare Beccaria e Fillangeli, (Génova/1738- 1794/Milão), difundidas na Europa a partir de 1764 com a publicação do seu Dos Delitos e das Penas, tiveram eco em Pascoal de Melo e nas suas aulas em Coimbra, tendo sido chamado pela rainha D. Maria I que o encarregou em 1783 de fazer um Novo Código Penal, que ele apresentou em 1789 através de um Novo Código de Direito Público e de um Ensaio do Código Criminal a que mandou proceder a Rainha fidelissima D. Maria I (embora só seja publicado em 24 de junho de 1823), citando na introdução deste último Beccaria, Locke e Montesquieu e preconizando no seu conteúdo leis menos severas, a fim de evitar maiores tormentos aos condenados, assim como atenua penas, embora mantenha algumas infamantes. Daqui se atribui a Pascoal de Melo a posição de precursor do moderno direito penal português, por fazer eco do pensamento iluminista e humanitário, mesmo que nenhum dos seus códigos tenha sido adotado. Aliás, no processo de revisão do Livro II das Ordenações, houve uma polémica famosa entre Pascoal de Melo e António Ribeiro Santos, em que primeiro apodou o segundo de republicano. »

Arquivo Municipal de Lisboa
Foto de Francisco Leite Pinto de Pascoal dos Reys
Arquivo Municipal de Ansião
Quadro datado de 1937
Pascoal dos Reys condecorado com  Cruz de Cristo ao peito
Os retratos acima e em baixo são diferentes, o de cima aparenta ser mais velho e em baixo mais novo de rosto oval alongado, nariz muito comprido, lábios finos, farto cabelo, olhar triste e mãos grandes.Evidencia ascendência de clã judaico que ainda perdura em Ansião, o revejo ainda em linhagens a alta silhueta e magreza de carnes, ao invés de outro clã também evidente de tronco bem encorpado e olhos claros, do povo franco. 
O meu tio Alberto Lucas escreveu a Crónica Histórica de Pousaflores relatando testemunhos da sua avó Brízida Ferreira, que haviam Galileus e Fariseus que se fixaram em  Chão de Couce, Fariseus em Maças de D. Maria e em Pousaflores, Galileus, os Dias.

A toponímia de Lisboa com o nome de Pascoal de Melo, em Arroios 
Lamentavelmente o nome pela metade!
«(...) Após 84 anos do seu falecimento e 15 após a abolição da pena de morte em Portugal este vulto maior do direito português teve honra de dar o seu nome a uma Rua de Lisboa onde morreu a 24.9.1798».
Invalida aos lisboetas de apelido "Reys" de se questionarem da sua origem nesta suposta ligação familiar... 
Toponímia em Ansião
A sua terra natal, na dupla a toponímia e do nome da Escola C+S, sem ninguém que repare no passado e na história, na casa que se ensina História!
Leva a descendentes a não se identificar com o seu ilustre ansianense!
A Câmara Municipal de Ansião no mandato PSD
(...) «fez a entrega de 50.000$00 ao Arquivo Distrital de Leiria para a recuperação da obra Historiae Juris Civilis Lusitani, cujo autor, Pascoal José Melo Freire dos Reis, era natural de Ansião."
Desconheço onde se encontra a obra!

Deveria integrar o futuro Museu de Ansião 
« (...) A Pascoal de Mello Freire dos Reys  se juntam muitas obras menos conhecidas , ditadas sobretudo pela motivação polémica do momento, alguns inéditos, ou publicados post mortem por seu dedicado sobrinho, Francisco de Mello, ou por outros.O famoso iluminista que tinha seguido o humanitarismo penal do iluminismo em voga, e adaptado da escola alemã o usus modernus pandectarum teve o seu baptismo de fogo. O seu projecto e a resposta às suas criticas testemunham uma muito curiosa atitude. Ribeiro dos Santos, seu colega da gémea faculdade de Canones , acusa-o e estigmatiza-o como o representante de despotismo português. é desnecessário dizer que os ventos revolucionários de França e a dissenção entre os nossos jurisconsultos desencorajaram a Rainha a promulgar os códigos constitucional e criminal.»

Pascoal de Mello Freire dos Reys 
Encontrei uma referencia que Pascoal dos Reys veio a incrementar uma medida na Lei vindo abolir o esquartejamento de corpos de bandidos e malfeitores depois de mortos no cadafalso  como tinha acontecido ao malfeitor Rui Mendes de Abreu em 1679, com família em Ansião e casas arrasadas na Carapinheira. Um braço veio para Ansião e outras partes do corpo para terras onde praticou assaltos e mortes.

O sobrinho de Pascoal Dos Reys - Francisco Freire da Silva e Melo
(...) e que se queixava de desleixo e incúria da parte da Academia da Ciências aquando da impressão das obras de seu tio. O Jornal do Comércio, n.º 4 626, de 3 de Abril de 1869, insere um artigo da autoria de José Maria António Nogueira, que se refere à morte e sepultura deste ilustre patrício de Ansião, a partir do Dicionário Bibliográfico, vol. XVII, p. 142 e seguintes (em português actual, excepto a certidão de óbito, para facilitar a sua leitura): «Melo Freire acabou os seus dias na freguesia de S. Jorge, de Lisboa, para onde viera morar em 1796, tendo em sua companhia seu sobrinho Francisco Freire da Silva e Melo, e mais dez pessoas de família, todas com a denominação de criadas, segundo consta do rol das desobrigas daquela freguesia e ano, que examinámos. Tendo falecido a 15.02.1838 em Lisboa. A contar de 1798 não há mais desobrigas desta família na freguesia de S. Jorge, o que leva a crer que mudou de residência, após o falecimento de Melo Freire, ocorrido a 24 de Setembro do dito ano. Não será de mais que ponhamos aqui a certidão de óbito do notável jurisconsulto, não só por ser documento que ainda não vimos publicado, mas porque precisa de uma rectificação que talvez possa aproveitar de futuro. “Aos 24 dias do mez de setembro de 1798 annos, falleceu da vida presente, n'esta freguezia de S. Jorge, o illustrissimo e reverendissimo desembargador Paschoal de Mello Freire dos Reis, filho de Belchior dos Reis e de D. Faustina Freire de Mello, natural da villa de Ancião, bispado de Coimbra; recebeu sómente os sacramentos da penitencia e extrema uncção, e não recebeu o Sagrado Viatico por não dar logar para isso a molestia. Foi sepultado sem testamento n'esta igreja de S. Jorge. De que fiz este assento, dito mez e era ut supra. = O prior, Antonio José Rodrigues (Livro III dos obitos a folhas 184 verso)». 
 
Sobrinhos do Pascoal de Melo dos Reys

Entre os letrados, encontramos alguns indivíduos que atestavam a sua limpeza de sangue, o seu património e a sua “qualidade” face a outros letrados, ostentando o título de “cavaleiro da Ordem de Cristo. É o caso de Bernardo Correia de Azevedo Morato, Teófilo Morato Freire de Melo .Pai e filho são descritos como pessoas muito abonadas (Bernardo com um património de 60 contos de réis e Teófilo com 30 contos de réis), detentoras do título de cavaleiro da Ordem de Cristo e muito capazes. 

Conf. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé Nova, Batismos, 1781-1781. fl. 249v. Bernardo Correia de Azevedo Morato contava 70 anos, em 1796, quando foi arrolado para vereador. Este médico era casado com Joana Freire de Melo, irmã do jurista Pascoal Freire de Melo e do meio cónego Luís de Melo. Em 12 de Março de 1766, o casal batizou o seu filho Teófilo Morato Freire de Melo ,o menino cursaria Leis (à semelhança do seu tio Pascoal Freire) obtendo o seu doutoramento
em 20 de Julho de 1789 237. 37 Cf. Memoria Professorvm Vniversitatis Conimbrigensis. 1772-1937, vol. 2, dir. de Manuel
Rodrigues, Arquivo da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1992, pp. 120-121


Em https://terrasdaribeirinha.wordpress.com - Título: Discurso Anti-Académico Autor: Francisco Freire de Melo Ano: 1820  
 (...) Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra no ano de 1786, desempenhando posteriormente vários cargos, nomeadamente Deputado da Inquisição de Lisboa e Arcediago da Sé de Leiria. Francisco de Melo, foi padre, doutor, latinista, polemista, Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa mas, acima de tudo, um grande impulsionador da publicação da Obra do seu tio, Pascoal de Melo, de quem era grande admirador. Pegou nos seus manuscritos, grande parte deles inéditos,  e procedeu à sua transcrição. Com o desenvolvimento deste trabalho foi-se apercebendo que alguma da Obra de Pascoal de Melo, já publicada, teria de ser revista, pois haveria muitas correcções a fazer. Assim, comunicou à Academia de Ciências, responsável pelas Obras já publicadas, a sua disponibilidade para colaborar numa nova edição, mas nunca recebeu resposta.
Discurso Anti-Académico é um folheto raro e fundamental para se perceber a polémica entre Francisco Freire de Melo e a Academia Real das Ciências de Lisboa por causa da reedição das Obras de Pascoal de Melo Freire pela Universidade de Coimbra, em 1815

No Jornal do Comércio, n.º 4 626, de 3 de Abril de 1869 
" (...) um artigo da autoria de José Maria António Nogueira, que se refere à morte e sepultura do nosso ilustre patrício, e que transcrevemos, a partir do Dicionário Bibliográfico, vol. XVII, p. 142 e seguintes (em português actual, excepto a certidão de óbito, para facilitar a sua leitura): «Melo Freire acabou os seus dias na freguesia de S. Jorge, de Lisboa, para onde viera morar em 1796, tendo em sua companhia seu sobrinho Francisco Freire da Silva e Melo, e mais dez pessoas de família, todas com a denominação de criadas, segundo consta do rol das desobrigas daquela freguesia e ano, que examinámos. Nos anos de 1797 e 1798 também aparece vivendo em companhia de Melo Freire outro seu sobrinho, José de Melo Freire da Fonseca. A contar de 1798 não há mais desobrigas desta família na freguesia de S. Jorge, o que leva a crer que mudou de residência, após o falecimento de Melo Freire, ocorrido a 24 de Setembro do dito ano. Não será de mais que ponhamos aqui a certidão de óbito do notável jurisconsulto, não só por ser documento que ainda não vimos publicado, mas porque precisa de uma rectificação que talvez possa aproveitar de futuro. “Aos 24 dias do mez de setembro de 1798 annos, falleceu da vida presente, n'esta freguezia de S. Jorge, o illustrissimo e reverendissimo desembargador Paschoal de Mello Freire dos Reis, filho de Belchior dos Reis e de D. Faustina Freire de Mello, natural da villa de Ancião, bispado de Coimbra; recebeu sómente os sacramentos da penitencia e extrema uncção, e não recebeu o Sagrado Viatico por não dar logar para isso a molestia. Foi sepultado sem testamento n'esta igreja de S. Jorge. De que fiz este assento, dito mez e era ut supra. 
= O prior, Antonio José Rodrigues (Livro III dos obitos a folhas 184 verso)”.

As exéquias fúnebres de Pascoal José de Mello Freire dos Reys
«(...) falecido em Lisboa a 24 de setembro de 1798, foram uma grandiosa homenagem do mundo jurídico nacional ao grande mestre jurisconsulto. O elogio, em latim , de Garção Stockler, e uma bela peça de oratória e um exemplo da sua fama.Entretanto daí em diante quase foi esquecido.Os estudos sobre ele não chegam a preencher a contagem dos dedos de uma mão, e actualmente quase não aparece citado senão nos trabalhos de História jurídica e na parte histórica dos tratados de Direito criminal »

Pedra tumular de Pascoal José Mello Freire dos Reys
Encontra-se no corpo aberto do Convento do Carmo em Lisboa 
Para um homem Grande, teve uma sepultura simples!
Pascoal dos Reys
Viveu na sua casa em Lisboa com irmãs e outros familiares no total de 10 que dizia serem criados...
Denota o acostumado sistema de amparo muito comum no seio de famílias judaicas. Na boa tradição de acolher na sua Casa os familiares, irmãs, no papel de criadagem do mano catedrático com ordenado e situação estável. Ou obrigação de sustentar sobrinhos rapazes que iam estudar para Coimbra que ficavam a cargo de quem já lá vivia, foi o caso de Pascoal que ficou a cargo do padre Luís de Mello.
Debalde, Pascoal, deste amparo se envergonhava, ao chamar as irmãs, de criadas...Que o remete para um  perfil hipócrita, nada  aceitável.
Por todos os créditos que teve na sua vida, de facto Pascoal dos Reys foi homem de mente brilhante, sendo certo que ninguém jamais abordou a razão com apenas 19 anos, ter sido o juiz a bater o martelo na sentença dramática da família mais ilustre portuguesa os nobres Távora , a quem ditou uma morte horrível no cadafalso, a favor dos interesses e ganância do Marquês de Pombal. Enigma, a deslindar jamais estudado a preceito, mostrando-se o Marquês, visivelmente mais ambicioso o teria supostamente coagido por ser jovem juiz , aflorando a comum ascendência judaica e  parentesco, com o Marquês,  com poder que o rei lhe favorecia, o tenha intimidado para executar a sentença a seu contendo, ou promessa de alguma valia...Quiçá a casa em Lisboa...Em verdade,  Ansião, sendo terra de canteiros nunca lhe  erigiu merecida estatuária! Eles lá sabiam as suas razões!
De todos os considerados Ilustres Ansianenses saídos de  Ansião, para estudar  em Coimbra, nenhum voltou, tão pouco deixou escrito memorias do passado da sua meninice, tradições e linhagens, apenas a destacar  Pascoal dos Reys, por tentar regressar à sua origem, ao mandar construir um solar em chão  de família Freyre, debalde a morte o surpreendeu cedo e por isso não o viu acabado. Seja esse mérito o da vontade mayor de voltar à sua terra de Ansião, que o viu nascer , para ressaltar a nobreza em voltar às raízes e de certo modo o desculpar pelo mal que causou aos nobres Távora, brutal sentença com tamanha tortura jamais aflorada por investigadores, e o devia, no suposto e pertinente conluio com o Marques de Pombal que ambicionava desmedidamente o poder, não olhou a meios para atingir os fins, só derrubado por D. Maria I.

Excerto de  Terra e Conflito Cfr. M. Margarida Sobral Neto

https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/84855/1/Terra%20e%20Conflito%20_%20pdf.pdf

(...) na opinião de Mello Freire, só devia ser aplicado no caso de direitos jurisdicionais, considerados “intoleráveis”, ou em caso de “bens imoderados”. Quanto aos moderados e às rendas e direitos necessários ao sustento da igreja e dos eclesiásticos, não punha sequer a hipótese de limitação, quanto mais de revogação. Jurista, homem prático, conhecedor das condições em que vivia o agricultor (Mello Freire era natural de Ansião, tendo nascido num período (1738) de intensa contestação ao convento de Santa Cruz, motivada pela recusa de pagamento da ração de décimo em Ansião. Cfr. M. Margarida Sobral Neto, “Regime senhorial em Ansião. O Foral Manuelino e seus Problemas nos Séculos XVII e XVIII”, Revista Portuguesa de História, Coimbra, 1983, t. XXVIII, pp. 59-94. 183 Ob. cit., p. 22.)

Mello Freire, depois de apontar algumas leis a favor da agricultura, destacando as publicadas no reinado de D. José, concluía: “O interesse pela lavoura, que anda na boca de quase toda a gente e que as nossas leis recomendam com profusão até ao exagero, de nada vale realmente, se não se suprimirem todos os obstáculos que a vemos embaraçar. Os principais desses embaraços são os tributos imoderados, a ignorância da nobilíssima ciência da agricultura, e a pobreza, oriunda, desses dois fatores, que necessariamente leva ao seu abandono.

Alberto Carlos de Menezes dá-nos conta da “lucta entre os Senhorios e colonos, aquelles querendo tudo, estes dando sómente o que não podem sonegar na partilha” o que constituía a estratégia utilizada pelos Lavradores para procurarem “o seu alivio ás furtadelas”, dando, na opinião deste autor, “exemplos de immoralidade a seus filhos e domesticos”, que aprendiam a fazer o mesmo quando fossem “proprietarios” (Plano de Reforma de Foraes e direitos bannaes, cit., p. 100)


Toda a vida se disse! 
Morra homem e fique fama!

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