sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Adágios e ditados que ouvi por Ansião.

Adágios e ditados populares que teimam ficar no meu ouvido por tanto os ouvir na boca do pessoal de fora, gente que conheci contratada para trabalhos vários, nas fazendas dos meus pais...
Trovão em janeiro, nem bom prado nem bom palheiro. 
Não há luar como o de Janeiro, nem amor como o primeiro. 
No dia 22 de Janeiro pelo S. Vicente alça a mão da semente. 
Neve de fevereiro, presságio de mau celeiro.

No dia 24 de Fevereiro dia de S. Matias começam as enxertias.
Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão; março marceja (chuva miudinha) pela manhã chove e à tarde calmeja; março pardo, antes enxuto que molhado. 
Quem não poda até março, vindima no regaço.
Vento de março, chuva de abril, fazem o maio florir. 
Em abril queima a velha o carro e o carril. 
Abril águas mil. É próprio do mês de abril as águas serem às mil.
Maio pardo e ventoso faz o ano formoso. 
Mês de maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores.
Junho ventoso faz o ano formoso. Lavra no S. João, se queres haver pão. Sardinha de S. João já pinga no pão.
Julho mês das colheitas. Pelo S. Tiago, pinta o bago.
Agosto mês das festas. 
Em setembro ardem os montes, secam as fontes.
Dia de S. Bartolomeu anda o diabo à solta.
Quem planta no São Miguel vai à horta quando quer.
Outubro quente traz o diabo no ventre.
Em outubro sê prudente, guarda o pão, guarda a semente. 
No dia de S. Martinho em novembro, mata o teu porco e bebe o teu vinho. 
Pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho.
 Do Natal a Santa Luzia, cresce um palmo o dia.
 Em dia de Santa Luzia cresce a noite e mingua o dia e, …
Outros ditos do pessoal que andava ao dia a forase fores ao mercado compra:


Porco sarnudo (muita carne). 

Queijo pesado (não é rendilhado). 
Pão leve (sinal de bem cozido).
Azeite líquido (não tem borra). 
Mel coalhado (é puro). 
Ainda outras sabedorias, adágios que das suas bocas ouvia

”Quando o ganho é fácil a despesa é louca”…  
“Quem pouco ganha e muito gasta, se não herdou, furtou” 
Com todos me acostumei na aprendizagem de mezinhas, saberes, ditados do "borda-d’água popular” o saber das fases da lua para sementeiras e colheitas -, ao falar com eles a mesma linguagem, criei com todos uma empatia -, alguns desabafavam, contavam segredos, não era o facto de andar a estudar que me tornava diferente - gostava de estar com aquelas pessoas, com elas aprendi muito, tudo o que sei sobre a arte da lavoura e alguma coisa da vida.
Pior foi quando cheguei a Lisboa senti o gozo diário da minha pronúncia desses tempos “chamavam-me bimba”. 
Gente desse tempo que sempre me respeitou, especialmente o Ti Alfredo da quelha da Atafona, pai da minha amiga Tina -, no quintal semeava as favas, batatas, fazia os regos a prumo para o feijão verde, verdejava a frondosa e secular nogueira. Então não me lembro tanto dele, de me ensinar a pôr as batatas no rego, com carinho me arranjava um pauzito a bitola do espaço para nascerem certas, e o mesmo cuidado a plantar alfaces, couves-galegas, beterrabas, feijão, e ainda outras sabedorias. Amigo da conversa, de tantas conversas, adorava-me, sentia, e eu a ele, por ser homem bom, abençoado de olho esverdeado, homem distinto,  mais parecia um “Santo”. Havia outros trabalhadores rurais contratados pelos meus pais para tratarem de escavar a vinha; Pedro e Marcolino de Albarrol, também da mulher deste a Rosa, andou no quintal a tratar das nozes -, no tempo que eram três nogueiras, o Rafael da Garriasa também um trabalhador assíduo, e o Ti “Pau-preto ”andaram muito em tarefas pelo quintal.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Férias a deambular por Ansião em 2009

Boas férias em 2009 na casa rural . Há anos que não gozávamos assim umas férias...Por Ansião, Agroal e Moita Redonda e ainda fomos ao Algarve que merece outra cronica pelas fotos. As festas já tinham acabado. À nossa espera um arroz de cabidela como só a minha mãe sabe fazer, divinal e ainda nos presenteia com um bolo magnífico, não resiste a guloseimas.
No dia seguinte tínhamos convite para almoçar em casa do Tio Zé e da Tia Emília no Pereiro de Baixo. O repasto, mesa farta de leitão do "Bigodes" muito bom mesmo, dos melhores que tenho comido!
Seguiu-se o convite para o Pereiro de Cima na casa do Tio João e da Tia Zézita. Degustámos um esplêndido cozido, tinha havido matança, possivelmente a última, tudo é muito trabalho disse o tio. Seguramente um saboroso cozido à Portuguesa feito à moda antiga. Quanto a nós só faltava a farinheira, enchido que não gostamos de prescindir.
Passámos quatro dias sozinhos na casa rural . Não se podia com o calor à noite e o barulho da bichesa, grilos, cigarras...Era tanto calor que tivemos de dormir em quartos separados com as janelas abertas a ouvir até à uma da manhã o som inesquecível suave do "Oceano Pacífico". Não fizemos as tarefas todas que tínhamos programado. O tempo passou sem darmos conta. Depois de trabalhos no quintal no melhor ao escurecer por volta das 9 com a falta de luz no terraço gosto de me despir para saltar para a banheira e tomar um grande banho. Na cozinha confeccionar o jantar ao som de outra telefonia. Depois da cozinha arrumada refrescar na estrada na soleira da porta na noite escura na luz das estrelas ao som da bicharada.
Convidámos a família e oferecemos um almoço na adega. Sardinhada com tios do Pereiro , Zé ;Emília, João, Zézita; Acácio e Benilde. Grande o trabalho de limpar as teias de aranha e aranhões da adega, demos cor às madeiras das arcas e dos pipos velhos, redecorámos as velharias e alfaias suspensas sobre as traves de madeira. No janelo cortina de estoupa com renda azul que bordei. Deslocámos a mesa grande de madeira com os bancos corridos e outra mesa redonda, eram 11 pessoas, porque o chão em terra torna-se mais fresca.
O banco de carpinteiro e a arca grande serviram de apoio, nada faltou. Começamos com os acepipes, queijo fresco com trago a pedras de sal, queijo curado do Rabaçal, caju, passas de uva e o vinho do Porto da Mó. Seguiu-se a sopa de feijão verde com tomate, uma delícia.A sardinhada com boa salada e batata cozida. Por fim o famoso Pão de Ló feito pela minha mãe, aguardentes e café. Todos gostaram.
 
 


Agroal  
Um outro dia fomos redescobrir o Agroal de cara lavada, apesar de ainda não estar tudo pronto, havia muita gente, e muito menos moscas...
A minha linda mãe, tomara eu chegar à sua idade  e ter assim um belo corpo!
Levámos piquenique, comemos sob o olhar dos demais que comiam sandes e frango de churrasco sobre os joelhos enquanto nós bem acomodados na nossa mesa tipo malote, degustávamos o farnel, não faltou o cafezinho...levo sempre o termo com água quente. 
 
Também a praia fluvial do Mosteiro estava repleta, gostámos do banho. Ainda vimos um carro deslizar por o condutor não o ter deixado engatado, se não fosse o muro de cimento armado tinha sido uma catástrofe.
De regresso a casa, a filhota iniciava as suas férias e no dia seguinte seguimos rumo a desfrutar o Algarve!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Colónia de férias Dr. Bissaya Barreto em 60

Foram uns três anos que frequentei com a minha irmã, a Colónia Balnear Dr. Bissaya Barreto na COVA - GALA com uma extensão de 7 hetares, importante obra deixada por este médico nascido em Castanheira de Pera, como tantas outras Casas para Crianças, espalhadas pelo centro do País. 
As instalações serviam como colónia de férias para jovens do interior do país, mais carenciados. 
Volvidos 40 anos voltei ao espaço, agora abriga idosos em férias. Senti-me triste por ver que tanta coisa tinha mudado!
À chegada das camionetas todos eram divididos por setores; serviços, plásticos e,...A cachopada em fila indiana à sombra das copas dos altos pinheiros em a forte alarido e tropelia, apesar das vigilantes nos mandarem estar ordeiros ate´que nos mandassem seguir na direção dos balneários, porque do banho ninguém escapava, alguns seria a sua primeira vez, diziam as vigilantes entre dentes...Balneário de paredes em mármore e grandes torneiras com água morna onde todos se lavavam com sabão azul e branco  para depois de secos, de novo em fila indiana para receber um par de calção azul de sarja e camisola branca de meia manga, sendo que elas não se preocupavam com os tamanhos se seriam os apropriados para as crianças. Aconteceu num ano em que me deram uns calções onde cabiam dez... Casa onde se aprendia a ser esperto e ter pé ligeiro, havia gente das bandas de Viseu com ar de astucia, apesar de pobres -, então não nos roubaram logo no primeiro dia as lindas camisas de noite feitas de propósito pela modista D. Lucinda do Fundo da Rua de Ansião, nunca mais lhe pusemos a vista em cima. O nosso pai mandava-nos na mala amostras de vinho do Porto que à noite nos beliches abríamos para reconfortar o estômago da fome esfomeada por ser comida intragável e detestável, num ápice tal aparato fazia a delícia de quem se abeirasse de nós, até ao dia que sem elas ficamos também...Por isso aprendi rápido a ser espevita e maldosa, e no ano que me deram os calções enormes nessa noite os troquei pelos  calções do "pão dezassete tostões" alcunha que lhe tinha posto logo que a conheci, pelo formato da cabeça me fazer lembrar o pão que todos os dias ia à padaria comprar...A comida terrível de travo e cheiro a fénico, nunca tinha comido polvo, odiava aquele arroz escuro com tentáculos que me pareciam sardaniscas, o que vale é que tal como no Bairro de Santo António -, também aqui liderávamos o nosso grupo de cachopada da terra, sentadas na mesma mesa, coitada da filha do Guarda Fios, o Sr Farinha, obrigada a comer não sei quantas sopas, também as cachopas do carteiro João dos Netos e,...A deambular pelo refeitório "a fazer de polícia, o Sr. Marques" homem rude, baixote, armado de óculos de massa e régua em punho-, o polícia para manter o silêncio, e na vigia da obrigação de se comer tudo o que punham no prato...Mas fazíamos batota, o salão era enorme...De manhã as filas indianas se organizavam para sair intercaladas a caminho da praia a calcorrear dunas, a subir e a descer por meandros, como cobras a serpentear na areia a olhar o mar, o entretimento passava por apanhar a caruma dos pinheiros que nós chamamos munha e fazer espinhas.Tanta brincadeira com todos em círculo na roda da barraca -, tomava conta de nós a então Regente da escola de Albarrol. Adorava o jogo do prego na areia molhada, pior mesmo o ritual do mergulho com o banheiro, o medo que fiquei, ainda hoje não consigo mergulhar, boas lembranças do lanche à tardinha em que as mulheres demoravam em chegar armadas de cestas de verga à cabeça cobertas com panos brancos, traziam o lanche, nada mais do que quartos de pão de quilo com grossas fatias de marmelada da boa, vermelha. Muito gulosa a minha irmã ficava com a minha e eu com o pão dela. 
Lembro-me de um dia termos recebido uma encomenda da nossa mãe, sandes de carne assada embrulhadas em papel vegetal dentro de uma caixa de sapatos que pedira na sapataria do Sr. Gaspar. Esquecer este episódio é que jamais-, quando a encomenda foi aberta…"pão duro e carne seca e negra, mas que nos soube tão bem, não fossem os nossos fortes dentes, difícil seria traga-las..."
No melhor? Nunca, em ano algum, fizemos a temporada completa, ao terceiro domingo os nossos pais apareciam mortos de saudades, de olhos fixos nas filas com centenas de miúdos vestidos de igual, a descoberta era árdua, difícil, todos diferentes sendo todos iguais-, nesse ano repararam na minha irmã que trazia no bolso de trás dos calções o papo-seco rijo que tinha sobrado da dita encomenda. Visivelmente incomodados por tal aparato, apesar de nós dizermos que tinham chegado rijas que nem "cornos" mas no caso nos souberam que nem "ginjas".
Na colónia havia um anfiteatro para fazer peças de teatro e outras atividades. 
Recordo que todos os pavilhões eram forradas com bonitos azulejos da fábrica de Aleluia de Aveiro.

sábado, 18 de abril de 2009

As minhas sardinheiras...

Adoro sardinheiras.Talvez por serem eternamente portuguesas!
Esta compre-a em Odemira quando aluguei a casa típica pintada de branco com barras a azul para a minha filha.

Comprei duas diferentes, quando me vim embora, trouxe uma pernada de cada uma, mas apenas esta sobreviveu , está farta de dar flores, aqui e na casa rural também.Gosto sobretudo da tonalidade e do frondoso cacho de flores em cerise a lembrar as cerejas...bonito vaso vidrado em amarelo torrado a ostentar vaidoso a minha sardinheira!

Uma rua replta de sardinheiras eem Santiago da Guarda ao Carvalhal
 

terça-feira, 14 de abril de 2009

Rosas de Alexandria na Mouta Redonda

Avista-se a serra do Anjo da Guarda onde o calcário é rei e na frente a Nexebra eucaliptizada de costados xistosa onde já proliferam antenas eólicas.Serra da Ovelha também conhecida por Serra do Anjo da Guarda de onde se desfruta além do miradouro, moinhos de vento  recuperados que se deslocam sobre rodas em  eiras de pedra,  mesas para piqueniques, a capela do Anjo da Guarda, casa dos caçadores, casa do Ciclo do Pão, vestígios do paleolítico e outras pedras esculpidas pela erosão salpicadas de orquídeas da serra e tomilhos, o mais predominante e conhecido na região chamado erva de Sta Maria, e alecrim, cucas, jacintos, lírios do campo, alfazema, carqueja e rosmaninho.
O almoço pascal  de 2009  aconteceu na casa rural...A minha mãe fez o almoço e trouxe-o onde foi degustado. Desde que herdámos a casa foi a primeira vez que comemos na sala, temos utilizado o terraço, a cozinha velha, também chamada churrasco, ou a cozinha da casa. A mesa estava bonita com uma toalha branca bordada do meu enxoval, enfeites e uma jarra com rosas do jardim, onde não faltava um prato cheio de amêndoas de chocolate branco e preto, lilás, de Paris, e... O arroz de pato assado com couve lombarda " Pato à Franklim" estava uma delícia. As sobremesas além do arroz doce símbolo da época festiva, o folar, o bolo com doce de chila para fechar com o cafézinho e um pichel de aguardente de cana trazida dos Açores,  pena estar prestes a acabar. Depois do almoço passeata até ao Vale para matar saudades, o sítio onde a minha mãe nasceu e eu em miúda passei dias de férias com a minha avó.

Vale 
Na quelha do Vale parei na porta da  casa  do tear da Ti Joaquina tecedeira, hoje a casa da Maria  e do Silvério que se abre para o largo da fonte e dos tanques.
A figueira da Índia ou do Inferno como lhe chamava em pequena, por causa dos picos, trazida de Coruche cresceu no talho na frente da eira da minha mãe.
Redobradas forças para caminhar pela Nexebra até ao Santaínho propriedade herdada que fica junto à estrada de terra batida agora mais larga, vendidos os eucaliptos apreciar os novos rebentos. Decidi conhecer o limite da propriedade que se estende por uma das faldas da encosta, ninguém me quis acompanhar, caminhei sozinha apenas por intuição e cheguei primeiro à Mina de S.João, do que eles, que optaram regressar pela estrada. Aventura vivida em êxtase porque o terreno se apresenta a pique com eucaliptos de todos os tamanhos de onde apenas deslindava resquícios de céu por entre as suas pontas tão altas, e pelo chão à toa infestantes troncos nus, sobrepostos com muita ramagem deixada pelos madeireiros no corte da madeira, loucura o emaranhado em que tive de saltar, abaixar-me, sempre com medo de escorregar pelo declive e obstáculos  sempre surreais do terreno. Finalmente encontrei uma mina  que contornei com cuidado por o terreno se mostrar traiçoeiro, optei por descer pelo seu leito, por entre silvas, e outros pequenos arbustos para finalmente chegar sã e salva.Adorei ter conseguido fazer a descida sozinha de imprevisto.Aventura fenomenal.
Depois ainda não satisfeita esgueirei-me pela ribanceira abrupta do Carvalhal da minha mãe, com o alargamento da estrada, o acesso ficou muito alto, com muita pedra de xisto solta e íngreme.
Mirei o grande tanque em pedra que outrora levava a água da mina da Cavada para a casa dos meus avós em queda livre.


Para junto da eira parar junto do silvedo das rosas vermelhas de Alexandria, as favoritas da minha mãe e já eram da minha avó.
 
No ribeiro que desce da Nexebra apanhei  um ramo de jarros para enfeitar a casa da minha irmã, afinal era dia de Páscoa e ainda fui ao cemitério enfeitar a campa do meu pai, e as rosas deixei na campa logo atrás da da minha Titi, irmã mais velha da minha mãe, marido e filha Isabelinha...

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