Nasci com dentadura maciça e certinha.Um privilegio!
A
primeira vez que fui ao dentista tinha 12 anos, levada pelo meu pai que na altura funcionava um dia por semana em Ansião - vila da Beira Litoral do distrito de Leiria -
tiraram-me dois molares. Aprendi a lição. Vangloriava-me nas festas de
anos perante todos em abrir as garrafas da gasosa e laranjada com os
dentes -, à falta de abre latas, gracinhas de miúda. A partir dessa
altura nunca mais descuidei a boca, porque interiorizei cedo o que é uma "dentadura artificial". A
Ti Otília -, velha solteirona do Casal das Pêras quando passava ao adro
à nossa porta vinda da casa do irmão, meu tio Manel,atazanava-me a mim
e à minha irmã , gesticulando a dentadura para fora e para dentro da
boca, há mais de 45 anos. Ficávamos
assustadas,a mulher metia medo, alta,feia, enrugada, cabelo
desalinhado mais parecia uma bruxa ou vampiro, era com certeza uma
personagem dos filmes do Drácula !Só
mais tarde percebemos que tinha as gengivas mirradas com a idade, a
dentadura estaria larga...naquele tempo em 60 -, quem diria que ela já usava uma, um luxo só de alguns, possivelmente teria sido em Lisboa onde tinha uma irmã a residir, e na vila seria a primeira pessoa com dentadura?
Voltaria ao dentista para arrancar os dentes do siso, foram quatro, depois dos 20 anos em Lisboa. Desde cedo que interiorizei o que era uma dentadura postiça...sempre senti o horror da descaracterização do sorriso, da malícia sensual perdida...não há nada que chegue aos nossos dentes estimados e bem tratados -, ao nosso sorriso !
Durante anos fui assídua nos consultórios da especialidade, ainda hoje. Aqui começa o dilema!
No início de março senti a gengiva superior esquerda mole - a empolar -, num ímpeto tomei uma semana um anti-inflamatório. Feliz fiquei porque a situação normalizou.Passados dias o mesmo aconteceu na gengiva de baixo, facto que estranhei, retomei a medicação mas não satisfeita com este aparato anormal decidi marcar uma consulta gratuita nestes novos consultórios que agora proliferam. Dia marcado - fizeram-me uma entrevista e um raio X panorâmico à boca. De seguida fui vista por uma dentista, analisou a boca e me informa que tenho uns bons dentes, só tinha o 47 cariado, falhas nos dois dentes da frente que precisavam de restauro(partidos a segurar cabides quando passo a ferro...)e falta de higienação, tudo com orçamento a rondar 380€. Sai do consultório aliviada, afinal não havia nada de grave...assim pensava eu!
Marquei consulta para o meu dentista habitual para tratar do dente cariado no dia marcado - 29 de março levei o raio X para ele tomar notas na ficha. Analisado diz " a minha colega não deve estar boa, não há nenhuma cárie no dente 47, só precisa de fazer a higiene oral, venha em junho para se retocarem os dentes da frente que agora não tenho massa dessa cor." Mais uma vez vim embora descansada.
Em princípios de junho comecei a sentir uma moinha - coisa pouca noutra gengiva - mais uns comprimidos anti inflamatório ...entretanto fui passar uma semana ao algarve, a dor persistia, sentada na mesa e com o espelho deu-me para observar a boca - achei a cor da gengiva mais escura, o pior mesmo detetei dois dentes a abanar sem razão aparente no maxilar superior esquerdo....nem dormi nessa noite tal o medo de os perder, ou ainda pior a razão de tal enfermidade.No dia seguinte passei por uma para-farmácia, a primeira na Rocha ainda arrumava o stock para o verão - não tinha nada - na segunda, a balconista de meia idade, vendeu-me o único anti inflamatório que tinha na prateleira - Ananase - fraquito - o que sempre tomei e cuja validade expirava ao fim de dois meses, e uma solução anti sética. De regresso a casa marquei nova consulta noutro consultório análogo ao primeiro, ao telefone expliquei a situação - a rececionista agendou o dia de acordo com a dentista especialista em periodontia - o que em abono da verdade me deixou até tranquila, pelo cuidado com o utente em o dirigir para a especialidade.Dia agendado - atualização de dados pessoais. Na entrevista - reparei que tem na sua frente uma folha com os meus dados pessoais e em relação a eles fala e orienta a conversa, o que facilmente constatei. Novo raio X e nova avaliação bocal.
Pior fiquei - entrei no consultório com dois dentes a abanar e sai com três. O pânico generalizou-se em mim. No caso a falta de dentes muito nova, aos 12 anos, fez com que as gengivas começassem a mirrar, também a idade contribui, por isso a higiene bocal fica aquém ao combate das batérias que se vão instalando por debaixo das gengivas, ganham fissuras que acabam por destruir o osso e por fim a perda do dentes. Logo eu tão preocupada com a dentição, esmerada todos os dias não falho três lavagens, ainda uso a solução anti sética oral, a minha saliva brutalmente mineralizada, contribui grandemente para a deterioração dos meus dentes...acho, enquanto noutros provoca cáries.
Alerto ao cuidado com esta moda de consultórios dentários.Sabem vender o produto. Então não apreciei enquanto esperava no balcão - apercebi-me que faziam o mesmo a outro cliente...a arte do negócio, a lábia, a destreza, a rapidez de atacar logo de frente...coitados dos incautos que assinam de cruz empréstimos, só mais tarde é que acordam!
Aparte disso pude constatar que este tipo de consultórios trabalha em regime de franchinsing são em tudo semelhantes em toda a tramitação negocial. Além da rececionista, existe um elemento de relações públicas, o elo negociador - calibre vendedor, se não vende, não há produção para a clínica, é por ele que passa todo o negócio. Tratam da boca no total e não isoladamente como é hábito se recorrer.
No gabinete a dentista analisa com o apoio do raio X a boca do paciente - vai dizendo em voz alta as mazelas e o que se apraz fazer, atrás dela a "vendedora " toma notas no papel que tem nas mãos e ainda trocam impressões. Depois saí com o elo negociador e de novo ao gabinete do negócio a vi inserir os dados no PC - software adequado a preçário em dois minutos tive nota do orçamento total e até o valor da prestação no caso de não querer pagar na totalidade.Quando pergunto se em caso de pagamento total tenho desconto, responde "depois falo com o meu diretor"...
O orçamento só de implantes num total a rondar os 5.000€. Quando falei em próteses fez por alto sem vontade o precário - coisa de pouco mais de 200€...que achou estranho tão barato, até voltou a fazer - revelou não ter interesse em fazer este tipo de serviço, porque dá pouca rentabilidade à clínica - o negócio é a implantologia. Aflita, perguntei-lhe se não havia ainda a hipótese de um tratamento com antibiótico - disse-me que não...claro é vendedora, não é dentista!
Sem delongas saí apressada , ao dobrar a esquina, chateada pensei, "vou a uma urgência ao Centro de Saúde, mesmo que o médico me diga que não é dentista - ou que não se trata de doença com carater de urgência, tem de me ouvir, resmungava eu com os meus botões..."
Na minha vez expliquei o assunto, a médica não me queria deixar falar, teimei em querer explicar a odisseia e o tempo que ela durava, no PC acompanhava para sorte minha o relato, e batia certo - constatou a consulta que fiz no serviço nacional de saúde -, interessante tudo estar registado - disse-lhe que já tinha nova consulta no dentista agendada para meados de julho. Sai do Centro Médico mais aliviada, ainda tomo a medicação prescrita. Sinto ligeiras melhoras, já posso mastigar. Apesar dos dentes ainda abanarem...
A caminho de casa deu-me uma raiva de explodir. Não sei como este episódio vai terminar. O que sei é que fui a tempo em inicio de março a um desses consultórios modernistas - disseram que estava tudo bem, quando efetivamente não estava, andei enrolada estes meses, a infeção a generalizar-se e a provocar estragos irremediáveis - a perda de dentes, o mais certo causado pela gengivite (?).
Pior, seria se acatasse logo o arranque dos dentes e a sua substituição por implantes !
Sinto um horror a estas novas modas de negócio de imposição - sem olhar ao interesse do cliente!
Primeiro, apareceram os economistas que não tinham trabalho - associados se instalaram no mercado com negócios paralelos à banca, trabalhando a par com esta na defesa diziam eles do cliente que carregado de dividas os ajudavam a resolver, juntando todas numa só...haviam até bancos que aceitavam todo o tipo de clientes com créditos em mora, até contencioso, porque a fome em ter um rácio de solvabilidade no produto estrela era de tal forma brutal que não olhavam a meios para atingir os fins.
Hoje, alguns bancos estão na penúria por tantas transferências feitas em cima do joelho...também essas empresas praticamente saíram do mercado...sem o protetor do banco que confia, e negoceia a transação, não há ajuda na concessão do crédito .
Agora apareceu a nova vertente dos dentistas que também se associam em clínicas com o método igual de tratar da boca total do cliente.
Incauto seria acatar tal loucura sem antes ouvir outra opinião, no caso de tratamento o cliente fica fidelizado de seis em seis meses, para o negócio perdurar e no meu caso seria de três em três meses...
O pior? Altos preços cobrados sem iva, só eles ganham.Falo dos orçamentos que me deram.
Que se lixe,o bolso do cliente, as seguradoras ou o estado!
Haverá outras empresas do género por ai a proliferar a encontrar filões, lacunas no mercado, a encontrar sempre oportunidades em tempos de crise ...tolos aqueles que vão atrás e lhe enchem os bolsos.
Precisei escrever em jeito de desabafo porque odeio ser enganada a olhos vistos...nem todos somos tolos ou patetas ou ainda incultos ou limitados.Devemos saber como as coisas se processam, devemos analisar e ponderar para melhor decidir e não embarcar em opiniões de comercias que ganham à comissão sobre os objetivos da empresa para quem trabalham.
Sou antiquada. Privilegio a medicina tradicional, mais honesta e barata!
Vamos ver como este episódio termina...no caso assunto para monografia!
E não é que foi mesmo!
http://quintaisisa.blogspot.pt/2012/05/faculdade-de-medicina-dentaria-do-monte.html