domingo, 26 de abril de 2015

Memórias de abril, chaimite alcunha de um capitão ...

Passou mais um aniversário do 25 de abril...
Ouvi na rádio o pedido de quem tivesse fotografias, coisas do PREC, relatos, histórias, etc para enviar...
Hoje na feira de velharias de Algés no estaminé do "Igrejinha"  bom e pacato alentejano, tinha a fazer de mesa, uma antiga tábua de passar a ferro com um jarro de esmalte a fazer de jarra com cravos vermelhos, orgulhosamente os comprou na sexta feira 20 pés, restando estes, o que me confidenciou, ainda que tinha dado ontem uma entrevista na feira da ladra.
O Sr. António "Igrejinha"
Depois de jantar nem de propósito no documentário "Abandonados" sobre a Ex. Escola Prática da Cavalaria de Santarém, espaço comprado pela  autarquia em 2008 por 16 milhões de euros, mas ainda não liquidada, segundo a mesma porque começou a crise imobiliária...
Salgueiro Maia, um olhar intenso
Desta Escola Prática de Cavalaria saiu o capitão Salgueiro Maia,  numa coluna de blindados na noite de 24 de abril, a caminho de Lisboa para libertar o Pais da ditadura de Salazar.Um homem de estatura baixa, mas grande no perfil de sacrifício e de valores, possivelmente o único capitão que em nada se aproveitou das mais valias e portas que o 25 de abril abriu...
Até consta  que foi desterrado para trabalhos de secretaria nos Açores, regressando mais tarde a Santarém.
Chaimite
Voltando ao ano de  78  um  vizinho com pouco dinheiro se mostrava feliz por ter adquirido um Opel Kadett em 3 ª mão, muito velho, com as embaladeiras esburacadas, corroídas pelos fumos corrosivos das fábricas de químicos do Barreiro, a que pôs a alcunha de "Chaimite"-, por o achar um todo o terreno, feio, e dançarino ao mínimo cheirinho de travão, na sua cabeça ainda presentes os blindados de abril, e  também por se lembrar de ser a alcunha de um seu capitão, precisamente em Santarém, quando ingressou na tropa, nos primeiros dias após o 25 de abri de 74. O capitão homem quarentão, mostrava-se ao comando difícil, de temperamento rigoroso, altivo, parecia só se sentir em júbilo em mandar os  homens que comandava a chafurdar na lama, e a rastejar, seria que lhe dava gozo?...Sorte a do meu vizinho que aqui esteve pouco tempo na recruta, mudando de regimento.Uns meses mais tarde veio a saber por colegas que o "Chaimite", o antigo capitão de Santarém, tinha sido apanhado em flagrante nas cavalariças, em sexo exposto com um cabo...Fica a curiosidade de saber se na função do seu dia a dia que lhe dava prazer o cavalgar, sendo um exímio cavaleiro, vestido de altas botas e chicote na mão, ou de mancebo ajoelhado...O que se conjurava ao tempo é que teria sido uma suposta armadilha daqueles a quem fez mal, menosprezou e ridicularizou...
Sendo que o caso possa parecer normal aos dias d'hoje, em que a homossexualidade é aceite  por lei na nossa sociedade, o que espanta é ao tempo após o 25 de abril, e do ganho da liberdade, depois de tantos anos de obscuridade, um capitão ao ser apanhado em pleno trabalho laboral em pratica proibida  com alguém de hierarquia inferior, foi supostamente destituído de categoria , e ainda preso nas Caldas da Rainha...
Mas se  o caso tivesse acontecido antes do 24 de abril, seria fácil de entender e aceitar (?) mas no momento quente da revolução e dos capitães de Santarém, que libertaram o País, que passou a haver muita gente a ordenar e poucos obedeciam, muita balbúrdia e confusão, não se  entende como não foi  o delito abafado em casa, entre camaradas!
Da maioria dos capitães de abril, nem mais se dignam comparecer nas comemorações da efeméride na Assembleia da Republica no dia 25 de abril, não se entende os porquês, porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa, supostamente estão em grande maioria todos muito bem na vida, em gorda mordomia, com valentes reformas e riquezas de quotas em sociedades de sucesso, uma delas na costa vicentina, nos terrenos que foram do genro do Onassis...Mas o Salgueiro Maia, entretanto falecido, sem riquezas, e pouca glória,  cuja filha teve de imigrar para o Luxemburgo, como outros portugueses, deixa gente com cabeça a pensar, porque os colegas do pai, alegadamente por certo arranjaram compadrios e bons empregos para filhos, enteados, sobrinhos, madrinhas, amigas e mulheres...E nisto se distingue o que foi a revolução dos cravos, de homens íntegros, honestos de mente incorrupta e outros  de cariz oportunista!
"Há vinte anos,  em 1989, quando era primeiro-ministro, Cavaco Silva recusou-se a conceder a Salgueiro Maia uma pensão "por serviços excepcionais e relevantes". A atitude do então chefe do Governo provocou um sonoro coro de protestos, tanto mais que foi conhecida aquando da concessão de uma idêntica pensão a dois inspectores da extinta PIDE/DGS e agora vai finalmente homenagear Salgueiro Maia, considerado o mais lídimo dos capitães de Abril. No âmbito das comemorações do 10 de Junho, que este ano decorrem na cidade de Santarém, o Presidente da República irá depositar uma coroa de flores junto à estátua de Salgueiro Maia.
Contactada pelo Expresso, a viúva de Salgueiro Maia manifestou a sua "satisfação" pela homenagem que o Presidente decidiu prestar ao capitão de artilharia, responsável pela rendição de Marcelo Caetano no quartel do Carmo, na tarde de 25 de Abril de 1974. Natércia Maia não conhece pessoalmente Cavaco Silva. "Só me cruzei com ele uma vez, quando António Guterres tomou posse como primeiro-ministro. Não estava à espera desta homenagem e fiquei contente, pelo que representa de reconhecimento do papel do meu marido e dos valores com que ele sempre se identificou. Em 1988, o próprio Salgueiro Maia requereu a concessão de uma pensão destinada a contemplar os chamados "serviços excepcionais ou relevantes prestados ao país". A atribuição daquela pensão dependia obrigatoriamente de um parecer favorável do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República. Com data de 22 de Junho de 1989, o parecer, votado por unanimidade, sublinhava que "o êxito da Revolução muito ficou a dever ao comportamento valoroso e denodado daquele que foi apodado de Grande Operacional do 25 de Abril". Enviado ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças, o parecer nunca foi homologado.Esta recusa só viria a ser conhecida três anos depois, quando o executivo de Cavaco concedeu a mesma pensão a dois inspectores da extinta PIDE/DGS, António Augusto Bernardo e Óscar Cardoso. Bernardo foi o último chefe da delegação da DGS em Cabo Verde, enquanto Cardoso foi um dos pides que se entrincheiraram na sede da rua António Maria Cardoso e que fizeram fogo sobre uma pequena multidão, tendo causado os únicos quatro mortos da revolução. Esta estranha dualidade de critérios do Governo provocou uma enorme tempestade política, que culminou com um polémico processo judicial instaurado pelo Supremo Tribunal Militar contra Francisco Sousa Tavares, devido à virulência das críticas que fizera na sua coluna no jornal "Público".Por outro lado, o então Presidente da República, Mário Soares, também se demarcou ostensivamente. Dois meses depois dos dois ex-pides serem agraciados, Soares escolheu o Dia das Forças Armadas para condecorar, já a título póstumo, Salgueiro Maia com a Ordem Militar de Torre e Espada. A escolha não foi por acaso: era a única condecoração portuguesa que dava direito a uma pensão...Texto publicado no Expresso de 5 de Junho de 2009 Ler mais: http://expresso.sapo.pt/cavaco-tenta-corrigir-erro-com-20-anos=f519785#ixzz3Yu3BSyxJ

sábado, 25 de abril de 2015

Aldeias de xisto na serra da Lousã, Ribeira Velha, Pé de Janeiro e Alge

Viagens  relâmpago vividas nesta última Páscoa com paragens pela serra da Lousã no costado de Castanheira de Pera onde descobrimos aldeias outrora em xisto com ardósia. Na Ribeira Velha só vislumbrei ruínas apenas a bela capela e o miradouro...
Aldeias encravados nas serras rodeadas de pinheiros, eucaliptos com salpico de carvalho alvarinho e castanheiros com aldeias a desvendar a magia das suas  extasiantes paisagens em tonalidades verdes todas as estações  do ano com os seus particulares e óbvios pontos fortes do azevinho , cumes da serra com neve no inverno, do forte caudal das ribeiras que se apresentam de maior espetacularidade com as suas magníficas quedas de água por aqui chamadas  fragas com pequenas cascatas aos coloridos multifacetados do outono dado pelo encanto das folhagens dos castanheiros em tons pastel e carmesim e na primavera o clima e temperatura amena com as flores campestres do mato  e giestas  na cor carregada de amarelo a marcar a paisagem em puro suspense, com bons cheiros sem esquecer os hábitos faunísticos para no verão os banhos retemperadores nas várias praias fluviais desde o Coentral, Poço da Corga, Pera, Castanheira de Pera,  Pé de Janeiro/Alge, Campelo, Mosteiró, Fragas de S. Simão, Aldeia Ana de Avis e Foz d'Alge. 
Fotos registadas dentro do carro
Casebre típico em xisto ao lado de casa nova...
 Capela 
 Largo defronte da capela com vista sobre o vale com o plátano muito bem podado, ao fundo corre a ribeira de mansinho...
Muito interessante constatar que os costados das serras se apresentam vestidos de "arroz" em amarelo, rosa, branco e lilás nesta época do ano...paisagem idílica, única!
Já lá vão anos que pela mão da minha irmã descobri nesta mesma altura da Páscoa a beleza imensurável dos costados cobertos destes pequenos arbustos que desconheço o nome e chamo"arroz", em deslumbre extasiante pelos contrastes de cores.
A aldeia de Pé de Janeiro pertença do concelho de Figueiró dos Vinhos onde uma colega tinha uma casa logo na entrada, em xisto, para venda.Ao entrar na aldeia seguindo estrada fora entra-se na aldeia de Alge que se apresenta o casario em aglomerado com ruelas estreitas, no vale corre a ribeira com o nome desta aldeia que ao longo do seu curso  alimenta praias fluviais. Voltei mais tarde com o meu marido para banhos, aqui também se abastecem  helicópteros para combate a incêndios, sendo a malha florestal por aqui muito densa.Foi a 3ª vez que aqui venho em visita.Não parámos.Reconheci o estacionamento do carro a céu aberto com portão em ferro forjado, o banco de jardim verde na beira da estrada, as casas de xisto na quelha altaneira, a placa de Alge em azulejo, a ribeira de poucas águas "nem viste-la"...corre funda entre o xisto negro, por isso não se distingue ao longe, sendo que a aldeia de Alge me pareceu  na mesma com gentes e crianças para gozo da Páscoa. 
Senti algum desmazelo nas obras de requalificação de apoio à Praia fluvial de Pé de Janeiro/Alge, onde foi feito algum investimento e se mostra neste agora quase em abandono total...
Descobri a página https://josequintino66.wordpress.com/2009/07/15/falar-sobre-alge-pe-de-janeiro/
Gostei de ler estas memórias por isso as transcrevo «O que deixo atrás exposto são conhecimentos do povoado onde nasci e de alguns que rodeiam Alge - Lisboa,3 de Abril de 2008 - Pelo que a vida me ensinou e por alguns escritos que verifiquei e li, cheguei a algumas conclusões sobre a origem do povoado em que nasci: Alge, uma aldeia situada na Freguesia de Campelo, no Concelho de Figueiró dos Vinhos. Tenho para mim que este povoado é anterior à nacionalidade Portuguesa, tendo em conta que se sabe que a ribeira, que abraça com os seus dois braços o povoado e se reúne numa só ribeira ao fundo do lugar, tinha o nome de Ribeira Fria que, traduzida para árabe, seria Ribeira Alge. Este povoado é, por conseguinte, muito antigo e, com o passar dos séculos, fez parte do Condado de Miranda do Corvo. Desconheço o destino dado a alguns documentos historicamente muito valiosos que existiam em casa do meu avô Aires Henriques de Campos. Lembro-me de, entre outros documentos, ter lido uma escritura que descrevia que o gado de Alge podia ir em pastoreio até beber água no Rio Eça, rio que atravessa a Vila de Miranda do Corvo. Alge foi nesse tempo, há alguns séculos, sede de junta de Paróquia, como então se denominava. Nessa altura, pertencia a Miranda do Corvo. Com as sucessivas mudanças administrativas, passou a pertencer a Pedrogão Grande e, posteriormente, a Figueiró dos Vinhos. Campelo era nessa época o lugar de Pontão Cimeiro e só mais tarde adquiriu o nome de Campelo por ali ter residido Frei Gaspar Campelo, altura em que passou a ser a sede da Junta de Freguesia. Nesse tempo, o cemitério era onde actualmente se situa a igreja, a qual foi mandada edificar pela família Amaral do Fontão Cimeiro, que também criou as escolas primárias. Na minha meninice, ainda não existia escola primária em Alge e as crianças dos povoados em redor que podiam ir à escola confluíam para as escolas de Campelo, tendo de percorrer todos os dias vários quilómetros a pé por caminhos de terra batida ou por atalhos pelo meio dos pinhais, fizesse chuva ou sol. Em Campelo, existia a Capelinha do Senhor Jesus. Foi pena que os habitantes de Campelo deixassem que fosse destruída porque era uma obra de arte do povoado. O apogeu do povoado de Alge terá sido por volta de 1650. Henrique de Sousa Tavares foi o terceiro Conde de Miranda do Corvo e o primeiro Marquês de Arronches, bem como estribeiro-mor do Príncipe D. Teodósio (1626-1706), filho do Rei D. João IV. O Conde estava em Madrid quando rebentou a Revolução de 1640 em Lisboa. Embora fosse muito novo, quis vir desde logo para Portugal, mas, vigiado de perto pelos Espanhóis, só em 1643 conseguiu sair de Madrid com o pretexto de se vir bater pelo Rei de Espanha. O navio em que embarcou para Portugal foi atacado pelos corsários e naufragou por alturas de Vila do Conde. Apenas se salvaram três pessoas, sendo o Conde um dos sobreviventes. Chegado a Lisboa, alistou-se logo no exército nacional e fez toda a campanha do Alentejo. Foi depois mestre de campo do terço da armada e embaixador extraordinário na corte de Madrid e de Inglaterra. Aquando das suas estadias em Miranda do Corvo, passava muito tempo no solar que possuía em Alge, que era no seu tempo, uma bela residência. Nas épocas de caça e de pesca, convidava pessoas da Corte, que se dirigiam a Alge em grandes cavalgadas. Na ribeira, devido à sua água muito limpa e fria, pescavam a truta, o robalo e a enguia mais saborosas do país. Não foi por acaso que as autoridades de Figueiró dos Vinhos, por volta de 1940, fizeram na nossa ribeira uma zona de viveiro e para aí convidavam ministros -alguns dos quais eu conheci- para virem cá pescar. Em tempos mais remotos, Alge teve outro modo de vida, sendo a alimentação principal constituída à base de castanha, caça e pesca. Sabe-se que o milho e a batata apenas foram conhecidos como alimentos há cerca de 400 anos. As propriedades que produziam os alimentos que eu comi em criança tinham sido antes vastos soutos de castanheiros. Com o correr dos séculos, Alge também foi evoluindo e, ainda antes de eu ter nascido (1919), já era conhecida pelo seu associativismo: as ovelhas e as cabras eram pastoreadas em correlação e no fim do dia eram recolhidas dentro do povoado. Todos os casais tinham um curral para recolher o gado do povoado, num local que ainda actualmente é conhecido por Currais da Lomba. O pequeno povoado de Alge também teve o seu papel no decurso da Guerra Peninsular (1808-1814), mais concretamente por alturas da terceira invasão francesa a Portugal, comandada pelo Marechal André Masséna (1758-1817).André Masséna era um militar francês de origem burguesa, que fez carreira na Marinha Mercante antes de aderir à Guarda Nacional. Durante as guerras revolucionárias de França ascendeu rapidamente na hierarquia militar devido aos seus feitos durante a campanha de Napoleão Bonaparte na Itália. Já durante o império foi feito príncipe d’Essling por Napoleão, que cognominava de "filho querido das vitórias". Masséna tinha vencido em Rivoli (1796), em Zurique (1799) e no cerco de Génova (1800), mas foi nas batalhas de Essling (1809) e em Wagram (1809) que ele se celebrizou. Daí que Napoleão o tenha escolhido para a 3ª invasão a Portugal, em 1810, chefiando três corpos de tropas, comandadas por Junot, Ney e Reynier, mas no nosso país não foi muito feliz. Com efeito, em 1810 as tropas portuguesas e inglesas coligadas sob o comando do Duque de Wellington derrotaram os cinco ataques dos 65 000 homens comandados por Masséna na Batalha do Buçaco (Bussaco na grafia do tempo), tendo perdido, entre mortos e feridos cerca de 4 500 homens. Ao ver as suas tropas desorganizadas, Masséna viu-se na contingência de ter de fugir. Como oficial experiente, resolveu de imediato abandonar a luta e refugiar-se num lugar ermo no centro do país a fim de poder dar algum descanso ás tropas esgotadas depois do esforço despendido, retemperar as forças, estudar novas directrizes e reorganizar-se para uma nova oportunidade. Quando as tropas invasoras surgiram no cabeço de Miranda, em Alge, num Domingo de manhã, estava a rezar-se a missa na nossa capela. O povo fugiu precipitadamente para as matas circundantes a fim de evitar o perigo e, só a coberto da noite, alguns vinham ao povoado para tentar levar alguns alimentos de que careciam para si e para as suas famílias. Nesse tempo, o povoado era mais pequeno e não tinha as casas de alguma grandeza como as que existem actualmente. O cimo do povoado era uma travessa serventia, que ficava um pouco acima da casa onde reside o Senhor Jales e que ainda hoje se chama o Castelo. As tropas francesas acantonaram-se durante algum tempo em Alge e escolheram para quartel-general uma pequena casa construída à base de pedra ribeirinha.O último casal que residiu lá foi o Senhor Manuel da Varanda. Esta casa foi destruída e depois reconstruída e é habitada actualmente pela minha sobrinha Rosalina e pelo seu marido Abreu. Não se conhece o motivo por que respeitaram não tomar para quartel-general o solar da Condessa de Miranda do Corvo, mas tenho para mim que pretenderam não hostilizar mais o povo que habitava o lugar onde puderam descansar e reorganizar-se para a próxima e última batalha. Nunca se soube quanto tempo as tropas invasoras estiveram em Alge e não se conhece a data em que deixaram o povoado, mas podem ter ali permanecido muitos meses ou quase um ano. Também não se sabe ao certo o trajecto que seguiram para enfrentar as tropas portuguesas e inglesas coligadas. As tropas de Masséna queriam conquistar Lisboa, mas foram travadas e destroçadas nas linhas de Torres Vedras, tendo deixado Portugal em 1811. Por alturas de 1850, Alge tinha, entre outras casas mais pequenas, duas casas de agricultura já com alguma dimensão, que pertenciam ás famílias dos Campos e dos Lourenços. Em certas épocas, estas duas famílias casavam muito entre si. Prova disso foi o meu avô Aires Henriques de Campos que casou com a minha avó Anita dos Santos Lourenço. Por sua vez, a mãe desta, minha bisavó Maria Joaquina dos Santos Lourenço casou, em segundas núpcias, com um irmão do meu avô, António Henriques de Campos, mas existiram mais casamentos entre as suas famílias, tanto em Alge como na Ponte Fundeira, bem como noutros povoados. O primeiro Campos que veio residir para Alge foi o meu trisavô João Henriques de Campos, natural de Aveiro. Na disputa pelo poder entre D. Pedro e D. Miguel, ele foi apoiante de D. Miguel e, como este perdeu, começou a ser perseguido politicamente. A sua madrinha, a Condessa de Miranda do Corvo, como tinha residência em Alge; fez com que ele viesse residir para cá. João Henriques de Campos era um homem de muita categoria e de muito bom trato, detentor de alguma cultura e inteligência. Era muito respeitador e sabia, quando necessário, fazer-se respeitar. Era também um homem com algumas posses financeiras e comprou herdades em Alge, Jestosa, Camelo, Figueiró dos Vinhos, Miranda do Corvo, Tábuas e Espinho. Chegou a ter 16 caseiros, que vinham todos os meses a Alge um dia, sendo uma das missões informa-lo acerca das herdades que se vendiam nos povoados onde estavam a residir. Deve-se ao espírito activo e empreendedor deste meu trisavô a construção do lagar de azeite e da azenha de moer o milho, o centeio e o trigo, que trabalhavam com rodízio hidraulicamente já que a ribeira tinha uma forte corrente de água. Actualmente já não trabalham, mas ainda existem. Na sua construção, o meu trisavô teve de trazer bois, ribeira acima ribeira abaixo, para acarretar pedra. Como estes animais não podem andar mais do que um certo tempo com os cascos dentro de água, teve de mandar abater duas juntas de bois antes que os mesmos adoecessem e a carne ficasse imprópria para consumo.Quando mandou executar essas obras de arte, também no local onde hoje existe a piscina, mandou que se fizesse um açude na vertical para que, com a levada, a água fosse conduzida ao lagar e à azenha. Este açude teve de ser reconstruído por duas vezes porque, no inverno, não resistia ás enxurradas e ficava destruído. Só na terceira vez é que se fez um novo estudo e fizeram-no em calçada. Foi uma obra de arte que resistiu durante muitos anos. Foi pena que, para se construir a piscina, tivessem que destruir este açude. A água represada também era utilizada para a rega das terras agrícolas que possuía depois do lagar e da azenha. Não sei quantos filhos teve, mas, onde tinha herdades, ali foi residir um filho e, ainda actualmente, existem nesses povoados descendentes do senhor meu trisavô. Também possuo documentos que provam que havia pessoas que trabalhavam para ele que quando iam receber a soldada, lhe pediam que ele a trocasse por algumas terras e casas, solução que ele aceitava muitas vezes. Quando existiam queixas contra ele e os advogados sabiam a quem estas se dirigiam, recusavam-se a aceitar os casos porque não queriam escrever uma linha contra uma pessoa tão justa e que tanto respeitavam. No meu tempo de criança, e mesmo depois de mais crescido, Alge chegou a ser quase independente, auto-suficiente em relação ao exterior. Por volta de 1929, foi publicado um decreto lei estabelecendo que os residentes na freguesia de Campelo podiam comprar alguns baldios a mato.Este decreto-lei ficou a dever-se ao Sr. Dr. Martinho Simões, que ao tempo Secretário Geral do antigo Ministério do Interior e que nasceu no lugar de Três-Postos.Os meus pais compraram 45000 metros quadrados na Lomba do Singral e 35000 metros quadrados ao cimo do barroco do Vale do Ninho.Como o mato era roçado fazia-se "a cama" para os animais :cabras, ovelhas, porcos, bois, mulas e outros, os quais, com os seus excrementos, proporcionavam bom estrume para fertilizar as terras de agricultura. Minha mãe,todas as noites varria a lareira com uma pá e vassoura para apanhar a cinza,que deitava numa tulha. No tempo das sementeiras, comprava algumas arrobas de cal,que misturavam com a cinza. Estes dois produtos misturados eram espalhados por cima da terra e proporcionavam assim melhores colheitas.Os alimentos eram muito mais saudáveis e puros do que aqueles que actualmente ingerimos. Nesse tempo, vendiam-se os comestíveis excedentes e, com o dinheiro recebido,comprava-se aquilo que a terra não produzia e de que as pessoas necessitavam, tais como roupa, arroz, massa, bacalhau e outros géneros. Nessa época, para se ter uma vida razoável, tinha de se ter um bom rebanho e de se trabalhar muito. As pessoas levantavam-se muito cedo e trabalhavam de sol a sol. Noutros tempos, Alge tinha 7 azenhas, que trabalhavam com rodízio hidraulicamente.Havia muito milho e centeio.Também havia muitos colmeais. As abelhas pastavam nas flores do mato, principalmente na urze ou mosgurice, também conhecida por mongariça. Este pasto era combinado com as substâncias retiradas da água muito pura da nossa ribeira, substâncias que só elas conhecem para produzir um mel dos mais puros do país. Quase todas as pessoas tinham colmeias, mas havia algumas que tinham para cima de 300 ou 400 colmeias e faziam com isso negócio. Por volta de 1930, Alge tinha para cima de 450 habitantes e alunos suficientes para manter uma escola primária.O primeiro professor a vir para cá foi o Sr.Leite de Lencastre. Foi com ele que eu aprendi o que sei e foi o meu pai que fez o quadro, as carteiras e os bancos para a escola. Perto de Alge existe o casal do Pé-de-Ingote. Penso que lhe atribuíram este nome por ali ter residido um casal com esse nome. Com o passar do tempo, foi havendo mais pessoas. Eu conheci a residir ali cinco casais de família num total de dezassete pessoas. Actualmente, creio que está desabitado. Para o casal de Singral Cimeiro, do mesmo modo, creio que foi para lá viver um casal,que teve filhos e casaram.Assim, o povoado foi crescendo.Conheci o Singral Cimeiro com cerca de 15 habitações e cinquenta pessoas. Creio que ainda habitam lá dois casais. No casal de Singral Fundeiro, conheci a viver lá cinco pessoas, mas está desabitado há muitos anos. No casal das Cigarrinhas, conheci lá um habitante, até se dizia que era o lugar mais rico da freguesia, só um morador é que comprava milho. No casal das Cearas, conheci cerca de oito ou nove moradores. Era um povoado com vida difícil. Houve no entanto, alguns filhos de lá que imigraram para Lisboa.Actualmente também está desabitado. Para terminar estas memórias,vou contar uma história verídica. A minha bisavó Maria Joaquina dos Santos Lourenço era uma mulher de armas, muito inteligente e corajosa.Teve um neto que não descansou enquanto não a convenceu a ir residir em sua casa. Assim que isso aconteceu, conseguiu assenhorar-se de tudo o que pôde e depois indicou-lhe a porta da rua. E, não satisfeito com isso, fez acusações contra ela na Câmara de Figueiró dos Vinhos dizendo que ela tinha coisa em casa de que não tinha dado manifesto. Algum tempo depois, apareceu-lhe à porta com dois guardas-republicanos e dois funcionários do Tribunal para lhe fazerem uma busca à casa. Ela com toda a calma, pegou num chapéu-de-chuva, abriu as portas para trás e disse aos guardas indicando o neto: "Entrem, mas mandem esse à frente, pois é o primeiro a quem quero tirar os olhos! "Chamando uma pessoa que trabalhava para ela disse-lhe: "José, pega num machado e arromba as tampas dos três pipos que estão na adega! "Pouco depois, o vinho jorrava com ímpeto por baixo das portas. Havia pessoas com alguidares e cântaros a apanhar o vinho que podiam para o levar para casa. Esta atitude custou-lhe ser detida e responder no tribunal de Figueiró dos Vinhos. O mais interessante é que durante esses dias nunca lhe saiu dos lábios e do rosto um sorriso.Durante o julgamento, o juiz condenou-a a nove dias de cadeia, mas autorizou-a a estar num quarto e sempre acompanhada por amigos e familiares e a comida era-lhe levada pelas pessoas de família. »

Entendi melhor a invenção da chanfana no tempo da última invasão francesa alojada nestes lugares ( em detrimento do palacete da Condessa do Espinhal na Lousã)  o povo para se suprir matou as cabras, guardando a carne em alguidares "acarbada" em vinho e, assim se conservar.
Em rota de saída de Pé de Janeiro, descobrimos  a Ferraria de S. João enquadrada nas aldeias de xisto, onde passa a ribeira, num pulinho já estávamos no Espinhal.
Ferraria de S. João


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Feira de velharias no Montijo com tempo para apreciar as vistas

Na toponímia antiga do Montijo consta o nome de Aldeia Galega, a registar esse fato existe na frontaria do Câmara uma placa de pedra com letras em preto que um dia fotografei.

Julga-se que o topónimo Montijo, advém da caracteristica do terreno de pequenos montes, de baixa altitude, afilados ao longo do Tejo, a ditar Montijo- um monte pequeno. Topónimo que veio de Espanha, talvez com os judeus na sua expulsão de 1429.

A batalha de Montijo, travada nas proximidades da localidade com aquele nome, na província de Badajoz. E não no Montijo na margem sul.

Resultou de uma incursão levada a cabo pelo exército do Alentejo, comandado pelo governador das armas Matias de Albuquerque. Não se tratou de uma simples entrada para pilhagem, embora esse fosse também um móbil importante. O futuro Conde de Alegrete levou consigo praticamente todo o exército da província, oito terços pagos com cerca de 6.000 infantes e a cavalaria com 1.100 efectivos, o trem de artilharia com dois meios-canhões de 24 libras, quatro peças de campanha de 7 libras e uma extensa cauda de 205 carros de bois, carretas e 1.000 machos e mulas. Para trás, a guarnecer as praças, ficaram somente duas companhias de cavalaria e as unidades de infantaria da ordenança provincial e as que tinham vindo de Lisboa e de Coimbra. Saiu esta força de Elvas a 16 de Maio. Dez dias depois, após várias escaramuças e depredações, envolvia-se em confronto com o exército da Extremadura, comandado pelo Barão de Mollingen, com 7.000 infantes e 2.500 cavalos, entre os quais várias companhias de caballos corazas, os couraceiros que não existiam ainda entre a cavalaria portuguesa. O choque deu-se sob um intenso temporal, com muito vento e chuva forte, o que impediu a utilização efectiva das armas de fogo (...) há diversas relações sobre a batalha , recontadas ao longo dos séculos seguintes. A historiografia portuguesa tem tradicionalmente feito eco da propaganda impressa da época, evocando a vitória obtida por Matias de Albuquerque, que num arremedo de bravura reagrupa a infantaria e vinga a derrocada inicial do exército português, precipitada pela fuga precoce da sua cavalaria.

Para os portugueses, Montijo foi uma vitória do exército de D. João IV, a primeira obtida numa batalha campal desde o início do conflito. Todavia, para a historiografia espanhola, a batalha de Montijo é apresentada como uma vitória do exército de Filipe IV, que destroçou o exército inimigo, não obstante o que sucedeu posteriormente. Fixa-se na memória e no imaginário, deste modo, a guerra de palavras a papel e tinta, depois da guerra dos actos, a ferro, fogo e sangue…

A ciência histórica é hoje mais rigorosa nos seus métodos de análise e exigente na interpretação. Revisitar a batalha de Montijo significa afastar os mitos que a encobrem, procurando em fontes esquecidas ou descuradas a resposta para diversas incongruências das narrativas panegíricas. Esta arqueologia da realidade possível tem revelado um cenário diverso e muito interessante em várias perspectivas de análise – mas ainda é cedo para a divulgação, neste caso, pois o estudo ainda está em curso.Para além do combate propagandístico que ambos os lados levaram a cabo e que ainda marca o nosso imaginário, houve um outro, o ponto de partida bem concreto e terrível, que há mais de três séculos e meio teve lugar nos campos de Montijo. Em memória dos que ali se bateram relembramos o dia 26 de Maio.

"Matias de Albuquerque sabia que as tropas filipinas eram comandadas pelo Marquês de Torrecusa, e estava desejoso de afirmar a sua própria presença. Ainda que com grandes dificuldades, juntou seis mil homens de infantaria, mil e cem de cavalaria e sete canhões, a fim de provocar uma batalha «a sério», e atravessando a fronteira, foi atacar Montijo, apoderando-se da praça."

Painel de azulejos da comemoração da vitória dos portugueses contra os espanhóis na Batalha da Restauração no Montijo, em Badajoz,  em 26.05.1644

A feira da ladra, no  Montijo margem sul
Tem se estendido ao longo da calçada defronte da igreja para sul. Abanquei defronte do café , de costas para os amores perfeitos do relvado do jardim, sob um calor assustador.


Na minha frente um colega a vender bijutaria , divertido, de colares ao pescoço e brincos nas orelhas...
Dei conta do rodado de uma charrete na calçada, não sei se é de aluguer para passeios
"Bela igreja matriz de fachada maneirista de linhas sóbrias, é flanqueada por duas torres sineiras, rematadas por coruchéus gomados. Os largos cunhais das torres dividem a frontaria em três corpos. 
No central rasga-se o portal enquadrado por pilastras com caneluras, sustentando frontão triangular rematado por pináculos angulares. A encimar o portal, rasga-se janela de vão retangular gradeado, datada de 1604. Na fachada sul abre-se um outro, igualmente de recorte maneirista. "

"À entrada do templo, no átrio, pode ser admirado um painel de azulejos representando N. Sra. do Rosário, de 1645. A partir do século XVII, o interior do templo é dividido em três naves (anteriormente de nave única). Estas naves são separadas por arcos de volta perfeita, sustentados por colunas toscanas. Nas naves podemos admirar variadíssimos ornamentos de azulejaria: setecentistas os painéis que representam o Batismo de Cristo e toda uma série de cenas relativas ao Seu nascimento, Santa Ana e N. Sra, a Virgem, o Menino e S. João Batista, a Sagrada Família e a Descida do Espírito Santo. O arco cruzeiro contém, na pedra de fecho, a Pomba do Espírito Santo. Na capela-mor, também do século XVIII, são os painéis de azulejos que narram a Descida do Maná e o Castigo dos Blasfemos. O retábulo-mor, em talha dourada do século XVII, entre dois pares de colunas espiraladas, mostra-se uma pintura quinhentista que retrata a Descida do Espírito Santo, atribuída ao pintor maneirista Diogo Teixeira. Nos absidíolos e capelas laterais espalham-se interessantes retábulos em talha dourada barroca do século XVII, ornados de boas esculturas, que enriquecem, assim, todo o ambiente sagrado. Valoriza ainda este espaço o magnífico púlpito do século XVII, conjugando harmoniosamente diversos materiais: cálice e pé esculpidos, escada em mármore e balaustrada em bronze. 
Na sacristia, mais uma vez, os azulejos encontram-se em destaque, pelas suas albarradas barrocas em azul e branco. Igualmente interessantes são o lavabo de mármore rosado e o arcaz de madeira exótica."

Quando entrei  na igreja rezava-se o terço com o padre, em louvor de alguma desgraça, mas são tantas desgraças a cada dia que já não me lembro...já sei das vitimas do avião nos Alpes.

Casario forrado a azulejo que a autarquia deveria intervir na sua preservação 

Platabanda de balaustres em losango de faiança rematada por vasos, quiçá produção do norte, Devezas ou Santo António do Vale da Piedade.


 
Praça onde começou o evento das velharias e do artesanato que neste agora se estende para norte
Andava um peixe negro mutilado ou com mioma numa barbatana no lago...
Uma colega com um belo chapéu de polícia?

 O povo tem pouco dinheiro. Diz-se que há colegas que arranjam roupas nos caixotes e nas casas de 2ª mão que vendem, algumas boas a 1€, numa banca vi pelo mesmo preço 3 peças...
Uma rapariga apreciou um casaco a que pedia 5€, com desplante diz-me" o casaco que trago vestido comprei-o aqui nesta feira por 1€ , prontamente respondo-lhe- Acredito, mas comprou um casaco dos chineses, feito de plástico...Retorqui " mas é muito quentinho" - Pois é, mas se lhe cai uma fagulha vai-se...Não queira comparar alhos com bugalhos, o casaco que apreçou tem marca...
O certame deveria ser reorganizado, com espaços marcados e feirantes certificados, para não dar azo a feirantes ocasionais que só estragam o negócio a quem desconta e paga impostos. 
Apesar da recessão, do desemprego, este tipo de feira não deveria ser um saco grande onde se acolhe tudo e todos, tem de haver ética, estando o Montijo estrategicamente em local turístico, deveria apostar no certame, publicitando o evento, e definir se é o dia todo ou só de manhã, na verdade da parte de tarde é uma parouvela!
Volto ou não volto, eis a questão!
Fontes:
Wikipédia 

Seguidores

Arquivo do blog