- Menos calor do que da última vez -, mesmo assim calor.
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Ouvi um piropo de um admirador secreto mais novo 10 anos ..."a mulher mais gira da feira..." a rir pensei -, esqueceu-se de limpar as lentes... |
- Frenesim o movimento de gente habitual, outras que simplesmente apostam em novos mercados para se estrearem-, e reaparecidos na surpresa de ausência sentida.
Apareceu-me um espanhol com um saco enorme cheio de gravuras e manuscritos comprados ao preço da "uva mijona" na banca da Maria José e da Olga . Apreciou os 3 quadros com gravuras uma de Madrid e 2 de Lisboa à lupa...regateou que não queria as molduras só as gravuras...que eram de livros...só dava metade do valor pedido. Claro que não as vendi, até porque são da minha amiga Isasay tal e qual com 2 placas da Companhia de Seguros A Social...que também não vendi porque só me davam pelas duas 30€...e ela quer 40!
- Um homem pegou num prato de Alcobaça da Vestal, com o dedo passava pela pintura -, ao mesmo tempo estrebuchava - esta pintura é estranha... perguntei-lhe porquê-, era de pouca conversa, queria compra-lo, mas só queria dar 20€, não o vendi !
Quando vendo, fico me dobro satisfeita se o cliente for simpático, casmurro -, dispenso!
Apareceu um casal simpático que mal me viu o senhor disse-me...confundi -mo-la como uma senhora ali em cima...possivelmente nela enfeiraram bem ao avaliar a sacada ...compraram-me uma peça assinada de Barcelona, lindíssima-, uma molheira finais do século XIX em vidro.
Na banca da Maria das Neves e do Sr João a peça da feira -, terrina em faiança de Coimbra impecável , meados século XIX.Pintura em arabescos em policromia vermelho e verde entre eles círculos semi- ovais com pintinhas ao centro em azul.
O pé e os rebordos ornados a filetes finos a cor de amora.
Pega da tampa de corpo relevadas graciosa em botão relevada ao meio verde ervilha e vermelha ornada a filetes em meio arco graciosos.
- Pegas soberbas de corpo relevado em nervuras fazem lembrar a faiança do Brioso na cor azul alilazado forte.
O meu amigo Arlindo vinha com a sua airosa esposa Paula -,chegou-se a mim ainda de olhos presos nesta bela peça de faiança. Pediu-me a opinião...falei, falei, e disse -, a mim tem de fazer o clique - tal como o olhar encadeia num homem...
Responde-me...a fim fez clique!
Trata-se de uma bela peça e em muito bom estado. Se ele a poder
adquirir, enriquecerá por certo a sua coleção. Revela muito bom gosto.
- Apresentaram-me um amigo da terra que conheço de vista na feira e a quem já vendi uma garrafa com incrustações a estanho -, de graça Fernando.
- Desta feita nada compraram...a fazer eco aos gastos do mês em matéria de velharias que me contou... pelos vistos foi alto!
- Banca dos meus amigos Isabel e Sr Antero onde os cobres e latões brilham!
O polícia deu em multar os carros de colegas que não tiraram o tiquete...30€ e
"bico calado que vinha com os azeites..."
- O Aroucha foi à revisão com a carrinha , dias depois foi o piston ...veio no carro do genro, teve de reduzir a banca.
O Paulinho Filipe chama-me às pressas para dar uma opinião sobre COMPANHIA DAS ÍNDIAS a duas senhoras sobre um bule na banca da Lurdes.Peça bonita, graciosa, relevada, pintada à mão, sem pega por 50€ - uma boa reprodução da porcelana dita Companhia das Índias.
Nisto passado pouco tempo apareceram na minha banca onde lhe mostrei dois pratos dos finais século XVIII para no tardoz apreciarem o frete-, e no futuro conseguirem avaliar a veracidade deste tipo de peças. Perdi tempo, porque podem até ter dinheiro, cultura nenhuma...num prato molestado de cores lindíssimas marcado 25 até fiz pela metade ( pelo prejuízo da loiça, na manhã ao montar a banca parti a pega duma terrina) -, teve o descaramento de me oferecer 7,5€...
- Só me aguentei e não o parti nas fuças dela porque aguento seja o que for sempre firme, jamais parti fosse o que fosse com raiva!
- Farta estou a ficar com mulheres estúpidas, burras e parvas de nariz empinocado!
As
"Paulas" traziam uma banca com tudo a 5€ e livros novos a 1,5 -, de tipografia falida, uma delas a Ana vinha com gripe, no chão belo tapetão persa-, pena na casa onde se mostrou nunca o terem virado , o brilho virou mortiço de um dos lados!
Caminhantes na feira uma senhora esbelta de belo corpo, simpática, formada em história com dois filhos de idades díspares. Dizia para a filha sobre um prato motivo cantão popular-, é igual à nossa travessa.Meti-me na conversa. Gostei francamente da atenção, e da conversa acertada da filha sobre a criatividade dos pintores à época no copianço do motivo sem saberem a sua história, com isso os
"amantes simbolizados pelos pássaros" alguns os pintaram como cruzes, outros bolinhas e,... fácil foi perceber que sabia do que eu falava, apesar da minha linguagem não ser do mesmo calibre académico -, formada em arqueologia com mestrado em Barcelona-, sem papas na língua tive prazer de duplicar o elogio -, de inteligência, que demonstrou sem favor, numa simplicidade estonteante .
- Afinal os jovens não são assim tão ocos como na maioria se apraz disser à boca cheia.
A conversa tornou-se cúmplice, convidei-os para se recolherem no sombreiro do chapéu, as senhoras vinham aflitas com saltos altos, os pés nas correias do peito apertavam...nisto falou-se sobre fotografia, contei que na véspera no Parque da Paz tinha reparado num sobreiro -, numa racha que a cortiça o presenteou, no nascer e crescer, no imediato me pareceu uma vagina -, o miúdo que devia ter entre 8 a 12 anos(?) sentado na minha cadeira pergunta
" mãe o que é uma vagina"...fiquei mal na imagem ao dizer abruptamente para ele, não é nada, esquece...nisto a mãe diz-lhe
" então é o pipi das meninas" a irmã remata
" já estudaste isso na reprodução"...
Despediram-se na pressa da aflição dos pés e das compras no carro que aqueciam na estorreira do calor!
- Diz a senhora mãe de sorriso franco -, pois foram lérias e velharias!
No final da tarde duas senhoras a rondar os 80 anos sentaram-se no banco de jardim junto do meu marido. Uma delas da cidade a carregar nos "R"-, castiça, quis comprar um quadro na minha banca...tinha gasto o parco dinheiro num galo bonito das Caldas na banca das "Paulas"... comecei a arrumar, num repente disse-lhe afinal quanto dinheiro tem? O meu marido contou-lhe as moedas...
- Entreguei-lhe o quadro por "tuta e meia" e era bom de ourivesaria com flor banhada a prata...
Diz-me ela
" na próxima feira dou-lhe o resto". À medida que ia arrumando peguei em algumas peças e dei-lhe...ficou encantada... nisto dei-me conta que a amiga que com ela estava não a tinha agraciado...não fosse por isso também lhe dei.Vira-se e diz-me
" a senhora tem pernas bonitas para andar de calções"...
Respondi-lhe - parece a minha mãe a falar!
- Naquilo diz a Maria Helena de Setúbal a carregar no "R"..."custa-me entender mulheres que não gostam de chouriço de sangue só pensam em arroz de grelos"...
- Diz-lhe o meu marido-,elas não gostam de chouriço de sangue porque é mole...
Remata ela põe-se no frigorífico, logo entesa!
Com sorriso maroto diz .... "São as vozes do mundo!"
Na viagem diz-me o meu marido a outra senhora é algarvia , vivem juntas -, perdeu a casa e tudo o que tinha...precisa de um frigorífico, até o leite se lhe azeda...veio à feira à procura de um ferro de engomar.
- Logo pensei por vício da profissão no tempo perdida -, possivelmente fiadora de algum filho, ficou sem nada, pior sem filho!
A D Laura Amaro fez querer que foi abençoada com uma boa vida, bonita, de olhar doce e expressivo...a destoar o lápis que usou dos
"chineses" na vez de ser preto ou castanho era avermelhado..não me contive e disse-lhe...
"não me leve a mal fazer tal observação...
mas é tão bonita"
- Sei fui enganada...Bonita fui eu, quando vejo a fotografia com 50 anos até choro !