Crónica resumida publicada no Jornal Serras de Ansião
Lagoa cársica na entrada da Rua de S. Bento defronte do Casalinho
Registo de um casamento a 6 de agosto de 1757
João, filho de João Rodrigues e Ana Rodrigues moradores que foram no Curcial de S. Bento na Lagarteira ,com Isabel Mendes filha de Manuel Mendes e de Luísa Freire do Lugar da Fonte Galega.
Capela de S. Bento no Curcial
Cuja requalificação lhe retirou toda a traça antiga. Por dentro apenas o altar deve ser de origem e a Imagem .
O Dr. Manuel Dias refere o Curcial e a Coelhosa documentados em 1236. Se juntar Carreira – indicia a passagem da via romana- todos, a merecer estudo antes que se percam os vestígios. Da Lagoa do Pito, subindo à Lagoa do Casalinho, com descida à Lagoa do Curcialinho, seguia o caminho para a Ribeira do Açor, julgo perdido e, outro a poente para o Curcial. Os marcos territoriais são testemunhos históricos, pelo que devem ser preservados. O que existia na frente da Lagoa do Curcialinho foi destruído ou reutilizado…
A ocupação no Curcial foi estratégica, a meia encosta do lombo do outeiro, espreitando o sul e a boa água do poço Sobral .
Lugar soalheiro para o local da casa de sobrado com lintel de 1653, ornada de farta escadaria a poente, onde nasceram os anfitriões. Mas, antes, se admita, foi a morada do casal abastado, instituidor da capela a S. Bento – Manoel Jorge e Catarina Simões. O apelido com origem inglesa“ George” aportuguesado em Jorge, de gente que veio trabalhar para a ferraria real .
O relato do juiz Bernardo Rodrigues de 1721
Sobre a doação da capela, indicia que o casal não teve filhos e, se alvitre que a casa de morada foi deixada ao Bispado - a ser clarificada com documentação
Provável morada dos instituidores da capela de S. Bento
Quiçá o sucesso do Seminário Jesuíta, na Granja de Santiago, tenha inspirado o Bispado de Coimbra, para fundar um pequeno Seminário, que não é referido na informação de 1721, do Lic. Padre Manoel dos Santos (...) ” não tem Mosteiros, Misericórdia, Hospital nem Recolhimentos.”
Expetável que a sua fundação aconteceu após 1721, sendo vivo em 1763, mas, em 1792, já não existia por ali viverem 12 pessoas.
Fotos retiradas da página Facebook do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho
Padre José Eduardo Coutinho, no seu livro de 1986 durante o bispado de Dom Pedro Soeiro, também chamado Soares, foi Bispo de Coimbra desde 1193 a 25 de maio de 1232, dia em que resignou, muitas pessoas devotas deixaram consideráveis propriedades à Sé de Coimbra. Pelas mesmas razões, também João Joanes, chantre conimbricense , lhe deixou, a 27 de agosto de 1226, a sua quinta de Vale de Todos, e outras propriedades não designadas com obrigação de lhe dizerem uma Missa de Nossa Senhora em cada sábado.
Sobre a Quinta de Vale de Todos adianta ainda o Padre José Eduardo Coutinho a 27 de janeiro de 1594, Ambrósio de Sá e Francisco Seco, cónegos da Sé de Coimbra, na presença do tabelião António Dias Ferreira, deram a Simão Luís, de Curcial, e a outro homem não designado, a posse das terras do couto de Vale de Todos, os quais logo lavraram alguns matos e sesmarias e lhes semearam cevada, na presença dos empossadores, para, assim,darem maior expressão ao acto que acabaram de realizar.
Em crer, o topónimo Consial, ou Concial - o primeiro conhecido da Quinta de Vale de Todos, topónimo que nos aparece identificado em 1162, segundo o Padre José Eduardo Coutinho.Inspira a sua origem em homiziados - a quem D. Afonso Henriques, perdoou crimes graves, fugidos à justiça - de retomar a liberdade, desde que povoassem o sul do concelho do Germanelo, que entestava a sul com Ansião, depois de 1142 a 1185 - nada mais que "carne para canhão" na defesa da cintura sul da cidade de Coimbra das algaras mouriscas vindas de Santarém.
O Foral de 1142 do concelho do Germanelo
«Sob a condição dos seus habitantes cultivarem a terra e a defenderem dos inimigos. Nessa altura o concelho sofreu uma forte colonização e o sistema defensivo foi alargado com a construção da Torre de Vale de Todos.
Porém, o concelho foi perdendo nomeada com a expulsão dos mouros de Santarém, Lisboa e Alentejo e sendo o terreno agreste e margoso, deu-se o encaminhamento das gentes para sul onde se achou no Vale de Todos, a ditar no meu opinar - a união e consenso desses povoadores a ditar a origem do topónimo , pelos genes que ainda se mantém; cariz ambicioso em penhorar chão alheio, sendo público, a exemplo de baldios, como da Fonte do Carvalho, de caminhos, desaparecimento de marcos o que me apraz dizer, em tristeza.
Já era Couto antes de 1561, pela notícia do Padre José Eduardo Coutinho “ em 1561 a instância para demarcar os limites do Couto do Bispado de Coimbra de Vale de Todos, tinham todos os dias “contendas e debates” entre senhorios nobres e eclesiásticos.”
O Couto da Torre de Vale de Todos veio a integrar o concelho de Ansião em 1878, detém a Universidade de Coimbra um tombo de Vale de Todos, Sesmarias e Curcial. Mas, é preciso que alguém o traga à ribalta.
Com a perda da
fonte de rendimento do Bispado, serviçais e moradores foram obrigados a sair e
procurar alternativas, dando-se o gradual despovoar após a República, que se
mantém. Existem duas casas em pedra bem recuperadas, como outras
devolutas. Uma nogueira secular, carvalhos e oliveiras.
Segundo o Sr. Padre Manuel Ventura
“ (...) na sacristia da Igreja da Lagarteira guarda-se uma
página da imprensa - Bibliog A. Franco, sobre um padre nascido no Curcial de S.
Bento - Manuel de Almeida, religioso da Companhia de Jesus, pregador e
confessor, muito conhecido e venerado pelas caridades de acudir aos mais
necessitados e os visitar nos cárceres, sendo conhecido “procurador dos
presos”. Pedia esmolas na Ribeira (Lisboa) e em casas. Faleceu no Convento de
S. Roque em 01-01-1691. Houve outro padre António Freire, aqui
nascido que terá falecido na 2ª metade do século XVIII.”
O Curcial no séc. XVIII aglutinou o orago da capela - S. Bento, para não se confundir com o Curcial Pequeno, atual Curcialinho.
O maior anseio dos filhos do Curcial de S. Bento é vê-lo renascer com gente nova que valorize o passado, ame as pedras, a capela e, as tradições a recriar nas eiras, como saciar a boa água do poço Sobral. A mina a merecer intervenção com nova canalização para os fontanários e retirado o letreiro (água não controlada).
Endereço votos de um bem-haja e imensa gratidão, aos meus bons amigos pela franqueza e disponibilidade, estendida a Henrique Rodrigues Caseiro, pelo bairrismo e, gosto pela história de Ansião.
Depois da capela a saída para a Ribeira do Açor por caminho de terra batida
Onde a ladeira é mais evidente notei umas pedras de calçada...quiçá romnana.
O Poço Sobral
Julgo que foi alterada para fonte em 1964