quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Batalha La Lys celebra 96 anos






Batalha de La Lys travada entre 9 e 29 de abril de 1918 no vale da ribeira da La Lys na região da Flandres na Bélgica, este ano vai fazer 96 anos. Desconheço os soldados do concelho de Ansião que participaram,  há poucos anos foi desterrada uma escultura na frente do Complexo Monumental de Santiago da Guarda em mármore de um Professor e seus alunos -  blocos austeros cujas inscrições com os líquenes e a agrura do tempo não permitem a sua leitura...Em pequena ouvia falar do "Calais" o povo pronunciava "Calaias" aportuguesado. Sempre julguei que tinha ficado perturbado depois de participar na  1ª Grande Guerra no norte de França. O Manuel Teixeira tinha algum problema cognitivo que impediu  aprovação para seguir para a frente e sentindo-se  transtornado por não ter sido escolhido encetou caminhada solitária, em que a fome, frio e cansaço, sem contudo perder o sentido de orientação chega a Calais , sem se saber se aconteceu antes ou depois de abril a data da maldita  linha de combate em trincheiras quase inexistentes onde pelo menos 400 homens padeceram para sempre em terras de França. sendo feito prisioneiro e devolvido até à fronteira de Portugal, com o recado " se tentasse voltar a França , ser-lhe -ia cortado o pescoço"... Chegado à sua terra, não se conseguiu reintegrar  ao ambiente da vida de casa, tão pouco conviver com os familiares fruto dos medos que sentia, para nunca mais quis morar nas Louriceiras, e dado o seu cariz solitário decide procurar refúgio ermita longe de tudo e de todos no costado do cerrado da  Mata da Mulher, aos Poios,  a olhar o Nabão no adeus a Ansião a beijar o Marquinho,  onde segundo reza a lenda viveram  moiras nas grutas da costa deste serrado da Mata da Mulher onde as grutas se localizam na arriba abrupta,. A Ti Eufrofina do Carvalhal que conheci, carinhosamente tratada por “Porfina” pelos cachopos ali pastoreava o gado nesta sua propriedade dizia que via o "Calais" na borda da ribeira, espiador do sol... E outro o viam a subir por uns altos paus ao jus de escada com um cântaro de água da ribeira às costas para dentro da gruta, onde se acoitava e fazia fogueira  Hoje a altura do penhasco dá a errada sensação de ser mais alta porque desterroaram bastante o morro no sopé da escarpa. Aos buracos da escarpa alta ainda hoje se chama o "Buraco do Calaias " a sua alcunha deturpada pelo linguarejar que muita gente assim o pronuncia, até eu até perceber a razão desta alcunha com que se afirmou de soldado que não foi, e a fobia , o medo de uma nova guerra, virou mendigo . Lembro-me vagamente dele em Ansião com ar de mendigo, desmazelado...como o Graxa e o Pelaralho...
Porque razão se assumiu com a alcunha de Calais, quando na verdade se chamava Manuel Teixeira? A alcunha foi ganha  na terra onde chegou - Calais,  sem ter ido à guerra, a viu de longe para se sentir  herói! Segundo a Elisabete assim passou a assinar o seu nome - Manuel Calais e  falava umas palavras de francês...

Poios ao Nabão e o buraco do Calais

                                                          
Testemunhos do Sr Padre Manuel Ventura Pinho em 2018
"Conheci um homem na minha aldeia que esteve nessa batalha. Mas veio e fez uma vida quase normal .Ouviu-o algumas vezes contar coisas macabras que aconteceram nessas horas. Mas dizia: "o que me valeu foi a minha fé, se não dava em doido!"
" Já conversei várias vezes com pessoas que conheceram esse Calaias e diziam-me que era uma dó como ele vivia, com medo de tudo e de todos.
O atual sacristão, Sr. João Dias, que era dos Nogueiros, diz que o viu algumas vezes a vir das Louriceiras onde ia buscar mantimentos que lhe eram dados pelos pais e, depois dos pais morrerem, pelos familiares. E diz que ele queria mesmo pagar a renda aos donos da propriedade onde estavam as grutas que ele usava. Os proprietários eram os pais da Professora Olívia e irmão Armando da Piedade Mendes. Ele pensa também que ele foi apurado para a guerra contra os alemães e teria estado na França e eventualmente na batalha de La Lys, perto de Calais, mas pode estar enganado. O que sei é que muitos morreram nessa batalha e muitos outros vieram em muito más condições psíquicas, até porque o governo da altura se desleixou no apoio aos sobreviventes. Mas a D Maria Elisabete pode ter razão, pois os pais devem-no ter conhecido bem.
Testemunho da Maria Elisabete em 2018
"Conheci o Calaias, aparentado materno.Visitava a casa dos meus pais tratava a minha mãe por senhora prima que lhe deu um cântaro feito de barro,tinha partido o dele ao subir pelos grossos paus de pinho que lhe serviam de escada para a sua "gruta". Portador de doença psicológica,não foi apurado para servir o rei,viu partir os amigos para a guerra de França,desapontado com isso decidiu ir também , e foi a pé até ser interceptado em Calais, e devolvido até à fronteira,sendo-lhe dito que se tentasse voltar a França ,ser-lhe -ia cortado o pescoço,e assim voltou a pé para as Louriceiras de Santo António onde fora nado e criado,chorava ao contar esta sua pena por não ter servido o seu REI... 
Testemunho de Isidro Freire Leal em 2018
" Ouvi algumas vezes os seus guinchos lançados das fragas do Marquinho. Não era nada agradável ouvi-lo!"
Testemunho do Artur Mendes"A sua mãe que era do Caniço o viu muita vez com um molho de lenha ás costas para levar para a gruta"
Testemunho do Dr João Bicho 20
"sempre ouvi falar no Calaias, que muito puto cheguei a ver à saída da missa de Santiago da Guarda, tipo pedinte, mal vestido, e a apanhar papéis e tudo o que via no chão..."
Foto da cidade devastada pelos combates
 
As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7500 homens, a 2ª Divisão foi completamente desbaratada, sacrificando-se nela muitas vidas, entre os mortos, feridos, desaparecidos e capturados como prisioneiros de guerra -, ou seja, mais de um terço dos efectivos, entre os quais 327 oficiais.
Esta batalha viria a marcar negativamente a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial porque os exércitos alemães provocaram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, constituindo a maior catástrofe militar  em Portugal depois da batalha de Alcácer-Quibir em 1558.

A moral do exército português era tão baixo que houve insubordinações,  deserção e suicídios. A frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 quilómetros, comandada pelo general Gomes da Costa.
A ofensiva alemã ficou designada por "Georgette" visava a tomada de Calais. 
No meio do caos no campo de batalha -, distinguiram-se vários homens, anónimos, na sua maior parte. 
Porém, um nome ficou para a História, deturpado, mas sempre eterno: O soldado Milhões.De seu verdadeiro nome Aníbal Milhais, natural de Valongo, em Murça, viu-se sozinho na sua trincheira, apenas munido da sua "menina" -, uma metralhadora Lewis, conhecida entre os combatentes lusos como a Luísa. Munido da coragem que só no campo de batalha é possível, enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, o que em último caso permitiu a retirada de vários soldados portugueses e britânicos para as posições defensivas da retaguarda. 
Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém, ora ocupados pelos alemães, o soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico, para o qual se valeu de cunhetes de balas, que foi encontrando pelo caminho. Quatro dias depois do início da batalha, encontrou um major escocês, salvando-o de morrer afogado num pântano. 
Foi este médico, para sempre agradecido, que deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano.Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o -, dizendo o que ficaria para a História de Portugal como  "Tu és Milhais, mas vales Milhões!".
Foi o único soldado raso português da Primeira Grande Guerra a ser condecorado com o Colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração existente no país.
A sorte deste soldado Milhões foi ter salvo um médico, sendo instruído, e agradecido o mencionou a quem de direito para o agracia e assim ficar narrado nos anais da História.

Calais, de Louriceiras, Santiago da Guarda, Ansião, 
Homem que se apresentou voluntário, sem ter sido apurado para soldado,desgostoso avançou a pé tendo acabado sobrevivente nesta grande odisseia, por isso  o considero também herói pela vontade em participar, debalde a pouca sorte, tenha sido acometido de um surto de loucura em querer  rivalizar o soldado Milhões, e ser deportado e posto na fronteira... Segundo o testemunho da minha boa amiga Elisabete do Pinheiro, ele voltou a França. Interessante se questionar a vontade em voltar ao palco da guerra, ao que parece se apoderou dele o medo de outra guerra igual à que viveu também acontecer por cá...Nunca ouvi que o Calais ermita, tenha feito mal a ninguém.Morreu com idade avançada, tão pouco sei onde foi sepultado. A paisagem que ele via da gruta.
Poios ponte sobre o rio Nabão


O meu estar fatigado pelo puxar da bicicleta que se mostrou perra...outrora aqui feliz no batismo de mota com a minha irmã, neste dia com o meu marido.

Cemitério de Richebourg  no norte de França onde repousam muitos dos portugueses tombados nesta guerra.
No concelho de Ansião, em Chão de Couce, houveram vários soldados que passaram a adoptar a alcunha de Calais, para no linguarejar os chamar de Calaias, o que vem credenciar, algo aconteceu de bom em Calais aos soldados que ali se reencontraram, no meu opinar.


Fontes
 http://geopedrados.blogspot.pt/2013/04/a-batalha-de-la-lys-comecou-ha-95-anos.html
 Graças ao testemunho simpático e disponível da minha querida amiga Maria Elisabete do Pinheiro , do padre Manuel Ventura Pinho, Isidro Freire Leal e Artur Mendes e Dr João Bicho

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