sexta-feira, 7 de junho de 2013

Falar da minha mãe Ricardina Ferreira Afonso de Ansião

Foto do primeiro BI da minha mãe
Fotografia oferecida pela cortesia da  Dra Teresa Fernandes,  à minha mãe, e já o foi  há anos quando atingiu o limite de Arquivo na Conservatória. No seu dizer " a fotografia é tão bonita, achei que ia gostar de a ter na vez de a deitar para o lixo". Só gente de boa índole, como este ato simples desta mulher, nos pode deixar de orgulho a sua aposta e escolha , acreditando o mesmo a outras. Actualmente apresenta-se como independente na candidatura às próximas eleições pelo Partido Socialista por Ansião, como muito mérito.

A minha mãe com o cabelo cortado à tigela pelo barbeiro da Mata Serrada
Com a irmã Clotilde e outras duas amigas, em Pousaflores numa foto à la minut. 
Restauro da foto verdadeira  pelo meu primo Afonso Lucas

A minha mãe com as irmãs, a Clotilde, a Maria Augusta e a Rosária
15 de agosto em Pousaflores na festa de Nossa Senhora das Neves, finais dos anos 30
O seu casamento em Pousaflores em 10.02.1957
Com 40 anos

Ricardina a graça da minha mãe, no seu tempo de menina, moça, hoje com 81 anos em Lisboa

A minha mãe nasceu em tempos de menopausa, no dia de S. Pantanleão, a feira anual em Figueiró dos Vinhos,  com muito sol e passarinhos a chilrear no ribeiro da Nexebra, no Vale na Mouta Redonda. O seu pai tinha saído ao alvorar da madrugada para a feira e chegou pela noitinha com a carroça aflito, a correr para lhe dar a notícia o que viria a ser o  meu sogro Fernando Coimbra  e o chamava  -" Ti Zé Lucas, venha depressa ver a sua menina branquinha, muito bonita"...
Recebeu de nome a graça da sua madrinha das Ferrarias ,ao tempo paneira de profissão e nas feiras armava a banca de panos ao lado dos meus avós e do outro lado, a banca do ourives Sr. Diamantino Monteiro. Todos os anos recebia de presente da madrinha um corte para fazer um vestido. 
Que me desculpem os meus tios e tias que infelizmente já não estão entre nós. De todos os filhos, a mais bonita: loira, olhos verdes, graciosa, muito branquinha, até diziam..."tão linda, quem havia de dizer que é filha da Ti Luz..." por a minha avó ser muito trigueira e a ter tido numa idade acima dos 50 anos.  Menina sortuda viveu na "mão das bruxas" com fartura de mimo. O seu pai Zé Lucas, pela altura das festas gostava de presentear as filhas com um bom tecido para dele fazerem vestidos novos, as mais velhas na procura de noivo com ciumeira diziam -lhe " ela não precisa ter vestido novo, é ainda uma miúda" naquilo o pai respondia-lhes " é para todas iguais, são todas minhas filhas". Nesta época na aldeia não se compravam os vestidos. No caso elas espreitavam os figurinos que o pai lhes comprava em Coimbra para depois de escolhido o tecido na loja do pai ,  a minha mãe por ter nascido mais tarde teve a sorte da irmã Clotilde ser a modista da freguesia da casa, tinha como ajudantes as outras irmãs, Zaira e Titi nos acabamentos das bainhas, pospontos, pregar botões, rendas e,…
Esta máquina é minha

Nesses tempos de antanho o costume era da costureira vir a casa, trazia na cesta a cabeça de máquina, ficava os dias tantos os necessários até acabar a roupa. Interessante verificar que a moda "feita de quase nada" apesar dos bons tecidos correspondia ao mais elevado grau da imaginação e criatividade humanas . Lindos os vestidos, as blusas, saias, tudo a condizer com tanto requinte no vestir que a minha mãe sempre toda a vida privilegiou .Costura de alta confeção: da irmã Clotilde continuada pelas modistas de Ansião -"Celeste Marnifas" com curso tirado em Coimbra; Lucinda do Fundo da Rua; "Lurdes Cardosa"; "Albertina do António da Olinda"; Júlia Caseira; Rosa Maneira;D. Ivone ainda apesar da farta idade e, …O que prova não é necessário muito para fazer um estilo atraente, ao mesmo tempo apelativo no campo económico a contrastar nas modas que vão aparecendo e felizmente desaparecendo, onde impera o mau gosto de mão dada com a excentricidade e o excesso. Diz gente deste tempo ido "A moda é como um cesto quando fica cheio, vira-se e começa tudo de novo". Concordo com esta citação, claro que há adaptações mas a essência mantém-se.
A Chanel dizia qualquer coisa com o mesmo sentido "La mode se démode, le style jamais"… 
A minha mãe andou com "a casa às costas"… assim passou todo o tempo de estudos a bem dizer com a camita de ferro e o colchão...
Em jeito de aparte em casa da minha avó havia vários colchões feitos de estopa grossa cheios de folhelho de milho, a carapela ou palha de centeio que dava aquele ar de fofura enganosa quando se olhava para uma cama feita de fresco. Quando me deitava na casa da minha avó Maria da Luz a Mouta Redonda , onde a minha mãe nasceu, sentia a frescura áspera e seca dos lençóis de linho fiado em casa, uma sensação fantástica que hoje em dia desapareceu, mas de que ainda restam resquícios em quem teve algo a ver com a vida do campo de outrora como eu, mas aquilo que antes prometia ser tudo fofo tornava-se rapidamente numa cova onde se penetrava e de onde se saía com o corpo ligeiramente moído, ainda que retemperado. A arte seja ela de fazer vestidos, seja de encher colchões, ou fiar lençóis de linho faz mais sentido quando concorre para acordar em nós ideias e lembranças que, doutra forma, ficariam para sempre sepultadas sob o peso dos anos, a poeira da memória e os afazeres do dia-a-dia. Menina criada com mimo, nada no tempo lhe faltou, viveu anos de fartura na casa, excessiva atenção, presentes e, …
Junto da vedação da escola primária que frequentou na primeira classe no Pereiro de Cima que hoje se encontra à venda

A minha mãe continuou os estudos por Albarrol onde a sua irmã Zaira ali foi  Regente escolar, onde a  minha mãe viu um jeito de penico, no púcaro da medida de litro…Viviam numa casita perto do Ti Reboleira onde no inverno passavam os serões, ainda recebiam a visita do irmão Alberto Lucas. Confidenciou-me gratas recordações destas gentes amigas de dar. 
Concluiu o exame da 3ª classe na escola do Casal Novo, hoje S. João de Brito.
Andou a reboque da irmã Zaira, com quem diz aprendeu muito) pelas escolas: Vale Senhor em Maças de D. Maria, Carapinhal, Moninhos Fundeiros, terminando na escola de Maças de D. Maria com 10 alunas com a Prof. Maria José Sousa Pinto.

Fez o exame da 4ª classe em Alvaiázere com o Prof. Castelão a quem o meu avô pediu intercessão e atenção - Oh Sr. Castelão veja lá a minha filha, vai fazer exame, é muito fraquita… queria ele dizer franzina, e não trouxa de raciocínio, fatalmente o que o Professor entendeu, que seria fraca aluna, e lhe responde tá bem Sr. Zé Lucas, o que eu puder fazer, esteja descansado... Aprovada ficou no exame. Passados 15 dias o meu avô foi agradecer ao Prof. Castelão-, ao que este lhe responde - olhe lá oh Sr. Zé Lucas, por amor de Deus a sua filha não é aquela pequenita russita de olhos verdes parecida consigo?  Responde o meu avô : Sim é essa mesmo, pequenita, russita ...
- Diz o Professor Castelão  -não tem nada que me agradecer, a sua filha fez uma prova admirável, eu é que agradeço ter tido o privilégio de conhecer uma aluna brilhante como ela, até lhe digo ela deve continuar os estudosDeu continuidade aos estudos pela mão do seu primo direito Zé Lucas, por terras de Santiago da Guarda, Lagoas, e Ansião no Externato que sempre se chamou colégio . O meu avô Zé Lucas faleceu tinha a minha mãe apenas 18 anos. Com o 5º ano concorreu aos Correios onde foi admitida. Os meus pais frequentaram ao mesmo tempo o Externato em Ansião. O meu pai era um homem muito alto e bonito, namoradas não lhe faltavam, não lhe concedeu deferência, até ao dia que se cansou do namoro com a minha homónima Isabel Coimbra do Avelar-, na altura a minha mãe, foi o correio sem selo, na troca das cartas dos namorados. Viria a enamorar-se dela quando a contemplava da vidraça do Café do Calado na diagonal com a janela do Correio velho onde já trabalhava. 
Foto tirada nos Olhos d'água em Ansião

De humor fanfarrão,  lembro-me dele contar vaidoso  que  uma prima de Ansião ter cumprido promessa a Fátima para ele a namorar…verdade ou mentira (?) era de facto muito alto, a minha mãe muito baixa logo foram rotulados "estilo e perfeição"; "sorte grande e aproximação" ; " homem de pernas a granel" a minha avô Maria da Luz chamava-lhe " Pernas aranhão de mina"...na alusão aos aranhões de pernas longas que viviam e conhecia na mina da horta de S. João, coitada que sabia ela de cultura? Desconhecia que as desenvolviam por viverem em ambiente escuro...coisa que a minha mãe, Titi e Zaira lhe poderiam em tempo explicado porque estudaram. Os pais devem ensinar os filhos e os filhos devem ensinar os pais. Esta ambivalência é salutar, se assim tivesse sido no passado muita gente analfabeta teria aprendido a escrever e ler se os filhos que andaram na escola tivessem esse empenho maior!
Os meus pais viveram tórrida paixão sem limites sendo ambos do signo Leão, quentes, fogosos, atrevidos e valentes, um namoro estonteante, casou grávida de mim aos 21 anos. Esteve sempre presente na minha vida. Presenteia-me amiúde. Sempre uma boa mãe e amiga como outra julgo não haverá.Mãe desta estirpe não devia jamais partir desta vida !
Recordações de dias felizes de três gerações! Costa de Caparica 
Almada na minha varanda
No adro da capela de Santo António

Mortágua

Na minha casa
No seu quintal

Castelo de Alpedrinha
Nos Olhos D'Água

Cascais

Três gerações







2 comentários:

  1. Que três belas damas
    A menina da 3a geração tem os lindos olhos da avózinha
    Não desfazendo da mãmã que também é bonita,mas a menina e a avó...uns olhos lindos,lindos.
    Os passeios por esses lados,são para ficar na memória de cada um
    Adorava andar por esses sitios,mas nem os conheço,nem tenho carro
    Mas que eu adoraria,ai isso era garantido
    Que inveja,Isa
    Desfrute da companhia da sua mãe,que o tempo passa depressa
    Assim um dia não sentira aquele desgosto de dizer que não tinha muito tempo para lhe dar atenção
    O tempo passa e não volta nunca mais
    E os que partem ,vão e a saudade toma conta do nosso coração
    E sentimos algo terrível,por não termos desfrutado da sua companhia,quando os tinha-mos
    Falo por experiencia própria
    E ter a mãe connosco é maravilhoso
    Fiquei sem a minha mãe e 3 irmãos e uma irmã
    E choro de saudades deles...sempre
    É tão bonito ver a Isa e a sua linda filha com a avó
    3 bonecas de carne e osso bem bonitas
    Um beijinho

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  2. Querida Maria muito obrigada pelo carinho como sempre me diferencia nos seus comentários. A vida dá muitas voltas, vamos ter fé que um dia ainda nos havemos de encontrar e clato havemos de dar uma passeata.
    Fiquei triste ao saber a dor que se abateu na sua família. Também já não tenho pai.Corroboro o que diz, em vida é que devemos partilhar passeios e emoções com os que amamos, o que faço....apesar dela me chatear que só sei gastar gasolina...
    Mas claro que adora, e eu nem se fala.
    Tenho de começar a pensar onde a vou levar no dia do seu aniversário em julho. Pois!
    Bem haja mais uma vez minha querida amiga
    Beijinhos

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