A escola primária em Ansião começou por ter inicio numa casa alugada que já a conheci como morada do Dr Alfredo Silveira e da sua esposa D. Fernanda Figueiredo, cujo recreio era na frente da casa, que no meu tempo se assemelhava a uma eira debruada a rebordo pequeno.A requalificação da Praça do Município ainda lhe deixou um pequeno espaço para quiçá ser aproveitado com uma estátua!
Diariamente no percurso a pé de casa no Bairro, para aqui regalar o olhar com o rebaixamento do muro do jardim do Dr Alfredo Silveira, nada mais do que um varandim bucólico com trepadeiras...Não sei de quem foi esta casa antes. Seria interessante saber quem a mandou construir.
As escolas primárias do meu tempo em Ansião tinham sido construídas por ocasião do Estado Novo.
O carro preto dos anos 40 do Prof. Albino Simões no estacionamento privado debaixo da árvore em cima da calçada, certo e sabido de uma enorme alegria quando não se enxergava estacionado, os mais sortudos os rapazes, não tinham aulas...Debalde era raro faltar!
O carro preto dos anos 40 do Prof. Albino Simões no estacionamento privado debaixo da árvore em cima da calçada, certo e sabido de uma enorme alegria quando não se enxergava estacionado, os mais sortudos os rapazes, não tinham aulas...Debalde era raro faltar!
Entrei ao portão de ferro pela mão da minha mãe, não me lembro se ia alegre no meu primeiro dia de escola, talvez não me sentisse muito à vontade por ser tímida, para o envergonhadito. Senti a mesma aspereza do carreiro em terra batida e do recreio, a lembrar o patim da casa dos meus pais...
No meu tempo os recreios eram separados.No tardoz havia uma retrete nauseabunda e um pequeno telheiro com duas portas, entrei numa delas, ao rebate abria-se um átrio para a sala privada da Srª Contínua D.Fernanda, e ao fundo a sala de aulas com três grandes janelas viradas a nascente para a rua principal.
No meu tempo os recreios eram separados.No tardoz havia uma retrete nauseabunda e um pequeno telheiro com duas portas, entrei numa delas, ao rebate abria-se um átrio para a sala privada da Srª Contínua D.Fernanda, e ao fundo a sala de aulas com três grandes janelas viradas a nascente para a rua principal.
Portão de entrada para as meninas |
Sinto uma nostalgia em reconhecer que nunca fui compreendida, acompanhada devidamente, nunca nenhuma professora soube despertar em mim a vontade e o gosto de aprender, esse dom maior que é o prazer de saber, percalço maior que resultou de forma negativa na minha caminhada académica.
Lamentavelmente frequentei as quatro salas durante 6 anos em registo de trato conservador, sem qualquer carinho, nem atenção das Professoras; D Laura Dias, D Armanda Oliveira e Maria do Nascimento por ao tempo revelarem temperamentos autoritários em discursos de distância, frias na sua relação com os alunos, aplicavam castigos e enxovalhos, então não me lembro da D Laura o que fez ao Nuno, o filho do Dr juiz, que se urinou calções abaixo quando foi ao quadro...Inevitavelmente comigo o seu estilo austero me deixava nervosa sem me deixar ir à retrete, apenas era permitido na hora do recreio, e quando já não aguentava a pressão da bexiga fazia aos bocadinhos e limpava com o trapo da ardósia...
Também em nada ajudou a rotina de fazer os trabalhos de casa, a minha mãe os fazia por mim e tenha sido um grande erro, na vez de me ensinar a estudar e a perceber a lógica das coisas me desajudou na minha escolaridade e continuou no Externato sobretudo nas disciplinas de francês e inglês, por isso hoje nada sei. Ainda se diz que é uma mais-valia os pais ter estudos para ajudar os filhos, será que concordo? O meu pai desgostoso por eu não atinar com as contas de dividir deu-me uma vez uma brutal bofetada que fui parar debaixo da mesa de esmalte do fogão eléctrico...onde fiquei entalada!
Bem sei que ambos queriam o melhor para mim, mas não souberam ajudar! Até o meu avô paterno o Zé do Bairro, quando nas manhãs a caminho da escola parava na padaria para o cumprimentar aproveitava o ensejo de me questionar no que tinha estudado nos livros do meu pai enquanto a massa levedava para cozer o pão...para sem pestanejar entre dentes o sentia resmoer - o teu pai era mais inteligente...mas como poderia responder a geografia e história se ainda não abonava as matérias?
Óbvio que nenhum o fez por mal, a minha mãe o foi na forma de colmatar os tempos mortos no turno da meia noite no Correio velho, em que eu a acompanhava e me fazia os trabalhos, o meu pai porque sonhava que as filhas haviam de ser doutoras, já que ele por ter engravidado a minha mãe de mim se deixou pela matricula de engenharia, e o meu pobre avô pelo orgulho que sentiu com o seu filho, o meu pai, nas suas notas em detrimento do filho mais novo que não passou do 2º ano...
O que os genes nos transmitiram? O prazer da escrita na mesma feição sentimental e descritiva e o carinho pela história do meu avô, já a minha irmã puxou genes poéticos ao meu pai, no seu tempo de menina e moça tinha um Diário ao jus de Secret Book em que usou um livro de razão então uso nas mercearias para apontar as dívidas da clientela onde escrevia os seus versos, sorte que lhe o guardei…
E ainda tinha uma caixa de madeira em rectângulo esculpida, julgo tinha sido da prima Júlia que a teria herdado do avô, nosso bisavô Francisco Rodrigues Valente, onde guardava segredos, durou anos até se estraga...Gosta de caixas, gosta!
Lamentavelmente frequentei as quatro salas durante 6 anos em registo de trato conservador, sem qualquer carinho, nem atenção das Professoras; D Laura Dias, D Armanda Oliveira e Maria do Nascimento por ao tempo revelarem temperamentos autoritários em discursos de distância, frias na sua relação com os alunos, aplicavam castigos e enxovalhos, então não me lembro da D Laura o que fez ao Nuno, o filho do Dr juiz, que se urinou calções abaixo quando foi ao quadro...Inevitavelmente comigo o seu estilo austero me deixava nervosa sem me deixar ir à retrete, apenas era permitido na hora do recreio, e quando já não aguentava a pressão da bexiga fazia aos bocadinhos e limpava com o trapo da ardósia...
Também em nada ajudou a rotina de fazer os trabalhos de casa, a minha mãe os fazia por mim e tenha sido um grande erro, na vez de me ensinar a estudar e a perceber a lógica das coisas me desajudou na minha escolaridade e continuou no Externato sobretudo nas disciplinas de francês e inglês, por isso hoje nada sei. Ainda se diz que é uma mais-valia os pais ter estudos para ajudar os filhos, será que concordo? O meu pai desgostoso por eu não atinar com as contas de dividir deu-me uma vez uma brutal bofetada que fui parar debaixo da mesa de esmalte do fogão eléctrico...onde fiquei entalada!
Bem sei que ambos queriam o melhor para mim, mas não souberam ajudar! Até o meu avô paterno o Zé do Bairro, quando nas manhãs a caminho da escola parava na padaria para o cumprimentar aproveitava o ensejo de me questionar no que tinha estudado nos livros do meu pai enquanto a massa levedava para cozer o pão...para sem pestanejar entre dentes o sentia resmoer - o teu pai era mais inteligente...mas como poderia responder a geografia e história se ainda não abonava as matérias?
Óbvio que nenhum o fez por mal, a minha mãe o foi na forma de colmatar os tempos mortos no turno da meia noite no Correio velho, em que eu a acompanhava e me fazia os trabalhos, o meu pai porque sonhava que as filhas haviam de ser doutoras, já que ele por ter engravidado a minha mãe de mim se deixou pela matricula de engenharia, e o meu pobre avô pelo orgulho que sentiu com o seu filho, o meu pai, nas suas notas em detrimento do filho mais novo que não passou do 2º ano...
O que os genes nos transmitiram? O prazer da escrita na mesma feição sentimental e descritiva e o carinho pela história do meu avô, já a minha irmã puxou genes poéticos ao meu pai, no seu tempo de menina e moça tinha um Diário ao jus de Secret Book em que usou um livro de razão então uso nas mercearias para apontar as dívidas da clientela onde escrevia os seus versos, sorte que lhe o guardei…
E ainda tinha uma caixa de madeira em rectângulo esculpida, julgo tinha sido da prima Júlia que a teria herdado do avô, nosso bisavô Francisco Rodrigues Valente, onde guardava segredos, durou anos até se estraga...Gosta de caixas, gosta!
O que aprendi na escola?
Francamente lamento dizer que aprendi pouco e o mal foi para mim - com poucas bases, os
estudos ficaram pela metade, poderia se quisesse, debalde o tenha sido preguiçosa, gosto mais de conversar…Sobretudo faltou-me aprender a ouvir mais , a equacionar os limites e sobretudo o aprendizado em deixar de ser ingénua, esse o pior que ainda me acompanha. Foram seis anos. Infelizmente para mim chumbei na 1ª e 4ª classe.
Conheci as quatro salas, todas diferentes, todas iguais!
Conheci as quatro salas, todas diferentes, todas iguais!
Prof.Albino Simões
Recordo a sua passada pesada, homem de alta estatura e corpo entroncado. Na sua sala ia-se julgo à terça feira ouvir o Rádio Escolar, na oportunidade de olhar os rapazes, em particular recordo um de lindos olhos lânguidos, qual lago de nenúfares, tinha vindo com os pais dos lados de Tomar, era o Salvador!
Episódio passado na 4ª classe com a Professora vinda de fora
A
Prof Maria do Nascimento entendeu não me propor a exame da 4ª classe,
disse-mo numa 6ª
feira. Mal chegada a casa não me contive e contei ao meu pai que de
cariz destroçado por já ter chumbado na 1ª classe me tentou abrandar na
minha tristeza
confortando-me " na segunda-feira vou falar com a Professora pedir-lhe
para te propor a exame" . O prometido foi devido e nesse dia acompanhou-me à escola, porém nada havia a
fazer, já tinha sido enviada a listagem com os nomes das alunas para
Leiria, a desculpa esfarrapada da Professora que ainda desafia no
conselho o meu pai "o Sr Valente devia autorizar a sua filha a
participar nas revisões com as colegas que me proponho fazer e assim
fica melhor preparada para o ano". Que aprovou. As explicações
decorreram a céu aberto no jardim do solar da D. Maria Amélia Rego junto
ao lago, sentadas num banco em pedra circular junto da pérgula ladeada
de trepadeiras. No último dia a perpetuar esse momento o registo da foto na Mata Municipal numa clareira de
seculares carvalhos, ao meio da esquerda para a direita está a Augusta Murtinho do Bairro, eu a Alice Tomé do Casal de S Brás, a professora, a "Irene dos
Burros" do Cimo da Rua, a Lucília e a Alice, ambas do Casal S. Brás.
Jamais esqueci nesse dia na despedida as palavras da Professora! " Isabel sinto muita pena de
não a ter proposto a exame, afinal a menina está bem mais preparada do
que as suas colegas"…
Sendo por natureza tímida e reservada, corava por tudo e por nada, não
falava, ficava quietinha no meu canto, foi preciso crescer para sentir o
peso da perda e da derrota na minha vida para desabrochar já passava dos 30 anos de tanta castração e humildade em julgar todos melhores do que eu, felizmente consegui sozinha dar volta ao enfrentar tanto inusitado que o desafiei sem medo sendo franca, aconteceu em vésperas de Natal em que no banco ao lanche se comia um bolo rei na tradição a quem calhasse a fava de comprar o próximo, debalde todos se calaram...Perante os olhares de todos senti-me a corar, que me denunciaria, debalde não tinha sido a mim que me calhara a fava, e assim de rosto a arder enfrentei todos tenazmente ao explicar que tinha este problema de corar por tudo e por nada estando na hora dele me libertar , as minhas palavras foram simples mas de grande sinceridade que houve um colega já de idade tinha sido cobrador da Siderurgia e mais tarde integrado no banco, de pouca ou nenhuma cultura ainda assim interiorizou a minha postura de integridade e abre a boca para dizer se calhar engoli a fava sem a sentir... Naquele momento aconteceu a minha revelação de me afirmar sem medo nem vergonha, uma sabedoria até ali jamais a tinha assim
conseguido e jamais a deixei perder!
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