domingo, 10 de outubro de 2010

Saudade da casa dos meus avós maternos e dos seus filhos na Moita Redonda

As duas casas ao cimo do  quelho do Vale, já não existem. Atrás do gato a casa de porta aberta sob o comprido tinha na fachada uma janela-, a casa do bisavô do meu marido, o Ti Miguel que tinha um burro, se chegava ao fim do dia com "um copito na asa" se mostrava muito teimoso com o vinho em teimar com o burro para entrar de marcha atrás no curral, a pobre mulher, que dela se dizia ser uma santa, pela paciência em o aturar dizia-lhe " o palerma do burro é teimoso, é..." 
Para baixo, a casa pegava paredes meias com a  da avô Brísida da minha mãe, outra santa mulher, um casebre que o conheci no meu tempo palheiro e onde se arrecadava lenha, a seguir a casa dos meus avós Maria da Luz Ferreira e José Afonso Lucas.
A  minha mãe com 79 anos na quelha do Vale -, do lado direito foi a casa onde nasceu a 27 de julho de 1934, no dia de S. Panteleão ( o pai tinha saído de madrugada com a carroça para a feira de Figueiró dos Vinhos) num dia radioso de sol com os passarinhos a chilrear no ribeiro que desce da Nexebra.
A quelha do Vale, euzinha na frente onde outrora foi a casa dos meus avós, o que resta...pedras calcárias dos degraus da escada.

Aqui era a casa da Maria, onde se faziam os bailaricos no tempo da minha mãe. 
Uma "broa inteira" no dizer da boca de sua mãe aos rapazes na saga de lhe arranjar um bom partido, quando casou foi viver para Monte Real.
O sítio da casa dos meus avós maternos na aldeia de Moita Redonda, freguesia de Pousaflores, concelho de Ansião, distrito de Leiria.Tanta saudade e tantas horas felizes por lá vivi na companhia da minha querida avó. Costume nesta vida, tudo tem um fim!
Chegou o maldito dia em que a Câmara resolveu derruba-la por uma dessas máquinas de lagartas para alargar a estrada, mas que estrada, tudo continua selvagem.Sinto uma nostalgia que invade a minha alma, pelo que se perdeu!
Bem sei que só restavam as paredes e a chaminé altaneira pintada de ocre, as lembranças tão frescas na minha memória da sua elegância e imponência, destacava-se na aldeia, quem diria, tão simples, vulgar, mas foi assim que sempre olhei para ela, feita pelo sobrinho António do Vale, pedreiro, aqui nascido, tal como os irmãos, ficou-lhe a alcunha . Adorava contempla-la como referência  do alto do outeiro da mina de S. João  quando aí ia buscar o barril de água fresquinha. Lembro alguns motes do passado que me tem sido contados pela minha mãe. 
A quelha do Vale, o sítio onde foi a casa dos meus avós Lucas, na esquerda, a seguir à oliveira. Que saudade!
Casa muito farta no seu tempo. Na aldeia a mais rica. No forno assavam-se dois leitões para dias de festa ou piqueniques na serra onde não faltava a presença do Padre Melo e do médico D. João de Chão de Couce, naquele tempo ainda não haviam eucaliptos, apenas frondosos castanheiros e pinhal com tapetes de flores. O cheiro do leitão assado deambulava em fuso aberto pelo Outeiro do Cuco, Cova da Raposa, até ao Penhasco-, o bom do criado, o Zézito, tomava conta de os assar mas ia bebendo uns copitos , um dia demorou mais a virar o espeto de loureiro e as orelhas esturricaram, que a minha mãe o foi encontrar a pôr pázadas de cinza nelas já pretas de tanto ardidas...Foi uma chatice e das grandes.
Os meus avós maternos José Afonso Luvas e Maria da Luz Ferreira
Pelo Natal a tarefa da minha tia Záira, irmã mais nova 10 anos que a minha mãe, era a fritura dos sonhos. Usava a lúgrebe casa velha da avó Brísida onde o Prof José Lucas nasceu e viveu até os pais mudarem para a sua casa no cimo da aldeia. Enorme o tacho de esmalte azul às pintinhas brancas cheio de azeite a ferver que fora de fazer o "Verde" no casório do irmão Carlos -, gulosa e sôfrega aquela tia comia mais sonhos do que os apresentados à mesa na palangana de faiança na consoada...Do cheirinho do aferventado que saia da panela ao lume de couve galega ou  de nabos com feijão frade ou feijão de debulhar e até feijocas, depende se era verão ou natal, depois  a via a esfarelar broa para uma taça e em cima punha-lhe o aferventado, o que sobrava era janta para o dia seguinte, o requentado, a que ela chamava carinhosamente fertungado, usava um tacho de barro com o fundo alagado em azeite a estalar dentes de alho e folhas de louro, juntava as sobras do aferventado com as migas de broa escorridas e com a colher de pau mexia até ficar tudo desfeito, o cheirinho era tão bom, como o arroz de bacalhau com colorau, e da galinha corada com batatinhas.
Conheci a minha avó só com um dente -, comia papas de milho e sopas de pão duro com queijo de mistura meia cura partido aos bocadinhos amolecido na quentura da cevada. A minha mãe nunca suportou que eu a imitasse, confesso que ainda hoje gosto,uma malga de sopas de café com queijo do Rabaçal!
Gostava de ir ao galinheiro buscar os ovos para fazer gemadas com açúcar amarelo para ser forte, no pensar da avó.Boas as bonequinhas de açúcar que chupava  como se fosse rebuçados. No pequenito quintal enviesado, recordo a flor vermelha das feijocas serpintadas de branco  junto ao jardim da eira, ladeadas de couves galegas e  couve nabo.Prazer de calcorrear os carreiros por entre os leirões ao lado das levadas de água fresquinha... A chegada da civilização com o toque da corneta do carteiro ao cimo da aldeia no Fôjo, em meio tempo ouvia a Ti Rosa em gritaria "oh comadre parece que vejo o carteiro a subir a quelha ", sinal de notícias de Angola, da Titi ou da minha mãe que abusava nas férias no envio de mimos e guloseimas que a avó guardava na pequena arca do seu quarto. Eu à socapa gostava de lá ir espreitar e surripiar qualquer coisinha.Um belo dia fui apanhada, ouvi sermão, missa cantada e ainda sofri um castigo, era inverno a noite caia cedo, obrigou-me a ir ao alpendre buscar lenha para o lume.Assustada ao rebate de xisto da porta abaixo do nível da casa naquela hora parecia maior, ou eram as minhas pernitas a tremer que não o conseguiam subir, lá fora só enxergava uma imensa escuridão e o barulho do vento a bailar nos altos ramos dos eucaliptos.Imagine-se, só havia luz eléctrica dentro de casa.Corajosa, enchi o peito de ar e saí a rezar naquela de partilhar ajuda, "Jesus vai comigo, eu vou com Jesus" e consegui por apalpação encontrar os gravelhos de pinho!
A primeira filha dos meus avós veio à luz no dia 31 de Dezembro de 1911 em plena serra do Mouro, sábado, vinham de fazer a feira em Ansião, não deu tempo para esperar, era a hora, deitada na carroça entre os panos da tenda ajudada pelo pai a vir ao mundo nasceu a Maria Augusta, Maria da Luz, nunca soube, sempre a conheci e amei tratar por Titi, menina baixinha, graciosa de cabelo escuro.Enternecedor o gesto do seu pai meu avô em querer fazer dela uma menina fina, mandou-a para Coimbra estudar, naquele tempo no sótão da casa haviam poceiros abarrotar de sapatos e chapéus, aquela tia foi muito vaidosa no seu tempo de menina e moça. Casamento da Titi na Vidigueira, com chapéu.Teve duas meninas, teimou que a primeira viesse nascer na Moita Redonda, era um bebé grande, sem assistência médica, só a mãe e curiosas, veio a falecer. A seguir nasceu o Carlos, rapaz louro a puxar para o albino, endiabrado, de mau feitio pelos maus tratos à sua mãe, enquanto o pai andava no giro pelo Alentejo, fugia à escola, passava tempos numa taberna à beira do caminho ali ao Furadouro, também a roubar fruta pelos campos com outros rapazes, um dia a mãe encontrou o professor Cardo, e questionou-o sobre o aproveitamento do filho, este espantado respondeu-lhe, "oh mulher, ele não me aparece na escola há coisa de seis meses" enraivecida, cansada de lhe fazer a bucha todos os dias para ele levar para a escola, confrontou-o com o sucedido, este ligeiro respondeu, "oh mãe,eu não preciso de ir à escola, até lhe digo, sei mais, do que o professor"!Tiveram sete rapazes. A seguir nasceu o Alberto de parecenças a meias com a mãe e o  pai -, bonito, de olhos para o esverdeado, lírico, poeta, na quaresma punha-se dentro do poço do engaço a tocar concertina, a mãe beata, se o ouvisse batia-lhe, tal a afronta. Parado ao rebate da eira olhava para a Portela, para  enxergar a sua amada...Com quem casou e tiveram duas lindas filhas.
Tia Clotilde
Seguiu-se a Clotilde, mulher esperta para o negócio, morena a reivindicar heranças de moira por parte de mãe era de "olhão e veia para o negócio"aprendeu costura e bordados nos Cabaços.Teve um namorado rico do Carregal, já tinham as casas quase feitas, chatearam-se, ela deixou-o.Foi para Angola e ai casou com o Américo Fernandes, seu vizinho da Horta, e tiveram 3 filhos. A Rosária era loira de parecenças ao pai  de genes dos foragidos das invasões francesas que por aqui passaram, no seu tempo já tirou o 2º ano e foi Regente escolar na escola de Albarrol onde esteve com a minha mãe que com ela andou em roda viva.Não teve filhos, todos os sobrinhos são afilhados menos eu!
Foto no adro de Pousaflores no dia de festa, o meu tio Alberto Lucas, a Clotilde, a minha mãe, pequenita junto da fogaça, a Rosária , Zaira, e a Maria Augusta a Titi. Na frente de chapéu, fato e colete, de mão a ir ao bolso o outro irmão Carlos  Lucas, de feitio arisco, nada dado a estas modernices...A Titi de chapéu!
A minha mãe pequenita com a irmã Clotilde de vestido branco e laçarote 
Em tempos de menopausa nasceu a minha mãe - Ricardina, a mais bonita de todos, loira de olhos verdes, e muito branquinha, até diziam..."tão linda, quem havia de dizer que é filha da Ti Luz", menina na mão das bruxas recebeu muitos mimos,o pai pela altura das festas gostava de as presentear com um bom tecido para fazerem vestidos novos, as mais velhas com ciúmes, diziam que a minha mãe não merecia, ainda era pequena, naquilo o meu avô respondia,"é para todas igual, são todas minhas filhas".

A minha mãe sempre foi muito bonita!
Desde a primária andou com a casa às costas para estudar, primeiro com a irmã Záira por Albarrol e Maças de D. Maria, depois com o primo Zé Lucas em Santiago da Guarda e Ansião. A casa dos seus pais o pronúncio de casa farta, rica, a mais abastada e maior no seu tempo na aldeia de Moita Redonda, muito castiça para a época e grande com três entradas. Do lado do quintal havia um grande alpendre com o chão em terra com porta  para uma saleta com uma janela, só me lembro que tinha uma mesa, desta fazia-se a ligação para a cozinha e para o corredor de acesso à casa de dentro. Cozinha pequena de janelo virada ao sol, sob este a pia em laje vermelha de lavar a loiça, sob o lume uma grande panela de ferro com água fervente.Enorme chapéu da chaminé para curar os enchidos, do outro lado uma parede em tabuado onde se guardava a lenha e o banco corrido onde se sentou em tempos o meu avô. Ainda os tripés e a tripeça para nela se comer ao aconchego do lume. Já no lado poente a escadaria em pedra dava acesso à porta principal da casa, onde nascia um corredor, do lado direito a famosa sala da varanda com muitas janelas num convite de lazer apreciar floreiras de madeira carregadas de begónias de todas as cores, uma mesinha oval feita pelo meu tio Alberto, cadeiras de encosto à parede  e uma grande arca em madeira que servia de cama quando era necessário, nas paredes fotografias -,uma com a minha mãe com 18 anos, soberba envergava lindo vestido onde sobressaiam os seus belos cabelos compridos. Outra das entradas da casa ficava a nascente onde rompia outro corredor que ladeava um quarto de cada lado -, um dos rapazes e o outro das raparigas, ao fundo a sala de jantar e o quarto da minha avó onde eu dormia com ela. Da sala ainda me lembro do louceiro com pedra mármore muito bonito, a fazer parelha com outro com espaldar e grande mesa oval , mobília comprada pela minha Titi, quando a avó faleceu tinha 9 anos, esta levou-o para a sua casa, mais tarde foi para a casa da minha prima Isabelinha por esta também se encantar com antiguidades, ainda a vi na sua casa em Leiria, não posso deixar de lembrar o rocambolesco episódio passado com esta  minha prima ao perguntar onde era a casa de banho-,a avó coitada, olhou para ela e num gesto de olhar e com as mãos mandou-a ir ao quintal, há muito que a retrete de madeira que o tio Alberto fizera tinha caído, menina habituada a casa de banho e a folhas da lista telefónica, ali teve de se desenrascar ao léu e com um telhito... Boas lembranças invadem o meu estar das noites à lareira, ouvir o crepitar das carcóvias dos pinheiros e dos galhos dos eucaliptos, sentadas em tripés, comíamos a janta da mesma palangana de faiança sob uma tripeça, empunhávamos garfos de ferro com cabo de madeira, bebia-se um copito de vinho com sabor esquisito, por lá chamado "coveiro",umas passas de figo pingo mel, nozes, ainda um pixel de abafado!
O que eu gostava depois da janta beber um pixel de abafado, servia para aquecer o corpo naquelas longas noites frias de Dezembro.
Dormir na cama de ferro, com mantas de trapos feitas no tear e cobertores de papa às riscas da Guarda. 
A casa entrou em declínio com a trombose que o meu avô sofreu no início de 1950. Rapidamente tudo se esfumou, não teve nenhum dos seis filhos que continuasse o negócio de família naquela casa. Cada um se governou como pode. A minha mãe, só tinha 18 anos quando o pai faleceu, andava a estudar em Ansião no Externato António Soares Barbosa.A mais decidida das irmãs, arrancou os móveis da loja e deu-os ao irmão para a sua nova loja em Pousaflores . Apoderou-se da casa uma tristeza, dizimaram tudo o que havia e ainda deixaram a minha pobre avó na ruína com uma dívida de doze contos na altura.Foi o meu pai que nesse tempo lhe arranjou uma espécie de reforma para ela sobreviver. Voltar àquela aldeia e confrontar-me com tamanho abandono parada a olhar a quelha que lhe dava acesso sem ser limpa, em frente à casa no ribeiro, o meu tio Alberto tinha feito um dique que servia de ponte e açude a caminho das Hortas, e à mina férrea para cozer os grelos e o aferventado, ficarem verdinhos, nada quase hoje existe, tudo é muito desolador. 
Casa da Lenha no sopé da Nexebra que foi da avó Rosa do meu marido-, dentro dentro dele irrompe o xisto em fúria!
Saudade de tomar banho na frente da casa da lenha da Ti Rosa, onde o ribeiro se espraiava no baixio depois da descida, lembro das figueiras enfezadas e pedras brancas para lavar a roupa trazidas da serra do Anjo da Guarda. O que eu brincava na pia  de pedra no acesso ao quintal e entrada da casa com raminhos de oliveira, outrora nela o macho  e a mula saciavam a sede. Hoje metade do quelho está alcatroado. Ao tempo houve quem vomitasse desculpas, com a quina da casa dos meus avós, alvitrando que a máquina não passava -, pura mentira, o terreno até ao ribeiro dá largura, o problema foi com a vizinha Maria, casa sita ao início do quelho, que não deixou alargar por causa de um poçito. Infelizmente já faleceu, mas bem se aproveitou do empreiteiro, que obrigou que lhe fizessem os degraus em plena via e ainda as valetas cimentadas, que o mesmo preceito não foi feito a outros moradores, e o deviam. A seguir à sua casa ficava o típico balcão de acesso ao barracão que foi da avó Rosa, do meu marido, tendo sido retirado, com a menção de fazerem uma escada e nada fizeram, estando sem acesso à alta porta. O certo era a estrada ser alargada às imediações do ribeiro para em caso de incêndio, os carros poderem passar ficando ao cimo do quelho ou beco um  farto largo para manobras.
Ao tempo a Junta,  falou da intenção em calcetar o resto do quelho, mas até hoje nada fez!
Ao fundo o mítico largo ao ribeiro, onde o táxi me deixava. 
Quis a sorte que a minha mãe por herança recebesse um terço daquela casa. No entanto por razões que agora não interessam a vendeu a outra irmã que tinha sobre ela o maior quinhão. Desígnios e lamentações que nos custam ainda hoje aceitar!
Se a minha mãe a tivesse comprado em vez de a vender...só sei que hoje estaria  recuperada como só ela durante anos demonstrou saber e gostar de fazer, nas várias que possui.Adora fazer obras, um fascínio que tem em preservar e de criar. 
Aquela casa morreu de pé como as árvores, depois da derrocada do telhado, do soalho e das paredes apenas a chaminé sobressaia naquele espaço de completa ruína. Ficaram ainda no quintal a velha laranjeira,o pessegueiro,a nogueira, a tangerineira e o sabugueiro que ainda teimam continuar de pé. O pior? O imenso emaranhado de silvas e rosas de silvão a fazer lembrar as rosas de Alexandria muito cheirosas entrelaçadas na imitação copiosa de desenhos em cúpulas a subir em direcção ao céu, as preferidas da minha avó Maria da Luz!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O festival d' Rey Chicharo em Alvaiázere!

Alvaiázere 2009 !
Ao apreciar uma das montras dei de caras com um forasteiro que se excedia dizendo à boca cheia para a comitiva que o acompanhava-, "os pratos expostos são da loja dos chineses"...
  • Vi-me na obrigação de intervir à laia de repor a verdade-, respondi, são velhos pela gordura entranhada na massa -,  são pratos da Fábrica de Sacavém, tenho iguais, ao que de imediato se desculpou. 
Na feira de velharias encontrei uma agenda do meu ano de nascimento que comprei.
Degustámos saborosos pastéis de chícharo por sinal muito bons.
  • Apreciei a mostra fotográfica dos vários Fornos de Cal espalhados pelo concelho que sempre fizeram parte do meu imaginário. Durante anos achava que teriam sido minas de gesso ali por terras de Almofala, Portelanos e Bairro nas imediações de Chão de Couce. Pena de estarem todos ao abandono, seria uma rota turística de interesse juntando os sabores da serra, falo dos tomilhos por ali conhecidos como erva de Santa Maria.
Um prazer que tantas vezes usufruí na minha rota de viagem ali na Cortiça , o cheiro é tão forte tão agradável que vejo-me forçada a parar só para contemplar e respirar...
Não vi nada alusivo à Quinta da Cortiça-, casa solarenga com pequena torre de menagem.
 
Caminhando pela vila descobri a exposição de "Alminhas" espalhadas pelo concelho, algumas minhas conhecidas, ficou a curiosidade de conhecer a freguesia de Rego da Murta, que dela apenas conheço a estrada em direcção a Tomar . A freguesia é cortada por esta via, ficando a componente histórica a lembrar os templários um pouco mais afastada da estrada, será um dos meus próximos passeios com certeza.
  • Mais montras, algumas muito bem decoradas ao tema do rey chícharo.
Mostra do ritual da ceia : bacias de faiança, há sua roda todos comiam,cada um com o seu garfo de ferro e cabo de madeira, couves migadas aferventadas embrulhadas em migas de broa e chícharos, tudo bem regado em azeite, o conduto um dente de alho a puxar o tintol e sardinha assada ou chouriça.
  • Já a acusar o cansaço vimos a ementa do D. Sancho, não tínhamos muita fome decidimos jantar numa tasca na rua principal em frente ao coreto, a comida era bem confeccionada, migas de chícharo com entremeada assada e feijoada de chícharo, o vinho era da região -,17 graus uma pomada,a sobremesa tarte de chícharo a lembrar o pastel de feijão cafés e aguardente velha.
Saímos e demos mais outra volta de reconhecimento, ainda fiz umas compras na feira de artesanato estavam alguns expositores abertos, os figos secos no saquinho de serapilheira eram deliciosos, havia-os para todos os gostos rematados por tecidos alegres a lembrar a chita de outros tempos, comprei uma rodilha minúscula a lembrar o meu Sporting e sabonetes de cheiro, havia obras de bordados muito bonitas, cestaria, muitas outras coisas, para se ver e comprar. Estava na hora de ir embora .
  • Um comentário construtivo:Acho que o povo tem de estar mais entrosado neste tipo de eventos que publicita a sua terra, devem ser mais intervenientes, participando nestes dias de festa comendo fora, andando mais na rua numa mostra de alegria e vontade de agradar aos forasteiros, motivando todo o concelho . Um reparo, se nas alturas de eleições é sabido que algumas câmaras vão buscar as pessoas às aldeias para votar porque razão nestas alturas o procedimento não é o mesmo!
Assim, sim, todo o envolvimento seria salutar e mantinham-se as tradições com o rigor dos mais sábios, os velhos, os que no tempos de outrora comiam chícharos à ceia e à janta...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Janelas antigas com um caixilho

Um dos locais mais bonitos da minha infância que preservo fica num extremo de além a seguir à capelinha do Escampado de Santa Marta de 1708 por serras de Ansião.
O progresso quis que este antigo caminho sem saída fosse roteado para ligar este Lugar a Albarrol. Um baque!
O que se perdeu por aqui -, nem quero lembrar...grande era o empedrado a fazer lembrar calçada romana (?) de grandes pedras arrumadas geometricamente, ainda uma enorme laje plana com um pequena cruz templária esculpida.

A frágil casita meio derrubada ainda me lembro de lá ter entrado, agora de porta aberta pintada a cal, as silvas a invadir o espaço, ainda um bengaleiro feito manual muito castiço, os quartos minúsculos em tabique, onde acredito terem sido gerados e paridos sem prazer os filhos, como na época era normal...sufoco só de pensar!
Ao fundo depois da cozinha a lenha o alpendre com o forno em barro abobadado e  abertura celta em triângulo. Adoro fornos, dos cheiros da lenha a arder, das cores, do crepitar até ficar branco, sinal que está no ponto para receber a massa levedada de milho, centeio ou trigo, ainda mistura e broinhas de azeite, entaladas com bacalhau, sardinha, chouriça ou açucar...
Incrível, hoje quase tudo se perdeu!
  • O empedrado encontrei-o numa das minhas caminhadas com a minha mãe um pouco mais abaixo para o lado direito à saída do Lugar, talvez o mais provável eixo da estrada romana vinda da Lagoa do Castelo a caminho de Albarrol, Almoster, Alvaiázere onde a toponímia ainda hoje atesta nomes de aldeias como Romila e Rominha -,da existência dos fornos de cerâmica, do olival com oliveiras desse tempo com mais de 2.000 anos, dos buracos feitos nas encostas das serranias para se esconderem  fortes indícios da sua passagem por estas terras...tudo aventa que a via romana por aqui passasse, por certo não há dúvidas, tantos são os indícios nos Escampados num círculo restrito, coisa de um km sem dúvida alguma...passou!
Desde miúda que sou vidrada neste tipo de janelas em madeira com minúsculo caixilho em vidro.A primeira, a que faz parte do meu manancial de memórias existia nas traseiras da  casa dos meus avós paternos, entre a estrada real e a vila
  •  o meu pai tinha uma foto com uma folha de couve galega na mão, por detrás dele a casa de janela de madeira e janelo em vidro minúsculo...perdeu-se a foto...a casa sempre a conheci como palheiro pertença do Ti Serra , nunca registei a foto, com o tempo o palheiro pertença de dois, houve um que o  remodelou!
A segunda janela encontrei-a precisamente neste Lugar de além do Escampado de Santa Marta quando por lá ia com a comandita de cachopos do Bairro na véspera do dia de Ramos à procura do alecrim.Passaram-se os anos, mais de trinta, deixei de lá voltar, entretanto uma vez por outra tentava, alguns caminhos passaram a ser asfaltados, fatalmente perdi-lhe o norte , não conseguia encontrar a direcção, faltava-me qualquer coisa...
  • fui tentando nas várias passeatas que gosto de fazer com os cães da minha irmã, quis um imprevisto que numa tarde de domingo no meio da estrada, uma reunião para obras na capela me obrigou a desviar noutra direcção , o meu coração bateu forte, será que era aquele?
De passo apressado parti à descoberta... finalmente tinha-o encontrado!
Vibrei nas recordações de que maneira...até perdi o fôlego, tais as emoções...
  • Voltei mais tarde desta vez levei a máquina....com um baque no coração com o que via e não queria ver, nervosa pela perda irrecuperável de tanto património tremi a foto, mas volto lá, voltarei mesmo desfocada não resisto a mostra-la!
Pena fiquei em saber que o dono lhe tirou as colunas que sustentavam o alpendre, antes que as roubassem...o caixilho outrora com vidro já não o tem, escaqueirada mal se nota a cor original em amarelo, o que ainda resta o avental em pedra calcária, linda!
Quanto a esta janela pela antiguidade já não tem o vidro que lhe conferia  glamur!
Dei com ela numa das minhas caminhadas pelo Escampado de S. Miguel, vinha de mota do Marquinho e naquilo ela deparou-se à minha frente, irresistível não fotografar.
No caminho para Fátima  numa aldeola junto à estrada existe também uma, vi-a mais em pormenor quando fiz a peregrinação a pé.
Até há pouco tempo existiu na antiga estalagem do Bairro de Santo António em Ansião janelas em madeira sem o caixilho, são ainda as que se vêem mais.
No entanto para mim o caixilho pela sua pequenez, é um encanto um rasgo criativo do habitante da casa.
  • Como seria entrar no quarto e ver a luz através dele?
Que dizer dos efeitos de contrate na camisa de dormir em estoupa grossa para afugentar as pulgas, bordada no peito com monograma a vermelho pendurada no cabide...
Romântico diria!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Arrábida piquenique e banhos!

A uns escassos 4 kms do rio  à entrada de Setúbal vindo pela nacional depois de Azeitão na 1ª rotunda corta-se à direita por uma estrada sinuosa, passa-se à desativada Universidade Moderna ,sítio de quintas umas a seguir a outras com frondosos portões e muros. Sempre a mira de seguir em frente até deparamos com a sinalética num entroncamento com tabuletas improvisadas, algumas partidas com os vários itinerários, e para a direita avisava o parque de merendas. A estratégia do parque de merendas naquele local adivinha o mesmo ser pertença de uma grande quinta abandonada que se encontra na encosta da colina. Vedado a toda a volta com rede, dispõe de 4 assadores em pedra, poucas mesas, bancos corridos debaixo das oliveiras -,já o conhecia de outra vez, aqui acorrem corropio de gente, sobretudo emigrantes ucranianos a fazer churrascos!

  • Piquenique em 26 de setembro de 2009

Postados nos lados do parque grandes troncos de eucaliptos tri -seculares jazem despidos corroídos no interior, ainda um vivo com um diâmetro a perder de vista.
Visível na encosta um grande palacete em ruínas, ainda vestígios do empedrado da estrada de acesso, mais à frente uma parede com ameias em jeito de castelo encoberto pela vegetação, seria um miradouro?
Ao lado do parque estende-se um grande terreno arenoso quase despido de ervas com cor de terra...tropecei sem saber num fóssil-, um búzio, fui com a mão, saltaram outros da terra como se estivessem dentro de farinha, aqui jazem há milhares, milhões de anos?
Adoro fósseis e outra das minhas paixões "caquinhos de faianças" que encontrei no terreno, apanhei alguns debaixo de um sol baixo escaldante...
Por certo restos da vida de outros tempos do palacete na encosta, que as chuvas no tempo descarrilaram pelas terras.

Portinho da Arrábida. Deitada na toalha na praia a saborear contrastes de sombras do sol encoberto por nuvens com o verdes das encostas crespas de vegetação mediterrânica,efeitos enigmáticos dos estratos e das cristas de calcário, misto brecha e pudim da Arrábida -, trouxe uma amostra redondinha, parece um nugget de amendoim...
Soberbo panorama de fazer perder a respiração, tanto sossego, tanta beleza incomum num lugar paradisíaco ainda por explorar.
Deixámos de mirar a Arrábida para avistar aquele mar azul com bancos de areia antes de Tróia a perder de vista, e os verdes das encostas do planalto com os prados tipo paisagem "Bocage" de fenos já cortado, ainda El Carmen que me deixou a sonhar e de que maneira!
Fazia-se horas para regresso. Na subida um acidente com um casal de mota que ficou sem travões...Claro, o INEM bloqueou a estrada, criou o pânico no trânsito, e não havia necessidade. As mulheres fizeram-se sinaleiras, ora mandaram avançar os da fila para descer, ora mandaram avançar quem como eu que  vinha de baixo, na esgueira de portas abertas e carros mal estacionados, tomámos a valeta, ao desenrasque!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Real fábrica do Gelo em Montejunto






Situa-se em plena serra de Montejunto, também designada real fábrica da neve, a escassos 50 km da capital.Vinha eu na Ponderosa, num repente apeteceu-me mudar de rota , conhecer Montejunto.Gosto de andar por estradas do interior,exalta-me o fascínio pelo casario desordenado, as colinas umas verdes de floresta, outras de vinhedos, ainda muito mato, a sinalização quase passava despercebida num entroncamento com semáforos.
Aldeias castiças encravadas nas colinas da serra e dos vales imensos e profundos,inevitável uma pedreira, no ar uma avioneta fazia círculos atrás de círculos....mas que raio faria ali, perguntava-me...
  • A faixa dizia tudo, tudo!" És única, completas-me M ama P Q do Castro".
Percebi melhor quando esbarrei mesmo defronte da quinta de rija e soberba fachada imponente...talvez casamento!
Pragança -, a última aldeia grande antes da serra com cabeços de pedra debruados a vegetação mediterrânica, tipo ramalhete, naquela de continuar a subir ,sempre a subir ,o carro já ia com o ponteiro do aquecimento quase no máximo... Está a ficar velhote!
Um miradouro com muros pintados de branco e um cruzeiro, ao longe o oceano atlântico!
Continuámos estrada acima na companhia de pedras tipo ponte agudas que servem de resguardo à barreira abrupta e logo acima um entroncamento, parque de campismo, centro de interpretação da serra e fábrica do gelo, quisemos continuar até ao cume.
Montejunto -,afinal um sítio mítico outrora povoado por dominicanos que não perderam tempo em se pirarem de lá, tal a agrura do inverno... repleta de um sem número de antenas de todos os canais, de redes de telemóveis e força aérea ...uma loucura, os zumbidos, tantos fios esticadores presos em sapatas de cimento armado, pior as desactivadas, que as deixaram lá inactivas a morrer ao sol...e a destoar no contexto serrano de pedra calcária. Deparei-me com a fachada da igreja de Nossa Senhora das Neves, por detrás dela ainda vestígios de suportes em pedra usados no século XXII, até os caixilhos das janelas são em pedra, ainda ruínas do primeiro convento dominicano erguido em Portugal,uma ermida com muitas velas e ao lado umas ruínas onde ainda se vê o chão em pedras pequenas tipo mosaico e noutra os alguidares encaixados na argamassa de cal, um vidrado em verde, não resisti trazer um fragmento, louca por estes artefactos!
Subimos mais um pouco, aí sim o cume de Montejunto com uma capela de S João e ruínas de um segundo convento ,os dominicanos não queriam desistir da serra, tentaram construir outro, porém desistiram pelo tempo frio que aí se faz sentir deixaram-no por concluir, foram de vez para Santarém. Existe no grande largo que se rasga na frente do aglomerado um lindo painel de azulejo com a menção de todos os pontos de interesse na serra.
Descemos e fomos em direcção à real fábrica do gelo.
  • Tivemos a graça de ter encontrado um excelente funcionário da câmara do Cadaval, simpático, afável,mui bonito e sensível, excelente candidato para este posto, com perfil para comunicar e agradar sem presunção nem favor, simplesmente porque adora o que faz, presentear e encantar o forasteiro. 
A pé caminhamos ordeiramente por entre castanheiros selvagens que escondem um parque de merendas, ao lado um parque de campismo apetrechado -, grátis-
Incrível no meio, uma ilha da força aérea com um enormíssimo radar verde...
Aberto o portão dei conta dos pinheiros seculares arrancados do chão, restos do grande temporal, que passou por Torres Vedras, ao nosso lado direito uma grande extensão de tanques baixos que intercomunicam entre si a água vinda de um grande tanque tipo depósito onde os alcatruzes da nora à força de tracção animal faziam retirar de dois poços contíguos, dia e noite...quando os tanques se cobriam de finas películas de gelo, as pessoas eram chamadas da aldeia de Pragana para as vir retirar e armazenar nos poços , um maior do que outro em pedra, achei fascinante as cúpulas em tijoleira tipo árabe, adorei!
  • Dentro do edifício chamado fábrica cujo chão em lajes grandes irregulares de pedra, ainda vestígios de arcos podem observar-se painéis elucidativos do tempo de oiro do gelo como, "Café do Gelo" em Lisboa ainda em funcionamento e noutro uma placa de mármore a dizer vende-se Fructas, Cerveja, Neve...
Interessante foi saber que a modernice de usar o gelo como refrescante foi trazido com a corte de D. Filipe II, por volta de 1600, julga-se que começou por vir da serra de Estrela, depois das faldas da serra da Lousã, do Coentral, ainda da serra de Sintra,mas rapidamente uma atrás da outra foi perdendo importância pela distância da capital e da génese do produto, o gelo -, não aguentar o tempo da viagem...que derretia... 
Assim nasceu a ideia de fazer gelo na serra de Montejunto julga-se por volta de 1741, e em 1782 inauguram uma nova fase, o gelo também começou a ser utilizado no hospital de Todos os Santos ali na Praça da Figueira. 
  • O armazenamento do gelo era feito nos poços onde era calcado com um maço tipo calceteiro, sendo depois o seu transporte feito em carroças puxadas a jumentos embrulhado em serapilheira e palha para aguentar o calor, as viagens faziam-se de noite quando o calor abrandava até à vala do Carregado onde embarcava em barcaças até ao terreiro do paço, um percurso de 12 horas, aí chegado era transportado para a casa do gelo, não se sabe muito bem onde seria, uns dos donos da fábrica era também dono do café Martinho da Arcada. Ainda no local pude ver um forno de cal em excelente estado de conservação que serviu para a construção da fábrica e também a população.
Fiquei com inveja dos castanheiros americanos, com 10 anos, de folhas grandes, ao invés do que plantei numa courela lá na minha terra, não medram!
Valeu a pena, fiquei com a sensação que já lá estive antes, maravilhoso cenário não me sai da cabeça, o pior é que tenho boa memória...Será do programa do Dr Hermano Saraiva?...
Continuo na minha, já lá estive antes...
Adorei!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sonho em viver aventura nas vindimas no Douro !



Em 2008, com a herança inesperada de uma propriedade vinícola, vi-me confrontada com um dilema: apostar na manutenção ou no seu abandono.Decidi teimar na aposta da sua preservação, surgindo a necessidade de alguma aprendizagem e aquisição de conhecimentos específicos sobre esta temática, da vinha e do vinho.Através de roteiros turísticos disponíveis on-line, seleccionei uma Quinta no Douro que oferece aos seus visitantes, na época das vindimas, a possibilidade de participar nesses trabalhos, para auto valorização, aprendizagem ou somente lazer.A escolha foi aleatória, tal o número de ofertas.Fácil, foi agendar uma data e ir sem ninguém se aperceber...menti...tinha de ser!
Na data estipulada, depois de acalmada a ânsia com o aproximar da hora, cheguei à Quinta do Crasto no Douro vinhateiro.À minha espera, o capataz e o enólogo deram-me as boas-vindas.Todos sabiam da minha chegada e dos motivos da minha visita, esclarecer e aprender vários conceitos da vinha e do vinho.A vontade de começar a fotografar era imensa: a casa grande, os barracões, onde se guardam as alfaias, a serem invadidos pelas mulheres, que se apressavam a ir buscar as tesouras de poda, e a azáfama dos homens a carregar os tractores de cestos.O capataz pegou, então, na maleta de primeiros socorros, embalagens de luvas e garrafas de água.Estava tão entusiasmada com o rodopio dos tarefeiros.Todos pareciam saber as suas funções e, já instalados, lá partimos rumo à vinha do Marco do Grilo.A minha vista alcançava em redor um percurso sinuoso de estradas estreitas, rodeadas por um imenso mar de vinhedos aos carreirinhos, xisto e mais xisto a tropeçar nos pés. Ao longe o rio sereno numa de fazer caretas com as sombras dos salgueiros por entre os raios de luz… 
Interrompi os cliques da máquina fotográfica para ouvir as explicações sobre a utilização de luvas: "a casta das uvas pretas é muito tintureira e as mãos, se não estiverem protegidas, ficam encardidas".Por falta de hábito no manuseamento da tesoura de poda, ou nervosismo, cortei um dedo, de imediato o capataz apressou-se a ir buscar a maleta e a socorrer-me no ferimento.Fiz uma pausa na vindima e voltei a atenção para a minha máquina digital, que já contava com umas largas dezenas de fotos.Neste momento estava a ouvir à minha volta algumas pessoas que falavam acerca da maturação das uvas, prevendo uma colheita superior à do ano anterior.O tempo tinha corrido de feição,o míldio fez tréguas,também a última chuvinha diziam, acabou por lavar, engordar os cachos que ganharam mais doce, alimentando expressões com sotaque ...
"Olhe, as abelhas já andam à roda delas", auspiciando um ano de bom grau, quiçá de um vinho "vintage".O vaivém dos homens com os cestos cheios de uvas nos carreirinhos e os de regresso já descarregados no tanque inox do tractor, estratégica medida cautelar de higiene sem perdas de uma pinga de mosto, saíam em direcção ao lagar, atulhados de uvas, reluzentes ao sol.O almoço foi servido no arraial em plena vindima, trazido por mulheres com cabazes de verga branca.Serviram de entrada bola de Lamego, o prato rancho à moda de Viseu, fruta melão,e doces as famosas cavacas grandes que davam para encher de vinho da adega, por sinal esplêndido.Com o estômago composto com o apetitoso repasto, ouviam-se anedotas, e alguém insinuou: "Então e as fotos?"
Aproveitei o ensejo do mote e registei mais uns momentos descontraídos de todo aquele alegre rancho de gente.À tardinha regressámos à Quinta em direcção ao lagar.O rancho, só de homens que tinham vindo à frente, estava já no preparativo do ritual da lavagem dos pés para entrar no grande tanque.Dava-se início à pisa das uvas! 
Abraçados a cantarolar "Era o vinho, meu bem, era o vinho, era o vinho que eu mais adorava!" a fazer lembrar os rituais alentejanos a cambalear como ondas.As mulheres tratavam da lavagem dos cestos e da limpeza das tesouras, arrumando tudo o que tinha ido para a safra.A noite já ia longa, o corpo não perdoa e o cansaço era muito.Todo o pessoal irradiava uma simpatia sem igual, franca e sempre pronta a esclarecer dúvidas.Aprendi novos conceitos sobre um tema quase desconhecido, que me tornaram apta para seguir em frente com o meu projecto.A Quinta tem várias vinhas: Lameira, Cadela, Cantinhos e Salgueiro.Cada safra com a sua casta destina-se apenas a um lagar (tanque).No lagar havia cinco, só dois estavam ainda vazios.Depois da pisa, o mosto foi tratado com produtos químicos (a quantidade regula-se pelos cestos,compra-se nos Grémios e farmácias), o mosto ferve entre 4 a 5 dias durante estes o ritual diário, calcar duas vezes o mosto que sobe no tanque com alfaias de madeira a lembrar os rodos das salinas.Noutro tanque, registei essa tarefa, executada por várias pessoas à volta do mesmo, ficando tapado com plástico como medida de protecção.No dia seguinte, assisti noutro sector do lagar, ao vasilhame do vinho em pipas de carvalho francês, devidamente preparadas, sendo estas tapadas com um marmelo ou uma maçã, para evitar os mosquitos, o mosto continua a ferver e deita fora, quando deixam de ferver, finalmente são tapados pela rolha de cortiça.A minha aventura tinha terminado.
Numa conversa, de hora e meia, com o dono da Quinta, esclareci as últimas dúvidas sobre cava da vinha e sua fertilização.Por fim, ele fez questão de se despedir pessoalmente de mim e dos restantes colaboradores de fim-de-semana que abraçaram uma aventura diferente, na lavoira!
Quanto ao vinho, com muita pena minha, o resultado final só será provado na Páscoa, pois no Carnaval ainda devia ferver.Será que irá manter a graduação da colheita anterior, 15º?
Vamos esperar para ver e, com sorte, ainda poderei fazer uma pequena visita e prová-lo directamente das pipas da Quinta da D. Antónia.
Apeteceu-me regalar de espanto e surpresa a minha família.Para tal os presenteei na casa rural com um almoço regrado.Fiz cartazes de boas vindas alusivos que tinham ao lado dos lugares na mesa com a lenga-lenga, à falta de melhor improviso na arte de poetar:
Surpresa, surpresa! O que vem lá?
Será coisa boa ou coisa má? 
Boa será!
Humm, cheira a cozido… 
E a sobremesa o que será?
Querem uma pista?
Podem ser tintas,brancas ou morangueiras 
Colhem-se e esmagam-se de mãos nas ancas,
E o aroma? Ah, cheira tão bem! 
Mal podia esperar para mostrar as fotos de todos os registos feitos durante a minha aventura.Será que ia ganhar o desafio?
Depois de um bom cozido à portuguesa e já bem instalados no sofá e no caixote corrido, dei início ao documentário.Fotografia a fotografia fui revelando as experiências por que tinha passado,original, divertida e de mais valia como conhecimento.Tal o espanto da família era geral, estupefactos com a aventura que eu tinha vivido.
Perguntavam incessantemente "Foste tu? Mas és tu, não és?" 
O desfecho desta minha aventura... aposta foi ganha! 
Não poderia desejar nada mais do que os sorrisos e as palavras expressas naquela tarde por todos, um a um.Valeu a pena o desafio.Agora, só é preciso pôr mãos à obra naquela que será a nossa Quintinha da Mó.Bem, conhecimento já adquiri, motivação também.
Já iniciámos a poda e a fertilização do terreno.Agora é só esperar por Setembro próximo e que o ano tenha chuva e sol quanto baste.De resto, bem… já os antigos diziam "o hábito faz o monge", nesse pressupsoto o desejo para mim!

sábado, 11 de setembro de 2010

Olhos D'Água do rio Nabão e do seu afluente Agroal!

O concelho de Ansião encontra-se inserido no planalto do Maciço de Sicó entre Condeixa a Alvaiázere, a rocha predominante é o calcário; frágil, fratura com facilidade pela erosão do vento, sol e chuva, criando muitas fissuras, por onde a água das chuvas se infiltra em algares, galerias e grutas numa múltipla rede subterrânea; a várias cotas  para brotar normalmente na bordadura dos maciços, através das exsurgências  várias. Que reconheci em leituras e no terreno.
 
O Vale Aquífero do Nabão , julgo o nome não está adequado, devendo ser contemplada toda a região cársica desde Alcabideque, com a nascente perene, em Condeixa, com a exssurgência de Arrifana e a do Ramo. 
O algar da Póvoa, no Rabaçal.
A Fonte do Alvorge.No Vale Florido dizem que nasce o rio Anços.
O poço da Granja e o do Carvalhal em Santiago da Guarda .
Na Lagarteira o Poço de chafurdo Minchinho; a Fonte do Carvalho, na Areosa a Fonte Santa, que foi uma Fonte de Mergulho.
Na Cumeeira outra fonte. E a nascente do rio Dueça.
Águas soltas nas Lagoas, Sarzedela na Fonte da Bica e, ao Alto da Lameira,  houve um fontanário com tanque de chafurdo soterrado no nó do IC8, resta a nascente. 
A Fonte Santa na Areosa, foi uma Fonte de Mergulho.

O padre Serra, refere-se em 1747 a dois poços no Vale do Buyo
O Vale do Buyo, foi um paul nas margens do Nabão, onde confluiam varios ribeiros de enxurrada e olhos d'agua do algar, como o da Sancha. Em época medieval, parte deste território, ao Porto Largo para a Constantina, Arioza, Netos, Sarzedela e Vale de Boi, eram terras pertença de Penela. Tenha fidelizado o topónimo Vale de Boi, a norte, no território que foi inicialmente o vale do Nabão, com quintas com gado bobino, sobretudo nos lameiros da Lagarteira onde prevaleceram apelidos alusivos; Ganaio.
 
Hoje os Olhos de Água, há um poço que se encontra acima da estrada, a nascente, ao lado da Renault, teve propeção aquatica .Apresenta-se ao jus de poço redondo corroído pela erosão da água em milhões de anos, com canalizações absoletas da bombagem.  O padre Serra em 1747 lhe chamou poço, por ser vertical, redondo , com 45 metros. No final dos anos 60, uma empresa alemã, ( quem deu a alcunha ao João anão) fez dentro do poço  um furo para captação de água para  abastecer a vila, só aconteceu em 1972, sendo na altura feito o rebordo e tampa.Nos anos 80 do séc. XX, foi descontinuado o abastecimento deste poço por falta de água, passando a ser usada água da Ribeira d'Alge.
A poente outro poço,  com 12 metros, a cimento e silex e escada de ferro. 

Segundo Sérgio Medeiros « A própria galeria que origina a saída dos Olhos de Agua, a dita Eira, é um caos de blocos naturais sem evidência alguma de toque humano.»  

Acresenta  o padre Serra «A água dos dois poços dava corpo a 2 ribeiras, unidas numa só iam meter no rio Nabão em Tomar. O rio em Ansião começou por não ter nome próprio. Apenas Ribeira . O vale chamava-se Vale do Buyo. Dava peixe que vinha das entranhas » 
 
Onde foi o poço ou penha?  Onde vinha peixe das entrenhas? E onde nos anos 40, do séc. XX,  o Mestre de Lagar Ti Carlos Parolo desceu , para saber se havia água era uma grande gruta, que ia quase ao Fundo da Rua... Portanto, o que e parece é que no sitio do poço onde rebenta o Nabão, em cimento, antes foi de pedra, um poço de chafurdo com escadaria como o do Minchinho na Lagarteira com saída para a boca do algar onde o povo desceu.  A nota do  Dr. Bertolameu de Macedo Malheiro (...) e ha tradição vaga, e antiquissima ser fabrica de Mouros». O poço seria romano, atendendo ao do Minchinho, debalde, estão perdidas todas as evidencias, até a ponte de pedra foi removida. 
 
Outras nascentes com água:
O Olho da Sancha,  poços no Alqueidão sempre cheios de água e na Barreira ao Carrascoso.
O Poço de chafurdo da Ameixieira
O Olho da Bocha (Escarranoa) 
O Poço da Fontinha em Almoster, era um poço de chafurdo, restruturado anos 60 do séc. XX.
O Olho do Tordo, nas Bouchinhas.
A Fonte de Mergulho de Paradelas no Bofinho, Alvaiázere.
As exssurgências da Fonte Grande e a de Formigais - revelam estas duas que são de outro algar, da serra de Alvaiázere, o mesmo algar que alimenta a nascente do Agroal. 
Apreciei a rebentação brutal da Fonte Grande como se fosse um rio e a norte na ponte do Arneiro, em S.Jorge o leito do Nabão ia em secura.

O Vale Aquífero do Nabão, Sicó e Alvaiázere 
Tem como principal curso de água a ribeira de Ansião, hoje chamada rio Nabão e seus afluentes; os Ribeiros; as chuvas no inverno engrossam os vários aquíferos freáticos entalados entre camadas mais ou menos impermeáveis (margas e calcários margosos), que originam pequenas nascentes que drenam a área circundante.A mais interessante será, a já conhecida - o Olho da Sancha e o seu alinhamento com as nascentes do lado norte do IC8, mas até agora nada nos indica qualquer ligação com a Gruta do Nabão, segundo Sérgio Medeiros .Aquilo que procuramos são mesmo cavidades que nos possam dar acesso à Gruta do Nabão em Ansião. A gruta tem sido explorada alguns metros  pelo  poço sul  na direção do poente do Alqueidão  no seguimento das Alminhas para o Casal S Bras encontram-se vários  poços que tem água todo o ano,  segundo o Rogério Nunes e dizem os antigos que tinham, conexão com a nascente do rio Nabão. Não sei se assim será pois não tenho conhecimentos técnicos ou empíricos que o possam confirmar. Toda esta zona conheço muito bem portanto podem fazer perguntas que por certo saberei responder. 
 
Em Ansião, aos Barreiros dizem que há muita água. No  Carrascoso, viveu uma família cujos filhos foram para Tomar, um dia vieram com um amigo, seria espeleólogo pelos conhecimentos que na altura afirmou ao afirmar que havia muita água ao limite sul da Rua da Gatina onde depois da rotunda se segue para sul por uma estrada estreita que dá seguimento para o Casal Viegas - é nesta zona. Existem  vários lençóis freáticos em cotas diferentes do Nabão; a sul a lagoa cársica do Ribeirinho, o poço chamado da Ameixeira segue para  Pousaflores. No quintal do Sr Simões, foi sacristão, tem um poço sempre com muita água. Na Chousa, onde a minha prima Nelita  fez um poço se dizia pela quantidade de água era um veio do Nabão que ia para o Agroal. Agora o que falta saber é se no perímetro agora traçado existe alguma buraca ou gruta como há na Sarzedela, para se poder mais  explorar.

Lagoas cársicas
São ainda imensas em toda a região, embora algumas tenham sido assoreadas por estrem no enfiamneto de caminhos e outras por vegetação infestante.

Dolina  da Lagoinha
A lagoa seca de verão, o povo a dizer que a rebentar aqui primeiro a água do que nos Olhos d'Água explica-se pelos diferentes lençóis freáticos .
 Notas dadas nos séculos
 
A notícia  das Memórias Paroquiais de 1747 
«Sobre a serra de Ansião, extraída do Dicionário Geográfico, do Padre Luís Cardoso Anciam - não sigo o português da altura (...) tem poucos rios, e nenhum deles perene, pois apenas nos arrabaldes da vilça de Ansião nasce  um junto ao povo, sem nome próprio, no sítio de vale do Buyo, o qual rebenta por dois grandes olhos no principio do inverno, e corre até ao fim do mês de junho, tempo, pouco mais, ou menos em que seca.Os olhos são notáveis, e há neles dois grandes poços, e no fim de cada um uma grande concavidade por onde se entra dentro pelo tempo do verão, o qual se vai dividindo em várias concavidades mais pequenas, e se julga que pelo interior corre algum rio, o qual quando enche por aqui rebenta, e transborda, e corre por terra áspera, e fragosa: corre em grande abundância, e traz peixe. A água destes 2 poços forma, e dá corpo a Duas Ribeiras, que unidas em uma só, se vão meter no rio Nabão junto à vila de Tomar a meia légua de Ansião, onde chamam Poço Minchinho, rebenta outro olho de água, que no inverno brota como os mencionados, e se junta com esta ribeira. A água deste não seca totalmente; dos lugares por onde passa para a rega dos seus campos, de suas hortas, e pomares. (...)Tem uma famosa lapa, a que chamam o Algar da Agua, aberta num penhasco, muito espaçosa, e capaz de recolher dentro em si 500 homens.»
 
Topografia Médica das Cinco Vilas e Arega de A. Costa Simões de 1860
«A ribeira de Ansião, tendo o seu princípio na Fonte do Carvalho, perto da Lagarteira, e recebendo mais abaixo, coisa de meia légua, a copiosa nascente do Olho do Vale do Buio, passa ao norte da vila de Ansião; e depois de ter formado uma grande curvatura ao poente desta vila, corre de norte a sul até ao rio Zêzere perto da sua entrada no Tejo, tendo tomado os nomes de ribeira de Ansião, rio Seco, Arneiro, e ultimamente rio Nabão, bem conhecido quando passa na cidade de Tomar.»
«Pescam-se nesta ribeira o barbo, a boga e a enguia.»
O mesmo autor referencia afluentes desta ribeira de Ansião, os ribeiros de Albarrol, Sarzeda, Valinhos, Pessegueiro e Macieira e a partir do Agroal, já no concelho de Ourém, que a referida ribeira se torna um verdadeiro rio.

O Prof Salvador Dias Arnaut no seu Livro Ladeia, Ladera 
O Vale de Buyo a sul da Ladeia, logo o identifiquei como sendo este onde nasce o Nabão. Tentou encontrar uma nascente/fonte a poente de Ansião, algures perto do  leito da ribeira  referenciada em escritos antigos, enviando carta ao Prof Carlos Reis do Pessegueiro, para confirmar a sua existência.Que a menciona , porém sem se saber o que o povo chama Rio do Pessegueiro,  ou Rio do Jardim, junto ao Outeiro da Sarzeda ou utra que entretanto tenha secado (?). 

Excerto da nota do  D. Bertolameu de Macedo Malheiro, Provedor da Comarca de Coimbra, remeteo á Academia Real da Historia Portugueza no anno de 1721  Noticia da Villa de Ancião
A qual deu o Juiz Ordinario della Manoel Roiz, sobscripta, e assinada tambem por Manoel Godinho da Silva, Escrivão daquella Camera, e não tem data. A Villa de Ancião està situada em huma planicie baixa, que do lado direito, e esquerdo tem outeiros asperos, e fragozos de pedras com muitos carvalhos, olivais, e pinhaes.  
Hà no principio della huma ponte de pedra por onde passa de Inverno hum rio. 
Ao pè desta Villa nasce de huma penha huma famosa leuada de agoa com que moem huñs moinhos, e hum lagar de azeite que ficão junto ao seu nascimento. 
Quando rebenta a agoa da dita penha lança de si peixes, que consigo tras das entranhas da mesma penha, e ha tradição vaga, e antiquissima ser fabrica de Mouros; e pondose alguñs curiosos com os ouuidos ao pè daquella penha por onde rebenta a dita agoa dizem que ouvem correr hum rio, e muitos affirmão que se houuesse braço real para as despezas, se podia tirar a dita agoa, e dar com ella muito proveito aos povos para regarem suas fazendas»  
O excerto  refere a penha onde rebenta a água, vulgo poço, feito por mouros, dava peixe e junto da sua nascente havia um lagar de azeite e moinhos de água  .
 
Segundo Sérgio Medeiros 
Ainda não se encontraram os documentos da extinta DGSU na Câmara de  Ansião relativos à campanha nacional de aproveitamentos hidráulicos de nascentes cársicas, captações para consumo humano. Casos de Nabão, Tordo, Dueça, Liz, etc...
As nascentes cársicas foram reestruturadas em forma de poço redondo, a cimento, sílex e degraus em ferro, todos iguais, construídos de raiz, o dos Olhos D'Agua  com 30 metros , a atual nascente do Nabão, Poço Minchinho,  Ameixieira, Ribeiro da Vide , Poço da Fontinha, Poço do Olho do Tordo apenas com aberturas no muro do rebordo para a saída da água os que formam rios os outros fechados.
Na Ameixieira, existe um poço de chafurdo  e no seu tardo descobri que o Ribeirinho a sua água se infiltra em dizer ali existe um algara a uma cota superior .
 
Núcleo dos amigos das lapas, grutas e algares 
O poço fechado que se encontra acima da estrada a nascente em  Ansião
Mais um passo para a exploração sub-áquatica . Ontem, (23 de Novembro) mais uma grande exploração no Maciço Sicó, desta feita nos Olhos d’Água de Ansião (Gruta da Nascente do Rio Nabão).Pela primeira vez foi possível explorar a seco a galeria freática que desce até aos 80 metros de profundidade (falta confirmar desnível com topografia!).Esta galeria apenas tinha sido visitada apenas uma vez, pelo espeleo-mergulhador João Neves (SAGA) em 2005.Muita, muita lama, tipo manteiga e muitos metros de corda e cabo elétrico sujos, mas valeu a pena!
As explorações futuras estão neste momento mais facilitadas devido ao alargamento da estreiteza que antecede esta galeria descendente, sendo que a exploração subaquática é agora bastante mais fácil e poderá dar resultados surpreendentes.»

Entaladeira
Rampa final
Foto do sifão terminal

Depois de eu partilhar a informação da falta de documentação da DGSU
« Na Pagina do Grupo de Ansião Henrique Dias partilha um pequeno opúsculo editado pela SPE em 1964 com uma publicação póstuma do Eng. de minas Vasco Mendes de Sousa intitulada "Casos de aplicação da Espeleologia ao estudo de águas subterrâneas e a problemas de Engenharia".Ele era Chefe dos Serviços de Hidrologia da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, e esta publicação é uma síntese da conferência publicada na Revista Técnica nº 323 de Dezembro de 1962.»

 Pela leitura pensaram fazer uma barragem no Agrol 
A documentação que fala ter, engloba o Nabão de certeza
O Estado mandou-a elaborar, nos anos 50, do séc. XX. 
Além disso, nem sabia da sua existência, percebi que os poços; Minchinho, na Lagarteira, Olhos d'Água em Ansião, o do Ribeiro da Vide, Fontinha, andei à procura deoutro em Almoster e, não o encontrei, seria outro caminho ao lado da fonte na direção do Vale da Couda, e o poço do Olho do Tordo,  todos desse tempo em cimento e sílex, com degraus em ferro. A mesma abertura para saída de águas quando a cota soube ao máximo . Se conseguir encontrar essa documentação é uma meta fantástica para a equipa que fez a prospeção, mais avançar. Falaram ainda que os especialistas que estudam o meio, não gostam de ambientes cársicos, por se dividirem e subdividirem perdendo-se o rasto dos lençóis freáticos, sendo melhores os ambientes graníticos e de xisto.

Partilha de Henrique Dias

Afinal os vários poços de nascentes  cársicas foram intervencionados entre 55 e 57, e não na década de 40, do séc. XX. 
De facto em Ansião a casa dos meus pais foi a primeira a ter placa em cimento, feita em 57.
Poço de chafurdo da Ameixieira
O padre Serra e 1747, fala destes poços fábrica de árabes, o seja mais antigo, do tempo romano, ou anterior da proto-história. Coligi sitios perto de vias romanas para saciar a sede aos viandantes em rota cársica da rede de lençois freáticos desde Alcabideque; Fonte Coberta outrora foi uma Fonte de Mergulho; Fonte do Alvorge, Fonte dos Mouros na Ateanha, foi uma Fonte de Merguilho; Poço de chafurdo do Carril como o Poço do Minchinho, Olhos d´água, etc...  
O poço artificial na Ameixieira anos 60, do séc.XX
O poço do Ribeiro da Vide
Não sei se artificial ou se aqui já havia algum poço, a metros para poente existe outro poço da nascente da atual fonte de 1897.
Fotos retiradas da net
Preparação para o filme de 2019  da prospeção ao poço sul
                                        
                                          
                              
                              
                                       
Fotos do Dr. Leonel Morgado
As minhas fotos  
Parte do Lençol da gruta e o poço com a tubagem ainda da captação de água

Gostei do documentário 
O que me parece falou? Antes da apresentação devia ter sido feito um introdutório a explicar o que é o Vale aquífero do Nabão Sicó Alvaiázere. 
Afinal segundo o que foi dito, o Agrol é um rio que nada tem com o Nabão, apenas seu afluente. 
Não explicaram a razão do poço da Ameixieira estar a uma cota superior sempre com água. 
Continuo com dúvidas sobre o conceito de nascentes e lençóis freáticos  em ambiente cársico . 
Não fiquei convencida do Nabão nascer em Ansião. Até porque o padre refere em 1747, o rio em Ansião não tem nome próprio, e assim no meu tempo de adolescente era chamado - Ribeira. 
Conheci o termo Nabão, na tabuleta na ponte do Marquinho, na carreira,  para estudar em Pombal.
O Agrol, conheço desde sempre, onde quase todos os anos vou a banhos.
Como a cidade de  Tomar onde durante a minha adolescência ia todos os anos à feira de Santa Iria com passeio de barco a remos pelo rio até ao dia a puxá-lo  para o atracar fiquei sem uma unha...

Páscoa de 2019 em nova rota  vinda de sul do Suímo, o que encontrei?
Deparar com o rio seco, repleto de flores altas amarelas
Tinha sido uma semana de chuva, a sul sem pinga de água e a norte a partir daqui muita água junto a uma fila de poldras já descarriladas, em minutos a água atinge a cota máxima para de repente entrar pelo canal estreito da brecha da poldra descendo em pressa se inclinando para poente onde fui atrás dela evidenciando ser ali uma gruta onde desapareceu para se instalar a dúvida, afinal a água que passa em Tomar não é a do Nabão de Ansião, mas somente do afluente o Agroal -, então onde fica a água do Nabão? Será ali na imediação do Deserto, onde o Prof Salvador Dias Arnaut referenciou uma fonte, nascente, algures na imediação da  gruta onde vi a  água desaparecer para alimentar a ribeira de Abiul e,...
O rio vindo de norte antes das poldras
Açude
Da minha coleção - Olhos d'Água junto a uma nascente  hoje soterrada com o IC 8 com os meus colegas do Externato António Soares Barbosa no ano 1973 nos fizemos à foto  junto a um "olhinho de água do Nabão" 
Almoster - Maria Marques, Luís Costa
Gramatinha - Fernando Ribeiro Marques
Anacos - Fátima Simões
Mogadouro - Isabel
Pessegueiro -João Carlos
Casal de S.Bras - Silvestre
Ansião - Euzinha, Fátima Duarte, Alfredo Lourenço,Maria João Valente, José Carlos Simões
Lurdes Carvalho - Sarzedela
Pobral -Vitor
Foto aos Olhos d'Água anos 50 dos meus pais
Sr. Chiquinho Veiga de mãos abertas e a esposa D Anita  atrás, na frente o meu pai Fernando Rodrigues Valente com o irmão o Francisco, os únicos na foto que conheci.
 
Desde sempre local para encontros e namorados
Os meus pais a namorar nos anos 50 nos Olhos d'Água.
A razão de ser chamado Nabão?
O povo no meu tempo o imortalizava dizendo que o nome lhe advinha por começar a  correr no tempo dos nabos...Mas por certo pode ter reminiscências ancestrais pagãs. No tempo dos romanos  o rio chamou-se Nabanus. Na Idade Média o rio era conhecido por Tomar  na cidade e Tomarel na parte superior. No século XII em documentação do Bispo de Lisboa D. Gilberto, referem-se a um "Portus de Thomar", na definição dos limites territoriais do Castelo de Cera - hoje Ceras,  para poente e bem longe onde o Nabão seria navegável da foz até à imediação de Formigais. Hoje chama-se Porto Velho. Em 1542 o "Tombo dos Bens e Direitos da Mesa Mestral", com data de 6 de Maio, por Pedro Álvares, é perfeitamente claro relativamente a esta designação de rio Tomar, ainda em uso na época. 
 
Temática discutida na Pagina de Ansião  em setembro de 2019 
Iniciada com Whild de Oliveira muito bem corroborada pelo Dr. Bruno Martins e Fernanda Rosa Silva Mouro, a quem agradeço a partilha de mais informação, que acresce valor à crónica 
«A história do nome do rio é uma homenagem à deusa Nabia ( romano), no entanto a deusa em questão não faz parte do panteão romano tampouco do Celta e sim há uma deusa Navia, que tem três aspectos, 1- a guerreira , 2- a senhora das águas, 3- a senhora da fertilidade. A época em que a deusa era celebrada é de abril a maio, próximo da primavera e suas folhagens e leguminosas que são colhidas neste período também recebem nome em homenagem a esta deusa, como nabo, nabiças.» 
«O que me intriga é saber se houve algum culto pagão Celta desta deusa aqui nos arredores de Ansião, pois como se sabe o império romano absorveu muito da religiosidade do local conquistado.» 
A questão que levanta pode ter fundamento sim. Em verdade o sul da Galiza veio a ser o começo de Portugal e tomou a forma que hoje tem com a reconquista de terras aos mouros , nesse pressuposto os povos que viviam na então Galiza - Celtas, Judeus Sefarditas , povo franco, entre outros, souberam aproveitar a única estrada que havia, romana, na ligação do norte ao sul, para se deslocarem e fixar na sua beira, com estalagens e tabernas, para dar de comida, bebida , alojamento e  apoio na doença a toda a estirpe de viandantes desde o clero, nobreza, povo e malfeitores. A região de Ansião e circundantes por essa via romana a privilegiar também aqui aportaram povoadores vindos da Galiza, com nomes espanhóis, na minha investigação com origem judaica, povo franco e celtas- deles ainda hoje há genes no povo. Das tradições celtas persiste ainda o culto das Maias que se punham nos currais para proteger os animais e os espantalhos que se punham nas terras para terem boas sementeiras, no 1º de maio, o uso da gaita de foles, o folclore, o jogo do pau que se perdeu anos 30/40, o entrudo com as Sachas, as bruxarias e mezinhas entre outras.

Dr Bruno Martins 
« Aliás, disponibilizo-me para redigir de forma mais "interessante" com as referências históricas devidas (por via dos livros que tenho lido, tal não é o meu fascínio pela Ordem dos Templários e suas ligações ao físico, religioso, esotérico e místico) fundamentadas com textos e menções históricas : Disponha sempre que o entender! Toda a nossa região (Ansião e envolvente) é recheada de pequenas (grandes) curiosidades que passam despercebidas a (perdoem-me estes) 95% da população que aqui reside!(...) a origem deste nome vai muito além daquilo que aqui se tem escrito (mais ou menos verídico)! 
O nome “Nabão” deriva de um evoluir histórico de largas centenas de anos! Existia uma pequena povoação pré-romana (quando aqui existia uma miscelânea de povos mais ou menos organizados) a sul de Tomar chamada de NABÂNCIA, cujo nome se atribuía a uma divindade feminina chamada de NABIA (havia sido assassinada de forma atroz e ganhou estatuto de deusa equiparável à Ísis)! A primeira referência a esta região enquanto povoação surge mais tarde pelo Rei visigótico VAMBA (687/688 d.c.) como Divisão de Wamba! 
A povoação praticamente vai desaparecendo (com os povos que por ali foram passando)! Muito mais tarde, em plena reconquista cristã por D. Afonso Henriques, e pelos préstimos da Ordem dos Templários na batalha que deu a conquistar Santarém, o Rei Afonso I doa o território de CERAS (região atual Tomar) aquela ordem pela mão do seu Mestre D. Fr Gualdim Pais! Mas tarde, este haveria de dar o nome daquele rio (Thamar, ou Thamas ou Thama) a Vila (Tomar) e ao rio, em memória e honra da povoação (Nabancia) haveria de lhe dar o nome de Naban (Nabão)! Isto ocorre porque a Ordem dos Templários venerava as divindades femininas que associa a Nossa Senhora e Virgem Maria!! Espero ter ajudado!
E portanto, este nome tem uma origem de vários séculos, antes até da presença romana (e não meia dúzia de anitos....)! Entretanto, apesar do povo dizer que é um rio seco...ele nunca o é! Atendendo a condição geomorfologica entre Ansião e zonas não carsicas mais a sul, o Rio leva sempre água mas encontra o seu caminho a vários metros de profundidade em galerias (grutas)...sempre com água! Apenas quando os lençóis freáticos estão sob pressão (por via de chuva) ele vem a superfície “rebentando” na sua 1a nascente - Olhos de Água (em Ansião». De facto uma maioria pensa que os olhos rebentam primeiro nos Olhos d'Água, e não sendo, onde rebentam primeiro é na Lagoinha, a uma cota superior.
Fernanda Rosa Silva Mouro
"Investigações arqueológicas concluíram que a designação romana de Tomar era Sélio e, que Nabância, se situava numa localidade mais a sul. Achados arqueológicos indicam que se tratava de uma vila romana e não uma povoação, como foi apresentada na tradição literária. (Almeida e Bello, 2007, p. 75)[1]
A primeira referência conhecida consta na "Divisão de Wamba", documento medieval, atribuído ao rei Vamba: "de Sala usque Navam, de Sena usque Muriellam. O seu nome parece estar relacionado com o Rio Nabão e com uma divindade pré-romana Nabia."
 
"D. fr Gualdim País quem passa a chamar ao Rio de “Naban” em homenagem a essa figura...até aí o Rio chamava-se Thamar (ou Thama, entre outros nomes semelhantes)! 
Foi esse nome antigo do rio que originou o nome de Tomar"
                 
O rio Nabão seria mais caudaloso. 
Amorim Rosa fala de registos históricos de grandes cheias em 1550, na segunda metade do século XVII, no final do século XVIII, em 1852 e em 1909.

Percorrer desde a nascente do Rio Nabão
Dos Olhos d?Agua, assim chamado onde nasce em Ansião, à  foz  aproximadamente 61 km. 
Na minha perspetiva há algares interligados desde Alcabideque, para sul, com várias exssurgências . Sendo as únicas perenes; Alcabideque que abasteceu a cidade romana de Conimbriga e Agroal, estancia balnear. Com as chuvas rebentam;  o rio Anços rebenta em Arrancada, na Redinha, mas a sua origem é num algar em Vale Florido, no Alvorge. Como no costado das Taliscas (Penela) , nasce o rio Dueça .
Retratados em lendas que o lençol freático tem ligação com a nascente do rio Anços; de um rei mouro que roubou a água do Nabão, para o Anços. A nascente do  Nabão, nos Olhos d'Água, segue orientação para sul,  pelo costado do Casal de S.Bras, na Lagoinha, Ribeirinho, ao poço dito da Ameixieira , cujo lençol freático toma o caminho de Pousaflores, na baixa da vila, há muita água nos furos e poços. Pese haver água no Carregal aventa estender-se na  ligação a nascente, ao Olho da Boxa, já do outro lado da serra da Portela,  ao poço da Fontinha, em Almoster , com uma clareira mencionada nas Memórias Paroquias, onde cabiam 500 pessoas, segue para nas Bouxinhas para a gruta onde rebenta o Olho do Tordo. Seguidas das exsurgências; Fonte Grande a norte de Formigais e outra mais a sul antes do Agroal. E, para nascente ; a Fonte da Lage, perto da Torre da Murta,  esquecida entre eucaliptos , o Olhinho e Olho da Quebrada, Chãos, em Ferreira do Zêzere.
Nascentes cársicas. Agora se estão interligadas?
No dia 5 de março de 2023, numa caminhada em Casais do Vento, na Pelmá, Alvaiázere, apreciei a exssurgência da Fonte Grande em Formigais. Tinha começado a chover, e antes secura quase de um mes. O que apreciei foi a furia da gruta a vomitar força de água, era um rio. E o povo não lhe ditou nome! Só pode ser alimentada pelo algar da serra de Alvaiázere. Porquê? Inegável o mesmo que alimenta a nascente perene do Agroal, na mesma direção, com estas exssurgencias que só brotam em tempo de chuva porque estão a uma cota superior ao Agroal que está ao nível do lençol freático. O mais curioso é que esse rio é que alimenta o caudal do Nabão até o Agroal  com a sua nascente alimentam Tomar até á foz. Porque a vir de volta a casa o Nabão, o meu Nabão, de leito em secura na ponte do Arneiro, em S.Jorge,  Almoster!
 
Em abril de 2019 à  procura do Poço da  Fontinha em Almoster
Ladeira de terra bem íngreme, tinha havido corte de madeira, os serrados estavam limpos, ao cimo sem nada enxergar desci o monte com cara para poente, debalde não encontrei o poço...Seria no caminho ao lado da fonte que segue para o Vale da Couda...
Exssurgência da Fonte Grande ao limite de Botelha com o norte de Formigais
Não imaginam o barulho da força da água a vomitar do algar com brutal descarga na direção do Nabão.
Em Formigais, existe outra mais a sul, junto da captação de água . São responsáveis pelo volume extraordinário do caudal do Nabão, antes do Agroal e com este  em Tomar.
Porque a norte, ao Arneiro em S.Jorge, na ponte, o Nabao, vindo de Ansião reparei que ia seco...
Sorte, a de hoje, de poder apreciar tanta beleza ditada pela água, vir das entranhas.Chovia a potes...
 
Acredito que as gentes destas redondezas julguem que a nascente do rio Nabão seja no Agroal...mas não é!
 
Fonte Grande
 
Ao meio a fenda na rocha, a gruta da exssurgência
A estrada divide o caudal  de rio com 3 manilhas largas de escoamento. 
Pois não sei como foi no passado a passagem , se aqui teve uma ponte romana????
Já que falta atestar a via romana da derivação de Almogadel para o litoral que falta atestar o último troço depois da ponte romana da Quebrada do Meio, indicia vir embocar algures entre Casais do Vento para sul.
A saída em força da água das manilhas
Acontece ao limite do início da Botelha, topónimo alusivo à palavra espanhola que se traduz garrafa... Em chão, ainda de Formigais!

Impacto no vale do Nabão com o terramoto de 1755
Memórias Paroquiais de Pelmá, Formigais e Penela
 
Forte impacto que o terramoto de 1755 teve no vale aquífero do vale do Nabão, lamentavelmente não existem as Memórias de Ansião, perderam-se. As Memórias de localidades a sul e a nascente  dos Olhos d'Agua do  Nabão em Ansião «Referem os padres além do grande barulho no vale onde passa o rio rebentaram novas nascentes e algumas das fontes que haviam secaram, até o Agrol, as águas ficaram turvas, avermelhadas, demorando dias a ficarem claras»
 
Em geral as geoformas cársicas, são o cimo de uma gruta, com o tremor de terra a água desapareceu enfiando-se pelo algar. Estou a lembrar-me de uma mulher que há anos lavava na beira da Lagoa do Pito, na Lagarteira,  onde parou um carro nos anos 60, do séc. XX sendo abordada por um  senhor que a alertou do perigo. Na eventualidade de alguém cair pode nunca mais aparecer.Seria um geólogo no tempo que andou uma empresa a fazer os poços a cimento no Minchinho, Olhos d'Agua, Ameixieira e Olho do Tordo. De facto em 2020 conheci pela primeira vez o poço do Minchinho, e percebi que ao fundo da escadaria abre-se a boca de um algar. Quem ali escorregar se calhar não volta à superfície. Em verões mais secos o fundo das lagoas apresenta-se em  argila, porque nos séculos se foram assoreando, mas terão ligação a algares.
 
O padre Cura Manoel Caetano de Carvalho da Torre de Val de Todos na sua carta de 7 de maio de 1756 (...)« pessoa de crédito desta Freguesia me dice, que no dia de Todos os Sanctos primeyro de novembro, passando defronte de hum piqueno lago de agoa, que está nos confins da mesma Freguesia, pouco dipois  do Terremoto, observara, que a agoa daquelle lago sahira da sua costumada ubicação por espaço de dezouto péz, cujo espaço medira, e delle deyxara signal a agoa no ambito, que humedecera.»

O Padre de Penela
 « Alguns dias antes do dito dia 1.º de Novembro estando o ceo sereno, e sem nuvens se escurecia o Sol, e quando se queria pôr se vião do Poente para o Sul humas fayxas de nuvens muito emcarnadas, que depois de posto se fazião pardas. Tremeo a terra na manha do dito dia 1.º de Novembro e ouve mais sinais, a que se seguio o grande Terremoto das nove horas athe hum coarto, digo das 9. horas, e hum 4.º da manhaã athe as nove, e meya, o qual duraria outo, athe nove minutos percebendo sse por algumas pessoas hum insollito cheyro, que suprendia a respiraçãoFoy o Terremoto do dito dia de tres modos: pulsatorio, tremor, e inclinação. Foy pulsatorio porque se percebia levantar se a terra, e descer. Foy tremor subsecuto ao moto pulsatorio porque claramente se vião tremer os templos e edeficios, e logo a este instantaneamente se seguio o moto de inclinação, em que a terra deo o primeiro, e mais forte balanso para o Poente(...) Turbarão-se as agoas das fontes sahindo humas brancas e outras vermelhasNo lugar do Pastor, freguezia, e termo desta villa, em terra aonde nunca ouve sinal de agoa rebentarão dous olhos della negra, como agoa de polvora, e o barro que dellas se tirava hera da mesma cor, e no mesmo lugar, aonde nascião se tornavão a sumergir: e observando com huma vara o fundo do ducto della se não achava firmezaEm outros sitios se achavão as fontes com o nascimento mudado do lugar bayxo para o alto, e com mais abundancia, e caudalloza corrente; outras fontes secarão; encherão alguns regatos mais; a agoa dos poços, e sisternas ondiava com força tanta, que em altura grande parecia querer sahir pellas bocas dos mesmos. Dous annos antes do Terremoto nas vizinhanças do lugar chamado Povoa de Pegas freguezia do Zambujal termo da Cidade de Coimbra se abrio huma boca na terra de altura de mais de sincoenta braças em cuia profundidade se via grande altura de agoas»

O antes e o depois da nascente artificial dos Olhos d Água e sua requalificação 
Fotos do álbum da Genealogia das Cinco Vilas de Henrique Dias
Pouca profundidade
O poço artificial aberto entre os anos 55/57 em cimento e silex com escadaria de ferro, por isso os estudantes alguns se atreveram a entrar e dizer que no fundo havia erva...aqui com lixo...
Ponte em pedra e a eira 
Com o meu marido anos 90 no dia do casamento do meu primo Chico Fernandes

Euzinha com a minha filha
Na década de 90do séc.XX, numa tarde de Natal, a forte chuvada deu mote  de ir ver águas no Nabão, ainda havia a ponte em pedra, a eira, muros de pedra seca e claro muita água, a destoar as grandes massas de pedregulhos que as obras do IC 8 deixaram ficar na paisagem...

Foto de 1970 da coleção de Américo Antunes do Nabão ao Porto Largo
A mulher que lava roupa no rio é do Casal.

Requalificação do poço da nascente do Nabão
Obras da requalificação
A requalificação foi de mal a pior...sem qualquer preservação dos testemunhos de pedra do passado, embora requalificados  na mesma materia, a pedra,  faltou o encanto, perdendo a graça do que foi , sobretudo o bucolismo!
Podia ter sido mantido a única azenha conhecida em Ansião, com a sua roda de alcatruzes, para elevar a água, do último  moleiro o Sr Eduardo Dias. Imponente com cave e  r/c todo em pedra, onde se entrava e era só pó de farinha com as Mós - a de cima e a de baixo, a rodar. Grande perda histórica, ao que foi esta actividade em Ansião, por fatal desconhecimento cultural . Podiam ter feito melhor? Podiam! 
A chamada eira não tem a esma graça da antiga e, a ponte de pedra era mais aliciante como a beleza das levadas para os munhos abertos à força de mãos!
A razão de não se ter aproveitado a largura do términos da barreira em borracha para uma piscina? Falhou o bombeamento de água do poço sul para manter espelhos de água circulante em tempo de secura onde no verão em Ansião é abrasador! 
O espaço enriquecia de gente nos dias tórridos de calor, a fazer lembrar tempos idos que eu e a minha irmã tomávamos banho mais abaixo junto às Lameiras, por entre agriões amarelados escondidas entre os verdes e espigados milheirais das fazendas entestantes com a ribeira, assim por aqui era chamada - e jamais rio, tão pouco Nabão!
A requalificação com  investimento e apoio comunitário em todo o país vingado e aqui falhado!

Onde está a água no verão? Há que a bombear!
Queria água, muita água em Ansião no verão para chafurdar!
 
Poço artificial da nascente atual dos Olhos d'Água
Caudal fotos tiradas pelo Natal

Eira atual
Vocábulos com origem árabe a perdurar em Montalegre e Arouca trazidas por povoadores do norte para aqui que ainda persistem os testemunhos, as palavras é que se perderam!
As pedras de passagem de uma para outra margem de um ribeiro ou rio tem o nome de Poldra

Poldras
Nome que se dá á  fila de pedras para atravessar o Nabão, derivam de Alpoldra, alpondra imagem sugerida pelo saltitar de pedra em pedra.Ainda muito caracteristicas no leito do rio.
O novo leito do Nabão

Atividades comerciais de antanho
Pese a condição de falta de água no verão este rio teve forte atividade de moendas- moinhos ou azenhas de água e lagares  de azeite. Na centúria de 600 instalou-se  uma saboaria  que fechou por queixa dos foreiros ao mosteiro, a quantidade de carvalhos queimados havia menos lande para alimentar os porcos, mais tarde houve pisões para prensar a lã para a tecelagem.
Ainda existem ruínas de moinhos de água, com levadas  e açudes, a água passava pelo rodízio da  moenda para voltar de novo à ribeira, foi tradição até Tomar. De bibliografia inédita em Ansião.
 
Saudade dos Olhos de Água da minha meninice, de ver o idílico fugir da água de mansinho pela porta aberta da eira, pelo entrudo, onde ia em desfile da minha máscara carnavalesca, até ao dia que ao abaixar-me, senti  a picada forte de um grande cato rasteiro a jus de estrela...Tamanha  beleza o desfile das águas em viagem, por entre pedras grandes e pequenas, com muita espuma em cascatas brancas, em verdadeira melodia sinuosa e delicada, abismal, o encanto e sedução!
Entrar no caminho do moinho que era azenha, na beira do frondoso eucalipto e ver grãos de milho a saltar da mó a  redor de taleigos enfarinhados dos fregueses, que eram  entregues à porta de casa pelo moleiro Ti Eduardo Dias na companhia da sua carroça puxada pela mula. Junto do  alambique, recordo o cheiro da aguardente, a sair por tubinhos a escaldar, com brasido a assar batatas roliças espetadas num arame em roda.O lagar de Azeite trabalhava com a força da água e depois com a falta desta, foi apetrechado com a energia elétrica.A eira repleta de agriões floridos , na voz da Fátima Duarte do Moinho das Moutas, eram apanhados para sopas.  Na verdade são ranúnculos aquáticos, de nome científico Ranunculus peltatus. Estendem-se em mantos floridos de branco como se fossem tapetes... 
Na requalificação foi colocada uma réplica da roda de alcatruzes.
O restaurante  fechou...Tristeza!

Antigamente, na minha doce adolencência  tamanha beleza e magia deixava-me o coração cheio!

Ponte da Cal em Ansião
As águas foram exploradas neste rio Nabão desde o tempo dos romanos. 
No século XX, ainda existia um tanque de chafurdo nas Lameiras, a poucos metros da margem norte da ribeira, cujo lençol cársico aflora em vários sítios nascentes, onde ainda se mantém a alimentar canavial. Tenha sido a razão da Ponte da Cal  construída em 1648, ter debaixo do arco norte dois tanques para chafurdo - um para homens e outro para mulheres e dentro deste um muito estreito que atribuo foi de crianças.
As águas dos algares cársicos, contém as mesmas propriedades químicas, mostram-se boas para doenças de pele. Em tempo de forte beatificação e analfabetismo, a herança romana dos banhos em termas, foi continuada pelos judeus, até serem proibidas, porque eram considerados indecorosos por aliciar a práticas sexuais. Em Ansião,  deram origem ao Banho Santo. As pessoas banhavam-se e curavam doenças de pele. Na verdade era o banho anual, se trabalhavam tanto nas sementeiras e colheitas, suavam, sem hábitos de higiene diário, o banho, chamado chafurdo purificava de alguma forma o maior orgão do corpo que é a pele, pelo menos matava a bichecha...
O ritual  do Banho Santo, teve o seu apogeu com a  festa popular a S. Pedro e Rainha Santa Isabel, onde todos se banhavam e livraram de lêndeas, pulgas e claro a pele ficava mais limpa. Em anos de seca e falta de  água no rio enchiam os tanques com pipas de água para os banhos.
Nem a propósito, uma estória verdadeira dos últimos banhos santos em Ansião
O meu tio Alberto Lucas era enfermo com uma doença de pele, foi pela sua mãe, minha avó tratado com as águas do rio Nabão em Ansião nos tanques que existem  na década de 30.
O ritual e  tradição do Banho Santo perdeu-se em Ansião. Desconheço como as águas no Agrol foram descobertas, se fazem parte do Aquilégio medicinal mandado fazer por D João V. Recordo  o caminho terrível para se chegar ao Agroal, dos matraquilhos e do Galfúrria, um homem de aspeto grego, vestido de negro, dono da taberna, alugava os fatos de banho que tinha em cestos de ferro, descia-se por uma escada para se entrar por uma porta no  buraco de água fria,  também haviam banhos quentes .As propriedades das águas químicas são as mesmas, recomendadas para a cura de mazelas de pele,  equezemas e outras moléstias da pele.

Em Ansião a lenda da Rainha Santa Isabel 
«(...) se apeava da sua liteira para beber água fresca e banhar os pés e ainda  dar esmola a um Ancião  - Pois é lenda!   
A Rainha faleceu no inicio da centúria de 300. O troço romano  da atual Ponte da Cal, só foi reativado depois de 1593,  com a deslocação do burgo de poente para nascente. Com a construção da ponte em 1648. A Rainha, a ter passado pelo burgpo de Ansião, refrescou-se no fausto tanque em lajedo com dois degraus de volta tendo a norte à  esquerda um chafariz chamado Bica - local onde o comodismo seria de longe melhor naquele tempo do que na ribeira...
O troço romano vindo de Lagoas, depois do fontanário das Lameiras, seguia pelo Nabão para o 1º burgo sito no Vale Mosteiro. Mas, teve antes do Nabão  a norte do parque verde, uma derivação que vinha para a vila, Empeados para sul.
Foz da Ribeira do Açor no Nabão
Em Aljazede com a invernia as águas juntam-se e formam uma ribeira que  passa pela Lagoa do Pito, Poço do Minchinho, Fonte Carvalho, Ribeira do Açor, Constantina, Alem da Ponte com a foz no Nabão, antes da Ponte da Cal.
Segundo a minha amiga Silvina Gomes da Ribeira do Açor 
Existe o  poço, muito importante para a população de Ribeira do Açor e arredores que se chama  poço Sobral, existiu aberto até mais ou menos 1965, era desse poço que as pessoas bebiam água pura, todo ano, onde fui muitas vezes lá buscar água, com uma cantarinha de barro e os chamados barris de barro, que os trabalhadores do campo levavam para beber durante o dia. Esse poço foi coberto pela câmara de Ansião depois de colocado uma bomba para tirar água com uma puxada para um fontanário na beira da estrada na Ribeira do Açor, onde a população mais próxima se abastecia, é de referir quem trabalhou a pedra desse fontanário, foi o meu querido Pai, hoje esse fontanário está desprezado, deixou de deitar água. Já fizemos uma informação a esse respeito à câmara de Ansião, que respondeu que iam tratar do assunto,  há um mês atrás estive lá, infelizmente estava tudo igual, sinto uma certa mágoa, quando vejo o desprezo das pessoas, por aquilo que os que partiram tanto se sacrificaram, para deixar o seu legado bonito!
Não sei onde o meu Pai foi buscar a referida pedra do fontanário, mas lembro- me muito bem de o ver a trabalhar a pedra na entrada do nosso quintal, fez por sua conta e risco , com muito prazer, não recebeu nada pelo trabalho, é de referir que na altura a câmara de Ansião só autorizou a colocação da pedra com a inscrição feita pelo meu Pai, que diz , câmara de Ansião.
O meu pai trabalhou muitos anos em mármore, numa empresa de mármores em Porto de Mós, empresa essa que forneceu atualmente a campa da sua sepultura, também aproveito para dizer que o meu Pai antes de ir trabalhar para essa empresa andou a trabalhar a pedra dos marcos que marcavam os quilómetros nas estradas.

Rio Nabão num adeus sereno na Igreja Velha
O fim da Requalificação do Nabão, o Parque Verde com parque de merendas. Falta alguma manutenção, debaixo da ponte de acesso ao nó do IC 8 encontra-se uma mesa do parque de merendas que já lá se encontra há anos...e continua, em 2019.
Ponte Galiz 
Em total abandono com o IC 8, merecia mais atenção , margens limpas e classificação da ponte.

Mouchões
Os rapazes do colégio banhavam-se no açude junto às tamargueiras floridas em rosa pálido em jeito de beijar as águas correntes na represa... 
Muito abandono com os muros descarrilados,  o açude e os choupos a cair...
Os vulgo agriões, vestem em tapete o Nabão, há anos confidenciou-me o Renato Freire da Paz que são ranúnculos aquáticos, de nome científico Ranunculus peltatus.
Moinhos João da Serra
Ainda existem dois munhos e deslinda-se ainda a levada que seguia por cima junto da atual casa
 
Ponte dos Poios à Gruta do Calais
 
Triste é no verão   o rio  vai seco...seco...
    Antes do Marquinho
    Corre o rio e ao lado  segue um ribeiro artificial para o lagar no Marquinho
    Cuja vegetação encobre o que foi o muro
     
    Depois da ponte do Marquinho
    O rio corre ao lado do caminho para o Vale Perneto
    Depois da foz do Ribeiro de Albarrol 
    Abandonei o carro da minha mãe na estrada...

     
    Poldras
    Depois do Marquinho
     
    Ruína de uma azenha com a tradicional abertura em V invertido, origem visigótica
    Formigais 
    A nascente da Fonte Grande desagua no Nabão
    Fonte da Mata na Botelha em Formigais
    Em tempo de chuva parece uma cachoeira
    Olho do Tordo em Pelmá
    Agroal
    Onde o Nabão deixa de perder caudal pela rebentação continua de água.
    Agroal, onde o afluente se junta ao Nabão
    A minha irmã com a minha neta e a minha mãe sentada no rio
    Gostei do documentário por ser pioneiro em se ressaltar o incessável trabalho de prospeção pela dificuldade de acesso, na vertical. 
    Segundo Sérgio Medeiros
    No Dueça depois deste trabalho, foi realizada outra intervenção que resultou na descoberta da galeria 
    do rio Dueça, onde exploraram 600 m. 
    Hoje conhecemos essa gruta por Soprador do Carvalho (com 3 entradas, Soprador, Olhos do Dueça e 
    Algar do Carvalhal), que se estende por 5km, a maior de Sicó. 
    Na galeria do Dueça ainda são visíveis marcas dessa exploração da década de 60.
     
    Em 2013 houve outro documentário em video sobre o Olho da Quebrada 
    Parabéns
    Bom trabalho, que foi difícil, o buraco a lembrar um sumidouro em canais tão estreitos... São homens destemidos. Julgo distingui o nome de Sérgio Medeiros na equipa. Será a mesma que fez a prospecção nos olhos de água no Nabao, em Ansião. Um documentário excecional.
    Conheci o olho da Quebrada no verão passado. As cinzas dos fogos com a chuva deslizaram para o interior, na parte mais baixa, a abertura, apenas tinha menos de meio metro. Havia um fio fino ao longo do caminho. Fiquei com a percepção que a forma da entrada ao género de mina, foi escavada pelo homem, como cá fora o tanque, para servvir de armazenamento da água para a moagem.
    Na prospecção aquática reparei em pedras calcárias encrustadas de amarelo, julgo seja calcite. Curioso à superificie, na serra do Mouro, Ansião, encontrei pedras calcárias com pingos dessa cor de onde trouxe um a lembrar o cocó de um cãozito, com as nervuras, quiçá, caído em explosão, que ficou dessa forma cravado no calcario. Já dentro da gruta seja derivado da escorrência em milhares de anos.
    Em caminhadas , reconheci em S. Pedro de Pussos, Chãos, a chamada pedra podre, menos compacta, com muitos buracos, que deve ter a mesma origem.
     
    Ainda falta um longo caminho de inventariação do algar do rio Nabão  e do Agroal


    Amo o Nabão!


    FONTES
    https://nalga.wordpress.com/2008/11/29/olhos-de-agua-de-ansiao-mais-um-passo-para-a-exploracao-sub-aquatica/
    Memórias paroquiais de Pelmá, Formigais e Penela de 1758

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