sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O telefone de manivela nos anos 60 na estória de ontem e d'hoje

A minha irmã continua profissionalmente ligada aos CTT - há tempos que me pediu para lhe comprar um telefone antigo. Dia houve que o encontrei na feira de Montemor o Novo na banca do "Manuel Ourives" - modelo  em baclite com manivela, fio maleável em plástico e disco de numeração , que comprei. Na última feira de Algés vi na banca do Sr Carvalho outro um nadita maior, mais antigo e muito mais barato.Fiquei a pensar no assunto - qual deles haveria de apreciar mais . Em conversa com o meu marido, disse-me - porque não vais na terça à feira da ladra , e o compras? - assim foi saí de manhã com chão molhado -, o Cais do Sodré estava despido de gente, apenas o sol rompia por entre as nuvens e brilhava no Tejo.No quiosque estava um cliente , ao ver-me sozinha naquele olival vazio atreveu-se ao dirigir-me um piropo...como ouvia nos velhos tempos!
Euzinha...nas minhas sete quintas
Fiquei "a pensar para com os meus botões" seria do farto laçarote ao peito - vestido da minha filha que reutilizei como camisola, das botas e calças também dela, ou do blusão da minha irmã ? Nunca me importei de reutilizar o que elas as duas deixam de usar. Há muito que se avizinham dias de poupança! Depois, há uma nuance importante - pareço sempre mais nova - essa a grande virtude!
Irresistível não fotografar o símbolo da Margem Sul - O Cristo Rei -, também do cacilheiro na travessia - dois ícones do Tejo e de Lisboa a que as oliveiras deram o sabor mediterrânico à capital. Além do telefone juntei as oliveiras - motes para me recordar do meu tempo de infância no caminho da feira da ladra - avizinhava -se grande caminhada!

Muitos anos mais tarde percebi o porquê da sova que a irmã da minha avó lhe deu à minha frente - conflito gerado na partilha de bens -, a máquina de costura nas sortes calhara à irmã Ermelinda radicada no Brasil, a minha avó decidiu levá-la para sua casa, em solteira só ela bordava nela, bordadeira de mão cheia presenteou cada irmã com adereços de núpcias. Também o seu enxoval era lindo e rico em bordado Richelie, bainhas abertas e bordado de Castelo Branco. E bordar à mão? A sua colcha de núpcias simples em abertos e fechados de costura ao meio, muito comprida e, bordadura ondulada com rabinhos de porco -,encantadora de simplicidade, estimo ainda. As coberturas das arcas em croché delicadas também. A minha avó Piedade foi uma mulher de mãos muito prendada. A irmã Carma não tomou nunca partido do azedume e da tareia, ao visita-la no hospital em Coimbra, obsequiou a enfermeira com uma nota de vinte escudos, para dela tratar bem…uns tempos depois a avó veio do hospital para casa, desta vez o quarto foi feito na sala do r/c. A doença de diabetes agravava-se -, a perna não "colava" , definhava a olhos vistos. Veio a falecer pouco tempo depois da surra que levou da  irmã Luz do Canhoto na manhã que o avô "Zé do Bairro" na padaria me convidou para o acompanhar até à Ferranha apanhar azeitona. Mal chegados - ele fez uma fogueira no meio do olival para eu me aquecer, depois mais tarde alvitrou que podia ir ajudar a avó a casa para trazer a cesta do almoço - o que fiz. Ao passar no caminho vi a tia Luz do Canhoto na apanha da azeitona com o marido, mulher de ouvido tísico,  ouviu a conversa,foi direito ao pinhal -, a vi trazer um grande cavaco que deixa arrumado atrás do muro junto à entrada da propriedade. Precisamente ao passarmos ela vem direito a nós -, desata a bater na minha avó sua irmã , partindo-lhe uma perna. Aos meus gritos vem o meu avô acudir. O marido dela nada fez, continuou na apanha ...nisto o avô diz-me - corre que nem uma galga telefona para os bombeiros ...assim fiz quando cheguei a minha casa - no tempo até lá não havia outra com telefone. Nunca perdoei este acto  premeditado de malvadez que acabou com a vida precoce da minha avó!

Foram sete anos malditos que abalaram a minha família paterna - neles morreram os quatro: pais e os dois filhos. Nesse pressuposto nas férias de dezembro tanto eu como a minha irmã dávamos o nosso contributo trazendo dos olivais as sacas nas bicicletas: Ferranha, Barroca,Carril, Garriasa, Lameira, Vinha, quintal e,... ao domingo era limpa no adro da capela de Santo António defronte da nossa casa onde se montava o palanque virado a nascente com o contraforte da capela: vergastões assentes nos tampos de duas cadeiras -, sobre eles estendiam-se as mantas, bem atrás despejavam-se as sacas de azeitona no carrinho de mão de onde era lançada com uma pá, o movimento de a mandar ao ar fazia que o lixo -, folhas e gravelhos caíssem logo, a azeitona mais pesada ia-se juntando no fundo do palanque. Depois de limpa era levada para a loja, salgada na tulha, ficava até ir para o Lagar. Mote este -, deu asas à minha irmã em inventar um para-quedas, com uma manta de serapilheira dobrada, cantos atados a quatro canas em jeito de pallium presas com corda à minha cintura, incrível, sendo mais velha, cobaia, sem medos -, dia houve que levantei voo do alto da figueira quase despida de folhagem -, amorteci a queda nos ramos embrulhada no para-quedas, caí no patim de terra batida e cabeça partida , uma cana fez-me um grande rasgo num sobrolho, fui a correr para o Dr. Travassos levei 5 pontos, então não se nota ainda hoje? Muita sorte a minha de não me ter aleijado mais na brutal descida de para-quedas inventado pela minha irmã!

Grande caminhada do barco até ao terreiro de Santa Clara, antes saboreei um rissol de camarão e bebi um café com a cegueira de ir à casa de banho para ver o berlicoque do autoclismo da fábrica Bordalo Pinheiro em feitio de pepino. Parei na banca do Sr Tiago onde comprei algumas peças de vidro muito interessantes - as faianças já as tinha vendido depois chamou-me a atenção os saldos da banca da Maria de Lurdes onde também enfeirei , de seguida fui ter com o Sr Carvalho - homem de cabelos alvos, sedosos com caracóis, sorriso delicioso e olhar maroto.Pedinchei desconto no telefone, disse que não fazia - descarada disse-lhe - no domingo à minha filha em Algés pediu bem menos...não percebo...rápido foi no baixar - mesmo assim ainda queria mais -  pu-lo dentro do saco ao mesmo tempo que resmungava baixinho...agora fico sem dinheiro nenhum, ainda me falta ver o resto da feira...diz-me ele - falta-lhe para beber um cafezinho? nisto numa atitude atenciosa e naquele olhar malicioso mete a mão ao bolso e tira uma mão cheia de moedas - disse-me atrevido - tire as que quiser...e, tirei! Irresistível não o deixar sem lhe dar um beijinho...
Este modelo mais antigo
Levei os dois telefones para ela escolher - preferiu o primeiro por ser mais maneirinho - ainda me deu uma gorda gorjeta. Só tirei foto a este último que vou vender.

Saudade de ser interlocutora ao telefone nesses tempos de antanhoum vizinho encontrou-se doente, foi com a mulher ao Dr. Travassos, depois de auscultado e de receita passada, o médico vira-se para a mulher “ não se esqueça de me dar informações” um hábito que tinha. Passados dias a mulher vai a minha casa, pede-me que ligue ao médico para lhe dizer que o marido se sentia bem melhor, do outro lado do telefone o médico pergunta-me “olhe lá ele obra?” naquela fração de segundo olho para a mulher e, achando que ela não saberia o significado da palavra obrar, questionei-a com um sinónimo” olhe lá ele caga?” do outro lado da linha impossível não ouvir o sorriso maroto do bom do Dr. Travassos… 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Avarias em equipamentos, e o saber reclamar

Avarias é coisa que acontece de vez em quando nas nossas casas. Quando se compra um objeto novo deve-se guardar o talão de compra e a garantia - aconselho um dossier com separadores onde podem guardar os recibos das despesas domésticas, seguros, condomínio, garantias e outros.Assim, quando algum equipamento avariar - se a garantia estiver dentro do prazo devem de imediato se deslocar à casa onde o mesmo foi comprado para fazer a participação, entregando o talão de compra e a garantia - os quais depois de verificados voltarão para a vossa mão, no processo fica  apenas as fotocópias para a reparação ser efetuada, e nada pagará.

No início do ano o esquentador dito inteligente começou a verter água, chamei o técnico que cobra à hora - no caso nem 10 minutos demorou para me dizer que a cabeça está calcinada mais isto e aquilo - o melhor seria comprar um novo, o valor a cobrar da instalação seria 45€,  do serviço se cobrou 45€ mais IVA no total de 55.35€. Felizmente o esquentador tem-se aguentado desde março, vamos ver até quando!
Também os computadores avariaram, o fixo e o portátil.Mais uma brutal despesa, mas necessária.
Em junho tive percalços com a máquina de fotografias - material muito sensível, sobretudo a parte ótica, nem sequer deveria ser levada para a praia, qualquer grão de areia pode-se infiltrar - , depois já não abre , nem a deixem cair. A minha caiu , deixou de abrir, levei-a à Worten - por culpa minha -, por ter estado muito tempo à espera da minha vez - a empregada  lenta no atendimento - ao fazer a relação do que deixava - não confirmei como era meu dever, depois na entrega foi a minha filha que a levantou, nela nem mexeu. Fui de férias para o norte, estava a tirar fotos no Douro na Régua, ao fim de 3 fotos não dava mais nenhuma...demorei tempos para perceber que lhe faltava o cartão de memória. Felizmente tinha levado outra máquina. Na volta enviei e-mail  com as indicações da reparação a explicar o sucedido  - quando a máquina avariou a primeira coisa que me ocorreu foi tirar a bateria, deixando -a ao lado da máquina no mesmo saco de plástico, ao me deslocar à receção de avarias a empregada não abriu a máquina, limitou-se a escrever o que viu dentro do saco, eu não verifiquei pela pressa. Rapidamente a Worten me deu indicações para me dirigir aos seus serviços para ir buscar um cartão  que me ofereciam igual ao que desaparecera aquando da reparação.Assim fiz.
Gostei da tramitação,  soube fazer a ponte na abordagem com educação e respeito, mas nunca esquecendo os meus direitos e deveres.
Dias após tive outra avaria , desta vez com a máquina expresso de tirar café pelo uso de cápsulas que não são da marca. Pelo meu marido a máquina ia para o lixo. Insurgi-me pelo inusitado  tirei-a para a marquise, no dia seguinte fui ler a garantia, ainda tinha a caixa guardada, limpei-a, encaixotei-a, e dirigi-me a outra receção da Worten para a sua reparação.Simpaticamente a atendedora disse-me que no caso a marca dispõe de um nº telefónico para o cliente participar a avaria, a marca vai a casa e deixa uma máquina substituta enquanto a do cliente estiver em reparação. Como ia estar ausente, não acatei esta boa solução, deixei a máquina. 
Interessante é ter conhecimento da conclusão das reparações via mensagem por telemóvel. 

Como se não faltassem mais avarias, desta vez os rádios da outra casa no total de 5...o da Pionner tocava  "sem quê nem paraquê" a onda finava-se...o da aparelhagem da minha filha deixou de tocar, o rádio despertador do meu quarto o único que em tempos trouxe para reparação na casa onde mando reparar a TV, o tecnico acabou com ele, deixou de tocar só tinha despertador- teimosa trouxe-o de novo, expliquei  que o problema inicial era do potenciómetro , só que na reparação ficou silencioso...ainda o rádio Grundig com mais de 100 anos. Todos foram reparados com êxito e a preço muito acessível. 
Feliz este fim de semana prolongado com os rádios todos a tocar sem parar!
Na viagem constatamos que a luz de marcha atrás do carro não ligava. Mal descarregámos o carro o meu marido foi ao mecânico - uma bomba nova e mais 30€.
Estou farta de avarias por este ano!
Cuidado também ao conferir o extrato dos cartões de crédito. Uma dívida que não foi efetuada por mim imediatamente reclamei, à posterior foi-me enviada uma cópia da factura - que nada dizia - nem a origem, nem a que respeitava só tinha o valor. Insisti e disse me parecia ser fraude. De novo indagado - era de facto fraude, o valor foi de imediato retirado do extrato .
Tomem atenção! 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Estórias de cachopos do Bairro de Santo António em Ansião

O que-fazer das crianças no meu tempo de cachopa no Bairro de Santo António … 
Sempre se ouviu dizer que a brincar a criança aprende a ser no dia-a-dia - homem ou mulher  construindo e revelando passo a passo a sua personalidade. Nos meus tempos de miúda éramos capazes de nos divertir a fazer troça do que quer que fosse: um simples rir; incitar bulha; imitar os pássaros; troçar do cambalear dos homens bêbados; pedir como os mendigos e ciganos; comandar o trânsito como os polícias sinaleiros; fazer de árbitros e relatores de futebol; apresentadores de televisão; brincar aos médicos; às princesas, andar aos grilos e, …Dependia da nossa imaginação momentânea e daquilo que nos desse na real gana. Praticávamos assim a nossa imaginação criadora em exercícios da liberdade de crianças inocentes como “roubar fruta, num tempo que havia pouca” - então não me lembro por detrás da fonte da Lagoinha ao Pinhal, subíamos ao muro da casa dos velhotes para apanhar laranjas, na quinta do Bairro junto ao poço da Ti Laurinda íamos às cerejas, mais à frente a caminho da Monteira de Baixo, dizimávamos os morangos na roda dos poços de gente do Escampado, uvas, pêssegos, maçãs riscadinha nas Lameiras, ameixas vermelhas na fazenda ao pé do cemitério... Naquele tempo os cachopos afrontavam o “Toino Trinta “ no dizer que não comia fruta em casa, só da que nós roubávamos, ainda íamos às amoras, nozes das nossas nogueiras, e medronhos da quinta do Dr. Faria em Novembro. 
Havia outras brincadeiras e jogos coletivos: jogávamos à roda; à parda; reis e rainhas; à corda; à macaca; ao botão; ao burro; ao pião; ao berlinde; à bola; andar de bicicleta; subir às árvores e,...Cavalgar no cavalinho -, a grande raiz aérea do plátano ao lado da escadaria da Capela de Santo António, que no tempo a encosta foi atulhando e encontra-se neste agora quase soterrada.

Entretínhamos-nos nos escorregas de pedra onde as cuecas se rompiam em fanicos e buraquinhos...
Outro entretêm era a dizimar carreiros das formigas do adro apesar de sabermos que se fartavam de trabalhar para encher o celeiro para o inverno enquanto as cigarras se derretiam a cantar - adorávamos apanhar grilos com junco nos esconderijos cilíndricos arquitetónicamente elaborados, pela noitinha dávamos caça aos pirilampos que se chamavam luzicus… A cachopada do Bairro onde eu e a minha irmã nos incluíamos, desenvolvíamos uma socialização - a nossa - apesar de irrequietas, e criativas reforçávamos o nosso espírito coletivo, mas também havia muitas vezes que nos desentendíamos uns com os outros, e todos levavam nas “trombas” porque conforme diz o rifão: “Quem vai à guerra, dá e leva” - safei a minha irmã que gostava de os atiçar e afrontava com certas atitudes que alguns não aprovavam. Dava-lhe um gozo especial mandar, sempre teve carisma de líder, no limite da afronta mandava-os estender no arame as nossas cuecas… Alguns deles ao tempo “armados em xico espertos” recusavam-se a fazê-lo, como o “Tonito da São”. Valia-lhe eu nas zaragatas desta rebeldia, quantas vezes me fiz a eles em sua defesa, tal a minha força de mãos, unhas e dentes -, mal daquele que eu apanhava, todos fugiam de mim, sempre me tiveram muito respeito. Passado algum tempo fazíamos as pazes, continuávamos a brincar juntos outra vez, e a levar e dar porrada também. Nas nossas brincadeiras, o que contava era a imaginação sem limites, e a arte do desenrasca em que o português ainda hoje é mestre, nesses tempos para além das brincadeiras, sempre tive gosto por coleções, entre elas, selos e postais, as cadernetas de cromos constituíram a minha iniciação à leitura e à literatura, a primeira abordagem à História de Portugal, a partida à descoberta do mundo de outros povos, e de outros costumes que eu e a minha irmã já conhecíamos pela televisão, e os outros miúdos não. Em 69 apareceu a série televisiva “Pipi das Meias Altas” uma miúda irrequieta de trancinhas ruivas e meias às riscas coloridas, a loucura de fazer a caderneta de cromos, também outra série francesa deu-nos mote para formar uma sociedade “o clube dos cinco” sendo os sócios, os cachopos do Bairro –, o jogo consistia na troca de coisas uns com os outros. Um dia o ” Tó Zé da Carmita” não tinha nada para a troca foi à casa da Deolinda, em dia que cumpria castigo imposto pelo pai Carlos Pego, estava “presa à mesa” o malandro do Tó Zé não hesita em lhe roubar um tanque de lata feito pelo pai dela e foi-se embora. A Deolinda mal acaba o castigo desata a correr no encalço dele com fé de reaver o tanque -, o Tó Zé não foi de modas, era rapaz levado da breca, com génio e armado de humor sarcástico o atira na frente dela para o silvedo da Cerca, em frente da casa. Nesse dia não houve troca no clube dos cinco, nem mais brinquedo para se brincar. Nestas trocas e baldrocas trocou-se uma libra de ouro da minha mãe que tinha deixado em cima do armário da cozinha -, à falta de coisa melhor, tal a luz que resplandecia, foi-se para sempre! 
Decerto que foi com a caderneta dos Trajes típicos de todo o mundo que eu fiquei fascinada pela Etnografia, antes de saber que entre nós, Garrett tinha sido o precursor, Leite de Vasconcelos o fundador e Luís Chaves e outros mais, os continuadores. Também muito ajudou os jogos da Majora comprados num bazar de Coimbra: xadrez; damas; trajes regionais do folclore português; jogo do galo e o monopólio, todos foram as minhas pastilhas de Cultura, o meu software, antes de terem inventado as consolas eletrónicas que programam e condicionam hoje o divertimento.
A rondar a extrema do quintal -, as "capelas imperfeitas" só lhes faltava as portas, nada mais do que duas casinhas baixas, idealizadas para galinheiro, feitas pelo primo Chico do Bairro -, que nunca o foram-, uma era minha, outra da minha irmã ,onde se brincava muito às donas de casa até usufruíamos de adega, sendo os pipos as latas do Milo com torneira feita na tampa com um prego fechado com um espicho de salgueiro. Predileção usar os serviços de porcelana SP de Coimbra da casa dos nossos pais guardados na sala -, fosse o de café ou de chá para servir os convidados nos batizados das bonecas, os cachopos nunca tinham visto loiça brilhante e bonita… A minha casa era uma azáfama o corropio de cachopada fosse pela nossa alegria contagiante, fosse pela fartura e grande atividade em inventar coisas além da liderança da comandita pela minha irmã "Maria rapaz" em fazer coisas e tropelias de mente fértil "do arco da velha ,trinta por uma linha". 
Havia tudo na minha casa para os distrair desde televisão que nenhum tinha, rádios, telefone, brinquedos, jogos, e comida. Inventávamos idiotices de bradar aos céus, chegou-se a fazer galão com água e barro do barreiro ao pé do "cavalinho” ,isto porque a minha irmã nunca foi de beber leite nem comer queijos, nem o cheiro. Bebia-se qualquer coisa naqueles tempos, nada fazia mal , não se falava em viroses, também não havia leite, só em pó, anos mais tarde houve uma vacaria no Fundo da Rua. Tanta loiça que se partiu naquelas festas a fazer de conta, lembro-me que um dia com as pressas fui à cristaleira da sala de jantar, não sei a força que fiz, num relance vi a prateleira cair, partiu-se praticamente tudo. Fiel guardadora dos serviços de vidros da Marinha Grande, por sorte salvou-se uma garrafa e dois cálices de pé alto, relíquias guardadas na casa da minha irmã. No patim em frente da cozinha estendia-se o terreiro de terra batida ladeado por canteiros com capuchinhas a invadir o chão na sombra da frondosa figueira, uma árvore de extraordinária particularidade com um dos ramos principais grosso, que o tempo quis teimar em deixar deitado -, imitava na perfeição um banco, o nosso regalo, não havia dia que não fosse escalado, refúgio para esconderijo, também para prender o baloiço que me fazia ficar “sem pinta de sangue” tinha de suster a respiração…No tempo dos figos que eram muito grandes, apodados de "bosta de boi" num virote enchia-se o balde para os porcos, enxabidos, não se comiam . Na extrema dos quintais, a figueira de pingo mel da tia Maria, esses sim doces de mel. Lugar de excelência, poiso ideal, o dorso do ramo para se pescar, divertimento maior no final de verão quando as abóboras grandes trazidas da Lameira se empilhavam junto ao muro, escolhida a maior, mais bojuda, abria-se ao meio com a faca da “horta” enchia-se de água e flores a flutuar, em punho canas de pesca improvisadas por nós, usava-se guita encerada de cozer as lombadas dos processos que o nosso pai trazia do Tribunal, o carreto, esse servia um carro de linhas roubado da caixinha de costura, os anzóis feitos de arame dos fusíveis do quadro elétrico. Divertíamos-nos à farta, quem pescava mais tinha direitos, ditava ordens, fazia menos tarefas domésticas, na folga das criadas!
O Halloween - predileção em o festejar no dia 31 de outubro , o Dia das Bruxas na América -, não se julgue que imitávamos o que a televisão mostrava , também. O facto é que nos contavam ser ancestral a tradição, pelos vistos caída em desuso na nossa terra. Sentíamos um prazer em esculpir as abóboras com a “faca da horta" esburacar carantonhas, depois pô-las em cima do muro da casa defronte para o adro da capela. Quando a noite caia acendíamos mechas de algodão embebido em azeite que as iluminava e fazia resplandecer na noite fria e escura em luz tons laranja, efeitos da cor do miolo das abóboras porqueiras, porque as abóbora bolina aqui chamada de “Menina” não tínhamos autorização de sequer mexer,serviam para os velozes no Natal. No dia seguinte era esquartejada aos bocadinhos, servia de lavagem para os porcos...
Levantadas cedo, vestidas em traje domingueiro então não era dia ...Dia de " Todos os Santos " procurávamos na gaveta os taleigos, sacos feitos de retalhos de tecidos que atavam com fita de nastro, ainda não haviam de plástico e em grupo com a comandita dos cachopos do Bairro de Santo António iamos caminhos fora apregoar cantilenas pelas portas dos vizinhos desde o Ribeiro da Vide, vila até ao Moinho das Moitas ver o rio Nabão que nessa altura já levava água na eira sem agriões...Em forte gritaria, entoávamos: Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos?
Na véspera do Dia de Ramos o caminho era ao Escampado de Santa Marta apanhar alecrim .
Boas lembranças dos cachopos desse tempo, hoje homens e mulheres: 
Toino e Mena Trinta; Deolinda e irmãos; irmãos Cunha; cachopas da Robertina; Tonito da São; Tó Zé da Carmita; Cristina e irmão,netos da Ti Ermelinda e,...

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