quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Alvaiázere no limite do Maciço sul de Sicó…nas minhas doces memórias

Megalapiás dos Penedos Altos em Zambujal  chamados Portas de Alvaiázere

Modelado cársico, e dolomítico do Jurássico Superior, em forma de torre. Estruturas de vários metros de altura, resultaram da ação da água, que dissolveu as rochas calcárias, abrindo fraturas e depressões, escavando e esculpindo o relevo, dando origem a uma geomorfologia cársica com estética graciosa.

Assíduas vezes na vinda duma banhoca ao Agroal, depois de deixar a Freixianda, apraz-me atazanar o condutor para mudar de percurso a caminho de Alvaiázere. Adoro passear por estas serranias baixas onde a paisagem é mais ao meu gosto pelo salpico de aldeias com nomes curiosos; Pelmá, Casal do Rei, Venda do Preto e,...o ex-libris dos penedos do Zambujal, nada mais do que dois morros de pedra calcária, como se fossem colunas a ladear a estrada. Um deles apresenta na extremidade uma cúpula, que me transporta à infância, aos filmes de westerns no Arizona. São resultado da erosão que ao longo dos tempos se encarregou de os tornear, e desde sempre me encantam .
Ao deixar as " portas de Alvaiázere" na aldeia na beira da estrada há uma dolina cársica, uma lagoa como o povo chama. 

Cruz templária, retirada da net

Em miúda descobri uma Cruz como a que centra a pedra redonda esculpida numa laje no chão, do caminho do Escampado de Santa Marta em Ansião, mais à frente havia pedras grandes a evidenciar calçada romana ... Voltei 30 anos para a redescobrir a custo com emoção -, mal me descuidei para a fotografar , já estava soterrada com maquedame na ligação que fizeram a Albarrol...

A vila de Alvaiázere é-me querida pelas vezes que a minha mãe aqui veio a trabalho nos correios e me levava, caso se não tivesse ou pudesse faltar às aulas.

Mote para entrosar em alegre cavaqueira na discussão do célebre episódio de um dos "carrascos da morte de Inês de Castro, o Duarte Pacheco, nesta terra se refugiou antes de rumar a Espanha" desde sempre julguei que a casa seria o solar dos Serpa Oliveira, erradamente durante quase toda a vida chamaram de " Pachecos" cujo brasão para mim é maior que a casa -, espanto total o pleonasmo é propositado como a foto evidencia e desde miúda assim o caracterizo.

O Prof. Hermano Saraiva revisitou por duas vezes o concelho com os seus programas -, seguramente o 1º melhor que o último, também partilhou a opinião que não poderia ter sido aquele palacete que foi construído à posterior. A minha mãe trabalhou nesta terra há mais de cinquenta anos numa repartição que funcionava nesse solar, sempre me afirmou que a casa onde o mesmo se refugiou seria a que se localiza mais à frente na mesma rua, hoje descaracterizada sem traça antiga pintada de azul, será verdade? 
Ou será uma outra que descobri na frente do auditório, onde é notória a subida da estrada e soterramento de portas e janelas ainda visíveis num muro antigo contínuo com a referida casa de traça castiça a lembrar um solar remediado? Pairam as dúvidas, lançado fica o desafio! 
Um hábito meu atalhar a caminho de Ansião por estradas na borda do sopé da serra de Alvaiázere - apraz-me os ares da serra, ver as ruínas dos antigos "Fornos de Cal" espalhados pelo planalto, uma pena estarem todos ao abandono, seria uma rota turística de interesse juntando os sabores da serra ao travo de erva de Santa Maria, que por aqui se sente tal e qual como na serra da Ameixieira...
Foto de Luís Ribeiro retirada do google

A Quinta da Cortiça 
Remonta segundo o seu proprietário à era romana, tais os vestígios de abóbadas, arcos, túmulos, pias e Mós, que os mesmos implementaram nas suas rotas por esta região e aqui se encontram. O solar sofreu remodelações no século XIX, com a pequena torre, capela com a entrada para os celeiros repleta de prensas e Mós em pedra. Dedicam-se à produção de cortiça, azeite, queijo e criação de cavalos.
Foi seu dono o Eng.º José Lebre, um curioso  amante de artefactos do passado. Dispõe de duas salas com o espólio de fósseis por ele encontrados nas suas propriedades, sendo seu fiel guardador mostra a quem na queijaria compra queijo e se interesse em conhecer o espólio.

Na região existem outros vestígios do passado romano como a antiga villa de Rominha.
Nas encostas baixas a seguir ao lugar, ainda são visíveis buracos deixados pelos romanos, outros dizem pelos desertores franceses do Buçaco, ainda dizem que o seu subsolo esconde muitos vestígios e histórias dum passado esquecido mas pronto para desvendar tal igual nas aldeias de Vila Nova, Casal Novo e Farroeira . Visíveis são ainda as centenas de oliveiras, algumas milenares por todo o lado. A vida rural determinou a existência de um conjunto significativo de estruturas de arqueologia industrial que testemunham a ação deste povo como: lagares de azeite, azenhas, moinhos de vento e fornos da cal. 

Uma oliveira milenar

Pé de oliveira milenar do quintal da minha mãe

Também há vestígios da olaria onde fabricaram telhas "tegulae e inbrix" segundo ouvi o Prof. Hermano Saraiva se pronunciar.
Santuário de Nossa Senhora dos Covões
Adoro subir à serra a meio caminho depois da capelinha da Senhora dos Covões onde num dia me passou na frente do carro uma raposa de belo rabo...no cume há tantas antenas... um horror no melhor alecrim aos montes floridos pela Páscoa!
 Cintura da muralha do povoado
A 600 metros de altitude existe um sítio arqueológico caracterizado por um povoado fortificado de grandes dimensões com duas cinturas de muralhas parcialmente derrubadas: uma exterior e outra interior, aparentemente circular com cerca de 100 metros de diâmetro, ambas visíveis por fotografia área - perdi-me à procura delas de origem pré-histórica... há ainda outras marcas do passado a que se chamam "a Carreira de Cavalos" espólio de um povoado da Idade do Bronze.
Complexo Megalítico 
Anta 1 e 2 ficam situadas a cerca de 500 metros da aldeia do Ramalhal – S. Pedro do Rego da Murta, numa planície povoada por eucaliptos na margem direita da Ribeira do Rego da Murta. Além dos referidos monumentos, existem outros dispersos por toda a área envolvente integrado num complexo de 10 monumentos que, pelas suas características, evidenciam uma paisagem com intensas referências culturais que engrandecem o Concelho de Alvaiázere no panorama arqueológico Nacional e Internacional.
Arquiteturalmente é construído por blocos de pequenos esteios em calcário, matéria-prima local, que perfazem uma câmara semicircular e um corredor que pouco se diferencia deste e que se prolonga para SE, tal como a Anta I do Rego da Murta (localizada a menos de 500 metros). A câmara tem de diâmetro máximo cerca de 4 metros e o corredor prolonga-se num comprimento de 3 metros por cerca de 1 metro de largura. 
A sua boa preservação permite exumar uma grande quantidade e diversidade de objetos, na sua maioria intactos (vasos, um grande número de pontas de setas, alabardas, objetos simbólicos, como placas de xisto, botões em osso, contas de colar, etc.), as ossadas humanas (contando-se até ao momento com cerca de 50 indivíduos) e fauna (desde coelho, lebre, cavalo ou zebro, cão, porco, ovelha, etc.) 
Acesso: Na Ponte da Ribeira do Rego da Murta, no Ramalhal, na estrada nacional que liga Tomar-Alvaiázere, vira-se na primeira cortada à direita, numa estrada de terra batida percorrendo até chegar a um lagar em ruínas a cerca de 1 Km. A Anta II localiza-se a 100 metros à esquerda do moinho, no meio do eucaliptal. 

Rei Chícharo 



A vila expande-se para o turismo com apostas credíveis como o Festival do Chícharo também de reconhecer o valor de ilustres Alvaiazerenses como o cineasta Fernando Lopes nascido no concelho. 

Tive muito orgulho no âmbito de um dos primeiros Festivais Gastronómicos do Chícharo assistir à homenagem com que a autarquia o quis presentear numa sala a "rebentar pelas costuras" na Casa da Cultura de Alvaiázere onde se reviveram pessoas e momentos num ambiente de alguma comoção e alegria no registo semi-documental e autobiográfico.
«Nós por Cá Todos Bem» rodado pelo cineasta em 1978 na aldeia Várzea dos Amarelos . 
Fernando Lopes nasceu a 28 de dezembro de 1935 neste concelho -, teria sido agricultor como o seu avô se não fosse a sua querida mãe pegar nele para fugirem para Lisboa escondidos numa carroça cobertos com oleado para apanharam a carreira em Alvaiázere-, a fuga por maus tratos infringidos pelo progenitor...tal carinho pela sua mãe, incitou-o ao regresso às origens para rodar o documentário em honra dela ainda viva como se fosse uma despedida da sua vida árdua, enaltecendo a sua profissão - cozinheira de uma grande casa. 
Começou a trabalhar na RTP em 1957 no ano em que arrancaram as emissões regulares da televisão pública. Em 1959 consegue uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, que lhe permite estudar Realização de Cinema na London Film School. 
Foi um dos maiores símbolos do Cinema Novo português da década de 60 graças a filmes como Belarmino (1964), mas também um cineasta que continuou a marcar o seu tempo, por via de fitas como O Delfim (2002) ou Lá Fora (2004). 
Faleceu aos 76 anos em Lisboa...deixando aos filhos de herança quatro pinhais (?) na Várzea...por ser um homem amante das raízes onde um dia nasceu ...no vale corre a Ribeira Velha ( nem sei se por aqui no Barqueiro lhe dão outro nome) a caminho do Zêzere.
Interrogo-me porque razão neste lugar se chama Barqueiro? A pensar na canção de criança... 

Ó senhor Barqueiro
deixai-me passar,
tenho filhos pequeninos
não os posso sustentar.
Passará, passará ,
mas algum deixará,
se não for a mãe da frente
é o filho lá de trás.

O concelho já teve tempo de o homenagear na toponímia, ou será que já o fez e eu não sei?
Maças de D. Maria foi no passado propriedade do reino oferecida a D. Maria Paes Ribeiro que haveria de ficar conhecida na história como a " Ribeirinha" a amante predileta de D. Sancho I que no lugar de Maças de Caminho onde ainda existe uma casa com uma bela janela de avental com a cruz dos templários lavrada -, julgo por aqui passaria para a visitar, para as forças não lhe faltarem , pois se fala que a dita senhora era formosa como a Inês de Castro, faço fé que comia maças de boa semente , tal fama havia de ditar no tempo o nome deste airoso lugar... 
Fotos de Henrique Dias
Alvaiázere resiste, continua a lutar para se afirmar como pólo importante na região de Sicó, apesar das vias de comunicação nunca a privilegiarem no presente como a distinguiram no passado. 
Por aqui passou a estrada romana e a estrada medieval vinda de Conímbriga cujos homens se atreveram a sulcar a pedra e a contornar as serras para nela passaram Reis e comitivas: Casal da Rainha, Vale da Couda  até Ourém e Lisboa. 
Não há topógrafos, engenheiros, tão pouco engenho de gente com poder nas mãos, que ouse pensar neste passado de fausto - só pensam nos seus interesses e dos amigos - há falta de gente com visão como o ministro de Salazar das obras públicas Duarte Pacheco - que do outro antes aqui falado só tem o mesmo nome! 



Euzinha junto ao posto de turismo que funciona no r/c do coreto em noite de festival...depois do repasto de feijoada e tarte de chícharo, bem regado com tinto da região de 14 graus e não faltou a boa cachaça! 

Numa quinta feira Santa depois de ter passado a Porta da Serra na Marzugueira apreciei a casa na curva restaurada quando inusitadamente fui atacada por apetite desenfreado de me apear do carro para me perder d' amores pelo alecrim para os lados do Vale da Couda -, teria sido o linguarejar de um povo analfabeto , sem dentes, falava muito mal o português, ditaria que o nome de Conda (?), diminutivo de condessa o povo no tempo haveria de fidelizar " Vale da Couda" terra do meu querido amigo e colega do Externato, Carlos Gomes. 
Pela primeira vez vi-me na frente do profundo e abrupto vale que sempre me fascinou com a escarpa cravada de cascalho calcário em montinhos a fazer terrado às enfezadas oliveiras, na roda delas muros de pedra seca em meias luas -, cenário por demais encantador de grande quietude, tanto silêncio onde a introspecção em plenitude só neste local para mim é infinita de paz!

Atrevi-me a descer a ribanceira. Tomei o trilho dos rebanhos onde senti a profundeza do vale magnífico onde delirei sozinha e me desforrei em contemplações...perdi-me por fragas e costados pelos carreiros a fugir das caganitas de caprinos que se pegavam nas solas dos sapatos... incrível o ar puro e o cheiro fresco que inesperadamente me fizeram perder o bom senso, sem explicação, mais por vontade férrea de alivio e sem pedir licença, por entre esculturas talhadas pela erosão na pedra calcária cravadas por toda a terra debruadas a erva de Santa Maria, acedi ao apetite de verter águas -, aliviada só Deus sabe, como me senti até sentir o fluído quente a molhar os tornozelos... 
Naquele paraíso sei que me faltou um príncipe! 
Tal desgosto fez-me arrancar dois pés de alecrim para transplante e uma braçada de ramos floridos para enfeitar o meu oratório na Páscoa! 
Alvaiázere tem aldeias recônditas em abandono ou quase e é uma pena: Sem falar nas que adoro: Vale da Couda, Ariques e Bofinho
Sigoeira de Cima
Marques
Lumiar
Chão de Cume
Conhal
Mata
Paradela
Rocha

Não deixem de conhecer, atrevam-se, vale bem a pena descobrir o concelho, apreciar as megalápias semeadas por todo o lado com mancha de carvalho cerquinho e outra vegetação mediterrânica por aqui tão evidente e as suas gentes humildes e hospitaleiras. Alvaiázere fascina-me sempre mesmo de ruas vazias!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Entrudo, Sachas ou Carnaval e o jogo do pau em Ansião!


As sachasDança ancestral do uso do pau em jeito de andarilho à pala do Entrudo - ainda hoje se revezam raízes  nele a dança do Fandango do Ribatejo e Pauliteiros de MirandaO nome não sei de onde lhe advêm, será do ato de sachar o milho, no jeito da enxada na roda dos pés das plantas ao acalcar a terra junto do pé ou,  na dança os pés e o pau firme no chão a fazer toada para dar nas vistas a exibição?
Em tempos de antanho era tradição na Moita Redonda, uma aldeia da freguesia de Pousaflores no concelho de Ansião o uso de um "Pau" por cada rapaz na aldeia,  no mesmo ritual nas redondezas. Chamavam-lhe os caceteirosNa Moita Redonda juntavam-se ao domingo rapazes e raparigas em redondel  ao largo do aqueduto do ribeiro com o entroncamento da quelha do Vale onde se bailava-, velhas mulheres vestidas de preto, enfeitadas de lenço surrado pela cabeça e na boca desdentadas, o seu festim era espiolhar os namoricos das filhas, atrevidas chegavam-se  de mansinho aos rapazes e os espicaçavam- "olhe lá vossemecê quer bailar? Puxe aquela ali..."
Quando iam à missa levavam o pau e deixavam-no atrás da porta da igreja, mas houve padres a proibir e assim o deixavam antes de entrar nas vilas escondido.

Paus  e queimbos que foram da Moita Redonda
"O Jogo do Pau é o sistema tradicional Português de combate e defesa pessoal, com origem e principal incidência no combate em inferioridade numérica".
"num país em que, até há pouco tempo, se caraterizava fundamentalmente pela prevalência dos ambientes rurais sobre os urbanos, ocorreu a manutenção do pau / cajado, como utensílio de caminhada e, simultaneamente, como ferramenta de defesa pessoal".
" esta arte, outrora aplicada a toda e qualquer arma medieval e outros instrumentos de fácil acesso, como os agrícolas, veio a ser conotada como exclusiva de paus, ao ponto da recente designação que surgiu para a identificar transmitir essa mesma ideia: Jogo do Pau".
"a origem e história do Jogo do Pau, enquanto tal, baseia-se um pouco numa interpretação lógica da relação entre caraterísticas socais e ténicas de combate criadas mas, acima de tudo, assenta no fato objetivo de, num dos livros escritos pelo Rei D.Duarte no século XV (Ensinança de bem cavalgar a toda a sela), o nomes apresentados para designar as ténicas de ataque, assim como as suas trajetórias, corresponderem aos nomes e trajetórias que nos chegaram pela prática do Jogo do Pau".


Desenho do jogo do pau na região de Alfredo Keil do seu Livro Tojos e Rosmaninhos  do século XIX quando se deslocava à região para caçar com o Rei D. Carlos e costumavam ficar na Estalagem de Ferreira do Zêzere.
Confesso não aprecio o Carnaval  dos nossos dias em jeito arremedado dos Brasis...
Em geral naquele tempo de antanho rapaz que se prezasse andava sempre com o seu fiel companheiro -  o pau, servia para se encostar, apoiar e defender, hoje ainda perdura o seu uso pelos pastores. Quando se deslocavam a outras terras tinham sítios para os deixar guardados, nem sempre andavam com eles. Pelo Entrudo, deles faziam uso nos bailes, onde a  traulitada  e o cantar ao desafio era permitido para libertação da alma de ditos e mexericos - as cegadas ou pulhas - testemunhos de vida na essência a declamar acontecimentos cómicos vividos na aldeia no pretexto de os vincarem ,em alto e bom som, a respeito de todas as pessoas, sobre  o que não se aprovava e falava por trás, com eles andavam entalados na garganta durante um ano, no suposto seria -,  não se querer voltar a falar...Os que tinham este perfil e  arte para desempenhar tal papel eram as pulhas-  ao fazerem uso do palco, o terreiro à ponte do ribeiro onde se concentrava o ajuntamento e convívio de gentes, onde a festa acontecia no deixar a aldeia sonza e desnorteada com  tamanha paulitada-, que fazer era coisa que lhes estava na " massa do sangue"...Fosse o jeito do gozo, escárnio, maldizer, e sátira, - sendo que este estar no Entrudo na Moita Redonda era sagrado.Por Lisboinha no lembrar do meu bom amigo João Patrício. Ah!!!As Pulhas na minha aldeia...Iam para o monte da Ovelha dizer bem alto: A Maria tem um amante! E outras tentações do demónio ...
No melhor toda a gente dançava na quelha do Vale junto ao ribeiro ao som da concertina que o meu tio Alberto Lucas tocava - depois dele - apareceram uns irmãos do Pobral, o Alberto e o João a tocar harmónio. Haviam  rapazes bonitos na aldeia: Acácio, Zé Serra, João, Américo, João, José e irmãos das Hortas, João Medeiros, irmãos e, …Também aqui acorriam rapazes vindos das bandas de Alvaiázere, Vale do Rio, Ribeira Velha, Pardinheira, Mó, Lisboinha, Pereiro e, …E as raparigas desempenadas e bonitas: Alice, Ermelinda, Josefina, Hermínia, Maria Medeiros, Maria, Clotilde, Rosaria, Ricardina e, … Bem se mostravam no varandim de madeira da casa da Ti Joaquina onde também se bailou muito com vistas para o sol soalheiro a cair sobre o ribeiro a sul a espreitar por entre os choupos... Acredito se roubavam beijos à conta de ninguém levar a mal...E se comiam os velozes de abóbora, depois da Quaresma de novo só pela Páscoa se as eleitas  " de raça menina" se aguentassem... Deste modo simples, no intuito em não deixar morrer a tradição, contei um pouco do que ouvi do que  foram  as sachas em outros tempos vividas na Moita Redonda, onde  a paulada era de meia-noite quando não dava em zaragata, ou por intriga aguçada e mordaz "partida pregada à laia da má sorte do visado" . A fazer fé no ditado " quem não se pica (ofende) não é filho de boa gente" apesar de dizerem que pelo Entrudo ninguém leva a mal… 
Ora o que mais era senão a ingestão de um copanero a mais de tintol, ou de aguardente, muitos na roda  do tacho de esmalte azul de bolinhas brancas, que serviu no casamento do filho mais velho, o Carlos, com a  cachola repleta de lascas de fígado entalado na brasa, armados de garfo de ferro em punho dele picavam e numa palangana de faiança  na outra borda do balcão havia sonhos, feitos pela Zaira, a loira em corpo robusta, tudo à venda na taberna do meu avô Zé Lucas, conferido pela guardiã das contas a fiado, a Clotilde , porque a minha mãe era ainda cachopa, da escada de madeira de ligação da loja à casa os via  respingões, a dizer asneiras no bater de paus que não largavam, lhe havia de despertar  no seu ver ingénuo, tal espetáculo ao querer espreitar.
Se sobrasse alguma moeda no fundilho dos bolsos alguns em fila ainda se iam "aliviar na mulata" coitada dela e da má sorte ditada pelo pai "Ervilha"que  na ida ao Brasil à procura de boa fortuna, no regresso trouxe dois filhos mulatos, um par de meias de seda, e uns cobres para fazer a casa que era ao tempo boa e grande com um par de janelas de guilhotina , e segura na companhia de Seguros Bonança ...O irmão morreu cedo afogado no poço do quintal na borda do caminho,já ela votada ao abandono sem ninguém nesta vida para lhe acudir, senão os vizinhos sobreviveu a saciar prazeres, sem prazer...Ainda me lembro do seu olhar triste!
Gosto da tradição das nossas gentes ainda vivas nalgumas terras - daquilo que é realmente PORTUGUÊS!
 

Na feira da ladra encontrei há tempos um caderno de capa preta de folhas quadriculado comprado na Papelaria Vasconcelos no nº 268 na Rua da Prata em Lisboa, escrito com sonetos em letra elaborada de  Maria Regina , por volta dos vinte anos de idade ...1926.


SONETO

O que é o Carnaval?!Frouxa risada 
D'ironia ao que vai pelo ano fora
Soluço disfarçado em gargalhada
Escuridão mascarada em luz de aurora. 

É miséria vestida de brocado
Alegria fictícia que consome
É aquele garoto esfarrapado 
Que vês a rir para disfarçar a fome 

É a torpe mentira que nos choca
É a própria mentira que a provoca 
É aquela criança quase nua… 

São três dias que duram o Carnaval, eles
Mas eles passam...vão-se...e afinal 
...O Carnaval da vida continua...

O tema retratado me parece tão atual...Incrível já passou quase um século!

Há outro soneto intitulado - P'ra quê ?  com um apontamento a lápis - " lidos por 
Ana Trindade em 3 de setembro de 1947."


P'ra que me deste um coração, Senhor...
P'ra que m'deste assim como este meu?!
P'ra não poder passar alheia a dor...
Para sangrar como sangrou o teu?

Para que foi, Senhor, que tu me deste
A mim,simples mortal, um coração?.
..Olhai aquela flor que o vento agreste
Derruba sucumbida para o chão..

A vossa cruz!eu sei, foi bem pesada
Mas junto a vós, Senhor, eu não sou nada
Por isso que me esmaga a cruz da vida..

Deste-me um coração;p'ra quê Senhor?!
Se eu sou a própria imagem dessa flor
Que ao menor sopro, cai desfalecida...
O Jogo do Entrudo no Bairro de Santo António em Ansião nos meus tempos de miúda… 
A minha  prima Júlia Silva corria às arcas de onde tirava saias compridas, grossas e rodadas para jogarmos o Entrudo -, naquele dia tirou o vestido branco do casamento da sua irmã Tina, e o vestiu a fazer de noiva que nunca quis ser - apesar dos belos atributos de peito farto em altar e altura desempenada. Não me lembro quem fez de noivo -, acho que foi o "Carlitos Parolo" ou o "Toino da Ti Peleira". Cortejo abrilhantado com música que saia dos foles da pequena concertina do Ti Inácio que a tinha comprado na feira da ladra onde foi feirante anos a fio. Convidados foram todos  os cachopos do Bairro: "Eu e a minha irmã; os Trinta; os Cunha; os da Alice do Pego; os da Augusta do Chico; os da Robertina; os da Carmita; os da Mavilde, Mocho e,..."à mistura  com graúdos no desfile pelo Ribeiro a Vide, a caminho do Cimo da Rua e da vila no auge o Fundo da Rua onde se concentravam a nata da sociedade ansianense... Ano houve que joguei ao Entrudo vestida de padeira. No armário do vestiário da padaria dos meus avós  fui buscar a indumentária e vestida de branco, armei o cesto de alforges de verga de fundos rotos na pasteleira, e de corneta na mão desfilei pela vila até ao Fundo da Rua numa de apitar para chamar à atenção... Coitada de mim julgo os rapazes não me reconheceram...Ou sim e para tristeza minha não me deram atenção -, seria por ser magrinha sem dotes de arregalar o olho?
Ao tempo não havia máscaras tapava a cara com uma meia de vidro, no caso uma da minha mãe nº 8,5, e a sua maquilhagem  fez milagres..e a boina branca rematou a cabeça.
Pelo Entrudo sempre gostei muito de ir até aos Escampados com a comandita da cachopada no atalho pela quelha do Vale no endireito da ladeira , e às  Almitas  direitos ao Escampado Belchior à casa do Serra, depois na direção de Santa Marta sentados nos muros da capela de Santa Marta a conversar e a rir -, em seguida no caminho da Lagoa, com nova paragem na casa da avó da Arminda e da Gracinda ,de caras para  a lagoa que lhe deu o nome, brincadeira farta à  sua roda ,e a apanhar canas para varejar nas águas -, claro e a brincar no  molha molha...
Cansados, a comandita seguia  para o de  S. Miguel onde na casa da Elvira André junto à capela  de S.Miguel e da casa dos avós do Carlos  Cotrim havia de novo alarido. As pessoas gostavam de nos ver pelos caminhos cheios de  alegria e o descaramento de pedirmos alguma coisinha para comer, como se fosse no tempo dos Santos na cantilenga - "Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos"  as mulheres ofereciam ovos, chouriças, pão escuro de trigo e centeio, laranjas, passas de figo e nozes. 
De regresso a casa o redondel  fazia-se no Largo do Bairro onde a festa acontecia, todos comiam e bebiam, se faltasse alguma coisa alguém ia  buscar a casa, ou comprava-se, se para tal tivéssemos recebido moedas! 
Recordações tenho da azáfama nas vésperas do Carnaval no Correio velho de Ansião, no turno da meia noite,  de ver a  minha Titi com a minha mãe -  mais pareciam mãe e filha, e na realidade eram irmãs com diferença de 24 anos -, na folga dos assinantes no dar à manivela para pedir chamadas locais e interurbanas, matavam o tempo a remendar fatos  guardados anos a fio no sótão do solar da D. Maria Amélia Rego que a traça não perdoou. A bondosa senhora os emprestou a contento, tinham sido  usados pelas suas filhas, já senhoras. Belo, era o  traje madeirense e outro de cigana , de saia rodada até aos pés puxada na roda por flores cerise, com  cesta na mão com elástico e fita de nastro fazia de vendedora de retrosaria. Vestida com eles me passeei até aos Olhos d’ Água onde rebenta o Nabão, por aqui em dia de Entrudo a água jorra em fúria da gruta pelo poço aberto nos anos 40, e segue viagem sempre  a fugir em pujança da eira pela porta aberta repleta de agriões floridos...
Deleite maior sentir a água correr debaixo da pequena e linda
Ano houve que pelo Entrudo na vila enxerguei cabeçudos altos de grandes beiças esfaceladas, e saias de chita rodadas, que abrilhantavam as ruas com a  comandita de zés-pereiras, foguetes, e gente à sua beira…
Tempo de troça, de gozar com tudo e com todos, extravasar alegrias, rir à gargalhada com humores carregados de sarcasmo, de fazer o que durante o ano não era permitido. Atrás dos cabeçudos os cachopos faziam  corrupio -, para nos assustar davam corridas largas, as saias voavam, as cabeças grandes batiam umas nas outros...Risada, muito rir descontraído, solto e aberto de folia.Na véspera tive o privilégio de os ver chegar em cima de uma camioneta e a serem acomodados na casa onde funcionavam no início os Bombeiros antes do quartel - agora a casa do António dos Munhos, ainda assisti ao despique dos homens que os queriam vestir para  rodopiarem pelas ruas!  
A última vez que o joguei ao Entrudo foi com a minha grande amiga Lála da quelha da Atafona, ela vestia camuflado da tropa, eu fazia de madrinha de guerra  grávida, vestida de saia que ela fez enquanto aprendiz de costureira de uma colcha de seda azul-bebé da minha mãe a que pôs um elástico na cintura, a fazer de barriga uma almofada presa com um lenço, de braço dado fomos até à vila desfilar, na placa  do Município encostado a um banco esperava um táxi o Zé Emídio Moreira para ir até à Serra do Mouro namorar… O nosso estar era premeditado de o atazanar com escolha em tantas escolhas!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Queijo denominado Rabaçal em terras do Maciço de Sicó!

Rotulado Rabaçal, no tempo do Senhorio do Duque do Cadaval
O duque do Cadaval, no século XVIII, recomendava ao seu foreiro, mais tarde Visconde de Degracias que lhe enviasse “uns queijinhos do Rabaçal”.
A meu ver a designação correta passa por ser identificado por  Terras de Sicó ou Ladeia, porque o seu palco afinal se estendeu do Rabaçal, Pombalinho a Formigais.

 
Queijo dito do Rabaçal 
Denominação comum que perdura nos tempos compreendida nos concelhos das abas da serra de Sicó: Alvaiázere, Penela, Ansião, Pombal, Soure e Condeixa a Nova .
É um queijo curado de pasta mole, semi-dura a muito dura. A arte em reconhecer este queijo com bastante qualidade com fabrico nas regiões antes assinaladas de terra rossa,  calcária, pobre, onde predomina um tomilho por aqui chamado erva de Santa Maria  ao ser ingerida pelos animais, o leite absorve o seu  travo especial  que vai caraterizar o queijo na mistura certa de leite de ovelha (3/4) com o de cabra (1/4) e o uso do cardo seco este o fabrico artesanal  bem cinchado com poucos ou nenhuns buracos  na massa branca  Salgados os queijos devem ser lavados dia sim, dia não, durante alguns dias, no meu tempo era com uma folha de figueira seguindo-se a cura por um período mínimo de 20 dias em tábua em arejamento.
Trata-se de alimento completo, rico em gordura, proteína de alto valor biológico, ácidos aminados, ácidos orgânicos, elementos minerais, cloro, sódio, cálcio, fósforo e vitaminas A, B2 e B1.
O melhor queijo é o do mês de abril.

Origem do nome deste queijo ?
Segundo o Dicionário Enciclopédico, Lello Universal, editado pela primeira vez na década de 1930, com uma amostragem de uma foto de queijos, entre os quais o do Rabaçal, envolvido em corpo de cestaria.

Eça de Queiroz, tão atento a dimensões de identidade  pontua o queijo do Rabaçal na sua obra “A Cidade e as Serras”.

O nome  dado ao queijo Rabaçal  quando era produzido noutras terras limítrofes?
Julgo, sob melhor opinar que a celebrização do nome Rabaçal  depois do Senhorio do Rabaçal  foi continuado no século XX pelo itinerário da carreira do Pereira Marques, partia todos os dias de manhã da garagem em Chão de Couce, a caminho de Coimbra, durante décadas o único transporte destas gentes por onde ainda hoje o percurso passa, para as queijeiras das imediações do Rabaçal , sobretudo do Zambujal, souberam tão bem aproveitar como modo de escoamento o seu  queijo para suprir o seu sustento na venda no mercado diário de Coimbra. Tantas foram as vezes que também apanhei a carreira, mal chegada ao Largo do Zambujal havia sempre fila de mulheres em pé com canastras no chão tapadas com panos brancos de estoupa e  apressado o cobrador subia com as canastras  nas mãos para o tejadilho da carreira - difícil esquecer os cheiros dos queijos frescos, meia cura e secos até Coimbra...
Fotos retiradas de de http://astiascamelas.blogspot.pt/2015_09_01_archive.html
Portagem em Coimbra a Carreira na Portela 
Mal chegadas à baixa Coimbrã as mulheres com rodilhas à cabeça carregavam as canastras em correpio apressado no abanico de ancas a graça ao laço do avental na direção do mercado onde montavam a banca e começavam os pregões ...
" bom queijo curado e meia cura do Rabaçal" 
" oh freguesa veja os meus queijos".
" queijinho fresco" a clientela questionava a proveniência delas, de onde vinham - as queijeiras respondiam a pensar no paladar, no travo que as pastagens de tomilho confere ao queijo uma distinção especial e de boca cheia respondiam "queijo do Rabaçal minha senhora" por ser a terra mais sonante em detrimento doutras: Santiago da Guarda, Junqueira, Alvorge, Ribeira de Alcalamouque, Penela, Pombalinho , Cotas e,…
                                      Gosto de saborear o queijo em fatias finíssimas...  
A fermentação
Tem uma série de rituais de que, ainda hoje, existem vestígios: devem ser sempre brancos os panos que com os queijos contatem, fresco o local onde repousa o leite, frias, bem frias mesmo, as mãos de quem lhe toque no momento de o fazer , assim reza o ditado. 
No pote assado verde, também chamado açucareiro do almece, côa-se com o pano de estopa a mistura dos leites de ovelha e cabra a que se junta o coalho, flor de cardo ou de compra onde fica a coalhar à roda de uma hora junto à quentura do lume. Pronta a coalhada é despejada para uma bacia de faiança, há quem use a francela de madeira, recebi uma de herança, pasta bem espremida com as mãos para retirar o excesso de soro para a massa ficar mais compacta, por fim é enformada em cinchos ou acinchos em folha-de-flandres com buraquinhos por onde escorre o soro. Deixa-se o queijo repousar duas a três horas, por fim são cobertos de sal pelos dois lados e colocados a secar em lugar arejado e frio à roda de dois meses.
Ordenha
Recordações de ver a  minha tia Maria e a filha Júlia Silva no Bairro de Santo António diariamente  no curral de porta encostada a mugirem as tetas das ovelhas e da cabra para o açucareiro  e logo o punham na beira do lume a coalhar com o cardo que apanhavam junto ao poço velho do quintal e secavam. Adorava na cozinha assistir quase todos os dias ao ritual da sua feitura. Com os frangalhos de leite de ovelha faziam o almece que se comia com açúcar amarelo ou na malga em sopas com pão duro. Havia dias que a empreitada surdia mais, faziam um queijinho pequenino para nos regalarmos ao fim da tardinha -, gostava de ir buscar o sal à taça de esmalte, com os dedos esfarripar os cristais no queijinho e sentir na boca aquele sabor puxado a sal - os queijos maiores  punha-os na queijeira em fila sobre numa tábua de cantos arredondados suspensa com cordas presas no teto do hall de ligação da casa de baixo a caminho do sobrado. Dia sim, dia não os lavava com uma folha de figueira, depois secava com um pano de estopa e os punha de novo na queijeira, por fim já só os virava para curarem bem.  A minha mãe gostava de os comprar  às mulheres de Albarrol e da Portela de S. Lourenço - os mais afamados da região em meia cura no mês de abril - o ponto alto para o melhor  queijo do ano, os conservava com uma mistura de colorau doce e azeite,  quem também tinha uma mão divinal para os fazer como outra nunca conheci igual era a prima Albertina Lucas do Escampado Belchior , durante anos nos oferecia uma dezena pelo prado da Ferranha - queijos de forma redonda, limpissimos, alvos, e textura fina sem rendilhados...a derreter manteiga em 72 no colégio salesiano do Monte Estoril recebi uma encomenda pelos meus anos em maio que trazia um exemplar - mal chegou para aguçar o paladar das bocas em meu redor que se abeiraram, tal iguaria desconheciam, e se fartaram de tecer elogios...
Antigamente também havia gente que os guardavam depois de secos no mosqueiro, e se conservavam em talhas de azeite, a avó Rosa do meu marido os misturava na  arca do milho, que tinha na sala - ainda cheguei a enfiar o braço arca dentro à procura de um queijo do Rabaçal. 
Tempos de antanho via as mulheres na tosquia nas tardes quentes recolhidas na sombra de alpendres - as ovelhas, uma a seguir à outra, a todas elas tiravam o casaco à tesourada. Os animais eram dóceis, apesar de afogueadas queriam ver-se livres da lã. Vaidosas, e aliviadas davam saltos de contentes a passearem-se no adro de casaca nova, branca, com rasgos profundos de cortes desniveladas à toa disseminados pelo dorso, coisa da conversa  ... também das ovelhas  que não gostavam de estar amarradas na tosquia. Também é deste leite de ovelha que se faz o requeijão que adoro comer com doce de abóbora. No Carvalhal, na Nexebra e noutras aldeias de Sicó havia quem fizesse a sua produção caseira de queijo à base de leite de cabra, por ter mais cabras e menos ovelhas no rebanho. Estes queijos com mais mistura de cabra ao ser tragado " chia na boca ", sente-se no corte, parece mais plástico.
Maravilhoso desde o fresco, meia cura, e o seco que adoro, "rijo que nem corno" em sopas de café como a minha avó da Mouta Redonda comia, por não ter dentes assim o amolecia, eu tomei-lhe o gosto e ainda faço e adoro.


A certificação do queijo 
Qualidade na Produção
Desde os primórdios o fabrico familiar para governo da sua  casa , a venda servia para suprir a compra de açúcar, café, bacalhau, arroz, petróleo etc.  No meu tempo via aos sábados as mulheres chegarem com cestas de queijos e os vendiam por atacado em Ansião ao Sr Daniel, à irmã do Casal de S Braz e ao Sr Margarido de Santiago da Guarda,  intermediários que os traziam para Lisboa.
Hoje o que existe são marcas registadas com nomes de variantes de queijos ditos Rabaçal. 
O que falta? Denominação deste queijo. O rigor das qualidades do leite, uso de cardo e ritual de feitura. Claro de outros queijos também, sendo mais baratos, apelativos para quem tem menos posses.
Nos programas televisivos onde se mostra a produção de queijo Rabaçal nas várias fábricas o que se constata é a chegada de camions cisterna com leite trazido de outras origens, de vaca, essa a verdade.Numa reportagem na Feira dos Pinhões, em Ansião, uma produtora de uma fábrica afirmou gastar diariamente entre 10.000 a 11.000 litros de leite, o que explica a mistura de outros leites vindos de fora, e isto não é que seja mau. A falta de leite de ovelha e cabra da região, para se perceber a chegada diária de excedentes de leite com outra origem  às  fábricas,  para a confecção de queijos variados. Apesar da ostentação de nomes  de marcas certificadas quase toda a produção com derivados do puro queijo do Rabaçal, para mim que o conheço desde sempre, o sei reconhecer . Há contudo queijeiras certificadas que produzem o queijo em pequenas quantidades e o vendem a retalho, mas até esse pode ter falsificação porque só pensam no lucro, em faturar, querem lá saber da tradição e do preceito na mistura certa dos leites, fiquei horrorizada ao saber há  anos chegaram a misturar leite em  pó...Pior é as queijeiras certificadas darem uso a bacias de plástico em detrimento de recipientes em barro vidrados. O certo!
O plástico com o uso vai libertando partículas que se entram no leite e claro nos queijos...
Em rigor devem existir várias qualidades de queijo na relação  preço/qualidade. O  verdadeiro, o genuíno, o mais caro com outros até ao mais barato com mistura de leite de vaca, aliás como outras congénitas fazem, em que o consumidor não deve ser jamais enganado.
Por fim a meu ver não foi ganha a  aposta  do genuíno ao falhar a angariação de grandes rebanhos para pastoreio com produção suficiente de leites para a feitura do queijo. Na região existem por volta de 1000 animais, nitidamente insuficiente e rebanhos deviam ser aposta  na região a  incrementar o turismo, além da produção do verdadeiro queijo, a ser  certificado, o novo título - Terras de Sicó ou Ladeia! 

Há anos que não apanho um verdadeiro queijo do Rabaçal! 
Os que apresento comprei-os a uma queijeira certificada no mercado de Ansião que os tinha frescos e meia cura, deles tenho andado ocupada com lavagens para secarem - porque adoro o queijo bem rijo - não é "mau", pelo menos é de pasta compata sem rendilhados, cujo travo para quem reconhece, não é genuíno. Não julguem que é só por aqui que se aldraba a feitura do queijo - pensem em todos os outros queijos neste nosso Portugal . Houve um tempo que o excedente de leite de Trás os Montes era escoado para a Serra de Estrela, para fazerem dele o queijo mais caro de Portugal, até ao dia que os transmontanos se lembraram de o certificar como queijo Terrincho e fizeram muito bem.
Acaso continuasse a  especular, outras descobertas acredito me espantariam!
Pior é o preço exorbitante à roda dos 16€ no mercado de Ansião - Francamente é roubar.
  • Numa das fábricas no Rabaçal  a caminho do Pombalinho ronda os 11 € o dito genuíno de mistura cabra e ovelha.
  • O queijo de 2ª escolha tira-se a 5 €, é francamente bom.
  • O fresco a unidade custa 3€ e é grande e o requeijão 1€!
  • Os queijos da 1º escolha  custa o quilo 6,50€.
  • Por estas terras do Maciço de Sicó oferece-se queijo -  o meu  amanteigado foi comprado na fábrica do Rabaçal, o aprecio com bom pão, também se come chouriça e um bom copo de vinho a quem apareça de surpresa, por sorte ainda Pão-de-ló , os lesmas, as fazem sempre ao domingo.

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