sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Ateanha, Ansião

Sentir a várzea de Aljazede a beijar o sopé da Ateanha, a pé ou de bicicleta é encanto mayor!

Desafiar o cabeço da aldeia de Ateanha - muralha natural, palco da acérrima luta, de cristãos na defesa das algaras mouras vindas de Santarém. Foram encontrados alguns vestígios; espada e outros, a defender o palco de uma grande batalha aqui travada na várzea da Ateanha, no tempo do rei D. Afonso Henrique. Não foi a Batalha de Ourique, podia ter sido - tenho em mim que foi travada na Vala de Ourique, em Soure. Jamais no Alentejo, porque as tropas não tinham condições, nem meios para ir até aos seus confins, seria um suicídio para o exército e para Portugal, atravessar Santarém e terras a sul, ainda no domínio mouro. Porque o exército comeu cebolas assadas, e claro, não podia ter sido no Alentejo - cebolas, foi riqueza de Sernache dos Alhos, hoje Cernache, muito perto da Vala de Soure...
Ateanha, abrigada do vento norte, plantada no coração do cabeço trapezoidal, com 422 metros de altitude, apenas com uma estrada de entrada e saída. 
Paraíso a rivalizar ilha, que o foi há milhões de anos, onde a pedra calcária é rainha, em chão vestido a calhaus e vegetação agreste e crespa, salpicada de casario típico judaico com balcão, ainda guarda o celeiro e eiras de pedra. Rodeada por paisagens a desnortear pelos contrastes, defendida por abruptas veredas em desfiladeiro para o vale de campos planos a deixar a emoção queda e perdida, em olhares longínquos até esbarrar noutras cumeadas a salpico aldeias e demais deleites em corredor da via romana...a fonte dos mouros que foi de mergulho e o poço do Carril que é de chafurdo.
Dizem que a  Ateanha já foi concelho...Não encontrei nada.  Hoje integra o concelho de Ansião. Sendo raro encontrar este tipo de agrupamento de casario. Foi paróquia até ao século XIX, até ser integrada na do Alvorge, freguesia a que atualmente ainda pertence. 
Apraz-me o o povoamento concentrado da Ateanha.

Toponímia com falta de cultura ao passado, ditou Rua da Subida... 
Devia ser Rua da Torre da Ateanha
O morro foi agraciado a nascente com uma torre romana de atalaia à via militar, XVI, reutilizada em época medieval no casario do foreiro da granja .
Excerto de (ANTT – Cónegos Regulares de Santo Agostinho, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a importante carta régia de 30 de agosto de 1410, enviada aos almoxarifes de Coimbra, Penela, Rabaçal e Alvaiázere, dos direitos do Mosteiro de Santa Cruz naqueles locais, revela que o cenóbio tinha " Et grangiam de Ateania cum sua lavuoira. Et uinea."
Vistas sobre a várzea de Aljazede
Alminhas ao cimo da entrada da Ateanha
               
                                          
Ao lado da capelinha existe um caminho em terra batida de acesso à várzea de Aljazede
ruina comprada por estrangeiros há anos...desapareceram ou estão esquecidos?
Desde sempre a motivação para conhecer a Ateanha, aconteceu desta vez em tarde muito quente de setembro, apesar do destino ser outro, ainda assim com algum tempo. 
A maioria das fotos tiradas em andamento
 Nozes em secagem à porta em plena estrada
Belo exemplar em pedra da região com balcão. Supostamente deve ser reconstrução de outra mais antiga que se nota o vértice em "V" invertido,  usado a encimar as ombreiras das portas de origem visigótica(?) ou seja mesmo da porta do curral que existe debaixo do balcão.
Mal aqui chegados o carro aqueceu, sendo fenómeno raro...e sem ver jeito de saída...afinal estávamos num beco sem saída!
Adorei a sensação de estar no cimo de uma vereda pedregosa e avistar para nascente a pedreira em Chã de Ourique, que só conhecia de nome, a vastidão dos campos da Ateanha com parcelas de courelas como se fosse um tabuleiro de xadrez, por aqui também brilha a cerejeira da terra quente vinda de Trás os Montes, a Gondramaz em Miranda do Corvo,  Maças de D. Maria,  morre em Ferreira do Zêzere.

Os donos da pedreira e seus empregados deveriam estar sensibilizados para a possibilidade  de encontrarem nas várias camadas de extratos, supostas  pegadas de dinossauro, como as verdadeiras que se encontram na Pedreira do Galinha, em Fátima, onde nelas deitada me deixei fotografar. 
Região  rica na multiplicidade de fósseis marinhos.
Eólicas a desafiar a paisagem no concelho limítrofe de Penela
Não se via vivalma, o barulho do carro fez sair de casa o Sr. Daniel,  morador a nascente para a pedreira saído ao portão para ver quem era. Estabelecida conversa, a quem perguntei como sair dali, ainda me perguntou se queria entrar e beber um copo...

Piais em pedra na tradição de pôr o penico, depois de despejado pela janela ali era o sitio para não deitar cheiro no quarto e não como pensei anos, para os vasos de sardinheiras ...
Aldraba de ferro no portão em Folha de Flandres
A casa onde nasceu o Costa, vizinho da minha mãe no Bairro de Santo António, a mãe ainda é viva
Deslinda o balcão na fachada  alterado no tempo com a viga em cimento para aumento da casa?
Gostei da atribuição do nome celeiro, na antiga torre romana
                           
Típicos bancos em pedra no Maciço de Sicó
Eleita uma boa reconstrução de casario tradicional
                              
Casinha da eira tradicional com chão lajeado
A capela encontra-se em obras...
Portão em ferro forjado encimado por Cruz
Colunas de cantaria quinadas  de 500, vigorou até 700
A  antiga igreja matriz da Paróquia de S. Martinho da Ateanha, julgo não se sabe a sua fundação. 
As colunas do alpendre apontam edificação para a centúria de 500, como a fresta lateral, igual á da capela da Senhora da Orada e outra a sul, no paço senhorial dos Condes de Castelo Melhor. presume instituida por judeus aportados depois de 1492 do êxodo de Espanha.
A capela apresenta uma nave única de pavimento em mosaico e cobertura em teto de madeira. Os altares laterais são em talha, sendo o do lado do Evangelho (lado esquerdo) constituído por três nichos abertos. O altar do lado da Epístola (lado direito) é aberto por um nicho que guarda a imagem da Santíssima Trindade. A capela tem vário espólio, entre as quais uma estátua em pedra calcária do padroeiro S. Martinho de Tours, dos finais da idade média, com restos de policromia primitiva. 
Interessante escultura medieval será da origem da paróquia onde ficou na remodelação  em 1757.
Aventa ser  uma obra da escola coimbrã, ainda por classificar.
Courela fechada com o que foi um portão de folha de Flandres a que não falta a aldraba...
Leiras de terra fértil, couves galegas frescas e boas nogueiras
Muros de pedra seca salpicam o povoado conferindo uma graça típica na paisagem
Casa em estado de abandono, reboco a cal  gravado em relevo coração encimado com uma Cruz com inscrição 1934 -, o ano de nascimento da minha mãe.Revela a afetividade do casal que aqui morou.
As ruas calcetadas
Apreciei logo na entrada da Ateanha uma dolina cársica, vulgo lagoa.
Em redor a pedra solta evidencia ter sido murada, à laia outra no sopé a sul onde teve um lagar .
Acesso gracioso em degraus de pedra a uma courela de regadio
As águas mostram-se cobertas por limos verdes
Verifica-se que foi murado em pedra solta, menos na frente, no lado direito o muro encontra-se abalroado, teria sido no passado uma fonte de mergulho?

25.10.2024
O MEU COMENTARIO EM AZINHEIRAGATE sobre a recuperação mural da lagoa 

Todas as lagoas cársicas são imagem natural de Sicó , em pleno séc. XXI, é obrigação a sua preservação para deixar aos vindouros . Já se perderam varias, para alargar caminhos, como a que existia a poente da Casa Senhorial de Santiago da Guarda. 
Em 2015, na minha primeira vez em visita à Ateanha, partilhei no meu blog fotos desta dolina cársica. Constato com estima a atenção do Sr. Anastácio, Presidente da Junta de Freguesia do Alvorge, o karinho dedicado ao que tenho divulgado sobre o património herdado ancestral, mostrando-se defensor e cuidador. O único na comitiva autárquica mais atento, dedicado, com gosto nato em aprender e fazer obra. 

Contudo esta lagoa apresenta-se murada em grande parte, e isso é estranho, tal como mais duas na Ateanha que apresentam muros menores; a nascente no sopé do morro murada a sul, e a sul depois da Coelhosa. Se atender ao Castro no cabeço da Ateanha, a lagoa em recuperação pode ter sido uma fonte de mergulho. Não sei se a obra já está concluída. A parte nascente, aberta, devia ter sido alvo de estudo pelo arqueólogo. 

Numa reunião com os membros municipais da cultura falou-se que faz serviço administrativo...convenhamos, um arqueólogo é para andar no terreno a escavar, analisar e estudar para classificar. Nesse pressuposto deve ser o primeiro a mostrar interesse em colaborar com as Juntas de Freguesia na melhoria de sítios ancestrais para averiguar e aqui coligir se houve relação com o castro que tinha de ter um ponto de água, numa fonte de mergulho, e averiguar indícios, seja degrau em pedra ou laje de parapeito à estrutura ancestral, que se alvitra, ou não, e foi sempre uma lagoa cársica melhorada pela mão do homem. Alvaiázere apresenta algumas fontes de mergulho e poços de chafurdo bem restaurados como cisternas chamados poços carapuça. Vai na frente e ganha a Ansião, que ainda agora acorda, e não foi por falta de informação gratuita depois de demorar mais de meio século para enxergar a razão dum poço de chafurdo, já vou com 67, e desde ai não me canso de publicar.
Teimei deixar-me fotografar sem reservas ...
 
Bela janela com balcão lateral
No gaveto muro com pedra metida em redondo seria a sentinela  a  poente da torre?
Vistas sobre a várzea vestida de minifúndio  em mil  parcelas, pertença de vários proprietários.
Extratos de rocha calcária à servidão de contraforte onde assenta  casario
Vista sobre o povoado que lhe fica na frente-, Aljazede
Vistas sobre o monte Germanelo em forma de cone
A antiga via romana não vinha de Conímbriga e sim de Alcabideque.
Mas, aqui podia ser uma derivação  para a Fonte Coberta que teve ramal no Poço das Casas; para a frente seguia para Conímbriga e para norte Alcabideque.
 
Deixei a Ateanha na minha caminhada a dizer adeus, sinto que vou voltar com mais tempo, sobretudo andar a pé e conversar!
 
Criticas construtivas para reflexão
 
Deveriam apostar em remodelações à época para não descaraterizar o património histórico com valia a um passado ancestral de valia.

Reflexão à cimalha onde assentam os arcos do alpendre da capela,  em cimento armado, deveria ter sido em pedra.

Colunas quinadas, existem vários exemplares em alpendres de capelas  como  em varandas , na Quinta das Lagoas e algumas  grades de varandas  na Lagarteira e Constantina, que não se deviam perder e sim classificar, pois retrata a arte da cantaria do passado de 500 a 700 dos lavrantes de Ansião.

Deve ser sinalizada o sitio da torre, ainda lá estão as sapatas !

E a toponomia Rua da Subida...alguém com bom senso e cultura sem medo corrigir!

8 comentários:

  1. Linda terrinha atianha aurelio costa

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  2. Caro Aurélio Costa muito obrigado pela cortesia da visita e pelo comentário.
    Bem haja
    Isa

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  3. Gostei de ver. Só com reportagens como esta se perpetua a nossa História.Obrigada. Palmira Pedro

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  4. Cara Palmira Pedro agradeço a cortesia da visita e do elogio à minha rápida visita, mas afinal com tanta visão, que lhe agradou.Bem haja.
    Isa

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  5. Parabéns Palmira.Muito obrigada por esta fantástica aula de história. A minha família é da Ateanha e do Aljazede, mas como saí criança para o estrangeiro não sabia alguns factos. Gostei de ver fotos que me são queridas. Felicidades

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  6. Caro anónimo e conterrâneo, muito obrigado pela cortesia da sua visita, e ao elogio da leitura e comentário. Chamo-me Isabel

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  7. Grande terra a nossa aldeia, será sempre única .

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