quinta-feira, 14 de março de 2013

Nexebra no costado poente a piscar o olho a Pousaflores e suas tradições


Arrepiante e descritível a beleza da serra de Nexebra no despontar da Primavera com as rosas de silvão aqui chamadas de  rosas de Alexandria em cerise forte ou rosa pálido, açucenas, ramagens floridas em ciranda branca dos Sabugueiros , cachos de lágrimas a pingar dos arbustos, tapetes de abrigotas nas costeiras dos leirõe, faziam-se tapetes na visita Pascal no tempo do padre Melo.
Rosas de Alexandria 
As flores silvestres no costado do Outeiro do Cuco na  Nexebra
Quando cortam a madeira ao longo do dorso do cume da serra verificam-se vários afloramentos que irrompem aqui e além ,quatro ou cinco de erupções xistosas com muita mica dourada reluzente e quartzitos brancos. Ao maior afloramento o povo deu-lhe um nome castiço  “bichana da burra”… 
Junto a um  afloramento está o picoto! 
O costado apresenta-se serpenteado de pedregulhos de mármore rosa, alguns com toneladas...semeados à toa numa courela da minha mãe, a que chamam Seixal. 
Será que existe ouro nesta serra onde irrompe o xisto?
Mina de S. João


Picoto da Nexebra
Descida abrupta do picoto
Do lado direito um gaveto de terreno enorme ladeado por estrada por todos os lados e a nascente com o morro do picoto pertença da Quinta de Cima com eucaliptos grossos e muitos derrubados com a última intempérie, imagino o barulho ensurdecedor. A minha mãe ia na frente fresca que nem uma alface depois de ver a sua Courela da serra, o Pinhal do Sérgio e o Leirinho.
Caminhada pela serra da Nexebra em trajes campónios
A minha filha junto do arbusto - lágrimas na eira de xisto ao vale, da minha mãe 
A aldeia de Moita Redonda estende-se ao longo do sopé da Nexebra sob o comprido, sendo por isso uma aldeia de casario disperso. Aqui irrompe o xisto. Julgo que foi habitada nos primórdios de 1700 -, possivelmente o povo reaproveitou as minas (a serra era pouco arborizada, só havia pinhal, castanheiros e prados de flores) e as reutilizou como represas de águas para o regadio dos leirões esventrados ao costado da serra e abastecimento doméstico. Ainda me lembro da água ser escalonada pelos habitantes que sobre as minas tinham o seu quinhão fosse de dias ou simplesmente horas -, cada dono abria a levada para o seu leirão ou para encher o poço, no fim dessa cedência do direito à água, outro aldeão a fechava e a abria para si, e assim sucessivamente até a roda da semana se concluir.
Vista da Mina de S. João do Outeiro do Cuco
A água era um bem precioso. O ribeiro que corria todo o ano do cume da Nexebra conta-se que alguém mandou fazer um anel com as pepitas que nele encontrou no garimpo.
Certo é que a serra da Nexebra é toda ela esventrada com minas  talvez do tempo dos romanos (?), a via romana a caminho de Tomar passava aos pés da Nexebra a nascente, o que imagino a teriam explorado tal como o fizeram em Góis e Arganil.
Ultimamente tem-se falado na prospeção de ouro nas serras de Figueiró dos Vinhos tal-qualmente também tem minas esventradas iguais a estas que supostamente no passado foram pesquisa de ouro ou garimpo na Ribeira d’Alge (?). Neste ajuizar a pensar nos romanos aproveito o reparo do Pedro, um homem que também conhece a Nexebra,  no passado senhora de muita mina d'água " As minas da Nexebra (mina velha, mina nova e mina do capitão) não datam do tempo dos romanos! São muito mais recentes." 
Estas minas são a nascente da serra e as que abordo são a poente.
Resta a toponímia “ Pedra do Ouro” e “Furadouro” e seixaleiras ou cascalheira da exploração romana.
Rosas de Alexandria em rosa pálido
História da extração de ferro com as minas do Pinheiro em Pousaflores… 
Não deveria perder-se a sua história, daqui saiu ferro para abastecer a primeira Metalúrgica na Foz d'Alge onde se fizeram as primeiras peças de artilharia naval e de fortificações no País até 1761 -, segundo afirmou num programa televisivo o Prof. Hermano Saraiva. Hoje em ruínas submersas pela subida de águas da albufeira do Castelo do Bode na foz d’Alge.
Tal e qual do “Engenho da Machuca” também situado junto à linha de água, só servia para fazer movimentar as máquinas, segundo Henrique Dias um apaixonado destas terras e das suas tradições nascido por Maças de D. Maria," apesar de nunca lá ter ido diz haver imagens do sítio na Câmara e na Biblioteca de Figueiró dos Vinhos”. 

A minha mãe sentada na sua eira de xisto ao vale
Estonteante a beleza verde que se avista longínqua da Serra da Nexebra do picoto,qual miradouro revela-se devastador sobre Maças de D. Maria, Anjo da Guarda...e , mais lugares!
Festa em honra de Nossa Senhora das Neves…
Celebra-se a 15 de Agosto em Pousaflores. 
Acorria gente de todas as aldeias à romaria: Moita Redonda, Lisboinha, Pereiro de Baixo e de Cima, Quinta dos Ciprestes, Pobral, Azenha, Carregal, Portela de S. Caetano, S. Lourenço, Venda do Negro, Gramatinha, S. João de Brito, Ansião, Chão de Couce e, …
Fogaçeiras
Raparigas solteiras ansiosas levavam as ” fogaças de tabuleiro alto” igual aos que persistem ainda hoje em Tomar. Engalanados por elas de véspera com papel branco recortado a imitar um bordado de renda com um ramo de flores a encimar em forma de cruz -, muito bem vestidas de rodilha nova no altar da cabeça, vaidoso era o seu andar. Tempos idos da fogaça levada pelas irmãs mais velhas da minha mãe à festa com o registo de foto à la minut no terreiro do adro com a minha mãe Ricardina e os irmãos ainda solteiros: Alberto, Rosária, Clotilde e Titi com o tabuleiro no chão - visível o forte contraste da tenra idade da minha mãe que ao seu lado quis ficar.Teimam em persistir ainda lembranças desse passado faustoso da oferenda dos tabuleiros com os andores de bolos ferradura de sabor a erva-doce -, ironicamente apelados de fogaças. De casa vinham as mulheres com cestas largas de verga branca e aba baixa com o farnel aviado, algumas para oferenda à padroeira, no palanque licitadas em voz alta pelo pregador e arrematada por muitos anfitriões e com elas debaixo do braço saiam do adro à procura do melhor lugar na Chousa para a reunião e deguste em família ou amigos.
Alguns marcavam os lugares com as mantas antes da missa e da procissão...quem não o fazia aligeirava-se em passo corrido pelos costados da serra do Anjo da Guarda ajeitavam-se em terreiros de grandes carvalhos em mantas de tear - sentados ou de pé se refastelavam paroquianos, e forasteiros -, nesse dia certa a reunião de familiares, não faltava o garrafão de vinho, nas mãos bom pão, e naco de leitoa bem apimentada de pele estaladiça assada no forno a lenha em espeto de loureiro à Moda da Nexebra -, nesse dia imprescindível!
Selfie no quintal da casa do Fojo, eu a minha mãe e filha - e gerações que amam a Nexebra e a Moita Redonda 
Na loja do tio Alberto vendia-se sandes de leitão avulso aos peregrinos de ocasião enquanto dos pipos saírem em fila copos aviados a pingar e logo emborcados em pressa pelos fregueses. 
O que me lembro destes piqueniques com os tios "Paredes"sempre grande festança -, a deles uma das maiores por esta região. 
Saudade dos pais do meu tio "Paredes da Portela de S. Lourenço o Ti Manel e a Ti Conceição". Muitas festas em casa deles quando o filho com a minha tia Rosária radicados em Luanda vinham de férias a Portugal, também com eles fui duas vezes a Badajoz, em frente do arco a imitar o do Triunfo de Paris, o Ti Manel, ladeado por mim e pela minha irmã com chapéus a imitar o dos cowboys um em branco e o outro azul claro. 
Também da Maria do Ò dos lados de Lisboinha -, além de rica bordadeira era exímia boleira, as formas para fazer os bolos em camadas eram latas da goiabada.
Foto da sede do Grupo Desportivo e Recreativo de Pousaflores...
Acredito a peça em madeira usada para tirar o barro dos poços que ofereci estará algures recuperada por aqui... 


Recordar outras gentes da freguesia de Pousaflores: 
Prima Nélita e Isaurinda; filhos do Quintaneiro; filhos do Sacristão e,… 

Portela: Abel, Delfim, Adélia e "Carlitos Piriquito"; Eduino e irmãos; Rosária e irmãs; Emília e,…
Lisboinha: Ernesto, esposa e filha Natália; Zé Neves; Jorge Silva; Luísa; Patricio e Fernanda, Filó, Manel, Lena, Claúdia, Ana, Lisette Alcanena e,… 
Pereiro: Tio João, esposa Zézita, filho João Luís; tio Zé Serra , esposa Emília, filhos João e Rui e netos … 
Pobral: Mafalda e irmã Fernanda, Gina, Vitor e,…
Imagem do alvorecer do sol na Moita Redonda ...
Em jeito de desculpas de todos aqueles que me esqueci dos seus nomes no tempo...

segunda-feira, 11 de março de 2013

O pôr-do-sol ao alto da Ameixieira e as suas gentes...





Maravilhoso...Lindo...Doce...Encantador...Deslumbrante, e...
Desalmadamente ao entardecer, em dia de cara outonal,  senti o brilho ímpar, único, numa primazia idílica de grandeza sem igual ao alto da Serra da Ameixieira, após subir a Serra do Mouro, tendo por companhia a vista deslumbrante sobre o cume do Alqueidão a espraiar-se no vale do planalto do Camporês-, tal contemplação só possível na única reta da estrada e mal me descuidei já estava a entrar na  curva apertada em "S" que encobria um inesperado sol a disparar em raios luminosos, como que a dizer adeus... Sem dó nem piedade, tão pouco pediu licença, estatelou-se em brilho incandescente no vidro do carro, deixando-me cega... Qual beleza estonteante a lembrar o poente, assim igual já vi por Albarrol, Costa do Castelo, Venda do Brasil, Serpa, Matosinhos...
Quiçá  um dia em África !
Espantada com o leque incrível de cores fortes, quentes, dilaceradas a fogo vermelho raiado de amarelo e laranja, a fugir de mansinho a caminho do mar... 
Fatal não parar para admirar tanta beleza que me sufocou de paixão!
Apressada e de mão trémula teimei registar tanta beleza na objetiva -, desconsolo meu, constataria mais tarde a falta de perícia no arrebatar do plano luminoso deste pôr-do-sol no Maciço de Sicó -, por culpas do encadeamento e fascínio de beleza incomum  que mirei no horizonte ao endireito dos cumes serranos do Casal Viegas, Serra dos Carrascos,  Albarrol no endireito do Vale da Vide...
Sempre às pressas tenho por hábito aferrolhar portas na casa da Moita Redonda para me perder mais uma vez, outra vez nas paisagens de olival pelo Camporês -, algumas milenares plantadas pelos romanos, mais tarde reconquistadas pelos árabes - mouros teimosos insistiram em deixar azenhas, alambiques, noras, balanços, nespereiras, limoeiros, alguidares, almotolias, alforges, ainda outras palavras sem a inicial "AL" azenha, nora, adufe, hortelã, coentros.
A julgar o terreiro da célebre batalha de Ourique, travada contra os sarracenos em Chão de Ourique  (?) nos planaltos da Ateanha ao limite do Camporês -, um dos locais prováveis defendido pelo Prof. Hermano Saraiva e outros historiadores-, honra disputada a par com Chã de Ourique no Cartaxo, ainda Ourique em Lisboa, e jamais Ourique no Alentejo -, mas é desta que reza o anal da história. Por aqui houve guerras, pelos achados...e o D. Afonso Henriques estaria por Coimbra nesse tempo e andou por aqui, isso é sabido!Derrotados os sarracenos, outra vontade não tiveram, senão de fugir às pressas …Quero acreditar que algum mouro teimoso, ou "alma penada se deixou ficar escondido na Serra do Mouro" no certo desígnio de perpetuar marcas na toponímia: Alvorge, Alquelamouque, Aljazede, Alqueidão, Albarrol além do traço visional nas suas gentes ainda hoje há descendentes na sua passagem por estas terras com características desses genes "carapinhas, olhos negros, pele trigueira, d’olhão, alcunha para a veia negocial " .
Sem dúvida encanto tamanho o trajeto de subir a Serra do Mouro a caminho de Ansião ao entardecer, no alto o refúgio abandonado dos "Caçadores" mal estimado e preservado -, tão bonito que foi, um desespero! Também o inverso é verdade, pela manhã tenho visto ao cruzamento para o Alqueidão bandos de perdizes e perdigotos atrás da mãe ordeiros abanicando as penas do rabo...tem vezes que paro, me atrevo a correr para os tentar apanhar -, mal me sentem, aceleram a marcha até que se atrevem a voar...
 
Em plena descida, na curva maldita, na berma ainda os grandes pedregulhos recordam-se sempre a morte do Isaías Cassiano que foi do Casal das Sousas -, rapaz bonito, educado, simpático que conheci aspirante no Tribunal -, andava em despedida de amigos para voltar a França na década de sessenta onde procurou nova forma de vida, na mota emprestada pelo meu pai, seu amigo, no gozo de "vacanses" nas mãos nos levou presentes: champanhe, Marie Brizard e chocolates…

O ritual da "chega" do porco à porca…Grande o corrupio apressado das mulheres da Lagoa da Ameixieira, do Cimo da Rua, Pinhal Terreiro, Quelha da Atafona, de tantos lugares – munidas de varapau na mão, encaminhavam apressadas as porcas a caminho do curral do barrasco cobridor, na casa do Ti António Moreira no Bairro de santo António. Viril ficava o barrasco, quando a porca entrava à cancela de madeira do curral -, não se fazia rogado em começar a corte da cobrição -, os cachopos, em passo de corrida mal sentíamos tal caminhada na ladeira da Cerca (onde funcionou o hospital), esfalfados na corrida atrás da porca a olhar para o rabo torcido, já  no curral dependurados no tabuado, qual palco em frenesim inusitado de dança e andança, do poleiro do porco no traseiro da porca, sem perceber  porquês...
  • Um dia perguntei à minha mãe o que era isso da "porca ir ao porco" e não me safei de um brutal estalo  com a retórica "vê lá se queres levar mais "...
Estranho era também ouvir falar "entre dentes" da mulher do … de quem se dizia "à boca cheia ser uma grande vaca…" e nos livros -, a vaca era um animal pachorrento que comia erva, ruminava horas deitada para dar leitinho... nisto, interrogava-me, será que também ia ao boi (?) 
Gentes da Lagoa e Ameixeira... ,Lugar  que nasceu à volta da lagoa  que lhe ditaria o nome - nada mais que uma (Dolina) apesar de  antropomorfizada ao longo dos tempos pela construção de muro delimitador para retenção de águas - não deixa de ser uma bela geoforma cársica do Maciço de Sicó como ainda felizmente existem muitas na região, na primavera cheias d'água são lindas de observar. 

Tenho apreciável apresso pelo "Ti João cantoneiro"  que conheci ao Ribeiro da Vide na Casa de Cantoneiros -, antes de rumar a França, bom homem tal qual o Saguim -,os mais simpáticos, no cumprimento diário, quando nos cruzávamos.Trabalhadores teimosos na tarefa de tapar os buracos das estradas da vila, e das vezes de os ver acender a fornalha da máquina do alcatrão, onde hoje é a casa da família Tarouca .
Também da hospitaleira esposa D. Helena e dos filhos: Odete (minha comadre, doçura de senhora me presenteia amiúde) Carlos Alberto, Arminda, Alfredo, Sérgio e Paulo Silva, todos muito simpáticos, humildes, amigos do seu amigo e mãos francas para obsequiar.
Na sua casa já estive por várias vezes onde as mesas se apresentam sempre fartas de bom pão cozido no seu forno, o mesmo das carnes servidas em travessas Vista Alegre de grande fineza delicada pela antiguidade , bom queijo e salpicão, tordos e perdizes na brasa, para não falar da variedade de doces onde o Pão de Ló sendo enorme de alta confeitaria, pela mão da D. Helena. E claro bom vinho!
Renato -, neto do "Ti João cantoneiro" a tocar acordeão -, arte que o avô também foi artista, sob o olhar orgulhoso do pai Paulo Silva e do meu marido em abril de 2011


Foto com a minha linda comadre Odete em grande plano com o marido o Fernando Moreira do Casal S. Brás, na frente os pais dela - Ti João Cantoneiro e a Ti Helena da Lagoa da Ameixieira
 Ainda tempo para falar das vizinhas: Suzete; Delminda; Filomena; Fernanda, Rosa; Delfim vinha com os pais ao terreno junto ao largo do Ribeiro da Vide -, moreno bem bonito havia vezes que vinha na companhia da sua prima a  Lucília Teresa dona de belos olhos expressivos  -, ambos a fazer jus a moiros, ele tornou-se advogado, viria mais tarde a construir nessa courela uma casa onde montou escritório, ela foi professora, soube há pouco estar muito doente. Fiquei imensamente infeliz por o saber, sendo tão nova e bonita não merecia!
Difícil esquecer a Amélia dos olhos tristes... Que Deus levou tão cedo da nossa presença e acredito nunca foi feliz  nesta vida com o marido Serra do Escampado, sendo 17 anos mais velho, bem a devia ter estimado, porque mulher tão trabalhadora, sofredora em silêncios e humilde, nunca conheci outra assim igual!
Também do "Ti Fidalgo" -, alcunha de António Ribeiro -, fazia artigos de cestaria com palha de centeio presa a tiras de plástico preto que aproveitava das encomendas para fazer o feitio-, na sua falta usava silva seca para prender a palha. Das suas mãos saíram cirandas para limpar a azeitona com pauzinhos de oliveira ou urze; o palhão, usado para tapar a massa da broa a fermentar; fruteiras de pé alto e, ...
Exemplares na casa do meu compadre Fernando Moreira
Casal Soeiro: as manas Helena e Mariazinha no tempo que foram criadas de servir em casa da minha tia Carma Russa…
Em abono da verdade -, a Mariazinha de seu nome Maria Irene...a tia Carma quando as contratou chamou a recato a Irene na obrigação iminente de lhe contar um episódio íntimo que lhe era desfavorável e cuja interveniente tinha o mesmo nome "em jeito de pedir, a tia perguntou-lhe se não se incomodava de ser tratada por Mariazinha"… boa moça, meiga, acedeu ao pedido, ainda hoje assim me lembro dela, graciosa, tanto quanto a irmã. Raparigas boas amigas -, quantas boas recordações da cumplicidade de tanta amizade. 
Chegava ao balcão da mercearia de cesta na mão, logo os meus olhos corriam os armários para descobrir a farinha Amparo - , enquanto isso elas de corredor na mão aviavam colorau doce e pimenta em cartuchinhos de papel pardo, arroz e açúcar amarelo, já o   bacalhau e a raia era cortada na grande faca que até estremecia o balcão, as sêmeas para os porcos aviavam dos sacos de atilho corrido arrumadas na arrecadação debaixo da porta para o sobrado -, um dia ouvi a tia na conversa com o vendedor " oh senhor a margem das sêmeas nem se sente, estou a perder dinheiro..." debaixo do balcão arrumavam os paus de sabão azul ou rosa, pacotes de Omo e Sunil, para lavar a roupa e no teto e nas portas penduravam tripas secas de cheiro nauseabundo para fazer as chouriças e as morcelas, e claro rebuçados, elas davam sempre uma mão cheia deles. No pátio ao fundo aviavam malgas de água-pé escura a escorrer pelo vidrado...aos homens sôfregos por pinga!
Recordo também a  Alice que foi empregada no hospital, além de boa empregada tinha umas mãos delicadas para o crochet. 
Tive um colega no Externato -, o Henrique, se não me falha a memória é do Casal Soeiro ou será Ameixieira?
Ribeirinho ou Casal Soeiro (?)  O "Ti Zé das Notas"  rara a semana que o não via nos seus terrenos na proximidade da minha casa -, o que me lembro dele, baixote e pitoresco.
"Ti Zé Reis" também velhote, magro, simpático, vinha muitas vezes ao seu grande terreno de pinhal, milheiral e vinha na frente da minha casa, onde se especulou a Câmara pretendia fazer o mercado - que bem ali teria ficado, porque a vila merecia já nesse tempo encaminhar-se mais para o Carvalhal… 
EmpiadosIsaura linda e bondosa mulher que conheci padeira.
Paisagem de cariz mediterrânico. Avassalador parar. Nunca me canso de a mirar  ao alto da serra da Ameixieira -, melhor quem se atreve como eu a entrar nela dentro na procura incessante de pedras esculpidas pela erosão...


Quando descobri esta logo me  fez recordar as botas que o sapateiro fazia ao meu tio Chico... 
Em baixo espécimes de machados de pedra do tempo do neolítico (?)Também aqui encontrados por mim!
Artesanato...Mantas de lã da CUF feitas por um tecelão do Avelar, de cariz romântico, airosas com passarinhos, da minha comadre Odete, intervalados com corações e flores.
 
Flores...Nascem na serra espontaneamente à toa semeadas pelo vento; lírios, alecrim, oregãos, funcho, rosmaninho, urze branca, murta, esteva, arruda e orquídeas. 
Gosto sempre de ir à serra apanhar  flores para o meu oratório na Páscoa!
Rosas albardeiras por aqui chamadas de cucas, na frontaria da primeira casa ao vir da Serra do Mouro, na Ameixeira-, lindíssimas.
Venham descobrir, quem tiver um bom jipe ou mota4 no cimo da serra atrevam-se a descer pela nova variante, atravessando o costado...Mete respeito a descida, na planura do vale, perdido de vegetação exuberante, e animais -, coelhos e perdizes, quem sabe raposas e ginetos, onde julgo um dia passou perto a via romana aparecem courelas, e do lado direito um contraforte altaneiro brutal em pedra,- de defesa natural.
Idílico para amar!
Gotículas de orvalho num lírio roxo...
Tudo é belo por esta terra implantada nos costadas das serras...
Onde ainda persiste casario em pedra de traça típica com  janelos, escadas, varandins, currais e eiras.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A televisão entrou em minha casa em 1960




Por terras doadas a D. Maria Pais Ribeiro-, viria a ficar na história conhecida como a Ribeirinha a amante favorita do rei D.Sancho I... que quase a fez rainha. 
Mulher bela de cariz inspirador a paixões desencadeadas em corpinho miúdo tais as terríveis faculdades de sedução e de perfídia com que se insinuava...o que dela deixaram escrito! 
O rei muito ciumento, em idade avançada lega-lhe Vila do Conde e outras terras como Maçãs de D. Maria no concelho de Alvaiázere com a condição de não se casar. Mas a Ribeirinha tinha um coração insondável e uma fisionomia moral enigmática. A seguir à morte do monarca decide retirar-se para as suas terras de Vila do Conde vestida de branco -, que era o luto da época, ao passar perto de Avelãs saiu-lhe ao encontro Gomes Lourenço Viegas que se apaixonara pela ruiva amante do rei quando a vira nos Paços de Coimbra. A Ribeirinha seguia viagem acompanhada pelo seu irmão e outros cavaleiros, houve luta, mas saiu vitorioso o mentor da emboscada que se conseguiu apossar da sua amada e com ela se veio a refugiar no Reino de Leão. Mais tarde ao voltarem à corte de D. Afonso ela instou com o rei para que fosse implacável e fizesse justiça sobre o rapto que sofrera. O rei mandou mata-lo. A Ribeirinha de novo livre voltou a casar com João Fernandes de Lima de quem teve filhos. Viveu até depois dos noventa no Mosteiro de Grijó, muito velhinha, a quem a mocidade foi radiante pela beleza, uma quase rainha que tantas paixões ateara  e desencadeou tempestades sentimentais pelos atributos de beleza incomum, ainda foi procriadora de poetas!
Séculos mais tarde seria de novo Maçãs de D. Maria palco de amores -, desta feita os príncipes foram os meus pais no dia do seu comum aniversario celebrado a 27 de julho de 1956 ,- ela 20 primaveras,- ele 19 -, sem "meias medidas" no posto de correios que funcionava ao tempo no Armazém das Cinco Vilas.
Sem meias medidas com calores exacerbados a pensar em tantos amores nesta terra já vividos decidiram dar azo ao entusiasmo da paixão sem pensar em consequências... 
" loucos decidem fazer a minha encomenda para a cegonha trazer no ano seguinte " tal pressa em saborear o fruto proibido deu mote à minha alcunha "de apressada" com o reparo "parece que foste feita às pressas"… 
Honra seja feita ao meu pai em exigir à minha mãe que assumisse a gravidez enquanto solteira. Problemas haviam -, acabado de se matricular no curso de Engenharia em Coimbra, por outro lado a barriga da minha mãe tinha tudo para se desfigurar da habitual silhueta magra. Decisão ponderada -, o melhor naquela altura foi a aposta da minha mãe pedir a transferência do seu posto de trabalho nos Correios para a ilha da Madeira. De mala feita a caminho de Lisboa para embarcar no paquete Vera Cruz. Em tempo de espera para embarque ficou hospedada em casa do Fernando Coimbra da Moita Redonda, o destino ditou virem a ser meus sogros -, o filho Luís Alberto de três anitos, traquinas, não parava de fazer tropelias até que ela chateada lhe gritou e deu uma bofetadita, sem saber que viria a ser o seu futuro genro. Tristezas não pagam dívidas aproveitou a capital para se distrair e passear pela capital. Em 1956 assisti ao ensaio geral da "caixinha mágica. 
Aparelho Philips anos 60 igual à da casa dos meus pais 
Assisti empiricamente na barriga da minha mãe ao Ensaio Geral dos primeiros passos da Televisão em Portugal na então Feira Popular, instalada no espaço onde veio a ser construída mais tarde a Gulbenkian, corria o mês de setembro de 1956.No entanto ficou para a história a data oficial das emissões regulares a 7 de Março de 1957. Tendo ocorrido o meu nascimento em Maio -,apraz-me o gozo de saber que nascemos no mesmo ano. As emissões começaram por ser apenas a preto e branco até à meia-noite, encerrando a emissão ao som do hino nacional. Quem não faltou à despedida da viagem do paquete foi a minha avó Maria da Luz, vinda de propósito à Calçada dos Cavaleiros nº 7 à parte de casa alugada pelo casal Coimbra, para se despedir da sua filha querida nascida em tempos de menopausa -, mas a sua princesa nem se levantou da beira da cama de ferro, com medo que se notasse a barriga -, que não se notava, mas ela achava, dizendo-se indisposta contou mais tarde a minha sogra…Para a consolar a minha mãe sabendo que ela não abonava o seu namoro com o meu pai, em surdina  lhe diz em tom meigo "também acho o Fernando, com pernas muito altas...Valente de apelido e de altura com 1,89 cm no contraste com pouco mais de metro e meio da minha mãe.. A minha avó era mulher rude, habituada a subir a costeira do Outeiro do Cuco da Nexebra, de barril na mão até à mina de S. João esventrada no xisto em ambiente escuro propício à sobrevivência de aranhões, que por esse fato desenvolvem patas muito compridas e com isso ela fazia a comparação com o meu pai e depressa lhe pôs a alcunha "pernas aranhão de mina"...A minha pobre avó acreditou na minha mãe, que se deixou ficar comigo no bucho sem nada lhe dizer da gravidez, tão pouco se condôeu de ter falseado sobre o namoro, e a mãe apesar de sofrida acreditou nela achando que estava triste por ir trabalhar para a Madeira, ficar longe da família, resignada se despediu, abalando de volta à Moita Redonda convencida que o namoro não ia avante. Viagem da minha mãe dolorosa no mar pelos enjoos e vómitos, difícil aguentar a comida no estômago, fragilizada e sozinha ao chegar ao Funchal deparou-se com uma realidade tão estranha, diferente de tudo o que conhecia no Continente, a juntar saudades, logo sentiu o desejo desmedido de retroceder à pátria...  Enquanto isso na terra o "Zé carteiro" tardava em trazer notícias ao meu pai  que impaciente de tanta saudade decide "pôr pés a caminho" se melhor o pensou, melhor o fez "meteu mãos ao cofre do meu avô, o grande dicionário de Língua Portuguesa, onde fielmente entre folhas entalava notas gordas de 100 escudos" de algibeira cheia sem dar "cavaco a ninguém" partiu a caminho de Lisboa, onde apanhou o primeiro aeroplano para o Funchal. Debalde apeado na ilha debate-se com um grande problema -, não sabe a morada da sua amada -, desesperado, não tinha como poder obter informações sobre o seu paradeiro só lhe restava uma alternativa -, voltar a casa inconsolável, o que fez. Trabalhava ela na Ponta do Sol, um paraíso selvagem no meio do Atlântico, numa região de muitas bananeiras. 
A minha visita à ilha da Madeira aconteceu pelo festejo dos meus trinta anos na primeira vez, a minha irmã levou a nossa mãe a um congresso dos Correios, juntámos o útil ao agradável -, festa inesquecível, tantas emoções sentidas na " festa da Flor" grande o ramalhete surripiado dos carros alegóricos. Adorámos. Quase irreconhecível a casa onde esteve hospedada, igual a estação de Correios na subida da calçada sobranceira ao mar. A vila de Ponta do Sol estava em mudança, pouco havia do antigamente até o mar parecia diferente com o novo molhe para cortar a ondulação em tripés de cimento armado. Anos mais tarde voltei novamente à Madeira e a Porto Santo com a minha mãe, novos tempos de vias mais rápidas, muitos túneis tinha-se perdido a magia da sinuosidade da paisagem do contorno dos montes, no passado sem dúvida mais interessante, o mar sempre em pano de fundo fosse a subir ou a descer com casas plantadas a pique, logo pensei para os meus botões…" dia que o marido zangado com a mulher dê em correr atrás dela, só se encontram em bracejo no mar…". 
Desejado regresso o anseio maior da minha querida mãe em vir embora da Ponta do Sol sem hipótese de retorno. Mulher sofrida só pensava no nosso Portugal - não gostou da aventura, só o conseguiu ao fim de dois meses para Lisboa,  graças à sua audácia em pedir ao Correio Mor que intercedesse na sua transferência, o que aconteceu. Sorte da casa onde vivi até à minha adolescência já ter luz elétrica e televisão no início de 60 -, contavam-se pelos dedos de uma mão, os televisores nesse tempo na vila de Ansião. Inegavelmente uma mais-valia para um maior conhecimento do mundo, apesar de na época se viver em ditadura. 
Tanto eu como a minha irmã sentíamos um chamamento em imitar o que víamos na caixinha mágica com o fascínio da publicidade televisiva.Incentivou-nos em criar coisas diferentes com os meios que tínhamos à mão. 
Operação ao pintainho…foi despoletada com a notícia televisiva no ano 1967 no mês de dezembro -, o mundo teve o conhecimento do primeiro transplante ao coração efetuado na cidade do Cabo na África do Sul pelo cirurgião que viria a tornar-se mundialmente famoso, Dr. Cristiaan Barnard...mas não foi ele... 
Hamilton Naki sul-africano, negro de 78 anos foi um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky em dezembro de 1967 na cidade do Cabo, na África do Sul -, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida. Um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história - não podia aparecer nos media, porque era negro no País que vivia o Apartheid nem era formado. 
Quem ficou com os louros, foi o cirurgião-chefe do grupo... o caucasiano Christian Barnard que se viria a tornar numa celebridade instantânea...e ficar na história. Porque Hamilton Naki não podia nem sequer sair nas fotografias da equipe. Quando apareceu numa -, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, jamais estudara medicina ou cirurgia. Tinha largado a escola aos 14 anos, era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso, tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos. Começou por limpar os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo experiências com animais. Tornou-se um cirurgião excepcional -, a tal ponto que Barnard requisitou-o para sua equipe.
Era uma quebra das leis sul-africanas. Naki, negro não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu-lhe uma exceção. Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor. Dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia. 
Depois que o Apartheid acabou, ganhou uma condecoração, e um diploma de médico honorário. Nunca reclamou das injustiças que sofreu durante toda a vida.
Ota ao tempo foi tão grande e inusitado acontecimento para mim, por o órgão transplantado estar ligado aos afetos. No caso o coração de uma senhora jovem que sofrera um acidente e o paciente recetor, um homem de mais de cinquenta anos. A forte mediatização televisiva, inédita e surpreendente, inevitavelmente marcou-me e à minha irmã intensamente. 
A nossa tia Maria tinha-nos dado ovos galados e ensinou o preceito do "choco" para fazer o ninho para não haver rejeição da galinha e nascerem pintainhos…lindo foi vê-los a picar os ovos para nascer e logo esgravatarem pelo quintal até ao dia que um deles foi pisado pelo galo a espanejar vaidoso as asas e por descuido lhe ferra a espora da pata na barriga -, de fora ficaram as tripitas -, aflita corri a contar à minha irmã, num instante o seu sentido estratega foi de pôr a ideia televisiva em prática. Fizemos a operação de imediato ao pintainho, enquanto eu o segurava em cima da mesa da cozinha, a minha irmã aconchegou as entranhas, unindo as peles cozendo com agulha e linha, desinfetámos com mercúrio e água oxigenada o que havia no armário de farmácia na casa de banho, improvisámos uma ligadura com um trapo branco, e depois foi deitado numa caixa de sapatos, a fazer de incubadora, junto à lareira como víamos os bebés prematuros na televisão - seria fevereiro, o inevitável aconteceu, coitado do pintainho não resistiu à infeção e morreu. 
Desoladas ficámos de o ver esticado de patas para o ar. Melhorámos, ao saber que o paciente transplantado morrera após dezoito dias de pneumonia. Ainda assim o consolo pois foi a nossa primeira operação por influência televisiva! 

Depilação... a publicidade incitava esse fascínio maior em  se experimentar. Vaidosa, numa bela tarde de sol, sentada no chão em cima de uma manta de trapos no quarto da costura iniciei o ritual, o melhor que pensei foi usar a máquina de barbear Fillshave do meu pai, inesquecível foi o momento em que senti na pele o impato de repelir os pelos da perna -, estremeci, e a deixei cair no chão, desencaixadas ficaram as cabeças e logo três, não fui capaz de as por no sítio, mal-ajeitadas, fiz-me de sonsa e arrumei-a no armário da casa de banho -, sol de pouca dura, no dia seguinte o meu pai ao querer fazer a barba depara-se com aquele cenário, a fúria foi tal que o castigo não o foi menos, decidiu pendurar-me com cordas na trave mestra do sótão, tipo Cristo suspenso, só sei que gritava, era domingo, nunca tanto quis ir à missa, naquele dia não foi dia de ir… 

O Ultramar, a guerra e o contingente militar…no telejornal a preto e branco, constantemente havia reportagens da partida de militares a embarcar em grandes navios, de cotovelos uns nos outros no parapeito dos navios -, todos se queriam mostrar para o último adeus na despedida sem saber o que os esperava(?) -, partiam para guerras que não eram deles, pior -, muitos não tinham bilhete de volta... acenavam com lenços, mais parecia a Cova de Iria no adeus à Virgem Maria no 13 de maio…honra seja feita às Madrinhas de Guerra, que trocavam correspondência com muitos tropas naquele tempo, a forma de saberem notícias e trocar afetos escritos em Aerogramas… grande era o tráfego... Impressionante a finura do papel -, missiva dois em um, fazia de carta e envelope. Via-os a serem distribuídos nos cacifos pelos carteiros no Correio velho. Dava comigo a pensar como seria que as Madrinhas de Guerra, ou no caso os tropas os interpretariam -, o que sentiam ao ler emoções escritas tão longe da pátria? Quero acreditar que encerrariam palavras mágicas redigidas de saudade com ajuda e força para aguentarem a missão -, forçosamente de afeto. Muita gente acabou casada por Procuração... Tamanho sofrer era insuportável observar guerras em direto na televisão, ver corpos mutilados, despedaçados, helicópteros a transportar feridos e a deixa-los ao Deus dará pelo capim-, Biafra, Vietname e províncias ultramarinas…triste a chegada de urnas dos que morriam... dos boatos que dentro viriam pedras por muitos corpos terem sido destroçados em minas...ou nunca encontrados!
Mais uma ideia nascida pela televisão, a de fazer uma bomba… Sobretudo a minha irmã sentia uma vontade nata em experimentar uma bomba no tufo de erva príncipe do adro da capela de Santo António.
No telejornal todos os dias a preto e branco as guerras inspiravam em nós invenções com fazer uma "Bomba" -, um dia expedita foi à loja buscar pólvora de encher os cartuchos para a caça e meteu-a no tufo de erva, à sua volta juntaram-se os cachopos curiosos do costume para assistir à brincadeira, acendido o rastilho deu-se um grande clarão e um tremendo cheiro a chamuscado -, foram-se as sobrancelhas, pestanas e franjas de cabelo dos rapazes, que em cima do tufo estavam para ver a bomba: Artur, Toino, Tonito, Tó Zé -, as cachopas saíram ilesas do acontecimento apenas assustadas com o estardalhaço pelo cheiro forte a pólvora e a rir de os ver tisnados como uma galinha depois de depenada. Pela noitinha os seus pais, o " Trinta" o "Pego" e a Carmita vieram pedir explicações -, proibidas ficámos de voltar a mexer na pólvora e de até brincar com eles. Acedemos caladas -, no dia seguinte já não nos lembrávamos dos recados…

O caniche a que chamávamos Franjinhas ...Natal houve na década de 60 que recebemos uma prenda em comum. O nosso pai foi a caminho de Coimbra no táxi do Germano comprar um caniche. Trazia-a ao colo muito feliz -, fez-nos no imediato lembrar do "Franjinhas" dos Desenhos Animados, branquinho, de pelo encaracolado, animal dócil, demos-lhe o mesmo nome. Ligeiras em lhe dar banho, era inverno estava muito frio, apesar da água tépida, o animal não resistiu ficou paralítico das patas traseiras, aflito o nosso pai ligou para o veterinário Dr. Mateus, que depois de o ter observado, lhe sorriu com um redondo não..."Valente não há nada a fazer, tenho de o abater" com uma injeção finou-se para sempre o nosso caniche-, desgosto imensurável para ambas. O funeral aconteceu na fazenda da"Vinha" sepultado debaixo de um grande Pereiro , mesmo na extrema com a fazenda da tia Maria José do Alto. Cobrimos a pequena sepultura com muitas flores. Assiduamente íamos visitar o nosso caniche que tivemos apenas três dias…Como tínhamos visto o cemitério no Jardim zoológico. 

Surpresa total ver senhoras finas a fumar na televisão. Também o meu pai era um fumador incorrigível, fumava de noite e de dia. Personalidade nervosa e inquieta só tinha controlo fumando quatro maços de tabaco por dia. Sempre de cigarro na mão -, fosse a comer, trabalhar, até na cama ao adormecer fazia pequenos incêndios, pior ao estrear camisas em algodão ou popelina as afogueava num total desalento para a minha mãe. Mas pior era chegar depois do turno da meia-noite do Correio e ter a insensatez de nos mandar de volta à vila para comprar tabaco - que remédio tínhamos senão acatar e ir de volta, o que nos passámos ter de acordar a Helena do Alexandre para nos abrir o portão e vender um maço de cigarros àquela hora imprópria para tal compra! 

História de beatas e cigarros... Usufruíamos à época apenas uma casa de banho grande e completa, nela havia uma mesinha e cinzeiro com beatas, até a criada o limpar todas as manhãs. A minha irmã de mentalidade muito à frente gozava com tudo e todos, sentia um prazer nato em as reacender com o isqueiro e fumá-las na casa de banho. Até ao dia que o nosso pai visivelmente acordado mal disposto, foi mais do que uma vez à casa de banho, nesse entretanto reparou que as beatas não estavam no cinzeiro -, o uso da casa de banho pela manhã era grande, perguntou à criada se já o tinha limpo, ao que esta delicadamente respondeu "não Sr. Fernando, ainda não tive oportunidade, as meninas sabe como se demoram". Começou o inferno, fugimos às perguntas, de bicicleta fomos para o Externato, ele para o Tribunal…Ao fim do dia questionou-nos novamente quem era a fumadora, como as duas dissemos que não, quis no momento tirar a prova dos nove. Inverno, com lareira acesa, meteu-nos encostadas à parede, o lume crepitava, nele pôs o espeto em ferro a queimar em brasa, nas nossas bocas acendeu um cigarro. Queria testar a fumadora... 
nervosa, só me lembro que o fumo me saia pelo nariz, ouvidos e boca, engasguei-me de tal maneira com o sabor amargo, logo viu que não era eu, nisto a minha irmã atrevida gozava o momento "Paizinho, quer que inale o fumo para dentro ou faça bolinhas?" Visivelmente furioso, como foi possível ter-se deixado enganar, achava ele que eu por ser mais velha seria a prevaricadora, apressou-se a desculpar a minha irmã, por ser a sua "menina rapaz, contrapeso, meio quilo, meio tostão, menina dos seus olhos" perdoou-lhe. Lamentavelmente para nos amedrontar o espeto de ferro continuava ao lume incandescente. Sabe-se lá o que faria se fosse eu a fumadora, caso fosse perder o bom senso o que acontecia num virote, nem é bom pensar no desfecho. Fumar, eu? Sim. Bons charutos cubanos em caixinhas de madeira com letras vermelhas ofertas de amigos vindos do Brasil revestidos a papel celofane e fitinha vermelha para abrir. O meu pai nem vê-los eram todinhos para mim e para a minha irmã -, verdade seja dita mal os conseguíamos pôr na nossa pequena boca -, gostávamos do cheiro suave e forte. Deleite maior, abri-los para apreciar as folhas hermeticamente prensadas, um trabalho manual de requinte, delícia vivida na sala de visitas sentadas no canapé de molas duras, forrado a pano xadrez vermelho e preto, lindo de costas de madeira com corações, as duas de perna trocada a ouvir rádio "Os Parodiantes de Lisboa" ou a ver televisão! 

A "Pipi das Meias Altas"...apareceu em 1969 a série televisiva - miúda irrequieta de trancinhas ruivas e meias coloridas, foi uma loucura  fazer a caderneta de cromos, também outra série francesa deu-nos mote para formar uma sociedade. "O clube dos cinco" - os sócios os cachopos do Bairro – o jogo consistia na troca de coisas uns com os outros. Um dia o " Tó Zé da Carmita" não tinha nada para a troca - na casa da Deolinda em dia que cumpria castigo imposto pelo pai "presa à mesa" como se fosse uma galinha...o malandro do Tó Zé rouba-lhe um tanque de lata feito pelo pai dela - mal acabado o castigo ela corre no encalço dele com fé de o reaver, o Tó Zé não foi de modas, atira-o para o silvedo da Cerca do hospital em frente da casa. Nesse dia não houve troca no clube nem mais brinquedo para se brincar. Nestas trocas e baldrocas trocou-se uma libra de ouro da minha mãe que tinha deixado no armário da cozinha -, à falta de coisa melhor tal a luz que resplandecia foi-se para sempre! 

Claro a televisão também alterou significamente a nossa forma de vestir, fosse no uso de mini-saias ou max-saia, que fui a primeira a usa-la na vila de braço dado com a minha mãe, pois sentia-me insegura! 

Falar das grandes e inéditas reportagens... 

Santuário de Fátima...correu no ano de 1963 a primeira reportagem em direto das comemorações religiosas do treze de maio pelo famoso realizador televisivo Luís Andrade,- mal tinha terminado a transmissão em direto,  a tia Maria uma cumpridora ferrenha de promessas, já vinha de volta de cumprir a sua, mal me distraia a olhar pela janela a via a subir ao adro com passo apressado de lenço pela cabeça em laço atrás da nuca, avental riscado, debaixo do braço a trouxa -, míngua o farnel quase sempre a pão e água, nos pés chinelos de dedo. Chegou a cumprir meio ano de promessas a Fátima, não sei se proveu efeito tão grande e doloroso rogo. Aquela tia Maria tinha uma genica fora de série -, não andava, corria, conhecia atalhos como ninguém… 

Desfiles das Marchas Populares... na Av. da Liberdade na tribuna não faltava a Beatriz Costa com a sua linda franja com brilhantina… 
Festival Internacional do Circo Monte Carlo no Mónaco... chamariz na época natalícia, a magia do circo, imperdível a entrega pelas mãos da família da casa Real Rainer dos palhaços de ouro, prata e bronze… 
Festival do Sequim de Ouro... onde crianças de todo o mundo vinham cantar... 
Concerto de Ano Novo ...com o famoso Maestro Leonard Bernstein, nem sei quantos anos vi este concerto -, homem magro, sedutor de franja grisalha, conferia graça e atitude num estilo nobre aos movimentos da batuta... 
Jogos Olímpicos ... com desempenhos fabulosos dos atletas da antiga URSS, soberbo apreciar os ginastas no "Cristo" em argolas…da romena Nádia Komanecci, ginasta medalhada por nove vezes na trave olímpica. 
Concursos de Patinagem Artística ... viriam em mim despertar a mágica forma de dançar sobre rodinhas aprendi mais tarde no Colégio dos Salesianos no ringue do Estoril… 
Jogos de Futebol ....a Pantera Negra -, nome que os ingleses deram ao nosso Eusébio no célebre Campeonato Europeu em que a Seleção Portuguesa se sagrou em terceiro lugar - esquecer é que nunca - ao sair do avião na cabeça um boné de polícia, também do meu Sporting que não ficou com ele "fartos, estavam de levar barretes" pelos vistos depois de tantos anos, continuam (?) … 
Festival da Canção... em 1967 ganho pelo Eduardo Nascimento com a canção "O vento mudou" ...impossível perder todos os anos Simone de Oliveira com a canção a "Desfolhada" cantou uma frase que ficou célebre - "Quem faz um filho fá-lo por gosto" a primeira mulher a desafiar o prazer da mulher em tempo de ditadura, chegou de comboio a Santa Apolónia onde tinha uma multidão com mais de 20 mil pessoas para lhe dar as boas vindas apesar de ter ficado classificada em penúltimo, com uma canção imortal... Fernando Tordo com a "Tourada" ...a falar em cornos e...Poemas do saudoso Ary dos Santos… 
Euro Festival... em Viena de 1967 ganho pela Sandie Shaw do Reino Unido -, miúda irreverente cantou descalça "Puppet on a String" - eu e a minha irmã deitadas na cama dos nossos pais cobertas com pele de bode alentejana, de farto pêlo pintada em cor laranja, num virote nos pusemos a imitá-la dançando descalças ao fundo da cama… 
Filmes... westerns -,a série Bonança e o seu rancho, cowboys com pistolas, calças e casacos com franguinhas a esvoaçar com o andar, cheguei a ter um que a prima Stela do Escampado emigrada no Canadá me trouxe e muita inveja despertei quando o usava no colégio… famílias à procura do "el dourado" rumavam em carroças a caminho do Texas embrenhados no sonho de melhor vida -, pelo caminho apaches, índios, com cristas de penas a fazer de barretes, desfiladeiros no Arizona, paisagens naturais vermelhas no Canyon … 
Visita do Papa Paulo VI a Fátima... grandes ranchos de gente a pé -, cumpridores de promessas, a primeira vez que senti essa verdade… 
Missão da Apolo 11... com os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin os primeiros humanos a pisar solo lunar que pilotaram o foguetão que chegou à Lua em Julho de1969 - , em casa passámos horas postadas a olhar para o ecrã todo o dia a ver -, nada, até que aparece uma imagem de crosta inóspita de crateras de todos os tamanhos, a falta de gravidade fazia os astronautas andar aos pulinhos, o mais insólito e bonito… 
Cortejo fúnebre de Salazar... após o transporte da urna de comboio com saída da estação do Rossio em 1970 para a sua terra natal Santa Comba Dão -, faleceu a 27 de Julho dia de aniversário dos meus pais, seria uma terça-feira, logo pelas nove e pouco da manhã quando ouvi a notícia no rádio, menos das dez horas estava a contá-la à Ti "Augusta do António da Olinda" no seu talho - mulher boa sempre me deu uma febra com a retórica "esta é para o gato"… 
Assassinato do Presidente Kennedy dos EUA ...em Dallas quando acenava à multidão num carro descapotável com a esposa Jaqueline… 
Bailados... jovens dançantes vestidos de maiô: meninas de sainha em tufo de tule e sapatilhas com laços de seda num esvoaçar delicado, os homens pareciam reis ou fidalgos vestidos de collants aderentes tão colados ao corpo, não apreciava ver porque desconhecia o que havia escondido… 
Concursos televisivos.... o "Jogo do Galo" com Artur Agostinho e a Cornélia com Fialho de Almeida 
Eleição da Miss Portugal...em que a inesquecível Ana Maria Lucas foi uma das primeiras vencedoras. 
Ópera... na voz inconfundível da diva Maria Callas e do folhetim televisivo com o seu romance com o magnata da frota petroleira Onassis … 
Desenhos Animados... não perdia por nada o Franjinhas, Speedy Gonzalez, Walt Disney, Flinstones até aparecer o Vasco Granja com novidades animadas da Checoslováquia -, tais grandes alterações colidiram com o meu conservadorismo e com isso deixei de me interessar por animação e banda desenhada…coitado do Kalimero, o patinho negro... 
Programas de culinária: Maria de Lurdes Modesto e Filipa Vacondeus com esta aprendi na cozinha a dar uso aos restos -, em aproveitar as sobras para uma nova refeição, mais tarde apareceu o chefe Silva com as teleculinárias -, revistas decorativas que compilei carinhosamente em três volumes e guardo até hoje. 
Cinema português: António Silva, Beatriz Costa, Ribeirinho, Curado Ribeiro... gostava de ouvir e gracejar com o slogan..."oh Evaristo tens cá disto?" 
Cinema estrangeiro... saudade dos chamados "beijos técnicos" -, os atores fugazmente se atreviam a dá-los despertando em mim um gesto nunca visto, ingenuamente enroscava as mãos defronte dos meus olhos como se fossem binóculos e cheia de vergonha, ruborizava, tremia naquela de querer e não querer ver, à laia do Shakespeare -, "To be, or not to be: that is the question"… 
Teatro...semanalmente havia teatro televisivo com atores consagrados como a saudosa Laura Alves, Amélia Rey Colaço, Rui de Carvalho, Ivone Cruz, Irene Isidro e,... 
Vozes emblemáticas ... ficaram para sempre na minha memória e no ouvido : TV Rural Eng.º. com o Engº Sousa Veloso; Folclore com o Dr. Pedro Homem de Melo; Vitorino Nemésio no seu imortal programa "Se Bem me Lembro" a tal ponto cativante aquela sonoridade forte da voz com pronúncia da Madeira, irrompia a falar em várias frentes para voltar a encontrar-se no final do programa - algo me atraia sem contudo o entender; Natália Correia de olhar negro intenso e voz forte declamando poesia; David Mourão Ferreira a falar de Literatura, Poesia e Língua Portuguesa ;Jorge Alves com a TV Guia e,... 
Programas de entertainer...Zip Zip com Fialho Gouveia, Carlos Cruz, Raul Solnado e mais tarde o Nicolau Breyner e o Herman José 
Telejornal ...José Maldonado, Artur Albarran, Ana Zanatti, Eládio Clímaco , Isabel Baía, Margarida Marante, Margarida...e, tantos outros locutores. 
Mundo subaquático ...nunca antes filmado com peixes de várias cores de todos os tamanhos com corais, atóis…mas que se viam a preto e branco... 
Natal dos Hospitais, Teatro , documentários, Telescola , Reportagens. 
A RTP mostrou e continua a mostrar o que se passa no PAÍS e no Mundo 
Revive as nossas Tradições d'ontem para que não morram na nossa cultura num contato diário com o povo numa aposta dinâmica de divulgação e preservação! 
Fatalmente foi um tempo que as anomalias da corrente interrompiam a emissão televisiva, premente no aviso" Pedimos desculpa por esta interrupção, o programa segue dentro de momentos" … 
Minutos a fio, eu e a minha irmã deliciávamo-nos a lê-lo invertido "momentos de dentro segue programa…" havia anúncios muito engraçados de publicidade que imitávamos e outros fazíamos troça. 
A música do slogan da Eurovisão durante anos o mesmo, ficou no ouvido, imponente, valorizava-se no tempo -, a nossa globalização. 

O 2º canal da televisão…A rede de expansão dos retransmissores aumentou chegando a todo o lado o que possibilitou a muitos a aquisição da caixinha mágica. Abriram-se novos estúdios no Porto o maior, outros mais pequenos noutras cidades. Em alternativa ao único canal foi inaugurado em 1968 o 2º canal - proporcionava ao almoço emissão.Uma série em especial retratava a vida no campo de um Eng.º agrónomo casado com a atriz Zázá Gabor. O mais marcante na série televisiva -, o despropósito da instalação do telefone na herdade no cimo do poste à porta de casa e as constantes peripécias de o subir e descer tipo guarda fios para atender. Também não lhe ficava atrás a esposa que não sabia cozinhar - no tempo uma coisa estranha, habituadas que estávamos a saber que as mulheres aprendiam essa arte desde cedo – ela só sabia fazer panquecas de farinha. Nas tardes de mais frio a imitámos - de alguidar no chão com farinha a que juntávamos água morna, um cheirinho de aguardente ou sumo de laranja, bem mexida com a colher de pau. Despejavam-se colheradas com a concha da sopa na frigideira – as nossas panquecas comiam-se polvilhadas com açúcar e canela, uma delícia. Boas as nossas "panquecas" que aprendemos a fazer na televisão com aroma a aguardente ou sumo de laranja, essa invenção é nossa!
A televisão nos dias de hoje deveria ser mais pedagógica. Ainda há dias no supermercado ouvi um miúdo a perguntar ao pai de onde vinha o chouriço...
Afinal, hoje a maioria dos espectadores são idosos, prisioneiros na sua própria casa, inválidos, indivíduos em prisão domiciliária, doentes, reformados, desempregados.
É tempo de cativar novos públicos para a caixinha que ajudou a mudar o País! 
Estou farta de vozes estridentes de pseudo locutores...gente sem cultura, com repetitivos gestos desadequados, slogans repetitivos, sobretudo de inverno vestidas à verão fazendo com que a juventude as imite ...há muito exagero na palavra, na atitude, no estar, na falta de fazer a coisa certa - porque fazer televisão é dar IMAGEM no dever fazer bem para passar a mensagem! 
Tempos idos que a minha casa se enchia de pessoas nossas vizinhas para assistir a estes programas, embora envergonhadas, despertava nelas uma imensa curiosidade de conhecer a televisão - nem se sentavam - encostadas às ombreiras da porta da sala de braços cruzados e boca aberta deleitavam-se com a caixinha mágica. 
Estarrecida a avó Maria da Luz nascida na Moita Redonda, quando vinha passar uns dias a minha casa  a Ansião, perguntava à minha mãe: "Oh Dina, será que eles nos vêem?"…
Parabéns Televisão pelos 56 anos...farei daqui a dois meses ! 

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