quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Fornos de Cal no concelho de Ansião e outros

Abordar a temática dos Fornos de Cal na região e outros para mais se perceber

O Dr Mário Rodrigues sobre os Fornos de Cal Al-Baiäz 
Notas de História e Património publicada no jornal de Alvaiázere 
Alvaiázere 
A propósito do forno de cal dos Penedos Altos
«Durante muitos séculos, nas terras de Alvaiázere, centenares de homens aqui residentes, arduamente, conseguiram arrancar ao seu subsolo incontáveis toneladas de pedra calcária que, com hercúlea força braçal e aguçada inteligência, transformaram em milhares de carradas de cal, que ora satisfaziam as necessidades de consumo das suas próprias gentes, ora permitiam abastecer diversos mercados forâneos.
Um dos vários fornos de cal que ainda existe em Alvaiázere jaz a montante do Sobralchão, junto aos Penedos Altos. Quando o vislumbrei pela primeira vez, ao longe, da estrada, já há mais de trinta anos, no final da juventude, pela sua extraordinária arquitectura afigurou-se-me ser um “tholos”: um monumento proto-histórico de falsa cúpula. Era afinal uma singela construção roqueira, possivelmente da Época Contemporânea, do século XIX ou XX: um forno de cal. Serve de pretexto a estas brevíssimas notas.
Talvez tenham sido introduzidos no território português pelos Romanos. E, com poucas modificações estruturais e técnicas, perduraram até final da centúria de Novecentos, quando o cimento e as tintas sintéticas, por um lado, e o desenvolvimento dos fornos industriais, de laboração contínua, por outro lado, puseram fim a uma tecnologia antiga, que o novo modo de vida, mais cómodo, tornou humanamente insuportável e economicamente obsoleta.
Com uma compleição tronco-cónica, a estrutura em forma de torre, aberta no topo, que constituía a parte fundamental do forno, edificava-se em terreno inclinado que aumentava a solidez das suas paredes e favorecia a conservação das altas temperaturas, de mais de mil graus, que transformavam a pedra calcária em óxido de cálcio: a cal. De altura, mediam entre 4,5 e 6 metros. Na base, entre 3,7 e 4,6 metros. Os fornos mais recentes tinham a parede interior do seu corpo revestida de tijolo burro. Não era o caso do forno dos Penedos Altos. Os fornos mais antigos e rudimentares eram apenas construídos de pedras, ligadas com argamassada, e, portanto, mais vulneráveis ao ígneo processo de cozedura.
Dois possantes contrafortes, um de cada lado do paredão circular do forno, ampliavam a sua resistência. Entre eles, rasgava-se uma porta, a “ventana”, através da qual entrava parte da matéria-prima, e por onde saía a cal, após o processo de cozedura.
Em alguns locais, como em Pataias, associadas aos fornos, existiam outras estruturas, como “telheiros”, para abrigar os materiais combustíveis, e “tulhas”, para armazenagem e comercialização da cal.
Todo o processo produtivo era assaz difícil, para não dizer penoso, incluindo: o arranque manual da pedra nas “caboucas” (pedreiras); o seu transporte em carroças, puxadas por animais, até ao forno; a deposição da pedra, a “enforna”, em abóbada, no interior do forno, desde a base até um pouco acima da sua abertura superior; a cozedura, através da qual a rocha era calcinada; e, finalmente, a remoção da cal para fora do forno – a “desenforna”.
Como combustível, usava-se: o mato roçado nos baldios, bosques e florestas; as agulhas dos pinheiros; os vimes e as cepas mortas; ou, mais recentemente, os resíduos das serrações.
Possuía a cal variadíssimas aplicações: na construção, servia para produzir argamassas, rebocos e estuques, para fortalecer adobes e para caiar paredes; na agricultura, para corrigir os solos ácidos e compor a calda bordalesa com a qual se curavam as vinhas; na pecuária, como desinfectante de superfícies imundas; na actividade industrial, como adjuvante de diversas operações transformadoras, designadamente no fabrico do vidro, do aço, do papel, das fibras têxteis ou dos materiais cerâmicos; e, até nas práticas funerárias, para ser colocada nas sepulturas, minorando os efeitos perniciosos da decomposição dos corpos.
Vítimas da sua inexorável obsolescência, em Alvaiázere, como em todo o País, jazem estas estruturas pré-industriais esquecidas, abandonadas ou mesmo em ruínas. Mas é tanta a relevância histórica e patrimonial dos fornos de cal que a Direcção-Geral do Património Cultural aprovou o projecto FORCAL, protagonizado por Fernando Ricardo Silva, que tem como escopo a identificação, o registo, a inventariação e o estudo dos fornos de cal artesanais em Portugal, das épocas Moderna e Contemporânea.
Várias autarquias aderiram ao projecto FORCAL, como a União das Freguesias de Pataias e Martingança. O investigador contratado por esta autarquia, Tiago Inácio, expôs recentemente, em Alvaiázere, no Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó, o fruto das investigações que ali vem desenvolvendo.
Num projecto global, integrado, de promoção turística de Alvaiázere seria muito útil – melhor se diga, é um imperativo – a preservação e musealização, “in situ”, de um forno de cal, mas também de outras estruturas, como, por exemplo, um moinho, uma azenha, um lagar de azeite ou uma casa rural. Há quantas décadas já o propusemos?!...»
Alvaiázere Forno da Cal foto retirada da Internet de Luís Ribeiro 
Maças de D Maria
Toponímia atestada com Forno da Cal
Foto de Henrique Dias
Em Ansião 
No concelho de Ansião que eu conheça o forno de cal em melhor estado será o que se encontra a norte da Sarzedela, quase defronte do tanque para abastecimento dos helicópteros.O distingui depois da limpeza da faixa de combustível em 2018.Na altura fotografei em movimento.
Parei em  agosto de 2019. Debalde sem óculos e com o cartão cheio, apenas duas fotos.
Pousaflores
Existe outro forno envolto de silvas altas  a escassos metros do novo cemitério de Pousaflores, graças ao meu olhar durante anos me interroguei a razão de um tanque de pedra se encontrar em cima da ribanceira do pinhal, sem aparente função, até ao dia que parei e arredando algumas silvas o distingui mas já muito estragado.
A JFP anda a proceder à limpeza das faixas de combustão ao longo das estradas, na Mouta Redonda, Pereiro, o que reparei. Não sei se aqui já foi limpo, porque atalhei por Lisboinha, mais à frente. 
O que resta da chaminé no meio de silvas
 Entrada
 Abertura do forno
 O que me despertou há anos ?
A  razão de haver este tanque de pedra em cima da ribanceira
Quando alguém me disse que era para a água para fazer cal.
Pessegueiro
Outeiro do Forno
Já perguntei a várias pessoas a razão da toponímia atestar um forno, debalde nenhuma ainda me soube dar cabal resposta ao tipo de forno que aqui existiu.Possível forno de cal romano?
Neste outeiro viveram os pais do Dr Ilídio já falecido, agora uma irmã.

Cerâmica Garriaz no Pessegueiro
Exemplar do fabrico de telha e também de tijolo burro

Bairrada
Forno da Choupana
Hoje desaparecido.

Entre Constantina e Netos
Dois fornos dados a conhecer pelo João Forte
Vale Perneto
Onde por fim ia a gente do Pessegueiro buscar cal cujo dono se chamava José Pessegueiro- outra pista se não foi um casal com este apelido a ditar a toponímia ao Pessegueiro que daqui tenha saído um ramo familiar com esta arte para o Vale Perneto onde fez outro forno.

Abiul
O Rui Rua influenciado pelas descobertas Há uma semana descobri um que tinha encontrado referências num levantamento cultural feito em 1983.a escassos 2 km do centro histórico.
A lista de fornos que consegui apurar com uma senhora com mais de 70 anos em conversa de mais de uma hora, pretende ficar anónima, a merecer mais investigação, limpeza e os que ainda restam devidamente fotografados.
A crónica será acrescentada à medida que for mais sabendo.

Montemor o Novo
Forno feito em  tijolo de burro
Desde sempre houve migração interna de gente da região centro, de Sicó para o alto Alentejo
Outros Fornos de Cal nos Coutos de Alcobaça 
Pataias - António Valério Maduro
A tecnologia de produção da cal não terá conhecido grandes modificações do período romano aos nossos dias. Estes fornos de estrutura barriloíde arvoravam as suas paredes com tijolos ligados por um barro areento. O seu topo aberto apre-senta-se ligeiramente estrangulado em relação à base afundada no terreno. A altura destes fornos situa-se entre os 4,5 m e os 6m, a largura da base entre os 3,70 m e os 4,60 m e o topo entre 3,15m e 4,10 m. Para resistir à pressão da cozedura os fornos apresentam-se parcialmente aterrados. Com esta mesma finalidade a parede é travada por cima do portal com três troncos de pinheiro.A laboração destes fornos é de tipo descontínuo ou intermitente, necessitando de um abastecimento regular de mato à caldeira até finalizar a cozedura, ao contrário do que sucede nos fornos de laboração contínua ou permanente em que as camadas de lenha ou carvão alternam com as camadas de pedra. Como combustível utilizava-se preferencialmente o mato roçado nos pinhais, daí denominarem estes fornos de fornos “de cal a mato”. Para uma fornada eram necessários entre 80 a 100 carradas de mato.A partir da década de 40 do século XX, recorre-se, igualmente, ao “motano”(molhos de braça de pinho). Graças ao “motano” os fornos começaram a laborar durante o Inverno. Cada fornada consumia entre 150 a 200 talhas de “motano”,equivalendo 1 talha a 60 molhos. A temperatura em que se processava a coze-dura da pedra é denominada de rubro cerejo, situando-se entre 800º e 1000º. O “empedre” do forno consumia aproximadamente 150 carradas de pedra, ex-traída pelos cabouqueiros. Os fornos, por uma questão de economia, localizam--se nas imediações das áreas de extracção. Cada fornada levava em média três semanas. Uma para enfornar (levantar o “empedre”), outra para cozer a pedra e outra para a retirar.Principiava-se pelo “empedre”, assentando as “armadeiras” sobre o peal que rodeava a caldeira. Quando o “empedre” atingia a altura do portal as pedras começavam a ser descarregadas pela abertura superior. Sobre as “armadeiras” (pe-dras que chegavam a atingir 1 metro de comprimento) destinadas a estruturar aabóbada, depositavam-se as “carregadouras” (pedra miúda). O “capelo”, final do“empedre”, excedia em cerca de 1,50 m o topo do forno No final da cozedura, o “capelo” do “empedre” baixava cerca de meio metro emrelação ao topo do forno. Era então chegada a altura de desenfornar a pedra, tare-fa árdua dada a temperatura que o forno mantinha. Em média cada fornada rendia entre 50 a 55 toneladas de cal. Sabemos que antes da utilização do “motano”como combustível e do recurso ao transporte mecanizado das paveias de mato e da pedra das caboucas, os fornos não coziam mais do que três a quatro fornadas por ano, passando, posteriormente, a poder realizar mais de dez fornadas.Segundo os registos de contribuição industrial de 1881, Pataias era o único centro de produção de cal do Concelho, com treze fornos em funcionamento. A passagem do caminho-de-ferro (linha do Oeste) em Pataias, no ano de 1888, e a posterior construção do apeadeiro contribuíram para a expansão desta actividade. Era este transporte que assegurava o abastecimento de cal à Siderurgia Nacional, indispensável na produção do aço.A cal era, normalmente, comercializada à boca do forno. Caso os compradores tardassem a pedra consumia-se, pois não existia nenhum espaço destinado ao armazenamento. Só a partir da década de 50 é que se edificam armazéns para guardar a cal, acondicionando-se esta em tulhas de tijolo, com uma capacidade de cerca três toneladas. Inicialmente em galeras, nos seirões e cangalhas dos burros e, mais tarde, nas camionetas escoava-se a cal em pedra e em pó.Nas feiras e nos mercados a vendedeira da cal marcava sempre presença. No tempo da Páscoa, o costume de caiar a habitação e alguns cómodos (adega, casadas tulhas e pias, cisterna...) antes da visita do pároco levava a um aumento da procura e logo à subida do preço deste produto. Este uso não tinha apenas um objectivo estético, cabendo à cal assegurar a impermeabilização dos imóveis(para o efeito acrescentava-se à cal um fio de azeite, nas próprias argamassas era costume juntar borras de azeite), assim como os resguardar dos calores estivais.Em 1933 estão arrolados 33 fornos em actividade. O número de fornos em laboração veio gradualmente diminuir. Em 1942 encontramos 25 fornos. No início da década de oitenta só restam 5 fornos, chegando o seu ocaso no ano de 1995.Muitas são as explicações para o abandono desta arte milenar. Em primeiro lugar, o carácter artesanal deste ofício que pouco ou nada se modernizou. Por outro lado, a falta de mão-de-obra (este ofício beneficiava da força de trabalho das proles numerosas, assim como de alguns tempos mortos do calendário agrícola) motivada pela instalação das indústrias cimenteiras, vidreiras e cerâmicas na região, que permitiram um pleno emprego e estimularam a deslocação de activos da agricultura para a indústria. A dureza das condições de trabalho (18 horas seguidas a alimentar o forno com 6 magras horas de descanso num canto do barracão) não constituía aliciante para os mais novos. As exigências de jornas mais elevadas vieram a tornar-se verdadeiramente incompatíveis com a capacidade produtiva e a rentabilidade das fornadas. Por outro lado, as empresas que adqui-riam grandes proporções de cal passaram a instalar fornos eléctricos destinados à sua produção.A cal gorda de Pataias era procurada para o fabrico de argamassas, estuques, calde caiar e para uma ampla utilização nas terras de cultura.Actualmente sobrevivem 29 fornos de cal desactivados, conjunto que, pelo bomestado geral de conservação, necessita de uma pronta intervenção e qualificação que reabilite este espaço de memória e produção.

Conheci o que resta dos fornos de Cal em Paço d'Arcos.
Mas, o mais impressionante, é este  no Montijo
                     


Fontes
Excerto do jornal nº 16 de Alvaiázere
Testemunho de uma senhora do Pessegueiro que pretende ficar anónima
Testemunho João Forte
Testemunho Rui Rua
Fotos google

domingo, 6 de outubro de 2019

A modelo do Busto da República teria raízes na Pulga, Almoster?

A mulher que deu vida ao busto da República chamava-se Ilda Pulga nascida em 1892, em Arraiolos, filha de um feitor de uma herdade nesta terra. Aos 13 anos a família mudou-se para Lisboa por causa da fome que grassava no Alentejo. Não se sabe como o escultor Simões de Almeida a escolheu para modelo, claro que procurou no povo uma mulher com este carisma e fortaleza, a jovem Ilda Pulga foi, aos 18 anos, a sua fonte de inspiração para criar o busto da República.Morreu num Lar de idosos em Marvila, em 1993, com 101 anos.
Ficou na histórica  pouco conhecida e recordada!
Parece  que Portugal só existe uma família com o apelido Pulga .De onde será originário? A região de Ansião, ao seu limite a sul em Almoster onde existe uma aldeia chamada Pulga - sabe-se que muitos apelidos nasceram na emigração cá dentro, passando a ser conhecidos pelo nome da terra de onde vinham. Será daqui a sua origem ? Ficou em Arraiolos a trabalhar como feitor numa herdade onde casou e teve a filha que mais tarde foi para Lisboa e descoberta. Almoster terra de passagem de romanos- Romila ainda persiste na toponímia onde há mulheres belas, em ditar seja daqui as suas raízes de beleza.
Merece maior investigação a migração sazonal desde o século XIX de  homens da região que partiam a pé para se oferecer no trabalho das ceifas no Alentejo, mais tarde já haviam capatazes que contratavam ranchos de homens e mulheres, partiam de comboio ou camioneta, naturalmente alguém que se destacava no comando e força do trabalho na safra eram contratados para ficar nas herdades, outros encontraram o amor e acabavam por ficar no Alentejo.Esta vivência e conhecimento do alto Alentejo veio a ditar em famílias da Ramalheira, ao S João de Brito a actividade de paneiro que alternavam com as ceifas a venda de panos comprados nos Armazéns em Coimbra que vendiam pelos montes alentejanos, cada um tinha a sua rota.O meu avô  José Lucas recebeu a rota de paneiro do seu padrinho de Lisboinha, por ser já velho, deixando a de vendedor de peixe, acumulando duas funções - capataz ao contratar ranchos para as ceifas, a sua casa vinham homens pedir de chapéu na mão abnegados, tamanha era a pobreza  e paneiro na rota de  Benavila, Avis, Alcônrrego, Casa Branca, Sousel .Alguns deles deixaram pelo menos um filho estabelecido no Alentejo como paneiro ainda hoje há descendência em Arraiolos, do apelido Simões.
O apelido Pereira dos Reis vivo em Grândola , de um colega bancário, pode igualmente ter origem em Almoster onde existiu, hoje não sei.Não me recordo de ver o apelido Pulga em campas do cemitério de Almoster.
Salão Nobre dos Paços do Concelho de Ansião
O meu bom amigo João Patrício
Animador teatral convidado no âmbito das Jornadas Europeias do Património, este ano subordinadas ao tema “Artes, Património e Lazer”, a realização, no dia 27 de setembro, do Colóquio “O Património Cultural de Ansião”, que decorreu no espaço Dr. Travassos – Consultório da Memória, com a presença de um painel que contou com o Dr. Luís Ribeiro, na abordagem ao tema “Os pavimentos de mosaico da Villa Romana de Santiago da Guarda”, Dr.ª Margarida Freire, com o tema “As Cinco Vilas e Arega”, o Enfermeiro Jaime Tomás, que apresentou o tema “Importância de preservar o património – o caso de Alvorge”, terminando com um momento de poesia, proferido por José Louro.
As Jornadas Teatrais de setembro levaram ao palco do Centro Cultural de Ansião o espetáculo “Mar de Ilusões”, pela Companhia de Teatro de Poença-a-Nova, que decorreu na noite do dia 28 de setembro.

O Busto da República no Salão Nobre da Câmara de Ansião

VIVA A REPÚBLICA!

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Marcos Senhoriais em Terras de Sicó

À laia de fim de semana nunca é demais relembrar o célebre episódio com o advogado Dr Prates Miguel, também um grande amante do passado  radicado há décadas em Ansião, um belo dia aportou à Ateanha com um amigo, questionando o primeiro transeunte que lhe apareceu onde poderia encontrar testemunhos deixados pelos romanos - ao que o bom homem lhe responde-, bem, sabe, estive alguns anos em Angola, se calhar foi nessa altura...Porque a ignorância cultural no concelho ainda se revela desmesuradamente grande não só em gente com poucos estudos como igualmente em muito graduado, urge tempo de se começar a fomentar interesse no cariz desta Página, só não faz aprendizado quem estiver mesmo desinteressado.

Acordar mentalidades para a Cultura em vésperas de eleições reforçando o apelo do meu bom amigo Henrique Dias
De facto não existe (pelo menos que eu conheça) nenhum estudo sobre marcos, mas é uma pena, pois são um testemunho importante do passado e ajudaria a perceber os limites dos vários senhorios das terras fossem eles nobres, conventos, ou ordens religiosas.
É imperativo (como disse) fotografar esses testemunhos, que mais não seja para ficarem como memória futura, mas o que seria mesmo importante era proceder à sua georeferenciação.
No caso de Ansião não sei, mas há Concelhos que têm todo o seu património assim referenciado na respectiva Carta Arqueológica...

Marcos Senhoriais
O Padre José Coutinho na sua Monografia de Ansião de 1986, o pioneiro a referenciar a existência de marcos em pedras no concelho, em Alvorge e Santiago da Guarda do tempo que estas terras foram herdades de Mosteiros e da Universidade de Coimbra. Seguiu-se o  meu tio Alberto Lucas, autodidacta na Crónica Histórica de Pousaflores de 1993 fazendo referencia aos Marcos de divisão da Freguesia de Pousaflores.
Agradeço a transcrição do excerto do Livro do Padre Coutinho enviado por Henrique Dias

Falar de Marcos em pedra e da palavra MOUTA
Ambas fazem parte do passado do concelho e antigas Cinco Vilas. E assim deviam prevalecer para as gerações vindouras!

Moita Santa, em Santiago da Guarda
O certo seria vir a enquadrar o Marco de pedra da Feira da Mouta Santa, defronte do local onde se encontra, com  mais espaço inserido em redondel ajardinado e iluminado com placar  com inscrição em português atual, o dignificando e ainda alterar a toponímia para a ancestral que testemunha um  passado com mais de 600 anos .
O Marco conserva a inscrição medieval da Feira da Mouta , debalde hoje sem o palco merecido por estar abafado do seu brilho ancestral pela construção da casa... 
O Marco senhorial mandado colocar por Pêro de Sousa Ribeiro, filho de João Rodrigues de Vasconcelos e de D. Branca da Silva, em 8 de Dezembro de 1476, quando receberam carta de privilégio de couto e honra para a Quintã da Guarda com a Feira da Mouta Santa
No palco da freguesia de Santiago da Guarda por hora a sala de visitas de excelência do mais rico património cultural de Ansião, porém em desmazelo, sem brilho,nem dignidade, nem placar, nada que afinque o seu testemunho histórico e cultural, quase perdido...
Jaime Tomás aborda no seu Livro vários tipos de Marcos de Senhorios diferentes
No seu Livro Terra Alta Alvorge de 2012 « as terras da Ladeia, a que chamavam "o franquido do Alvorge", na posse do Mosteiro de Santa Cruz, 396 anos até 1537, em que D. João III as mandou transferir para a posse da Universidade de Coimbra,só em 1546 foi a data da posse pela universidade, contudo só passou a ser efectiva em 1611, no reinado de D. Filipe II gerou-se uma contenda com o mosteiro que o rei apaziguou propondo uma renda de 200 mil réis, e apesar da oferta só terminou 5 anos depois.Os Marcos foram colocados com a gravação V e DE. A norte outros marcos com as letras CD relativas ao 1º Duque do Cadaval D. Nuno Álvares Pereira de Melo , em finais do século XVII Senhor do Rabaçal, e a noroeste da freguesia do Alvorge vários gravados ALMADA na delimitação das terras de D. Antão de Almada, 5º Senhor do Rabaçal. No limite Pombal / Ansião, na zona de Ereiras há pelo menos 1 marco dos "Almadas" (ALM), faz a divisão dos concelhos. A sudoeste os Marcos do Morgado da Moita Santa, por último Senhorio dos Condes de Castelo Melhor na vantagem além da amostragem em foto a preto e branco  as respectivas coordenadas. »

Marcos da Universidade retirados da Página facebook  Ansião, que originou o debate
 Ateanha? 
Marco da Herdade de Santa Cruz de Coimbra foto retirada do google
Camporês
O Dr Manuel Dias na Monografia de Chão de Couce aborda Marcos no Camporês "Ainda se encontram vários marcos como este nos limites da freguesia (de Chão de Couce) com as freguesias vizinhas" a que esta foto seja alusiva(?).
Raul Botas de Ansião partilhou em setembro de 2019 na Pagina Facebook de Ansião 
«Existem no Camporês dois marcos em pedra com a inscrição - REAL . 
Como é do conhecimento público a coroa portuguesa possuía uma leira de terreno nessa zona, não será esse o local ? Entretanto, um desses marcos , ao alargarem o caminho, foi danificado partiram um pouco e falta o L . Além disso, embora esteja no mesmo local foi colocado ao contrário(...) o outro marco ainda está no local mas, só por sorte não foi danificado porque fizeram uma vala , com mais de dois metros de profundidade, a cerca de um metro do mesmo (...) sobre a pergunta se era igual ao mostrado abaixo respondeu «Sim, um é assim grande com mais de 1,5m o outro menos de metade »
Parece claro na minha investigação, estes Marcos são ao limite da que foi 
A Herdade de Ansião a nascente delimitada com o lombo da Fonte Galega e Pedrulhal com outra que a 7 de abril de 1364, D Pedro I doou a D. João Afonso Telo de Menezes, 4º conde de Barcelos, seu mordomo-mor «todo o direito real e djreito e e foro» que tinha «na qujntaa da mouta de bella com suas herdades e aldea de Canaue e em seu termo» e vinhas e perteenças», nos casais da Ameixieira com todas as suas herdades.Situavam-se os ditos lugares no "Chão do Couce e termo em Penela».
Na centúria de 600, foram postos com a sigla REAL do donatário António Abreu Corte Real e sua esposa D. Teresa de Mendonça em maio de 1695 requereram à Diocese de Coimbra a fundação de uma Capela na sua Quinta da Mouta de Bela, hoje no concelho de Ansião.Os marcos aflorados devem estar ao longo do vale do Camporês a poente entre o Maxial e Alqueidão, o que faz sentido dizer.

Sarzeda
Na procura do palco da Quinta das Sarzedas dei conta de uma pedra do mesmo formato a fazer de vedação, aparentemente não lhe distingui nenhuma inscrição, mas ali a ter sido reposto pode estar virado ao contrário(?). é que a herdade de Ansião terminava por ali em Somio, hoje Suímbo. o terreno onde se encontra foi  recentemente intervencionado, o antigo poço, sem saber e antes o foi de chafurdo, por estar na beira da antiga estrada romana e medieval é muito provável que o fosse para ser agora feito com manilhas de cimento.
Disseram-me que uma casa julgo vendida a estrangeiros, antes foi a casa de um barbeiro parece existe outro marco da demarcação da Freguesia de Pousaflores.
Escampado de Santa Marta
O Chico Serra e a sua esposa Ti Júlia levaram-me a conhecer numa sua propriedade uma pedra grande, que registei foto na altura, como andava na procura de miliários romanos, não valorizei como devia, afinal os Marcos de delimitação de propriedades antigos são de facto em pedra, mas de vários tamanhos com ou sem inscrição.E a ele aquela pedra sempre estranhou a razão de ali estar. Se a encontrar aqui postarei. Era muito perto da capela de Santa Marta para nascente.

Lagoa da Ameixieira
Será um marco de uma propriedade, talvez da quinta da Ameixieira com a herdade de Ansião (?) apresenta uma inscrição parece uma circunferência, os líquenes tem de ser limpos, está a fazer de ombreira a uma courela junto da Lagoa da Ameixieira.
Villa de Pedra Natural Houses em Cotas 
Pese pertença do concelho de Soure a dois passos de Ansião, nas trocas e beldrocas do passado que estas terras fizeram parte do Alvorge, quando este pertenceu ao concelho do Rabaçal.
Falar do empreendimento de turismo rural onde reparei numa pedra dentro da casa junto da escada... sem saber se foi ali recolocada ou não.
Foto retirada da net
Marco templário
Partilha de Henrique Dias
Existem vários em Alvaiázere
 Encontrei este em Dornes
Marcos da Casa do Infantado do Alandroal retirado da net
Estes deviam haver pelo menos em Chão de Couce, Aguda quando os bens dos nobres passaram que conspiraram contra o rei os perderam para a casa do Infantado
Alvaiázere no Rego da Murta
Partilha do Henrique Dias  retirado do livro do Padre Jacinto do Rego da Murta, outra variante do marco de Santa Cruz de Coimbra. Certamente mais antigo.
Marco na divisão de Abiul com Vila Cã
Descoberto pelo Rui Rua de Abiul, tem um A gravado. É o único que conheço. Devem ou deviam haver similares a este junto no limite com Ansião.
Agora o Marco será de Ansião ou Abiul, sendo que o passado de Abiul foi grande e importante Senhorio dos Gomes/Silva, Silva/Coutinhos e Telo/Menezes e claro entrou em ruína com os Duques de Aveiro, e o Marco será deles, eram condes de Torres Novas e depois duques de Aveiro quando receberam o senhorio de Abiul , nesse tempo Ansião os Marcos eram do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, o que me parece, falta investigação.
Marco do limite norte da freguesia de Pousaflores a poente do Barranco, em Ansião
                  
A reutilização de Marcos centenários

Usar Marcos noutro contexto só se compreende depois de fotografados, tomadas as coordenadas onde foram encontrados e devidamente documentados para depois a serem retirados para espólio de um Museu e jamais reutilizados no que seja, porque se gosta. O chão, todos podem vender, mas os testemunhos do passado neles inseridos é de Todos, por isso a Câmara há muito se devia agilizar com os Notários para o referenciar nas escrituras quer a portugueses quer a estrangeiros.
Todo aquele que não sabe respeitar os testemunhos deixados do nosso passado quebra repentinamente o Futuro e o Progresso do Concelho de Ansião. 
Não gosto nada que se apoderem em mau uso de testemunhos da nossa identidade, afinal o património cultural de todos nós que gostamos de Ansião e antigas Cinco Vilas!

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