quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Entrudo, Sachas ou Carnaval e o jogo do pau em Ansião!
As sachas…Dança ancestral do uso do pau em jeito de andarilho à pala do Entrudo - ainda hoje se revezam raízes nele a dança do Fandango do Ribatejo
e Pauliteiros de Miranda. O nome
não sei de onde lhe advêm, será do ato de sachar o milho, no jeito da
enxada na roda dos pés das plantas ao acalcar a terra junto do pé ou,
na dança os pés e o pau firme no chão a fazer toada para dar nas
vistas a exibição?
Em tempos de antanho era tradição na Moita Redonda, uma
aldeia da freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião o uso de um "Pau" por
cada rapaz na aldeia, no mesmo ritual nas redondezas. Chamavam-lhe os caceteiros. Na Moita Redonda juntavam-se ao domingo rapazes e raparigas em redondel
ao largo do aqueduto do ribeiro com o entroncamento da quelha do Vale
onde se bailava-, velhas mulheres vestidas de preto, enfeitadas de lenço surrado pela cabeça e na boca desdentadas, o seu festim era espiolhar os namoricos das filhas, atrevidas chegavam-se de mansinho aos rapazes e
os espicaçavam- "olhe lá vossemecê quer bailar? Puxe aquela
ali..."
Quando iam à missa levavam o pau e deixavam-no atrás da porta da igreja, mas houve padres a proibir e assim o deixavam antes de entrar nas vilas escondido.
Quando iam à missa levavam o pau e deixavam-no atrás da porta da igreja, mas houve padres a proibir e assim o deixavam antes de entrar nas vilas escondido.
Paus e queimbos que foram da Moita Redonda
"O Jogo do Pau é o sistema
tradicional Português de combate e defesa pessoal, com origem e principal
incidência no combate em inferioridade numérica".
"num país em que, até há pouco
tempo, se caraterizava fundamentalmente pela prevalência dos ambientes rurais
sobre os urbanos, ocorreu a manutenção do pau / cajado, como utensílio de
caminhada e, simultaneamente, como ferramenta de defesa pessoal".
" esta arte, outrora aplicada
a toda e qualquer arma medieval e outros instrumentos de fácil acesso, como os
agrícolas, veio a ser conotada como exclusiva de paus, ao ponto da recente
designação que surgiu para a identificar transmitir essa mesma ideia: Jogo do Pau".
"a origem e história do Jogo
do Pau, enquanto tal, baseia-se um pouco numa interpretação lógica da relação
entre caraterísticas socais e ténicas de combate criadas mas, acima de tudo,
assenta no fato objetivo de, num dos livros escritos pelo Rei D.Duarte no
século XV (Ensinança de bem cavalgar a toda a sela), o nomes apresentados para
designar as ténicas de ataque, assim como as suas trajetórias, corresponderem
aos nomes e trajetórias que nos chegaram pela prática do Jogo do Pau".
Desenho do jogo do pau na região de Alfredo Keil do seu Livro Tojos e Rosmaninhos do século XIX
quando se deslocava à região para caçar com o Rei D. Carlos e costumavam ficar
na Estalagem de Ferreira do Zêzere.
Confesso
não aprecio o Carnaval dos nossos dias em jeito arremedado dos
Brasis...
Em geral naquele tempo de antanho rapaz que se prezasse andava sempre com o seu fiel companheiro - o pau, servia para se encostar, apoiar e defender, hoje ainda perdura o seu uso pelos pastores. Quando se deslocavam a outras terras tinham sítios para os deixar guardados, nem sempre andavam com eles. Pelo Entrudo, deles faziam uso nos bailes, onde a traulitada e o cantar ao desafio era permitido para libertação da alma de ditos e mexericos - as cegadas ou pulhas - testemunhos de vida na essência a declamar acontecimentos cómicos vividos na aldeia no pretexto de os vincarem ,em alto e bom som, a respeito de todas as pessoas, sobre o que não se aprovava e falava por trás, com eles andavam entalados na garganta durante um ano, no suposto seria -, não se querer voltar a falar...Os que tinham este perfil e arte para desempenhar tal papel eram as pulhas- ao fazerem uso do palco, o terreiro à ponte do ribeiro onde se concentrava o ajuntamento e convívio de gentes, onde a festa acontecia no deixar a aldeia sonza e desnorteada com tamanha paulitada-, que fazer era coisa que lhes estava na " massa do sangue"...Fosse o jeito do gozo, escárnio, maldizer, e sátira, - sendo que este estar no Entrudo na Moita Redonda era sagrado.Por Lisboinha no lembrar do meu bom amigo João Patrício. Ah!!!As Pulhas na minha aldeia...Iam para o monte da Ovelha dizer bem alto: A Maria tem um amante! E outras tentações do demónio ...
Se sobrasse alguma moeda no fundilho dos bolsos alguns em fila ainda se iam "aliviar na mulata" coitada dela e da má sorte ditada pelo pai "Ervilha"que na ida ao Brasil à procura de boa fortuna, no regresso trouxe dois filhos mulatos, um par de meias de seda, e uns cobres para fazer a casa que era ao tempo boa e grande com um par de janelas de guilhotina , e segura na companhia de Seguros Bonança ...O irmão morreu cedo afogado no poço do quintal na borda do caminho,já ela votada ao abandono sem ninguém nesta vida para lhe acudir, senão os vizinhos sobreviveu a saciar prazeres, sem prazer...Ainda me lembro do seu olhar triste!
Em geral naquele tempo de antanho rapaz que se prezasse andava sempre com o seu fiel companheiro - o pau, servia para se encostar, apoiar e defender, hoje ainda perdura o seu uso pelos pastores. Quando se deslocavam a outras terras tinham sítios para os deixar guardados, nem sempre andavam com eles. Pelo Entrudo, deles faziam uso nos bailes, onde a traulitada e o cantar ao desafio era permitido para libertação da alma de ditos e mexericos - as cegadas ou pulhas - testemunhos de vida na essência a declamar acontecimentos cómicos vividos na aldeia no pretexto de os vincarem ,em alto e bom som, a respeito de todas as pessoas, sobre o que não se aprovava e falava por trás, com eles andavam entalados na garganta durante um ano, no suposto seria -, não se querer voltar a falar...Os que tinham este perfil e arte para desempenhar tal papel eram as pulhas- ao fazerem uso do palco, o terreiro à ponte do ribeiro onde se concentrava o ajuntamento e convívio de gentes, onde a festa acontecia no deixar a aldeia sonza e desnorteada com tamanha paulitada-, que fazer era coisa que lhes estava na " massa do sangue"...Fosse o jeito do gozo, escárnio, maldizer, e sátira, - sendo que este estar no Entrudo na Moita Redonda era sagrado.Por Lisboinha no lembrar do meu bom amigo João Patrício. Ah!!!As Pulhas na minha aldeia...Iam para o monte da Ovelha dizer bem alto: A Maria tem um amante! E outras tentações do demónio ...
Se sobrasse alguma moeda no fundilho dos bolsos alguns em fila ainda se iam "aliviar na mulata" coitada dela e da má sorte ditada pelo pai "Ervilha"que na ida ao Brasil à procura de boa fortuna, no regresso trouxe dois filhos mulatos, um par de meias de seda, e uns cobres para fazer a casa que era ao tempo boa e grande com um par de janelas de guilhotina , e segura na companhia de Seguros Bonança ...O irmão morreu cedo afogado no poço do quintal na borda do caminho,já ela votada ao abandono sem ninguém nesta vida para lhe acudir, senão os vizinhos sobreviveu a saciar prazeres, sem prazer...Ainda me lembro do seu olhar triste!
Na feira da ladra encontrei há tempos um caderno de capa preta de folhas quadriculado comprado na Papelaria Vasconcelos no nº 268 na Rua da Prata em Lisboa, escrito com sonetos em letra elaborada de Maria Regina , por volta dos vinte anos de idade ...1926.
SONETO
O que é o Carnaval?!Frouxa risada
D'ironia ao que vai pelo ano fora
Soluço disfarçado em gargalhada
Escuridão mascarada em luz de aurora.
É miséria vestida de brocado
Alegria fictícia
que consome
É aquele garoto esfarrapado
Que vês a rir para disfarçar a fome
É
a torpe mentira que nos choca
É a própria mentira que a provoca
É aquela
criança quase nua…
São três dias que duram o Carnaval, eles
Mas eles passam...vão-se...e
afinal
...O Carnaval da vida continua...
O tema retratado me parece tão atual...Incrível já passou quase um século!
Há outro soneto intitulado - P'ra quê ? com um apontamento a lápis - " lidos por
Ana Trindade em 3 de setembro de 1947."
P'ra que me deste um coração, Senhor...
P'ra que m'deste assim como este meu?!
P'ra não poder passar alheia a dor...
Para sangrar como sangrou o teu?
Para que foi, Senhor, que tu me deste
A mim,simples mortal, um coração?.
..Olhai aquela flor que o vento agreste
Derruba sucumbida para o chão..
A vossa cruz!eu sei, foi bem pesada
Mas junto a vós, Senhor, eu não sou nada
Por isso que me esmaga a cruz da vida..
Deste-me um coração;p'ra quê Senhor?!
Se eu sou a própria imagem dessa flor
Que ao menor sopro, cai desfalecida...
Ao tempo não havia máscaras tapava a cara com uma meia de vidro, no caso uma da minha mãe nº 8,5, e a sua maquilhagem fez milagres..e a boina branca rematou a cabeça.
Pelo Entrudo sempre gostei muito
de ir até aos Escampados com a comandita da cachopada no atalho pela quelha do Vale no endireito da ladeira , e às Almitas direitos ao Escampado Belchior à casa do Serra, depois na direção de Santa Marta sentados nos muros da capela de Santa Marta a conversar e a rir -, em seguida no caminho da Lagoa, com nova paragem na casa da avó da Arminda e da Gracinda ,de caras para a lagoa que lhe deu o nome, brincadeira farta à sua roda ,e a apanhar canas para varejar nas águas -, claro e a brincar no molha molha...
Cansados, a comandita seguia para o de S. Miguel onde na casa da Elvira André junto à capela de S.Miguel e da casa dos avós do Carlos Cotrim havia de novo alarido. As pessoas gostavam de nos ver pelos caminhos cheios de alegria e o descaramento de pedirmos alguma coisinha para comer, como se fosse no tempo dos Santos na cantilenga - "Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos" as mulheres ofereciam ovos, chouriças, pão escuro de trigo e centeio, laranjas, passas de figo e nozes.
De regresso a casa o redondel fazia-se no Largo do Bairro onde a festa acontecia, todos comiam e bebiam, se faltasse alguma coisa alguém ia buscar a casa, ou comprava-se, se para tal tivéssemos recebido moedas!
Recordações tenho da azáfama nas vésperas do Carnaval no Correio velho de Ansião, no turno da meia noite, de ver a minha Titi com a minha mãe - mais pareciam mãe e filha, e na realidade eram irmãs com diferença de 24 anos -, na folga dos assinantes no dar à manivela para pedir chamadas locais e interurbanas, matavam o tempo a remendar fatos guardados anos a fio no sótão do solar da D. Maria Amélia Rego que a traça não perdoou. A bondosa senhora os emprestou a contento, tinham sido usados pelas suas filhas, já senhoras. Belo, era o traje madeirense e outro de cigana , de saia rodada até aos pés puxada na roda por flores cerise, com cesta na mão com elástico e fita de nastro fazia de vendedora de retrosaria. Vestida com eles me passeei até aos Olhos d’ Água onde rebenta o Nabão, por aqui em dia de Entrudo a água jorra em fúria da gruta pelo poço aberto nos anos 40, e segue viagem sempre a fugir em pujança da eira pela porta aberta repleta de agriões floridos...
Cansados, a comandita seguia para o de S. Miguel onde na casa da Elvira André junto à capela de S.Miguel e da casa dos avós do Carlos Cotrim havia de novo alarido. As pessoas gostavam de nos ver pelos caminhos cheios de alegria e o descaramento de pedirmos alguma coisinha para comer, como se fosse no tempo dos Santos na cantilenga - "Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos" as mulheres ofereciam ovos, chouriças, pão escuro de trigo e centeio, laranjas, passas de figo e nozes.
De regresso a casa o redondel fazia-se no Largo do Bairro onde a festa acontecia, todos comiam e bebiam, se faltasse alguma coisa alguém ia buscar a casa, ou comprava-se, se para tal tivéssemos recebido moedas!
Recordações tenho da azáfama nas vésperas do Carnaval no Correio velho de Ansião, no turno da meia noite, de ver a minha Titi com a minha mãe - mais pareciam mãe e filha, e na realidade eram irmãs com diferença de 24 anos -, na folga dos assinantes no dar à manivela para pedir chamadas locais e interurbanas, matavam o tempo a remendar fatos guardados anos a fio no sótão do solar da D. Maria Amélia Rego que a traça não perdoou. A bondosa senhora os emprestou a contento, tinham sido usados pelas suas filhas, já senhoras. Belo, era o traje madeirense e outro de cigana , de saia rodada até aos pés puxada na roda por flores cerise, com cesta na mão com elástico e fita de nastro fazia de vendedora de retrosaria. Vestida com eles me passeei até aos Olhos d’ Água onde rebenta o Nabão, por aqui em dia de Entrudo a água jorra em fúria da gruta pelo poço aberto nos anos 40, e segue viagem sempre a fugir em pujança da eira pela porta aberta repleta de agriões floridos...
Deleite maior sentir a água correr debaixo da pequena e linda
Tempo de troça, de gozar com tudo e com todos, extravasar alegrias, rir à gargalhada com humores carregados de sarcasmo, de fazer o que durante o ano não era permitido. Atrás dos cabeçudos os cachopos faziam corrupio -, para nos assustar davam corridas largas, as saias voavam, as cabeças grandes batiam umas nas outros...Risada, muito rir descontraído, solto e aberto de folia.Na véspera tive o privilégio de os ver chegar em cima de uma camioneta e a serem acomodados na casa onde funcionavam no início os Bombeiros antes do quartel - agora a casa do António dos Munhos, ainda assisti ao despique dos homens que os queriam vestir para rodopiarem pelas ruas!
A última vez que o joguei ao Entrudo
foi com a minha grande amiga Lála da quelha da Atafona, ela vestia
camuflado da tropa, eu fazia de madrinha de guerra grávida, vestida de saia que ela fez
enquanto aprendiz de costureira de uma colcha de seda azul-bebé da minha mãe a que pôs um elástico na cintura, a fazer de barriga uma almofada presa com um lenço,
de braço dado fomos até à vila desfilar, na placa do Município encostado a um banco esperava um táxi o Zé Emídio Moreira para ir
até à Serra do Mouro namorar… O nosso estar era premeditado de o atazanar com escolha em tantas escolhas!
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Queijo denominado Rabaçal em terras do Maciço de Sicó!
Rotulado Rabaçal, no tempo do Senhorio do Duque do Cadaval
O duque do Cadaval, no século XVIII, recomendava ao seu foreiro, mais tarde Visconde de Degracias que lhe enviasse “uns queijinhos do Rabaçal”.
A meu ver a designação correta passa por ser identificado por Terras de Sicó ou Ladeia, porque o seu palco afinal se estendeu do Rabaçal, Pombalinho a Formigais.
Queijo dito do Rabaçal
Denominação comum que perdura nos tempos compreendida nos concelhos das abas da serra de Sicó: Alvaiázere, Penela, Ansião, Pombal, Soure e Condeixa a Nova .
Eça de Queiroz, tão atento a dimensões de identidade pontua o queijo do Rabaçal na sua obra “A Cidade e as Serras”.
Portagem em Coimbra a Carreira na Portela
Denominação comum que perdura nos tempos compreendida nos concelhos das abas da serra de Sicó: Alvaiázere, Penela, Ansião, Pombal, Soure e Condeixa a Nova .
É um queijo curado de pasta mole, semi-dura a muito dura. A arte em reconhecer este queijo com bastante qualidade com fabrico nas regiões antes assinaladas de terra rossa, calcária, pobre, onde predomina um tomilho por aqui chamado erva de Santa Maria ao ser ingerida pelos animais, o leite absorve o seu travo especial que vai caraterizar o queijo na mistura certa de leite de ovelha (3/4) com o de cabra (1/4) e o uso do cardo seco este o fabrico artesanal bem cinchado com poucos ou nenhuns buracos na massa branca Salgados os queijos devem ser lavados dia sim, dia não, durante alguns dias, no meu tempo era com uma folha de figueira seguindo-se a cura por um período mínimo de 20 dias em tábua em arejamento.
Trata-se de alimento completo, rico em gordura, proteína de alto valor biológico, ácidos aminados, ácidos orgânicos, elementos minerais, cloro, sódio, cálcio, fósforo e vitaminas A, B2 e B1.
O melhor queijo é o do mês de abril.
Origem do nome deste queijo ?
Segundo o Dicionário Enciclopédico, Lello Universal, editado pela primeira vez na década de 1930, com uma amostragem de uma foto de queijos, entre os quais o do Rabaçal, envolvido em corpo de cestaria.
Eça de Queiroz, tão atento a dimensões de identidade pontua o queijo do Rabaçal na sua obra “A Cidade e as Serras”.
O nome dado ao queijo Rabaçal quando era produzido noutras terras limítrofes?
Julgo, sob melhor opinar que a celebrização do nome Rabaçal depois do Senhorio do Rabaçal foi continuado no século XX pelo itinerário da carreira do Pereira Marques, partia todos os dias de manhã da garagem em Chão de Couce, a caminho de Coimbra, durante décadas o único transporte destas gentes por onde ainda hoje o percurso passa, para as queijeiras das imediações do Rabaçal , sobretudo do Zambujal, souberam tão bem aproveitar como modo de escoamento o seu queijo para suprir o seu sustento na venda no mercado diário de Coimbra. Tantas foram as vezes que também apanhei a carreira, mal chegada ao Largo do Zambujal havia sempre fila de mulheres em pé com canastras no chão tapadas com panos brancos de estoupa e apressado o cobrador subia com as canastras nas mãos para o tejadilho da carreira - difícil esquecer os cheiros dos queijos frescos, meia cura e secos até Coimbra...
Fotos retiradas de de http://astiascamelas.blogspot.pt/2015_09_01_archive.htmlPortagem em Coimbra a Carreira na Portela
Mal chegadas à baixa Coimbrã as mulheres com rodilhas à cabeça carregavam as canastras em correpio apressado no abanico de ancas a graça ao laço do avental na direção do mercado onde montavam a banca e começavam os pregões ...
" bom queijo curado e meia cura do Rabaçal"
" oh freguesa veja os meus queijos".
" queijinho fresco" a clientela questionava a proveniência delas, de onde vinham - as queijeiras respondiam a pensar no paladar, no travo que as pastagens de tomilho confere ao queijo uma distinção especial e de boca cheia respondiam "queijo do Rabaçal minha senhora" por ser a terra mais sonante em detrimento doutras: Santiago da Guarda, Junqueira, Alvorge, Ribeira de Alcalamouque, Penela, Pombalinho , Cotas e,…
" bom queijo curado e meia cura do Rabaçal"
" oh freguesa veja os meus queijos".
" queijinho fresco" a clientela questionava a proveniência delas, de onde vinham - as queijeiras respondiam a pensar no paladar, no travo que as pastagens de tomilho confere ao queijo uma distinção especial e de boca cheia respondiam "queijo do Rabaçal minha senhora" por ser a terra mais sonante em detrimento doutras: Santiago da Guarda, Junqueira, Alvorge, Ribeira de Alcalamouque, Penela, Pombalinho , Cotas e,…
Gosto de saborear o queijo em fatias finíssimas...
Tem uma série de rituais de que, ainda hoje, existem vestígios: devem ser sempre brancos os panos que com os queijos contatem, fresco o local onde repousa o leite, frias, bem frias mesmo, as mãos de quem lhe toque no momento de o fazer , assim reza o ditado.
No pote assado verde, também chamado açucareiro do almece, côa-se com o pano de estopa a mistura dos leites de ovelha e cabra a que se junta o coalho, flor de cardo ou de compra onde fica a coalhar à roda de uma hora junto à quentura do lume. Pronta a coalhada é despejada para uma bacia de faiança, há quem use a francela de madeira, recebi uma de herança, pasta bem espremida com as mãos para retirar o excesso de soro para a massa ficar mais compacta, por fim é enformada em cinchos ou acinchos em folha-de-flandres com buraquinhos por onde escorre o soro. Deixa-se o queijo repousar duas a três horas, por fim são cobertos de sal pelos dois lados e colocados a secar em lugar arejado e frio à roda de dois meses.
Tem uma série de rituais de que, ainda hoje, existem vestígios: devem ser sempre brancos os panos que com os queijos contatem, fresco o local onde repousa o leite, frias, bem frias mesmo, as mãos de quem lhe toque no momento de o fazer , assim reza o ditado.
No pote assado verde, também chamado açucareiro do almece, côa-se com o pano de estopa a mistura dos leites de ovelha e cabra a que se junta o coalho, flor de cardo ou de compra onde fica a coalhar à roda de uma hora junto à quentura do lume. Pronta a coalhada é despejada para uma bacia de faiança, há quem use a francela de madeira, recebi uma de herança, pasta bem espremida com as mãos para retirar o excesso de soro para a massa ficar mais compacta, por fim é enformada em cinchos ou acinchos em folha-de-flandres com buraquinhos por onde escorre o soro. Deixa-se o queijo repousar duas a três horas, por fim são cobertos de sal pelos dois lados e colocados a secar em lugar arejado e frio à roda de dois meses.
Ordenha
Recordações de ver a minha tia Maria e a filha Júlia Silva no Bairro de Santo António diariamente
no curral de porta encostada a mugirem as tetas das ovelhas e da cabra para o açucareiro e logo o punham na beira do lume a coalhar com o cardo que apanhavam
junto ao poço velho do quintal e secavam. Adorava na cozinha assistir quase todos os dias ao ritual da sua feitura. Com os frangalhos de leite de ovelha faziam o almece que
se comia com açúcar amarelo ou na malga em sopas com pão duro. Havia dias que a
empreitada surdia mais, faziam um queijinho pequenino para nos regalarmos ao fim da tardinha -, gostava
de ir buscar o sal à taça de esmalte, com os dedos esfarripar os cristais no
queijinho e sentir na boca aquele sabor puxado a sal - os queijos maiores
punha-os na queijeira em fila sobre numa tábua de cantos arredondados suspensa
com cordas presas no teto do hall de ligação da casa de baixo a caminho do sobrado. Dia sim, dia não os
lavava com uma folha de figueira, depois secava com um pano de estopa e os punha
de novo na queijeira, por fim já só os virava para curarem bem. A minha mãe gostava de os comprar às mulheres de Albarrol e da Portela de S. Lourenço - os mais afamados da região em meia cura no mês de abril - o ponto alto para o melhor queijo do ano, os conservava com uma mistura de colorau doce e azeite, quem também tinha uma mão divinal para os fazer como outra nunca conheci igual era a prima Albertina Lucas do Escampado Belchior , durante anos nos oferecia uma dezena pelo prado da Ferranha - queijos de forma redonda, limpissimos, alvos, e textura fina sem rendilhados...a derreter manteiga em 72 no colégio salesiano do Monte Estoril recebi uma encomenda pelos meus anos em maio que trazia um exemplar - mal chegou para aguçar o paladar das bocas em meu redor que se abeiraram, tal iguaria desconheciam, e se fartaram de tecer elogios...
Antigamente também havia gente que os guardavam depois de secos no mosqueiro, e se conservavam em talhas de azeite, a avó Rosa do meu marido os misturava na arca do milho, que tinha na sala - ainda cheguei a enfiar o braço arca dentro à procura de um queijo do Rabaçal.
Tempos de antanho via as mulheres na tosquia nas tardes quentes recolhidas na sombra de alpendres - as ovelhas, uma a seguir à outra, a todas elas tiravam o casaco à tesourada. Os animais eram dóceis, apesar de afogueadas queriam ver-se livres da lã. Vaidosas, e aliviadas davam saltos de contentes a passearem-se no adro de casaca nova, branca, com rasgos profundos de cortes desniveladas à toa disseminados pelo dorso, coisa da conversa ... também das ovelhas que não gostavam de estar amarradas na tosquia. Também é deste leite de ovelha que se faz o requeijão que adoro comer com doce de abóbora. No Carvalhal, na Nexebra e noutras aldeias de Sicó havia quem fizesse a sua produção caseira de queijo à base de leite de cabra, por ter mais cabras e menos ovelhas no rebanho. Estes queijos com mais mistura de cabra ao ser tragado " chia na boca ", sente-se no corte, parece mais plástico.
Antigamente também havia gente que os guardavam depois de secos no mosqueiro, e se conservavam em talhas de azeite, a avó Rosa do meu marido os misturava na arca do milho, que tinha na sala - ainda cheguei a enfiar o braço arca dentro à procura de um queijo do Rabaçal.
Tempos de antanho via as mulheres na tosquia nas tardes quentes recolhidas na sombra de alpendres - as ovelhas, uma a seguir à outra, a todas elas tiravam o casaco à tesourada. Os animais eram dóceis, apesar de afogueadas queriam ver-se livres da lã. Vaidosas, e aliviadas davam saltos de contentes a passearem-se no adro de casaca nova, branca, com rasgos profundos de cortes desniveladas à toa disseminados pelo dorso, coisa da conversa ... também das ovelhas que não gostavam de estar amarradas na tosquia. Também é deste leite de ovelha que se faz o requeijão que adoro comer com doce de abóbora. No Carvalhal, na Nexebra e noutras aldeias de Sicó havia quem fizesse a sua produção caseira de queijo à base de leite de cabra, por ter mais cabras e menos ovelhas no rebanho. Estes queijos com mais mistura de cabra ao ser tragado " chia na boca ", sente-se no corte, parece mais plástico.
Maravilhoso desde o fresco, meia cura, e o seco que
adoro, "rijo que nem corno" em sopas de café como a minha avó da
Mouta Redonda comia, por não ter dentes assim o amolecia, eu tomei-lhe o gosto
e ainda faço e adoro.
A certificação do queijo
Qualidade na Produção
Desde os primórdios o fabrico familiar para governo da sua casa , a venda servia para suprir a compra de açúcar, café, bacalhau, arroz, petróleo etc. No meu tempo via aos sábados as mulheres chegarem com cestas de queijos e os vendiam por atacado em Ansião ao Sr Daniel, à irmã do Casal de S Braz e ao Sr Margarido de Santiago da Guarda, intermediários que os traziam para Lisboa.
Hoje o que existe são marcas registadas com nomes de variantes de queijos ditos Rabaçal.
O que falta? Denominação deste queijo. O rigor das qualidades do leite, uso de cardo e ritual de feitura. Claro de outros queijos também, sendo mais baratos, apelativos para quem tem menos posses.
Nos programas televisivos onde se mostra a produção de queijo Rabaçal nas várias fábricas o que se constata é a chegada de camions cisterna com leite trazido de outras origens, de vaca, essa a verdade.Numa reportagem na Feira dos Pinhões, em Ansião, uma produtora de uma fábrica afirmou gastar diariamente entre 10.000 a 11.000 litros de leite, o que explica a mistura de outros leites vindos de fora, e isto não é que seja mau. A falta de leite de ovelha e cabra da região, para se perceber a chegada diária de excedentes de leite com outra origem às fábricas, para a confecção de queijos variados. Apesar da ostentação de nomes de marcas certificadas quase toda a produção com derivados do puro queijo do Rabaçal, para mim que o conheço desde sempre, o sei reconhecer . Há contudo queijeiras certificadas que produzem o queijo em pequenas quantidades e o vendem a retalho, mas até esse pode ter falsificação porque só pensam no lucro, em faturar, querem lá saber da tradição e do preceito na mistura certa dos leites, fiquei horrorizada ao saber há anos chegaram a misturar leite em pó...Pior é as queijeiras certificadas darem uso a bacias de plástico em detrimento de recipientes em barro vidrados. O certo!
O plástico com o uso vai libertando partículas que se entram no leite e claro nos queijos...
Em rigor devem existir várias qualidades de queijo na relação preço/qualidade. O verdadeiro, o genuíno, o mais caro com outros até ao mais barato com mistura de leite de vaca, aliás como outras congénitas fazem, em que o consumidor não deve ser jamais enganado.
Por fim a meu ver não foi ganha a aposta do genuíno ao falhar a angariação de grandes rebanhos para pastoreio com produção suficiente de leites para a feitura do queijo. Na região existem por volta de 1000 animais, nitidamente insuficiente e rebanhos deviam ser aposta na região a incrementar o turismo, além da produção do verdadeiro queijo, a ser certificado, o novo título - Terras de Sicó ou Ladeia! O plástico com o uso vai libertando partículas que se entram no leite e claro nos queijos...
Em rigor devem existir várias qualidades de queijo na relação preço/qualidade. O verdadeiro, o genuíno, o mais caro com outros até ao mais barato com mistura de leite de vaca, aliás como outras congénitas fazem, em que o consumidor não deve ser jamais enganado.
Há anos que não apanho um verdadeiro queijo do Rabaçal!
Os que apresento comprei-os a uma queijeira certificada no mercado de Ansião que os tinha frescos e meia cura, deles tenho andado ocupada com lavagens para secarem - porque adoro o queijo bem rijo - não é "mau", pelo menos é de pasta compata sem rendilhados, cujo travo para quem reconhece, não é genuíno. Não julguem que é só por aqui que se aldraba a feitura do queijo - pensem em todos os outros queijos neste nosso Portugal . Houve um tempo que o excedente de leite de Trás os Montes era escoado para a Serra de Estrela, para fazerem dele o queijo mais caro de Portugal, até ao dia que os transmontanos se lembraram de o certificar como queijo Terrincho e fizeram muito bem.
Acaso continuasse a especular, outras descobertas acredito me espantariam!
- Numa das fábricas no Rabaçal a caminho do Pombalinho ronda os 11 € o dito genuíno de mistura cabra e ovelha.
- O queijo de 2ª escolha tira-se a 5 €, é francamente bom.
- O fresco a unidade custa 3€ e é grande e o requeijão 1€!
- Os queijos da 1º escolha custa o quilo 6,50€.
- Por estas terras do Maciço de Sicó oferece-se queijo - o meu amanteigado foi comprado na fábrica do Rabaçal, o aprecio com bom pão, também se come chouriça e um bom copo de vinho a quem apareça de surpresa, por sorte ainda Pão-de-ló , os lesmas, as fazem sempre ao domingo.
Assinar:
Postagens (Atom)