Nas Memórias Paroquiais correlacionei a noticia de 1721, referente ao Mestre Jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho, que instituiu um Morgadio com capela à Rainha Santa em 1696.
5º Em 1863, foram extintos os morgadios. Em Além da Ponte, o do Mestre jesuíta, teria criado arrufos na divisão da terra, parte ainda hoje é de seus descendentes e da família Duarte Faveiro. Desconheço o modo da sua aquisição.
6º O novo dono da Quinta de Além da Ponte - Dr. Abel Falcão, chegou a Ansião, nos finais do século XIX, com uma criança mulata, que já conheci mulher idosa. Alegada filha, porque uma casa ao Cimo da Rua, que foi dele, foi ela que nem sabia, que a vendeu...Ele era irmão de Rosa Falcão, que foi presidente da câmara de Ansião e Governador Civil, eram dos lados do Espinhal.
A meu ver, acresce o preconceito à criança mulata que tinha de ser calado . Ao admitir a sua envolvente ação nos planos da nova comarca de Ansião, com quem se coligou de mãos dadas no propósito de abafar os conturbados conflitos pela divisão da terra que fora do mosteiro e dos morgadios. Moveram interesses comuns a contributo da paz pública, em diversas ações encetadas. Credível que o palco da Capela da Rainha Santa em 1696, foi mais acima, onde em 1926, foi construída a casa do Dr. Vítor Faveiro. Para não estragar a utilidade futura desse lote a Capelinha de S. Pedro, foi levantada acima da margem norte, ao género das Alminhas, teria sido custeada pelo Dr. Abel Falcão, que doou os Santos: S. Pedro seria do oratório da casa, já que a família Alarcão, teve uma capela a este orago no Vale da Couda, em Almoster. Ou não e foi comprado porque era o único Santo popular em falta em Ansião. Já o S. João Batista, foi da capela do moinho de água da Quinta de Além da Ponte .
A tomada de ações do Dr. Abel Falcão e da comarca teve o sucesso desejado.
O povo passou a celebrar a festa ao seus santos populares no Bairro de Santo António, na Sarzedela e agora ao que faltava S. Pedro em Além da Ponte. Claro que havia arraial, música no coreto, bailarico na ponte e banhos santos, em anos de seca os tanques eram cheios de água que vinha em pipas...Desse ritual falam os orifícios nos rebordos dos tanques, onde os ferros das guardas enfiavam para maior privacidade. Como a ponte foi apetrechada de guardas e de bancos em pedra. E ainda inventaram uma procissão .
Ponderei a data da construção dos tanques. Se da campanha da obra em 1648, pelo que havia romano , ou mais tardios, por influência do milagre da Fonte Santa, ou não, e são desta campanha de iniciativas. E sim são, porque o tanque do Rio da Sarzedela é muito semelhante, pelos buracos de escoamento, serão dos finais do séc. XIX.
Falta saber se a Imagem da Rainha Santa Isabel, ainda se lembram estava num oratório de madeira, se é da mesma altura da que veio para o novo altar da Capela da Misericórdia, a custas do Visconde de Santiago da Guarda, então administrador do Concelho. Porque faz sentido, no propósito de não se perder a memória ao seu obreiro tão esquecido, o Mestre Jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho, o pioneiro em Ansião, da Capela à Rainha Santa como da Capela da Misericórdia – porém, em ambos os cultos, em 2º plano.
Perspetiva da ponte da Cal com os bancos
Altar da Capela da Misericórdia de Ansião
A referencia nas Memórias Paroquiais em 1721, do juiz Manuel Rodrigues que refere um vendaval ocorrido em 1706, que arruinou a Capela da Misericórdia, por certo o fatal destino da Capela particular da Rainha Santa, implantada na mesma direção da Capela da Misericórdia. A família do Mestre Jesuíta, quiçá, sem recursos, não a requalificou, mas, permaneceu viva na memória dos seus descendentes, na voz do Padre Coutinho (…) Segundo uma tradição familiarmente conservada, o Mestre Dr. António dos Santos Coutinho a ele também se deve a edificação da ermida da Rainha Santa Isabel, em Além da Ponte .Mais tarde, a Rua, que antes era chamada Rua Direita, vinda da Ponte da Cal ,para o Fundo da Rua, veio a ser agraciada na toponímia - Rua Rosa Falcão, julgo medida estratégica pela falta do nome completo, agracia os dois manos...
Exíguo altar onde convivem S. Pedro ladeado pela Rainha Santa e pelo S. João Baptista
Origem ao culto da Rainha Santa
É admitido por historiadores que foi iniciado com o seu cortejo fúnebre de 05 a 11 de julho de 1336, de Estremoz até Coimbra.
(…) no dia seguinte a 5 de Julho (sexta-feira) inicia-se a viagem para Coimbra, sob um calor abrasador, sendo o cortejo fúnebre acompanhado por muitos cavalheiros, damas da Corte e prelados, entre os quais se contava o bispo de Lamego, D. Frei Salvador. Apesar das medidas preventivas, a interrupção da viagem foi admitida devido à vacilação do cadáver provocada pelos movimentos dos transportadores, já que durante o primeiro dia de viagem algumas das tábuas do ataúde despregaram-se e pelas fendas começou a escorrer líquido. O desespero apossou-se da caravana, o corpo entrava em decomposição e em breve se iria produzir um cheiro intolerante. Mas a verdade é que o ataúde exalava cheiro agradável, uma situação devida às essências aromáticas usadas na preparação do corpo ou então devida a um fenómeno natural, o que levou os acompanhantes a proclamarem grande milagre. A 11 de Julho, ao princípio da tarde e após sete dias de viagem, o cortejo fúnebre chega a Coimbra e entra na igreja do Mosteiro de Santa Clara, ao som das harmonias plangentes das freiras clarissas, gritos e lágrimas do povo do burgo de Santa Clara.
Dr. António R. Rebelo (…) Em 1556, D. João III determinou a realização de um conjunto de iniciativas nas dioceses do país, nos mosteiros, na Universidade e no Colégio das Artes; encomendou a elaboração de uma biografia de D. Isabel, que narrasse a sua vida, obras e milagres; solicitou cópias de documentos antigos relacionados com esta figura conservados no cartório do mosteiro de Santa Clara; mandou fazer estátuas da rainha e averiguar da veracidade dos milagres (…) são instituídas por D. Manuel I as Festas em Louvor da Rainha Santa Isabel que se realizam em Coimbra (…) obtida autorização pontifícia em 21 de Janeiro de 1556 do papa Paulo IV, o rei D. João III, para que a sua santa avó pudesse ser excecionalmente celebrada em todo o reino. Naquele século, o culto a Santa Isabel conheceu um forte incremento em Coimbra, que culminou com a criação da Confraria em seu nome (…) O seu túmulo foi aberto em 26 de março de 1612, estando o seu corpo incorrupto. A 25 de maio de 1625 é canonizada pelo papa Urbano VIII, que a considera «uma das mais perfeitas mulheres da Idade Média». Nesse mesmo ano (14 de Outubro) o rei Filipe III, II de Espanha de onde a Rainha Santa era natural de Aragão, a declara «Padroeira de Portugal. Porquanto o famoso milagre das rosas o seja devido atribuir à sua tia Isabel da Hungria, embora não tenha sido por acaso que seu avô Jaime I lhe chamava «a rosa da Casa de Aragão», ao jus do seu rosto de candura, abençoada de humanidade ao aceitar um marido de paixão fácil tendo criado filhos bastardos como se fossem seus, apaziguadora em guerrilhas no reinos de Portugal e Espanha, ainda a extrema bondade para com os mais necessitados, o seja para mim tanto predicado para verdadeiros milagres, acontecidos num tempo longínquo praticado por uma Rainha sem medo nem pudor se abeirar dignamente do seu povo empestado de doenças e pestilento de sujidade para com eles interagir e dar esmola.
(…) Ao Colégio das Artes ou Colégio Real, fundado em 1548, em Coimbra, e cuja orientação foi entregue em 1555, à Companhia de Jesus, foi ordenado, em 1556, que todos os anos a partir daí, um professor da instituição fizesse uma oração comemorativa no dia 4 de Julho, dia da morte da rainha; instituiu-se esta prática no Colégio e prolongou-se por tantos anos quantos os jesuítas estiveram à frente do seu destino.
Aparato jamais visto, o ataúde exalava aroma floral, criando impacto nas terras por onde passou e nos viandantes – ao lhe aludir santidade! Ao ter ajudado os mais desfavorecidos e lutando pela paz no reino.
Credível, em pleno verão, depois de passar por Amieira do Tejo, passou o Zêzere e, ao ramal do Tojal, tomou a via do Rego da Murta, a caminho de Chão de Couce e Avelar, e não pela serra por Ansião.
O pedido para a sua beatização do rei D. Manuel I, ao bispo embaixador em Roma - D. Miguel da Silva, com raízes no senhorio de Abiul.
Foi canonizada em 1625 pelo papa Urbano VIII. Está sepultada no túmulo feito pelo Mestre Pêro, que se julga de Aragão, no Mosteiro de Santa Clara a Nova em Coimbra.
Em 1578, o primeiro livro da igreja de Ansião afirmava amiúde o nome Isabel.
Somos um povo resultado de heranças das tradições celtas, pagãs, ao solstício de verão - o dia da espiga e o culto ao sol; ervas e plantas, águas, pedras e fogo. A partir de 1492, a chegada de judeus veio contribuir na atribuição de Forais Manuelinos em 1514; Ansião, Avelar, Chão de Couce, Pousaflores, Aguda, etc. A cultura diversificada dos clãs, em religião e paganismo, ditou sacralizar as festas aos Santos cristãos mais populares ( S. António, S. João e S. Pedro) e, ao Divino Espírito Santo - a terceira pessoa da Santíssima Trindade, que procede do Pai e do Filho, criando a unidade de um só Deus de poder divino. Simbologia manifestada nas suas mais diversas formas, existem no concelho de Ansião, muitas imagens em igrejas, capelas e em reservas, mutiladas. Este culto era muito vivo na Beira Baixa, teria vindo de Pedrogão Grande com um ramo dos Freire de Andrade, para terras do Duque de Aveiro (Aguda, Avelar, Penela, Abiul, Pombal etc.) que se estendeu a Ansião, onde o apelido Freire, nos aparece na centúria de 500, de grande influência, sendo ainda muito vivo.
Orago ao Divino Espirito Santo
Igreja da Aguda e de Avelar
Capela no Alvorge
No Escampado de Santa Marta, existe uma bela escultura, admito ali guardada, foi pertença de outra capela que foi desativada. Na matriz de Ansião existe uma imagem mutilada, falta-lhe uma asa na pomba. Muitas outras capelas do concelho guardam bela imagens ao Divino Espírito Santo.
O chamado bodo aos pobres
Quiçá aduzido pela Rainha Santa, paganizou de mãos dadas o profano e o religioso. O bolo era ázimo - símbolo ao corpo de Cristo “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”, no Bodo em Pombal - após a República, o forno de foi demolido como o de Santiago de Litém. Anos depois, o bispo de Coimbra, proíbe a entrada do homem no forno. Reza o que foi essa história - o forno de Abiúl (Pombal) e o de Avelar, no Concelho de Ansião , porque o de Penela, também já não existe. Ainda se mantém viva a ação de graças à abundância do pão na grandiosa Festa dos Tabuleiros em Tomar e em menor escala em Pousaflores, com o seu elegante tabuleiro fiel há mais de cem anos. Tenho uma foto na festa de agosto, no adro da igreja, a minha mãe, teria uns 6 anos com os irmãos já adultos junto do tabuleiro. Família que se prezasse tinha o seu.
II Parte
Mítica sala de visitas de Ansião de Além da Ponte, beijada pelo Nabão e pela levada. Na margem norte, em 1696, foram instituídas duas capelas - à Rainha Santa Isabel, pelo Mestre jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho e, no moinho de Além da Ponte, a S. João Baptista, por Joana Baptista.
Correlacionei a nota do juiz Manuel Rodrigues em 1721, sobre a instituição de um morgadio no termo de Ansião, à imediação do Rabaçal, pelo Mestre Jesuíta Dr. António dos Santos Coutinho, com capela com administrador da Guarda (Santiago da Guarda), com o temporal de 1706, que arruinou a capela Misericórdia. O mesmo fatal destino da capela da Rainha Santa implantada na mesma direção a poente da vila, que interpreto da notícia vaga do juiz de 1721, redigida 25 anos da instituição do morgadio e, 17 anos , em 1704, da morte do seu instituidor. Se não me enganei nas contas, apurei o ano de 1696 da instituição do Morgadio e da capela à Rainha Santa, pese sem menção - atendi ao fervoroso devoto jesuíta, seu instituidor, como de resto toda a família Jesuíta, do Colégio das Artes em Coimbra, como da Residência Jesuíta da Granja , a segunda implantada em Portugal, em Santiago da Guarda, aqui em publicação inédita. Coligi ainda o local da implantação do morgadio, a partir da margem norte do Nabão à Junqueira, nesse tempo a Ribeira de Alcalamouque pertencia ao Rabaçal. Admito ainda, que o Mestre Jesuíta, instituiu duas capelas ao seu orago - e não uma - aos limites do seu morgadio: Além da Ponte e Junqueira. Em 1627, nas Memórias Paroquiais, a relação de Capelas afetas à Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Ansião, sem menção à capela dedicada à Rainha Santa. Vimos mais acima, que o Padre Coutinho aborda a ermida (Capela da Rainha Santa) nas memórias orais na sua família. No passado não era valorizado o fator história, e o que era particular não tinha o interesse como se fosse público, o que admito.
Inicialmente com frontaria para a estrada medieval/real com frontaria para nascente.
O Lugar cresceu com casario na envolvente, com uma nova estrada , a atual e a Capela mudou a fachada para sul para não estrangular a estrada .
Se a capela de cariz particular, teve um sacerdote residente ao seu serviço em 1764 .Portanto, alguém suportou os custos. A Capela apresenta colunas iguais às que se encontram em varandas de antigos solares na região . Desconhecemos quando mudou para pública, com alteração da fachada e alpendre, e se o orago a Nossa Senhora do Desterro foi o inicial ou à Rainha Santa.
Cantaria relevada na Junqueira
A escassos metros do adro da capela da Junqueira existe esta casa com duas belas janelas de avental esculpidas. Arte na cantaria com flores relevadas aparece retratada nos finais da centúria de 500, na matriz de 1593, até meados de 600, com a capela de NS da Paz na Constantina em 1623.
Em 1903, Alberto Pimentel no seu Livro Estremadura Portuguesa
Logo no primeiro paragrafo...E para avivar a mesma tradição se edificou ali uma capelinha a invocação da Rainha Santa - onde convergem os povos circunvizinhos em romaria nos dias 28 e 29 de junho. anedota pitoresca refere que em determinado anno, por estar quasi secca, a ribeira, a engrossaram com algumas pipas de água para não se quebrar a tradição do banho" ...
A incorreta informação julgo foi deliberada, a enaltecer o culto à Rainha Santa de novo em Além da Ponte.
O Dr. Manuel Dias, refere no Livro da Confraria de NSPaz, da Constantina
Em 1697, o pedido de alvará régio, para uma Feira Franca a 2 de julho em honra da Rainha Santa.
Exaltada a Confraria de NSPaz da Constantina à sua memória, no ano seguinte, da instituição da capela à Rainha Santa em Além da Ponte . Sem explicação a escolha deste dia, sendo venerada a 4.
Fecha a centúria de 600, com dois grandes titãs ao culto da Rainha Santa Isabel em Ansião. Seriam clãs rivais. Já que Mestre Jesuíta, não aparece como confrade da Confraria, nem como tenha dado esmola, estando em Ansião nessa mesma altura.
Admito que nenhum quis ficar atrás um do outro - um fez uma capela, a confraria, uma feira franca!
Nos finais do séc. XIX de novo a ribalta ao culto da Rainha Santa Isabel em Além da Ponte. Chegou o progresso em 1873, com um edital para expropriação de parcela de terreno para a nova estrada distrital - Vieira /Pedrogão Grande, que em Ansião era conhecida por Pombal/Pontão.
O que nasceu primeiro?
A fonte, ou o prédio de Virgílio Rodrigues Valente?
Em 1873, a estrada Pombal /Pontão gerou o cruzamento com a Rua Direita, criando os topónimos: Cimo e Fundo da Rua. O patriarca Virgílio Rodrigues Valente casou com a “Maria das Caldas”. Os sogros exploravam uma pensão ao Fundo da Rua, onde adoçou um prédio em “L” e fundou o Café Valente. Na fachada norte foi encastrada a contento, junto ao portão, uma fonte de espaldar em pedra, com pia para bebedouro de animais.
O Dr. Manuel Dias no livro dos Ilustres Ansianenses, refere que em 1926 teve deferimento o pai do Dr. Vítor Duarte Faveiro licença para fazer uma casa em Além da Ponte. Ao murar o quintal com a ribeira privou a continuada passagem pelo tardoz da capelinha. Há quem conjeture que o foi deliberado, dignificava não só a família como a sua casa ao tipo solarenga, pelas belas arcadas para sul a beijar a Capelinha, ao ditar a falsa impressão que lhe pertencia...
Capelinha "entalada" em parte no quintal do Dr. Vítor Faveiro
Canteiro a sul há anos com belas rosas na alusão ao Milagre da Rainha Santa Isabel...
Leito do Nabão a poente da ponte, em junho, quase sem água
Em 1937, a moldura do espaldar da fonte foi embelezada com painel azulejar falante à Rainha Santa Isabel dando esmola a um ancião.
Em 1937, foi embelezado em exaltação e vaidade, o espaldar da fonte do Fundo da Rua com painel azulejar falante - Rainha Santa Isabel dando esmola a um ancião. Virgílio Rodrigues Valente, no papel de fornecedor da câmara, fez a encomenda à Oficina de Coimbra J.G.Porto & Irmão – sendo desconhecida a autoria do risco do desenho, se dele ou do pintor. A fatura foi paga pela autarquia que a detém em arquivo. Admito o verso da sua laia a jogo certeiro ao topónimo que em 1937 se escrevia Ancião – palavra homógrafa , cuja mesma grafia tem sentido diferente, traduz idoso …(papel interpretado pelo mendigo) alegadamente a todo aquele que se insurgiu à jogada respondeu à laia de pensador “o humor depende mais de quem o recebe do que de quem o faz ou, o humor nunca é uma guerra pessoal, trata-se de piada sobre qualquer coisa para espicaçar mentalidades! “
Ponto 2.1.4.13 do livro de 1986 do Padre Coutinho em Cartaz Histórico aborda o painel, induzido em erro por um familiar ...
Sempre que um acontecimento marcante entra na memória pública, que interiormente o encarna e perentoriamente o tipifica como seu, ele assume foros de imortalidade, porque aparece sempre carregado com um sentido particular que lhe é atribuído pelo significado que representa para quem o recebeu dos antepassados. O seu conteúdo torna-se sagrado, cristaliza na consciência e nunca desvanece em nada, pelo contrário, a sua lógica é fator explicativo de muitas situações e motivante de condicionantes em diversas formas exteriores. Para a vila de Ansião, e não só, esse conhecimento primodial tem por substrato conjunto a já referida lenda da Rainha Santa Isabel, circunstância que, em 1937, determinou Virgílio Rodrigues Valente (embora na parte superior do painel tenha C.M.A. 1937, é propriedade particular e pertença dos herdeiros de Virgílio Rodrigues Valente, e não da Câmara Municipal de Ansião, como à primeira vista parece) a encomendar um painel de azulejos representativo daquele "facto" medieval, referido pela legenda A Rainha Santa dando esmola a um ancião. Delimitado por cantarias, enquadra um dos mais antigos fontanários do município e situa-se ao Fundo da Rua, às portas da vila. O fontanário é o que resta de outros, aquando da rede de abastecimento de água na vila, nos finais do séc. XIX.
Em verdade a proprietária da fonte e do painel azulejar sempre foi a câmara de Ansião. A fonte foi colocada na fachada norte do prédio a contento. A favorecer Virgílio Rodrigues Valente, junto do seu portão , de acesso ao quintal e à sua casa, em detrimento da outra berma da estrada onde nada impediria de ter sido colocada a fonte isolada em total brilho ! Mais, a contento de mão dada com o Dr. Botelho de Queiroz , o mentor do abastecimento de água à vila, que fez passar uma conduta pela quinta da sua família, para ter água na torneira da sua casa. O que explica nenhum fontanário ter sido colocado na rua junto da sua casa, apenas defronte da nova estrada,.
O culto à Rainha Santa Isabel em Ansião sofreu assistidas vagas de titãs nos tempos
A cantar este agosto 60 anos, a pomposa festa anunciada de mão dada com a feira de S. Lourenço. Com intuito de angariação de fundos para os Bombeiros, a chamariz do cortejo alegórico e, arco iluminado pelo meu pai – ligado à casa do “Zé carates”. Debalde foi alterada à última da hora, sem voz a destrinçar a lenda da Rainha Santa da fantasia, a condão creditício de a reclamar em protesto ao Sr. Bispo, tão ofuscado com a desmedida presunção e água benta, no querer imitar Coimbra. Segundo o relato de “ Júlio Rodrigues 29”, em 1962, o anúncio com novo rotulo às Festas de agosto com o titulo - Rainha Santa Isabel e a Feira de S. Lourenço. Segundo .o Dr. Vítor Duarte Faveiro abordou o padre Carlos, para inclui a festa à Rainha Santa. Este, para se redimir do pecado de ter acabado com a festa a S. Pedro, deu todas as facilidades e grande colaboração. Vieram as colchas de seda da câmara de Coimbra, para ornamentar as janelas da câmara e até as particulares. Alguns dias depois o bispo ao ouvir o anúncio das festas no Emissor Regional do Centro telefonou ao padre, dizendo que as festas não podiam ser da Rainha Santa, por já as haver em Coimbra… aflito o padre com os programas na rua, tiveram de ser recolhidos e feitos novos. As festas começavam sempre com uma procissão de velas na sexta-feira, com a Rainha Santa e o S. Pedro da capela de Além da Ponte para a igreja matriz, com regresso no domingo seguinte.