- Do linho se fazia as reservas de roupa branca de vestir e destinada à casa, quer em roupas do bragal (enxoval) das raparigas ou em peças inteiras guardadas em rolos nas grandes arcas, como um tesouro de real valia...
- Lamentavelmente hoje vejo essas peças inteiras amareladas com anos fechadas em arcas -, mal as donas se vão desta vida, os descendentes as vendem nas bancas de panos em 2ª mão nas feiras a preços irrelevantes -, a última que vi até trazia os cordeis em linho que atavam as peças trazidas num sacão por um homem novo que as vendeu na Costa de Caparica por uns míseros euros, o colega do lado abanava com a cabeça e dizia-me " o que ele deixou vale para cima de 300 €"...para depois serem de novo vendidos a preço upa upa!
- Há quem lhe chame "bons negócios"...eu não consigo enganar seja quem for, prefiro perder o negócio, privilegiando a verdade quando me abordam. Por isso sinto um enorme respeito e apreço no carinho que me deferem que é muito, sinto!
Em linho nas casas mais abastadas se faziam lençóis, toalhas de mesa ou
de rosto, colchas, camisas, saias, coletes, toalhas de altar e os
antigos sacos de côngrua, enfeitados com uma renda na abertura, serviam para meter o milho oferecido em certas aldeias, pela maior parte
das pessoas, ao padre no dia da visita pascal -, chamado de compasso como se usava no Sobrado (Valongo, Porto).
Toalhas de lavatório com rendas em crochet
Há um ditado popular quando
alguém está aflito diz-se que está " metido numa camisa de onze varas" .
Esta expressão vem do tempo da Inquisição quando os
condenados à morte na fogueira eram obrigados a levar vestida uma camisa de onze
varas com cerca de 12 metros impregnada de um produto que servia de rastilho para arder.
Muito apreciado o linho que cada mulher não dispensava no seu bragal tal como hoje o mesmo é verdade.
Há gente nova a comprar toalhas e lençóis onde retiram monogramas e rendas que aplicam noutras peças em artes minimalistas.
Curioso
haver homens com gosto requintado, sensível pelas coisas de casa -, andam de roda das bancas com linhos, os vejo comprar! Os
"tomentos" eram antigamente utilizados em panais para a apanha da
azeitona, colchões e sacos para guardar os cereais, enquanto a estopa
era usada em calças, saias, panos de copa para lavar queijos e aventais de trabalho . Também serviam à
confecção de carpetes, tapetes, reposteiros e ainda à execução dos
trajos destinados aos ranchos folclóricos, onde se aplica, igualmente, a
estopinha.
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Em Santo Tirso (Porto), era igualmente
hábito, entre Maio e Junho, irem casais de jovens aos campos de linho,
antes deste ser arrancado, para formarem pares e rolarem sobre os
linhares, num evidente ritual pagão de fecundidade, chamado ali, o
"talhar da camisa" – tradição não completamente esquecida, pelo menos
nas aldeias ao redor de Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto, Minho),
onde os mais antigos e os mais novos continuam a manter o preceito.
- Por isso, a quadra: "Raparigas e rapazes/Ó jovens de Portugal/Vinde talhar a camisa/Em cima do meu linhal."
Na Beira Baixa (Alcains, Caria,
Belmonte, Pêro Viseu, Oleiros e, principalmente, na Covilhã) o número de
tecedeiras, por volta de 1865, segundo estatísticas da época, era de
mil trezentas e noventa e cinco, que possuíam teares, enquanto o total
de linheiras, que trabalhavam apenas os fios de linho, era de cento e
uma.
A faiança portuguesa em Coimbra bem representativa na loiça "ratinha" com decorações: Flores de linho e mulher a fiar o linhoNa feira de Setúbal na banca do Aroucha num monte de livros que um transuente apanhou junto do caixote do lixo, com a troca este lhe deu dinheiro para um maço de cigarros... sem escolhas peguei num livro antigo para a Escola Comercial onde retirei um texto sobre o preceito do linho...lamentavelmente não apontei o nome dos seus autores e devia.
O CICLO DO LINHO
Semeado;colhido;demolhado ;maçado;espanado;cardado e finalmente é tecido no tear
Mas voltas do linho são vinte. Uma vez na terra leva sete voltas desde que se prepara a terra sendo encilhada com o ancinho ( desterroada), para ser gradeada,( areada ) e depois semeia -se a linhaça nos finais de abril e início de maio. Segue-se a monda e vai sendo regado até estar maduro, depois enleirado, para ser colhido quando maduro, e finalmente demolhado de preferência em água corrente.
Quando a planta do linho estiver madura, apanha-se.
Na eira deve ser ripado nuns ripanços com dentes para se separar a baganha, nada mais do que o casulo do linho, onde está a semente.
Deve ser bem espadanado para assedado se separar o linho da estopa.
Segue-se a demolha em água corrente, ou num poço entre 15 a 20 dias, a que se chama também curtir o linho.
Após a demolha no "agaudoiro" onde esteve "empoçado" a que chamavam "emolhado" era dividido em pequenos molhos que eram pendurados a secar nas eiras ao sol.
Depois de seco vai para o engenho onde é amancheado ( dividido por molhos) para se espadar a que se chama amassar o linho, com um maço de madeira
Quando em pouca quantidade esfrega-se com as mãos para desfazer o que é rijo-, em grande quantidade na eira é monçar (malhado)
Espadanas-, espécie de réguas largas para cardar(bater o linho no bordo de um cortiço) também há quem lhe chame atascar ou tasquinhar.
Passar as fibras ou fios (lã, algodão, linho ou qualquer filaça) na carda, desenredar ou pentear .
Separa-se o linho fino da estopa sedeira e da estopa grossa, que se chama estriar (estrias).
O linho deve ser fiado na dobadoira para se fazerem as maçarocas.
As meadas são feitas no sarilho.
As meadas vão a cozer em panela com cinza, depois vão a corar até ficarem branquinhas, lavadas, enxaguadas, e vão a secar.
Segue para o caneleiro para fazer mais maçarocas.
A tecedeira urde e tece -, começa por estender o linho no tear, armando a teia, com as lançadeiras, onde é tecido e apertado.
Em tempos de antanho eram tecidas varas -, uma medida inglesa que equivale 1, 12 cm.
O linho caseiro era tecido às tintas; uma tinta tinha 4 varas e cada vara com um metro e 10 cm.
Naperon em estoupa com picot em crochet no meu oratórioEm tempos de antanho pelas feiras as freguesas pediam ao paneiro -, ofício do meu avô Zé Lucas, 3 a 4 varas de pano, agora diriam 4 metros e meio.
Uma teia de linho é grande ou pequena conforme as tintas que tiver.
O meu lavatório com uma toalha em linho e crochet em dois contextos diferentes
Uma toalha de linho fino com bordado Richeulie |
Um lençol em estoupa
Toalha com monograma e rendas
Toalha em estoupa que foi forra de um colchão de palha de centeio que encontrei amarela e com ferrugem. Pois deu muito trabalho a por assim branca, e depois foi cortar os panos, fazer ajour e a renda para os unir. Ficou uma peça admirável, apesar de singela que ofereci à minha filha.
Fontes
http://sarrabal.blogs.sapo.pt/89999.html
Fotos do goole
Possuo linho deste que aqui fala e não me importava de vender algum, mas não sei o preço do metro. São tiras com 63cm de largura. Se alguém me puder ajudar a atribuir um preço, agradeço. É linho grosso, tipo estoupa
ResponderExcluirCara Alzira Cardoso, muito obrigado pela cortesia da visita. Quanto ao pedido de ajuda é um tiro no charco. As tiras antigas com 63 cm de largura em linho grosseiro, a chamada estoupa que não referiu o comprimento, podem ter utilidade para várias coisas; forrar tampos de cadeirões e cadeiras, cortinados em janelas pequenas de casas antigas, etc.Faça a experiência de pôr à venda num site da especialidade uma tira com as
ResponderExcluirdimensões e peça o valor que para si acha razoável, porque na verdade tudo vale o que vale.
Boa sorte
Cumprimentos
Isa