Nesta última estada por Ansião em véspera despedida o dia mostrava-se radiante pelo que convidei o meu marido para uma caminhada a ver águas do Nabão onde descaradamente me sentei num dos bancos da Ponte da Cal para saborear o tempo que era palco de casais de namorados , em lamento jamais ter sido meu e disso tenho pena, pois em tempo de águas, o cenário mostra-se de extraordinária beleza.
Seguimos para norte pela Rua de S Pedro, sem saber se havia ligação nos caminhos para voltar ao Nabão. Encontrámos o nosso bom amigo "Chico Serra" do Escampado de Belchior, arrumava a ceifeira, trocámos conversa até que a filha nos adverte e, bem, que ainda tinha de ir para a catequese...Cortámos à casa que foi do alfaiate, pai da Irene e do Fernando, ainda me lembro dele a trabalhar no r/c de grande tesoura na mão e reparei noutra casa que lhe está adoçada mais pequena, muito bem restaurada com a pedra viva à vista em brutal contraste com um casario de imensurável dimensão que se avista ao fundo do caminho para nascente e desconhecia. Ao chegar mais perto mostrava-se de linha direita sem modernidade, na estranha ligação com uma parte antiga, sem saber que arquitecto lhe destinou o traço em as unir e, ainda pela cobertura de betão armado a imitar pála do telhado.Não imagino a utilidade do imóvel, quiçá turismo de habitação? Questionar se o arquitecto da câmara para aprovar o projecto de
construção e ampliação aqui veio e não se deu conta do valor histórico que aqui existe, ou não, ajuizar o contraste, sem harmonia nem graça com a modernidade, a colidir
com o antigo, porque o abafa , retira identidade e sobretudo brilho, e
ainda a nova passagem de serventia larga a poente a mosaicos de
cimento...Um desatino!
O que me pareceu estranho foi a impuridade abarcar o que foi um solar do século XVII não o dignificando na sua ancestralidade com a contemporaneidade, quando bem podiam conviver separados em ambiente intemporal.Confesso fiquei sem fôlego indignada pela atrocidade a que este belo exemplar da arquitectura ansianense, do pouco que ainda resta do seu património dum passado rico, a que foi votado.
O que me pareceu estranho foi a impuridade abarcar o que foi um solar do século XVII não o dignificando na sua ancestralidade com a contemporaneidade, quando bem podiam conviver separados em ambiente intemporal.Confesso fiquei sem fôlego indignada pela atrocidade a que este belo exemplar da arquitectura ansianense, do pouco que ainda resta do seu património dum passado rico, a que foi votado.
A origem da Quinta de Além da Ponte
Verossímil que a quinta de Além da Ponte nasceu do desmembrar da quinta das Lagoas onde um dos ramos se fixou na primeira casa junto da estrada romana que foi ativada com a construção da Ponte da Cal depois de 1648; no gaveto com a Rua de S Pedro onde deslindei uma parede com janela de avental, denota antiguidade, que localizei em bicos de pé, por causa do muro e postei na cronica de um nobre Alarcão que viveu nesta quinta.
A casa da "D Fernanda 29", aventa ser dos fins do séc XIX e tenha sido construída pelo novo dono Abel Falcão, quando regressou de África que a tenha comprado a conterrâneo do Espinhal da família Alarcão que sabemos viveu na quinta de Além da Ponte.
Recordo o povo chamar a casa dos Abéis.
O solar junto do moinho da centúria de 700 onde possivelmente nasceu a mãe do Conselheiro António José da Silva.
O moinho de Além da Ponte, no séc XX, era usado pelo Sr Pires da Sarzedela, a quem o dono por não ter filhos, julgo deixou o solar que é citado na crónica, o moinho e chão, hoje na posse dessa família.
Solar do século XVII
Visível a placa em cimento armado da cobertura e a coluna na frente de suporte
Um dos poucos exemplares de solar com balcão e varanda alpendrada, típico da
construção medieval que na Beira Baixa em Medelim, o povo ainda conserva
mais de 200 e, em Ansião se contam pelos dedos das
mãos...Deixo o alerta para além do conhecimento não se descuidarem com a sua preservação e não mais se permita que sejam
continuadamente demolidos, alguns por força do alargamento de estradas.Há que estar atento e haver consciência em defender o património!
Qual a família do passado de Ansião que foi a donatária desta casa e quinta que se abrange até ao Nabão?
Na verdade a minha ideia de aqui vir ocorreu-me depois de ter lido no Livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas uma Informação do Concelho de Ansião dada pelo seu juiz, Manuel Rodrigues em 1721 que aborda a "Capela que instituiu Joana Baustista do Moinho d'Além da Ponte termo desta vila feira a dita instituição aos 13 de setembro de 1696 annos; he possuidor e administrador della Manoel Matheus do mesmo termo; manda dizer quatro missas cad'hum anno." O excerto revela que em 1696 Manoel Matheus era possuidor e administrador da capela mandada instituir por Joana Baustista. Indicia que a instituidora da capela -Joana Batista estava ausente de Ansião - o que se mostra comum noutros instituidores de capelas nessa altura, para ter deixado um administrador para dela tomar conta.
Janelas de avental com pedras a ladear para os vasos
Frontaria a poenteData de 1056 ? Não creio, contudo o algarismo "0" mostra-se bem visível.Merece um olhar atento depois de limpa a pedra para ser decifrado com veracidade
O que resta do Moinho de Além d'Ponte e da sua capela
Visão de nascente sobre o Moinho de Além d'Ponte seguido do casario da casa nova e do solarA ribeira da Mata, aqui não sei que nome tem, com leito de boa água corrente e transparente vinda da Fonte Carvalho, depois de passar pela Ribeira do Açor, beijar a Constantina para aqui se espraiar no Porto Largo, a caminho da foz no Nabão que por aqui nas hortas ainda é menino...
O que resta do caneiro ou levada para o Moinho
Desde pelo menos no século XIV que Ansião assistiu a um numero elevado de moinhos de água e lagares. Em 1359 houve uma contenda com os almocatés sobre os pesos e as medidas que se encontra arquivada na Torre do Tombo, refere os almocatés dos moinhos .
Descortinei parte da levada , o ribeiro artificial, que alimentava o Moinho d'Além da
Ponte que foi cortado com o estrangulamento do IC8 e da abertura do caminho a norte que lhe fica paralelo .
FONTES
Livro Notícias e Memórias
Paroquiais Setecentistas Mário Rui Simões Rodrigues e de Saul António Gomes
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