sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Capela da Ribeira de Alcalamouque, Ansião

A capela hoje com  frontaria para norte, aventa antes foi instituída por um particular abastado, ou pelo povo. Após a implantação da República que descontinua o culto religioso em muitas capelas particulares com eleição das melhores posicionadas para se tornarem  públicos para administrar os sacramentos a doentes e Missa anual ao orago. O que seja verossímil aconteceu a esta capela que sofre ampliação  e foi  recolocado no adro o púlpito com avental e data esculpida de 1689, para não se perder a memória da data presumível da sua fundação . Aparece referenciada nas Memórias Paroquiais de 1758, de orago a S. João Batista.

Ponderei se esta capela não teria sido instituída pelo Dr. António dos Santos Coutinho, natural de Ansião, foi cónego magistral na Sé de Lamego e veio à sua terra fazer a obra da atual igreja da Misericórdia em 1701. Instituiu um Morgadio e erigiu uma capela entre Santiago e o Rabaçal, ficando administrada a Manoel dos Santos da Guarda. A morte precoce em 1704, quebra o contrato com o administrador da sua capela no termo da villa do Rabaçal - nessa altura ainda não se chamaria Junqueira, pois a existir teria sido referida. Teria ficado em abandono, por falta de pagamento. Porém, naquela altura a Ribeira de Alcalamouque pertencia ao Rabaçal,  e assim dizer que a capela instituída pelo Mestre jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho, o seu palco foi na Junqueira, então na imediação do Rabaçal. A capela da Junqueira por estar em cima da estrada mudou mais tarde a fachada para sul, a inicial era para poente . O que vaticino, porém jamais foi temática abordada por historiadores ou investigadores.

                                                          
Segundo relato transcrito das Memorias Paroquiais pelo Padre Manuel Pinho

O  ANTIGO CONCELHO DE ALCALAMOUQUE - ALVORGE
«Já em 1142 se fala de Alcalamouque, a propósito da doação por parte de Soeiro Gonçalves da sua herdade em Alcalamouque ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Em 1182 este referido Mosteiro comprou mais outras herdades neste mesmo lugar. Este nome é de origem árabe e significa castro ou castelo junto a uma escarpa. Sinal que já foi habitado antes dos mouros chegarem a esta região. Um castro ou castelo era um lugar fortificado das épocas pré-romana e romana, na Península Ibérica, junto a um povoado permanente para refúgio das populações circunvizinhas em caso de perigo.
Prova de ocupação humana desse tempo é a existência de várias oliveiras multicentenárias nas proximidades da nascente, uma delas a maior que se conhece em toda a região.
Esta povoação fica num planalto a norte do Alvorge, concelho de Ansião, e pela sua localização, constitui um belo miradouro sobre o lugar de Pombalinho, os montes de Vez, Ateanha, Juromelo e Rabaçal. Ao fundo da escarpa, nos olhos d'água, nasce a ribeira de Alcalamouque.Esta nascente situa-se no sopé do monte a escassos metros da povoação criando uma ribeira que mantem um caudal permanente ao longo do ano, alimentando em conjunto com outras nascentes da região quer subterraneamente quer a superfície, o rio dos Mouros, que atravessa partes do território dos concelhos de Penela, Condeixa-a-Nova, Montemor-o-Velho e Soure, passando junto das ruínas da cidade romana de Conímbriga, num vale em garganta e também na localidade de Ega. Tanto em 1527 como em 1689, há documentos que comprovam que pertencia então ao concelho do Rabaçal.
Entretanto esta aldeia acabou por ser cabeça de uma vintena também chamada concelho como as outras da região. As Informações Paroquiais de 1758 da freguesia do Rabaçal dizem que era a sexta vintena do termo da vila do Rabaçal e tinha então cinquenta fogos.
Em 1792 ao concelho de Alcalamouque pertenciam os seguintes lugares: Alcalamouque, Ribeira, Vendas, Azenha, Casal de S. Pedro, Confraria, Castelo Ventoso, Mata e Vale Florido.
O monumento mais importante da povoação é a capela dedicada a São Pedro erigida em 1689.
Trata-se de um pequeno templo mas com adro alpendrado. E tem um púlpito no exterior com a seguinte inscrição: [E]STE PVLPATO / [M] ANDOV FAZER / [_] LIORGE AÇVA / [CV]STA ANNO / 1689. Um púlpito assim no exterior revela que noutros tempos a esta capela acorria muita gente para as festas ou simplesmente para missas dominicais.
De salientar ainda as magnificas paisagens que podem ser apreciadas do alto do povoado.»

 


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