quarta-feira, 17 de maio de 2023

O castro da Serra dos Carrascos, Ansião

A proto-história delineou uma rede de carreteiros de N/S e O/E que ligava os castros. 

Se tomarmos Conímbriga, conhecida por cidade romana, antes foi um castro da Idade do Ferro, que se interligava para sul a outros no concelho de Ansião; Cabeço da Ateanha, Castelo, na Torre de Vale de Todos, Trás de Figueiró , o Castro da Serra dos Carrascos (classificado Castelo da Serra do Mouro), a fecho no concelho de Ansião o Castelo de Pousaflores; um castro classificado da Idade do Bronze. Segue para o Castro da Marzugueira, com achados arqueologicos e o Castro na Serra de  Alvaiázere, alvo de intervenção arqueologica, o Castro de  Avecasta, Vale do Rodrigo, Jampestres, em Ferreira do Zezere e  outros em Ourém , etc.

Acalenta a ideia  de rota histórica se houver trabalho de rede da JFPousaflores e da JF Chão de Couce, o Castro da Serra dos Carrascos não se vai perder!

Impensável a falta de cultura a tão grande perda foi destruído o castro de Maças de D. Maria, com a implantação da estação de serviço na A13. Onde pára o espólio? Houve compromisso de o expor numa vitrine na estação,  debalde já perguntei, nada sabem e nada existe ...

Reconhecido desmate árduo à imediação do castro do Castelo da Serra de Pousaflores. Também não se pode perder!

Abre perspetiva à descoberta de arte esculpida e quiçá rupestre com milhares de anos, nestas serras, como existe no algar da àgua, na Serra de Alvaiázere.


 Foto de Conímbriga em setembro de 2024
Fundação da parede da Idade do Ferro serviu de alicerçe a parede romana, de pedra aparelhada
O topónimo Serra de Pousaflores e Serra dos Carrascos, foram perdidos em mapas e cartas militares nos anos 1940, 1947 , 1984 e 2004. Por falta de zelo de quem veio ao terreno como na escolha de quem foi auscultado, não sendo mantida a tradição do que deve ser honra na verdade creditícia.

Assertivo é a alteração do topónimo Serra da Portela para Serra de Pousaflores
Na entrada da Serra de Pousaflores tem de haver sinalética com indicação de cada palco serrano:
Serra da Portela, Serra do Anjo da Guarda, Serra dos Carrascos, Serra de Ucha, Serra do Mouro, Serra do Casal Soeiro, Serra da Ameixieira e Vale Garcia .

A Serra dos Carrascos foi referenciada no livro de 1848 Topografia Médica das Cinco vilas e Arega de António Augusto Costa Simões :“A Serra dos Carrascos que dá assento a grande parte do que foi o concelho de Chão de Couce, estende-se a muita distância, dum e doutro lado, na direção de norte a sul”. 

Nascidos na Mouta Redonda, ainda chamam à Serra de Pousaflores, que lhe esbarra pela frente - Serra dos Carrascos.

No I Congresso de Historia e Património da Alta Estremadura em Alvaiázere 2016

Coligi a Serra dos Carrascos no trabalho apresentado pela Dra. Raquel Vilaça: A Idade do Bronze na Alta Estremadura :Depósitos metálicos e sua conexão com o espaço

Onde a autora perpetua  António dos Santos Rocha,  nascido na Figueira da Foz a 30.04.1853, onde faleceu em 28.03.1910, grande arqueólogo que deu o nome ao Museu da cidade.

Passo a citar excertos;
(...) o arqueólogo Santos Rocha deu  a conhecer um segundo machado de tipo similar (Fig. 3) encontrado na Serra dos Carrascos, entre umas pedras quando se abria um fosso para o fabrico de carvão. 
Não tem sido fácil localizar esta serra, chegando-se mesmo a afirmar que é desconhecida...
Todavia, informações orais apontaram-na para o designado “Monte da Ovelha” (Pousaflores, Ansião), mas nada obsta que possa antes corresponder à Serra do Castelo, que lhe fica imediatamente a sul e onde existe um castro (serra do castelo de Pousaflores) , talvez já ocupado no Bronze Final, período em que se insere o machado.
A confirmar-se, a peça estaria assim relacionada com o povoado. Na verdade, não nos parece ser possível determinar com precisão a localização da Serra dos Carrascos, topónimo talvez muito abrangente, conforme se depreende das múltiplas referências que lhe dedica Costa Simões: “A Serra dos Carrascos que dá assento a grande parte do [então] concelho de Chão de Couce, estende-se a muita distância, dum e doutro lado, na direção de norte a sul”
De facto, comparando a toponímia indicada nesta obra com a registada na “Carta Militar de Portugal”, esc. 1: 25 000, n.º 275verifica-se o desaparecimento de uma série de topónimos, nomeadamente o da “Serra dos Carrascos”, designação que talvez em meados do séc. XIX identificasse globalmente a sucessão de serras, desde a do Mouro à dos Ariques, a norte da de Alvaiázere. "
 
Foto retirada do livro 

Foto retirada do livro  
                                     
(...) Um outro depósito aparentemente complexo, mas do qual apenas se conhece um escopro foi encontrado nas Carrasqueiras (Pussos/Alvaiázere) “debaixo de umas lajes naturais juntamente com machados do mesmo metal, nada mais se sabendo  Rocha 1904; Monteagudo 1977: 212. 33 Coffyn 1985: 393. 34 Silva e Luís 1995: 87. 35 Coutinho 1986: 163-165. 36 Simões 2003 [1860]: 35. 37 Rocha 1904: 13; 1899-1903: 135. 38

"(...) De lugar não localizado  próximo dos Penedos Altos, provém o punhal de “tipo Porto de Mós” (Fig. 4) inicialmente publicado como espada, cuja ponta, fraturada, havia já condicionado Santos Rocha a considerá-lo pertença de algum esconderijo por estar inutilizado e não espólio de sepultura como informara o achador. O punhal, desprovido da extremidade da ponta, pode ser enquadrado na problemática da quebra ritual de artefactos. Trata-se de estratégia a que recorreram diversas comunidades como forma de destituir determinados objetos, nomeadamente armas, como é o caso, da sua dimensão prática, funcionalista, valorizando o lado simbólico. "
                      

O "complexo de Alvaiázere " 
Compreende o machado da serra dos Carrascos e o castro da serra do Castelo;
2 espetos na Marzugueira;
escopro e machados nas Carrasqueiras;
machado nos Penedos Altos;
punhal de Alvaiázere junto dos Penedos Altos e Castelo de Sobral Chão(Pelmá) identificado por Aquino em 1986 como povoado muralhado com ocupação da Idade do Ferro (recuando ao Bronze Final?), que lhe fica a NW, tal como do machado da Serra dos Carrascos e do castro da Serra do Castelo antes referidos, permitem-nos equacionar a existência, no vasto território de Alvaiázere, de distintos complexos de povoados/depósitos numa relação hierárquica tendo por vértice o Castro de Alvaiázere, verdadeiro focus regional.

Revelam a estreita ligação da estrada coimbrã que depois de Coimbra se voltam a unir ao Pereiro, a sul da Ribeira da Murta a coincidir com depósitos e demais testemunhos( funerários e habitacional)

Pelo contrário, bem localizado ainda que o sítio de achado em si esteja irremediavelmente perdido, é a Marzugueira (Maçãs do Caminho, Alvaiázere), lugar próximo do local onde se encontraram, em 1924, três espetos articulados (Almagro Gorbea 1974, ; Vilaça 1995: 346.

As respetivas fichas de entrada no Museu Nacional de Arqueologia, onde as peças se encontram, indicam “vestígios de enterramento”, mas tal não deverá ser entendido necessariamente e à letra como lugar de sepultura) que comentaremos adiante.

Vista sobre a Marzugueira a partir do castro de Alvaiázere
               

O último depósito conhecido nesta área, mas proveniente da outra margem do Nabão, é o de Freixianda (Ourém), mais precisamente do Cabeço de Maria Candal, no lugar da Granja
( A Voz da Freixianda, de Março de 1967, p. 3; Brandão 1970; Coffyn 1985: 213, planche XLIX; Vilaça 2007: 59-61. 42 Vilaça, Bottaini e Montero, 2013)

Cujo estudo monográfico encontra-se agora disponível. 74 Vilaça, 2008: nota 9; Vilaça 2012
Sem braceletes nem foices, tipos presentes no de Coles de Samuel atrás referido, possui, sintomaticamente, em igual número e tal como este, um escopro, um machado unifacial de uma argola e quatro machados de alvado de duas argolas, para além de uma tenaz merecedora de especial atenção, como veremos.

Foto retirada do livro dos espetos da Marzugueira
 
Uma variante daquele modelo pode assumir configuração “radiada” quando se multiplicam vários depósitos em função de um centro estruturador e construtor de sociabilidade (Fig. 10). 
Na região em análise essa imagem adequa-se ao que se pode designar como “complexo de Alvaiázere”, com seu povoado central topograficamente privilegiado, com mais de 50 hectares na sua segunda fase de ocupação75 Félix 2006: 69, nó polarizador de um território pontuado por outros habitats (cuja cronologia, do Bronze e/ou do Ferro importaria definir) e depósitos
A essa capitalidade ajusta-se bem a informação, vaga mas sugestiva, do achado durante a lavra de um “argolão de ouro”76 Figueiredo 1895: 317

A notícia não permite, contudo, inferir a cronologia do presumível achado. Por outro lado, a relação próxima entre os Penedos Altos e o Castelo de Sobral Chão (Pelmá) identificado por Aquino77  Aquino 1986: 39, como povoado muralhado com ocupação da Idade do Ferro (recuando ao Bronze Final?), que lhe fica a NW, tal como do machado da Serra dos Carrascos e do castro da Serra do Castelo antes referidos, permitem-nos equacionar a existência, no vasto território de Alvaiázere, de distintos complexos de povoados/depósitos numa relação hierárquica tendo por vértice o Castro de Alvaiázere, verdadeiro focus regional. Neste olhar mais além, visualizam-se outros modelos, agora “lineares”, que depósitos metálicos, habitats e outros ajudam a entender, revelando a sua estreita ligação a rotas naturais de circulação, concretamente nos finais da Idade do Bronze. Entre elas destaca-se a já velha “Estrada Coimbra”, agora recuada ainda mais no tempo. Efetivamente, a sua consagração a partir do séc. XII mais não é a da repetição de traçados de origem milenar que o brilho dos metais há muito havia iluminado. Na sua rota definiam-se dois percursos principais que, partindo de Coimbra, se voltavam a reunir por alturas de Pereiro, a sul da Ribeira da Murta antes de atingir Tomar 78 Daveau 1988. 

Com eles coincide a distribuição dos depósitos, e demais testemunhos (de índole habitacional, funerária e cultual) (Fig. 11). 
"Um dos percursos acompanhava o estreito e direito corredor definido pelas serranias calcárias a poente e as xistosas a nascente, pela designada “depressão marginal”. 
Na Idade do Bronze parece ter assumido especial destaque a margem esquerda do Alto e Médio Corvo, concretamente na região de Penela, onde se destacam os castros de Tomadouro e o de Castelo do Sobral, ambos relacionados com depósitos. O outro, mais sinuoso e acidentado no seu troço terminal, trepava às serras de Ansião e de Alvaiázere depois de ter percorrido a depressão do Rabaçal 79 Vilaça no prelo. Mesmo atendendo à aleatoriedade dos dados, vislumbram-se nessa rota quatro pontos-chave estruturantes do território: Coimbra80 Ver nota 14 . 

  • Conímbriga, cujo papel no Bronze Final terá sido efetivamente importante em termos regionais tendo presente os dados da Gruta de Medronhal (Arrifana) e do Alto do Castelo (Eira Pedrinha)81 Vilaça 2012. 
  • Trás de Figueiró (Ansião), também a valorizar pela comprovada ocupação naquela época, talvez irmanando com Conimbriga 82 Coutinho 1999: 29; Vilaça 2008: 84; Vilaça 2012; Vilaça e Cunha-Ribeiro 2008: 42  
  • o “complexo de Alvaiázere”, já comentado, indiscutível nódulo estruturante do povoamento 83 Vilaça 2008
Linear é também o percurso marcado pelos depósitos que, desde o vale do Mondego à região de Porto de Mós, se sucedem, acompanhando o cordão de serranias do Rebordo Ocidental — o último grande marco de referência no espaço antes de se alcançar o mar —, mas não sem vazios ainda difíceis de entender (ver Imagem 1). 
Por exemplo, o que se passará de Condeixa-a-Nova a Pombal e em torno desta última, onde, a sul, o machado do Brejo (S. Simão de Litém) 84 Brandão 1970: 324; Ferreira 2006: 130-131, não faz sentido só por si. É percurso anunciado que importa explorar e articular devidamente com os sítios habitados, mal conhecidos e outros, decerto, por identificar. Terão constituído, conjuntamente, a principal linha avançada do povoamento, já que a faixa litoral expressa, ao que parece, um quase deserto, situação pontualmente alterada na fase seguinte com o dinamismo de Santa Olaia no paleoestuário do Mondego, outro expressivo lugar natural que não deve ser só valorizado pelo pragmatismo na sua navegabilidade. Sem dúvida que, na sua globalidade e a uma escala macro, a Alta Estremadura, parte integrante da região mais ocidental da Europa, constituiu-se como plataforma de trocas inter-regionais durante a Idade do Bronze e, muito em particular, na sua fase final, aspeto já sublinhado por diversos investigadores 85 Vilaça 2007b, com principal bibliografia sobre a questão. Sem recursos mineiros estratégicos (cobre, estanho e ouro), mas na rota que a eles conduzia, para norte e para sul, ou sob seu alcance próximo, avançando-se pelo interior até às Beiras, a Estremadura, pautada por intensa especialização agro-pecuária 86 Aspeto sublinhado por João Luís Cardoso em diversos trabalhos e em particular para a Baixa Estremadura, detinha ainda fácil e direto controlo sobre o “ouro branco” que o mar, próximo, lhe proporcionava e beneficiaria ainda da complementaridade de recursos de montanha, como pastos e floresta, e das extensas áreas férteis onde, aliás, se encontram vários dos depósitos mencionados, como os de Freixianda, de Espite e de Caldelas, por exemplo. Nesta escala macro, é um “modelo triangular” que se configura, inspirado no modelo locativo de Weber87 Vilaça 1995: 420-421; 2007b: 136-137, com um vértice no estanho do norte e das Beiras, um outro no cobre do sul e um terceiro convergindo para a Estremadura, região que se expressa como uma autêntica plataforma de trocas e produções, verdadeira “centralidade d(n)a periferia” do mundo conhecido de então, com especial concentração de artefactos de bronze (Fig. 12)."                

"Às rotas terrestres antes comentadas deve ser associada a navegabilidade dos paleoestuários do Lis e do Mondego que facilitaria o escoamento das suas produções, e a entrada de outras, por ventura afastadas daquelas. A Alta Estremadura e os seus depósitos, aqui revistos também como memórias de lugares, são ilustres protagonistas de uma história que aconteceu, ia acontecendo, ou podia ter acontecido, entre as muitas da Idade do Bronze. Contá-la(s) será sempre um desafio balançando entre o que se conservou e se conhece, por vezes meros artefactos metálicos fragmentados “pseudo-perdidos”, e o que é conjeturável, numa narrativa de compromisso assumida, sem dúvida mais possível do que provável e menos ainda, verificável. Mas que se pretende científica porque elaborada com método, rigor e espírito crítico numa visão integrada. E se é verdade que “space can only exist as a set of relations between things or places”88 Tilley 1994: 17, igualmente certo é que “os homens não podem viver sem objectos, nem mesmo sem os inúteis”, sendo que “a função do arqueólogo é destruir a imediatidade do objecto”89 Alarcão 1983: 472 e 474
Procurámos, com este modesto contributo, caminhar nesse sentido."

Pensamento de Jean Cuisenier
" Habitar  não é apenas fazer de príncipe no seu palácio
É o ato pelo qual cada um se instala num local e confere-lhe sentido"
 
Padre Coutinho
O Padre Coutinho, no seu livro de 1986, fez referência a pontos da pré-história e romanos, que em 2010 deram origem a prospeções arqueológicas. Porém, o padre Coutinho ao  não identificar o topónimo do castro, na  Serra dos Carrascos, contribuiu à citação errada do sitio arqueológico com o nome de Castelo da Serra do Mouro, quando deve ser Castelo da Serra dos Carrascos.
 
Excerto  https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=projetos&subsid=156318
Distrito/Concelho/Freguesia Leiria/Ansião/Chão de Couce
Período Idade do Bronze - Final e Idade do Ferro
Descrição
"Numa encosta de pendor suave voltada a Norte, do planalto situado no bordo setentrional da "crista" de calcários compactos jurássicos que se eleva desde Alvaiázere, controlando visualmente toda a zona de terras baixas de Chão-de-Couce e Avelar, terá, segundo J. E.R. Coutinho, existido um povoado, que possui aparentemente apenas uma linha de amuralhamento conservando uma altura de cerca de 3 metros no sector Sul, voltado para a área mais plana da encosta. Ainda segundo aquele autor, as muralhas destruídas, tornaram-se muros de propriedades. Classificação que, para Amorim Girão, resulta da conjugação de dois factores: o tipo de implantação e os vestígios encontrados. P. J. S. Félix integra-o no Bronze Final e inícios da Idade do Ferro. Como noutros locais do concelho de Ansião, com um tipo de implantação similar, bastariam as circunstâncias geográficas e a toponímia do local para uma busca cuidada, pois os lugares onde o relevo tem um papel dominante, tornaram-se desde os tempos remotos, propícios ao assentamento de povoados, cuja localização depende de motivações de defesa, dando-se particular atenção ao controlo visual do território. Com efeito, a abundância de vegetação, dificulta a deteção de quaisquer vestígios de ocupação. No entanto, pontualmente encontram-se clareiras de afloramento calcário ou com bastante cascalho, resultante da desagregação da rocha, o que permitiu observar o terreno onde se detetaram vários materiais, que se encontram dispersos ao longo da encosta e só observáveis nestas clareiras, sendo por isso difícil delimitar a área. Destacamos a abundância de fragmentos de cerâmica doméstica comum, alguns fragmentos de cerâmica de construção, um fragmento de machado de pedra polida e arenito."
Meio - Terrestre
Acesso - Estrada municipal 1094 até à povoação de Serra do Mouro, junto a uma bica seguir por caminho de carreteiro em direção à vertente.
Espólio: Fragmentos cerâmicos (Fragmentos de cerâmica de construção; Fragmentos de cerâmica doméstica comum; Fragmento de machado de pedra polida; Fragmento de uma possível mó) do Ferro e talvez Bronze Final.
 
Foto de pedras de calcário com arenito que encontrei na serra dos Carrascos
 
 
Fotos do castro do Castelo da Serra dos Carrascos retiradas da página Facebook de Ansião
 
                       
                       
                                  

Vale Garcia 
Antes de 2015, no lombo da Serra dos Carrascos foi roteado um novo caminho ao Vale Garcia, seguindo para o Lugar da Serra do Mouro. 
De cortar a respiração, a quem se aventure conhecer. A minha aventura em jipe, com a minha irmã, em terra batida de piso irregular, ainda muito fresco, amedrontada pelas barreiras em avalancha de brutais lajes suspensas, quase desabar , noutros tempos foram uso em patamares de escadaria de balcão. 
Desatino abismal a ladeira sinuosa,  ingreme e medonha, acaso ali resvalar é morte certa. 
Com buracos e regos profundos das regateiras em aluvião, afundando para o vale. 
Panorama de agrura nua e crua, despida e seca, de pedra escalavrada, que se descampa ao abrupto vale profundo com primitiva diversidade de vegetação mediterrânica, a par, o místico silêncio. 
Um paraíso idílico, acordado pela regateira e pelo poiso de perdizes, perdigotos, coelhos, melros, tordos e o peneireiro de dorso malhado, de maior porte que vagueia em voo rasante. Por todo o lado salpico  semeado a pedra e cascalho com orquídeas de muitas espécies e demais flores tão encantadoras em ambiente selvagem, entalado no vale de garganta funda resguardado pela barreira de pedra natural a nascente a caminho da Barroca e da Serra do Mouro.
 
(
Orquídea, "os rapazinhos" e a rosa albardeira aqui chamada Cuca
Tomilho por aqui chamado erva de Santa Maria

Voltei em 2023 na caminhada Terras do Ancião, na primavera

Por altura das antenas de telecomunicações na Serra da Ameixieira,  descendo para nascente até encontrar um antigo quelho, em parte murado a pedra seca, tendo o contraforte poente altos penedos, que não se enxergam pela vegetação crespa, que os esconde, mas, n
um olhar mais atento ainda se enxerga a parede natural, que a não ter vegetação deve ser medonha. Nos séculos se desprenderam penedos firmes , encravados pela encosta. 

Detalhe de uma pequena fenda na rocha
                   
Leito fluvial  do ribeiro da Serra do Mouro
Subida do leito muito pedregoso a caminho do poente. 
Tenebroso e assustador com pelo menos duas barreiras de pedra quase inacessíveis
Numa delas, a água esculpiu em milhares de anos um rego. 
                
              
Rego escavado pela erosão da água
Só corre de inverno com as chuvas. 
                 

Dissertação de mestrado do Dr. Manuel Bernardo Pereira Vieira Nunes Cravo
A importância das vias que sulcaram a região
Para quem como eu gosta desta temática é fulcral o conhecimento e coligir informação
(...)  estudo arqueológico do território compreendido entre Aljazede / Ateanha, Chão de Ourique / Póvoa e Vale do Rio Dueça, realizou uma síntese sobre a dinâmica e transformação das formas de ocupação do espaço, entre a época romana e alto medieval. (...) Tanto durante o período Romano, como já na Alta Idade Média, verifico a preponderância da passagem das vias de comunicação neste local e as transmissões feitas ainda numa fase pré-romana. A predominância dos sítios rurais durante os séculos IV e V é atestada pela presença de três villae (Rabaçal, S. Simão e Santiago da Guarda). Analiso assim, a forma como a localização destas estruturas foi preponderante na evolução da área de estudo, que se centra na Várzea de Aljazede. Entre a antiguidade tardia e os inícios da nacionalidade, existe um vazio de conhecimentos histórico-arqueológicos para este local, patente também nos princípios da ocupação romana. Pretendo através do estudo dos vestígios de superfície e da morfologia rural, obter resultados que me levem a compreender a dinâmica ocupacional desenvolvida entre a época romana e alto medieval na área determinada para investigação.
 
(...) Quanto aos caminhos proto-históricos, as vias construídas no período romano devem ter aproveitado alguns desses caminhos anteriores. Neste caso, os caminhos que estariam associados aos castros de Conimbriga, Germanelo, Trás-de-Figueiró, Abrã, Castelo Ventoso, Ateanha, Sobral, Torre de Vale de Todos, Lagarteira,  Castelo da Serra dos Carrascos, Castelo da Serra de Pousaflores , Marzugueira, Alvaiázere, Formigais, Castelo Sobral Chão em Pelmá, Avecasta, e Freixianda, povoados localizados em cabeços ou em modestos outeiros.

                  Mapas
1 Caminhos romanos
2 Caminho de Santiago no Alvorge

Recordar a queijeira no Rabaçal com raízes no Alvorge

Com orgulho exibia rara coleção de fósseis que recolheu a pastorear o gado. Instiguei-a sobre esse nato gosto – deu meia volta e nas mãos trazia a primeira pedra que lhe abriu a mente – um órgão genital masculino, ereto com testículos esculpido em pedra. Magnifico, a quem pedi para sentir na minha mão...Espectável que a família após a sua morte precoce tenha feito a entrega do seu espólio ao Museu do Rabaçal. 

Já no Núcleo Museológico da Fotografia do Douro Superior do meu amigo Arnaldo Silva, em Torre de Moncorvo o fascínio de ter visto ... pedras fálicas romanas com ranhuras. 

Feliz coincidência levou-me a tentar perceber  o período da historia onde o homem se imitou na pedra e já os romanos, fariam uso deles...

Na foto vários machados de pedra , por catalogar que achei na Serra dos Carrascos 

Demais foram encontrados em Pousaflores. Não sei onde estão guardados.















A merecer atenção a colocação de sinalética para a Cova da Moura e Buraco do Lobo; abrigos naturais de pastores, antes de mouros e bem antes do homem caçador coletor . Como prospeção à imediação do marco geodésico para localizar a laje esculpida com o pé do Menino Jesus. No Casal das Pêras, em Ansião, conheci em miúda, o pezinho de Nossa Senhora, que a beatização secular os batizou obra de Deus…

Falta sinalética cultural nos vários castros do concelho de Ansião!

Como dignificar o velho topónimo Serra dos Carrascos e o seu Castro, porque os erros devem ser corrigidos!


Fontes:

Livro Topografia das Cinco Vilas do Dr. Costa Simões

Livro de 1986 do Padre Coutinho

I Congresso de Historia e Património da Alta Estremadura em Alvaiázere 2016 o trabalho apresentado pela Dra. Raquel Vilaça

Fotos do castro do Castelo da Serra dos Carrascos retiradas da página Facebook de Ansião

Dissertação de mestrado do Dr. Manuel Bernardo Pereira Vieira Nunes Cravo

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