segunda-feira, 6 de julho de 2009

Colónia de férias Dr. Bissaya Barreto em 60

Foram uns três anos que frequentei com a minha irmã, a Colónia Balnear Dr. Bissaya Barreto na COVA - GALA com uma extensão de 7 hetares, importante obra deixada por este médico nascido em Castanheira de Pera, como tantas outras Casas para Crianças, espalhadas pelo centro do País. 
As instalações serviam como colónia de férias para jovens do interior do país, mais carenciados. 
Volvidos 40 anos voltei ao espaço, agora abriga idosos em férias. Senti-me triste por ver que tanta coisa tinha mudado!
À chegada das camionetas todos eram divididos por setores; serviços, plásticos e,...A cachopada em fila indiana à sombra das copas dos altos pinheiros em a forte alarido e tropelia, apesar das vigilantes nos mandarem estar ordeiros ate´que nos mandassem seguir na direção dos balneários, porque do banho ninguém escapava, alguns seria a sua primeira vez, diziam as vigilantes entre dentes...Balneário de paredes em mármore e grandes torneiras com água morna onde todos se lavavam com sabão azul e branco  para depois de secos, de novo em fila indiana para receber um par de calção azul de sarja e camisola branca de meia manga, sendo que elas não se preocupavam com os tamanhos se seriam os apropriados para as crianças. Aconteceu num ano em que me deram uns calções onde cabiam dez... Casa onde se aprendia a ser esperto e ter pé ligeiro, havia gente das bandas de Viseu com ar de astucia, apesar de pobres -, então não nos roubaram logo no primeiro dia as lindas camisas de noite feitas de propósito pela modista D. Lucinda do Fundo da Rua de Ansião, nunca mais lhe pusemos a vista em cima. O nosso pai mandava-nos na mala amostras de vinho do Porto que à noite nos beliches abríamos para reconfortar o estômago da fome esfomeada por ser comida intragável e detestável, num ápice tal aparato fazia a delícia de quem se abeirasse de nós, até ao dia que sem elas ficamos também...Por isso aprendi rápido a ser espevita e maldosa, e no ano que me deram os calções enormes nessa noite os troquei pelos  calções do "pão dezassete tostões" alcunha que lhe tinha posto logo que a conheci, pelo formato da cabeça me fazer lembrar o pão que todos os dias ia à padaria comprar...A comida terrível de travo e cheiro a fénico, nunca tinha comido polvo, odiava aquele arroz escuro com tentáculos que me pareciam sardaniscas, o que vale é que tal como no Bairro de Santo António -, também aqui liderávamos o nosso grupo de cachopada da terra, sentadas na mesma mesa, coitada da filha do Guarda Fios, o Sr Farinha, obrigada a comer não sei quantas sopas, também as cachopas do carteiro João dos Netos e,...A deambular pelo refeitório "a fazer de polícia, o Sr. Marques" homem rude, baixote, armado de óculos de massa e régua em punho-, o polícia para manter o silêncio, e na vigia da obrigação de se comer tudo o que punham no prato...Mas fazíamos batota, o salão era enorme...De manhã as filas indianas se organizavam para sair intercaladas a caminho da praia a calcorrear dunas, a subir e a descer por meandros, como cobras a serpentear na areia a olhar o mar, o entretimento passava por apanhar a caruma dos pinheiros que nós chamamos munha e fazer espinhas.Tanta brincadeira com todos em círculo na roda da barraca -, tomava conta de nós a então Regente da escola de Albarrol. Adorava o jogo do prego na areia molhada, pior mesmo o ritual do mergulho com o banheiro, o medo que fiquei, ainda hoje não consigo mergulhar, boas lembranças do lanche à tardinha em que as mulheres demoravam em chegar armadas de cestas de verga à cabeça cobertas com panos brancos, traziam o lanche, nada mais do que quartos de pão de quilo com grossas fatias de marmelada da boa, vermelha. Muito gulosa a minha irmã ficava com a minha e eu com o pão dela. 
Lembro-me de um dia termos recebido uma encomenda da nossa mãe, sandes de carne assada embrulhadas em papel vegetal dentro de uma caixa de sapatos que pedira na sapataria do Sr. Gaspar. Esquecer este episódio é que jamais-, quando a encomenda foi aberta…"pão duro e carne seca e negra, mas que nos soube tão bem, não fossem os nossos fortes dentes, difícil seria traga-las..."
No melhor? Nunca, em ano algum, fizemos a temporada completa, ao terceiro domingo os nossos pais apareciam mortos de saudades, de olhos fixos nas filas com centenas de miúdos vestidos de igual, a descoberta era árdua, difícil, todos diferentes sendo todos iguais-, nesse ano repararam na minha irmã que trazia no bolso de trás dos calções o papo-seco rijo que tinha sobrado da dita encomenda. Visivelmente incomodados por tal aparato, apesar de nós dizermos que tinham chegado rijas que nem "cornos" mas no caso nos souberam que nem "ginjas".
Na colónia havia um anfiteatro para fazer peças de teatro e outras atividades. 
Recordo que todos os pavilhões eram forradas com bonitos azulejos da fábrica de Aleluia de Aveiro.

sábado, 18 de abril de 2009

As minhas sardinheiras...

Adoro sardinheiras.Talvez por serem eternamente portuguesas!
Esta compre-a em Odemira quando aluguei a casa típica pintada de branco com barras a azul para a minha filha.

Comprei duas diferentes, quando me vim embora, trouxe uma pernada de cada uma, mas apenas esta sobreviveu , está farta de dar flores, aqui e na casa rural também.Gosto sobretudo da tonalidade e do frondoso cacho de flores em cerise a lembrar as cerejas...bonito vaso vidrado em amarelo torrado a ostentar vaidoso a minha sardinheira!

Uma rua replta de sardinheiras eem Santiago da Guarda ao Carvalhal
 

terça-feira, 14 de abril de 2009

Rosas de Alexandria na Mouta Redonda

Avista-se a serra do Anjo da Guarda onde o calcário é rei e na frente a Nexebra eucaliptizada de costados xistosa onde já proliferam antenas eólicas.Serra da Ovelha também conhecida por Serra do Anjo da Guarda de onde se desfruta além do miradouro, moinhos de vento  recuperados que se deslocam sobre rodas em  eiras de pedra,  mesas para piqueniques, a capela do Anjo da Guarda, casa dos caçadores, casa do Ciclo do Pão, vestígios do paleolítico e outras pedras esculpidas pela erosão salpicadas de orquídeas da serra e tomilhos, o mais predominante e conhecido na região chamado erva de Sta Maria, e alecrim, cucas, jacintos, lírios do campo, alfazema, carqueja e rosmaninho.
O almoço pascal  de 2009  aconteceu na casa rural...A minha mãe fez o almoço e trouxe-o onde foi degustado. Desde que herdámos a casa foi a primeira vez que comemos na sala, temos utilizado o terraço, a cozinha velha, também chamada churrasco, ou a cozinha da casa. A mesa estava bonita com uma toalha branca bordada do meu enxoval, enfeites e uma jarra com rosas do jardim, onde não faltava um prato cheio de amêndoas de chocolate branco e preto, lilás, de Paris, e... O arroz de pato assado com couve lombarda " Pato à Franklim" estava uma delícia. As sobremesas além do arroz doce símbolo da época festiva, o folar, o bolo com doce de chila para fechar com o cafézinho e um pichel de aguardente de cana trazida dos Açores,  pena estar prestes a acabar. Depois do almoço passeata até ao Vale para matar saudades, o sítio onde a minha mãe nasceu e eu em miúda passei dias de férias com a minha avó.

Vale 
Na quelha do Vale parei na porta da  casa  do tear da Ti Joaquina tecedeira, hoje a casa da Maria  e do Silvério que se abre para o largo da fonte e dos tanques.
A figueira da Índia ou do Inferno como lhe chamava em pequena, por causa dos picos, trazida de Coruche cresceu no talho na frente da eira da minha mãe.
Redobradas forças para caminhar pela Nexebra até ao Santaínho propriedade herdada que fica junto à estrada de terra batida agora mais larga, vendidos os eucaliptos apreciar os novos rebentos. Decidi conhecer o limite da propriedade que se estende por uma das faldas da encosta, ninguém me quis acompanhar, caminhei sozinha apenas por intuição e cheguei primeiro à Mina de S.João, do que eles, que optaram regressar pela estrada. Aventura vivida em êxtase porque o terreno se apresenta a pique com eucaliptos de todos os tamanhos de onde apenas deslindava resquícios de céu por entre as suas pontas tão altas, e pelo chão à toa infestantes troncos nus, sobrepostos com muita ramagem deixada pelos madeireiros no corte da madeira, loucura o emaranhado em que tive de saltar, abaixar-me, sempre com medo de escorregar pelo declive e obstáculos  sempre surreais do terreno. Finalmente encontrei uma mina  que contornei com cuidado por o terreno se mostrar traiçoeiro, optei por descer pelo seu leito, por entre silvas, e outros pequenos arbustos para finalmente chegar sã e salva.Adorei ter conseguido fazer a descida sozinha de imprevisto.Aventura fenomenal.
Depois ainda não satisfeita esgueirei-me pela ribanceira abrupta do Carvalhal da minha mãe, com o alargamento da estrada, o acesso ficou muito alto, com muita pedra de xisto solta e íngreme.
Mirei o grande tanque em pedra que outrora levava a água da mina da Cavada para a casa dos meus avós em queda livre.


Para junto da eira parar junto do silvedo das rosas vermelhas de Alexandria, as favoritas da minha mãe e já eram da minha avó.
 
No ribeiro que desce da Nexebra apanhei  um ramo de jarros para enfeitar a casa da minha irmã, afinal era dia de Páscoa e ainda fui ao cemitério enfeitar a campa do meu pai, e as rosas deixei na campa logo atrás da da minha Titi, irmã mais velha da minha mãe, marido e filha Isabelinha...

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