No rasto dos ribeiros artificiais que no passado tiveram nomes diferenciados; valongueiros, ribeiros do munho ou levadas, abertos à força de mãos, serviam para canalizar a água da ribeira principal para os moinhos de água ou azenhas, lagares e pisões. Depois de cumprir a sua tarefa a água voltava à ribeira para fazer o mesmo trabalho noutros e assim sucessivamente. Quem deixou esta herança? Os romanos , visigodos ou os mouros? O que transparece é que se trata de herança romana pela arquitectura e técnica em aproveitar a parca água na região de Sicó, zona cársica, por no verão escassear .A parca água em Ansião , só corre de inverno até junho, admite-se a actividade moenga e lagareira com inicio antes de 1175, pela organização de quintas já existir quando foram adquiridas pelo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e muito evidente em 1359. Grande foi a actividade de moinhos de água, lagares e pisões, em Ansião desde os Olhos d'água no Nabão , Ribeira da Mata, Ribeirinho, Ribeiro da Vide, Ribeira do Açor, Ribeiro da Fonte do Alvorge, Avelar e Pousaflores.
No horizonte a visita apressada à Ribeira do Açor, no concelho de Ansião, em semana de Pascoela para me deslocar à nova oficina do Sr.Luís Sá, de onde parti com sede e deslumbre mais uma vez por estas bandas sem medo desafiar o chuvisco em tempo de estrebanta a caminho da Lagoa do Pito no ensejo maior regalar mais uma vez o olhar com a abundância d'águas...Dizia-me o meu marido, mas ainda há pouco tempo lá foste - a que respondi - foi em agosto sem água e agora está cheia!
Já noutra crónica expliquei o topónimo - Lagarteira com versão diferente do Padre José Eduardo Reis Coutinho, para mim o nome reporta a Lagares de azeite a correr de bica em regateira, herança deixada pelos romanos, porque ao lado da Torre passou a via romana com derivação ao Vale Figueira, hoje Fgueiras Podres a passar pela Constantina e Ansião.
Em 1758 segundo as Informações Paroquiais sobre a freguesia de São Domingos da Lagarteira "compunha-se dos seguintes lugares: Casais da Póvoa 15, Outeiro dos Casais 1 , Coelhosa 16, Vale da Figueira 1 , Carrascos 9 , Mouta e Igreja 8 , Lagarteira de Cima 9, Lagarteira de Baixo 7 , Vale 4 , Poço Menchinho 1 , Galegas 2, Pião 13, Casal dos Barrozos 3 , Machial 6 e Curcial de São Bento 22, da jurisdição do Couto de Torre de Vale de Todos) num total de 448 a 512 indivíduos) ".
Hoje muitos dos Lugares com o nome antecedente de casal, o perdeu. E Outeiro dos Casais não sei se existe. Perdeu-se o nome de Portela e Vale - e a Fonte do Carvalho, hoje apenas Fonte Carvalho.
Lagoa do Pinto
Aparece referenciada nas Memórias Paroquiais com a designação de Lagoa do Pinto, tenha sido corruptela do linguarejar que se adulterou da sua primitiva designação para Lagoa do Pito.
Segundo o testemunho de Silvina Gomes "a conheci antes de fazerem os muros em
volta do poço e da fonte que abastecia a população, em volta havia relva fresca onde as
pessoas estendiam a roupa a corar lavada na lagoa, que hoje
essa lagoa está imunda, de águas escuras. Lamental que a junta de freguesia não proceda à sua
limpeza e de outras)".
Trata-se de uma dolina ou geoforma cársica felizmente ainda características do Maciço de Sicó que o povo lhes chamou lagoas.No meu tempo assisti a algumas a serem entupidas, outras quase assoreadas se não lhe acodem vão-se perdendo!
O que seria a construção de formato quadrado na margem poente da Lagoa?
No interior não se vislumbram ruínas de paredes apenas esta porta e as paredes exteriores, teria sido um lagar?
A ribeira vem dos lados de Aljazede com o Nabão tiveram muita actividade de lagares e moinhos .
A ribeira vem dos lados de Aljazede com o Nabão tiveram muita actividade de lagares e moinhos .
Corre a poente da actual estrada outra em terra batida julgo a primitiva usada como rota do caminho de Santiago (?) na ancestral ligação às aldeias.
Ribeiro parcialmente encanado para a lagoa virá da ribeira de Aljazede que lhe passa do outro lado da estrada.
Uns metros para sul distingui um casario que só quando cheguei ao local percebi foi um lagar com data no lintel de 1892.
Se não se encontra junto a nenhuma linha de água teria sido movido a vapor (?).
Do lado de fora encontra-se uma Mó diferente de outras mais antigas que encontrei em pedra mais pequenas e mais altas, uma no que foi o Mosteiro em Ansião e outra no Moinho do Marquinho.
Alminhas na Rua do SobreiroCaso intrigante na toponímia
Rua do Sobreiro e uns metros a sul um pedestal com Rua Principal - duas designações na mesma estrada suposto que uma anulou a outra, deve merecer reparo...
Olival salpicado de calhaus de calcário onde se avista o novo cemitério da Lagarteira.O velho encontra-se defronte da Igreja. Junto do ralis da estrada o muro de pedra seca da Ribeira das Matas assim referenciada nas "Memórias Paroquiais de 1758 pelo pároco da freguesia Caetano Rodrigues."
Depois da Lagoa do Pito e antes da Fonte Carvalho encontra-se o Poço Minchinho também aparece referenciado nas Memórias Paroquiais .
Ostentação da placa toponímica de Boas vindas ao Curcialinho, a única nas redondezas em detrimento das demais normais, a razão de aqui ter sido colocada?
Na divisão dos dois lugares com a ribeira da Mata, na margem norte o Cursialinho e na margem sul a Fonte Carvalho.Nas Memorias Paroquiais à frente mencionada« há nesta freguezia hum piqueno arroyo, à que se chamam Ribeyra do Assor, o qual tem seo principio á uma moderada fonte chamada do Carvalho que nasce nesta freguezia» Justifica que a fonte do Carvalho hoje apenas Fonte Carvalho .
As voltas e a canalização da ribeira no trajeto da nova estrada...
Como reparos lamentável o poste da EDP ter sido colocado no leito
da ribeira, e o mesmo desta não se encontrar de leito limpo.E já que o
Curcialinho dá as Boas Vindas aos forasteiros devia encetar substancias
melhorias em parceria com a Fonte Carvalho alindando as margens da
ribeira daqui até à Lagoa do Pinto, apetrechando o espaço com um
circuito pedestre, bancos, jardim infantil e espaços ajardinados para as
gentes poderem desfrutar da ribeira com águas e em leito de secura
apreciar toda a beleza dos campos de olival debruados a muros de pedra
seca.Enfim nada enxerguei para descansar!
Foz de um ribeiro encanado vindo de nascente, técnica usada pelos judeus para terem mais terra arável para cultivo, ainda se encontra em Ansião na quinta que foi de Belchior dos Reis ao Ribeiro da Vide , na Mouta Redonda no quintal do meu marido e,...Aqui seria chão da antiga quinta da Ribeira do Açor que teve capela particular com Imagem a Nossa Senhora da Piedade em pedra bem ornada. A capela foi demolida em meados do século XX segundo testemunho da minha amiga Silvina Gomes.
A ribeira do Açor corre ao longo da estrada onde seguia a pé a desafiar a chuva a minha mãe...
Lamentável a falta de manutenção das bermas da ribeira entupidas de vasta vegetação...
A chuva atormentou-me menos do que a densa vegetação e falta de limpeza da ribeira, na verdade quase não deslindava os suportes em pedra da bela ponte tradicionais nesta ribeira e na do Nabão , que se dizem ser romanas(?) infelizmente a maioria foi substituída por cimento armado...
Figueiras Podres
Aqui viveu o Capitão António Freire
e sua mulher Maria Inácia, foram pais de
Pascoal José Freire que veio a casar com Margarida Caetana, do lugar do
Paço,
freguesia da Lagarteira, deste casamento nasceu D. Teresa Maria Freire
da
Conceição, baptizada na Lagarteira a 6 de Abril de 1815.Junto da capela
que ditou o nome ao Lugar há uma casa de sobrado com janelas de avental,
não sei de quem foi, tenho de voltar perdi as fotos...
Ribeira do Açor
Graças aos testemunhos de vida de uma amiga daqui natural, a Silvina Gomes " cresci ali ao lado
da ribeira que vêm do referido poço Menchinho da Lagarteira, onde as donas
de casa lavavam a roupa na água límpida, curtiam tremoços na
água corrente que ficavam uma maravilha onde antes também
punham o linho de molho para depois ser trabalhado, também naquela água
limpa cresciam agriões que a população apanhava para saladas e sopa..."
" na Ribeira do Açor também existiu um moinho movido a água que tinha desvio da água por um Ribeiro (levada), ainda existem as ruínas desse moinho, e o último moleiro ainda é vivo."
|
"na
Ribeira do Açor ainda existe outro lagar de azeite mais antigo do que
outro também na beira da estrada, foi convertido numa empresa
de ...??
Na beira da Ribeira ao lado do lagar que já não existe existiu
outro moinho , ainda me lembro do ver laborar, o meu avô tinha um
terreno pegado.Esse lagar antigo, pertenceu a um senhor que morava em
Ansião ,em Além da Ponte, que se chamava, Alberto Ruivo, talvez a amiga tenha
conhecido"
De facto em Além da Ponte viveu Alberto Ruivo, casado com Helena Cruz, irmã da minha avó paterna Piedade Cruz. Ainda não deslindei a origem dos meus ascendentes paternos de apelido "Cruz", apenas sei que o meu bisavô Elias da Cruz nasceu no Bairro de Santo António num tempo que ali viveu gente oriunda daqui dos lugares circundantes, cuja linhagem de alta silhueta e deu o nome de "Piedade" a uma das filhas, a minha avó, que foi mulher lindíssima , e seja também essa a ligação, o nome da Imagem que havia na capela da quinta da Ribeira do Açor.
Se calhar o lagar foi aqui onde está o portão? |
Estela em pedra
Na frontaria de uma casa ao limite da Ribeira do Açor que desde sempre me intrigava ao passar de carro sem perceber os dizeres, pois tive de fazer o percurso a pé sob chuva copiosa para me deixar ficar francamente satisfeita. Apesar da construção da casa de 1955 retrata casal com ascendência judaica, pelo apelido "Dias" a que lhe acresce a estrela de David ao meio, no final diz CRUZEIRO supostamente alusivo à extrema da que foi a quinta do Açor (?) para Figueiras Podres.
Lagar da Ribeira do Açor na beira da estrada passando-lhe a ribeira pelo tardoz
Vista a nascente da Ribeira do Açor
Testemunhos de Silvina Gomes da Ribeira do Açor a viver em Vila Nova de Gaia a quem agradeço a cortesia da gentil partilha
"quanto
à capela que diz ter existido na Ribeira do Açor lembro-me de ver uma
casinha pequenina ao cimo da estrada ao fim da povoação, que a minha Mãe
dizia ali foi uma capela, e mais tarde o dono do terreno ao
lado a demoliu."
"A casa grande que se avista ao fundo sita na margem da ribeira foi construída pelo meu avô materno José Costa onde nasci e vivi com os meus Pais até aos 23 anos data em que casei e vim para o Porto .Em partilhas coube ao meu irmão David Gomes que a deu a uma neta, que tem feito obras, está linda!"
"A casa grande que se avista ao fundo sita na margem da ribeira foi construída pelo meu avô materno José Costa onde nasci e vivi com os meus Pais até aos 23 anos data em que casei e vim para o Porto .Em partilhas coube ao meu irmão David Gomes que a deu a uma neta, que tem feito obras, está linda!"
Foto tirada em movimento
"casa à beira da estrada em frente propriedade que pertenceu ao Sr. Alfredo Marques pertenceu ao Sr. Eduardo Freire que nunca a acabou e foi reconstruída por um neto que por vezes a habita, julgo tem residência em Coimbra."
"casa à beira da estrada em frente propriedade que pertenceu ao Sr. Alfredo Marques pertenceu ao Sr. Eduardo Freire que nunca a acabou e foi reconstruída por um neto que por vezes a habita, julgo tem residência em Coimbra."
Propriedade que foi de Alfredo Marques havia de deixar assinalada com placa em mármore com os nome dos filhos, os meus primos a Dra Lila e Dr Carlos
Constantina
Ao deixar a Ribeira do Açor cuja ribeira passa por debaixo da estrada para o lado da Constantina onde me falaram existem ruínas do que foi um lagar, havendo na ribeira pedras grandes onde as mulheres lavavam a roupa, a que o povo chama Serrabino. Interessante deslindar este nome, se era assim escrito se possa aventar seria de um "Albino Serra" ou Sabino, nome que ainda conheci nos Matos do penúltimo habitante e aqui dito Serrabino pelo costado... Aventa ligação ao povo judaico que viveu na região e nesta ribeira da Mata soube aproveitar os parcos recursos da água de inverno para fazer mover moinhos e lagares. Sábios em abrir ribeiros à força de mãos a partir da ribeira da Mata onde a inclinação desse com ajuda de açudes para desvio da água para os moinhos e depois voltar a engrossar a ribeira principal.
Fotos de 2003
O véu de noiva
Depois de 15 anos o véu de noiva encontra-se quebrado ao meio...sem o seu esplendor de antanho
O açude com o véu de noiva desmoronado ao meio, é necessário limpeza das
bermas para se apreciar a beleza com as águas em correria sob a sombra
dos carvalhos milenares, outra grande riqueza desta terra, impressionante como aqui a berma da estrada até à ribeira se encontra
desalmadamente invadida de farta vegetação e ao lado para sul está
limpa!
FONTES
Livro de Notícias e Memórias Paroquiais
Arquivo Municipal de Ansião, acta nº 10
Testemunhos de Silvina Gomes, Maria de Fatima Fernandes e Renato Freire da Paz
Transcrições do Padre Manuel Ventura Pinho das Memórias Paroquiais
José Eduardo Reis Coutinho, in Ansião, Perspectiva global da Arqueologia, História e Arte da Vila e do Concelho
José Eduardo Reis Coutinho, in Ansião, Perspectiva global da Arqueologia, História e Arte da Vila e do Concelho
Manuel Severim de Faria - Discursos Vários - in Vida
de João de Barros
Arquivo distrital de Leiria
Testemunho de Sérgio Medeiros
Testemunho de Sérgio Medeiros
É SEMPRE BOM E AGRADÁVEL, VER O INTERESSE, DE ALGUÉM PELA NOSSA TERRA, CONSTANTINA TÊM HISTÓRIA.
ResponderExcluirCaro Aníbal Duarte bem haja pela cortesia da visita e pelo elogio à crónica.
ResponderExcluirK
ResponderExcluirMaravilhosa exposição da nossa terra e dad nossas gentes
ExcluirFico-lhe muito grata por informações tão importantes
Cara Durvalina Forte muito obrigada pela cortesia da visita e pelo elogio à cronica.
ExcluirBoa tarde
ResponderExcluirAcabei de ler o “publicação” que fez em 2018 com o título “Moinhos e Lagares desde a Lagarteira à Constantina”, relativamente à qual não posso deixar de a felicitar pelo conteúdo e suporte fotográfico.
Surge-me no entanto uma dúvida relativamente à fonte da afirmação que reproduzo no final da msg e relativamente à qual solicito se possível o seu amável esclarecimento no sentido de identificar a referida fonte.
“Segundo as Memórias Paroquiais de 1758 "dá referência sobre o mármore da Lagarteira extraída das viagens histórico-naturais de Manoel Dias Baptista (...) a Lagarteira é sumariamente rica de excelentes mármores, que no ano de 1777 foi descoberta pelo celebre Mestre o Senhor Doutor Domingos Vandelli das quais me fez mercê de oito amostras, que remeto a esta Ilrissima Academia (...)"
Agradeço mais uma vez o apoio
Caro A Martins, obrigado pela cortesia da visita e pelo elogio.
ResponderExcluirA fonte de informação que cita é do Livro Noticias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Ansião. O que está mal é a data que deve ler-se 1782, pág 358 e a parte remanescente está em rodapé em notas. Vou alterar.Muito obrigado
como outros o fizeram elogio o seu trabalho contudo nao poderia deixar de fazer uma pequena critica. O titulo q fala de lagares e moinhos da lagarteira a ansiao nao foi devidamente explorado tendo algumas lacunas. A ribeira teve instalados varios moinhos e lagares dos quais restam muito poucos. E um tema que devia estar na agenda cultural de que tem os dedtinos do municipio na mao.
ResponderExcluirCaro anónimo, muito obrigado pela cortesia da visita e da pequena critica que não entendi, porque o titulo da crónica fala apenas de moinhos e lagares desde a Lagarteira à Constantina.
ResponderExcluirOutros moinhos e lagares em Ansião, falei noutras cronicas.
E sim a ribeira teve vários, interessa é retratar esse passado para quem vem depois de nós saber o que existiu de património cultural .
Concordo com a ultima frase. Da minha parte tenho escrito sem nada receber e muita coisa já sinto foi feita com aprendizado, mas claro falta muito. Na minha cronica mensal no Jornal Serras de Ansião irei publicar sobre estas actividades dos moinhos e dos lagares, que ando ainda em investigação na Serra do Mouro.