Recordo-me em
miúda de ouvir falar do milagre e da lenda da Fonte Santa, na Areosa. Em 1984, um grupo de entusiastas da Constantina,
reeditou uma versão em panfleto que me avivou as pagelas vendidas por gente vinda
de fora nos anos 60, do séc. XX, no mercado da vila, a pregão
comovente de desgraças.
Milagre da Fonte Santa
Cortesia do Renato Freire da Paz
Produzido na tipografia do Pontão Papeltipo
Quadro a jus de ex voto na capela da Constantina do pagamento de promessa oferecido pelo avô de Silvina Gomes, José Costa da Ribeira do Açor em 1910
A Lenda da Fonte Santa descrita por Severim Faria em 1625"Segundo a lenda, se deu a aparição da Virgem, em 11 de Agosto de 1623 junto de uma eira, sob a ardência dos raios solares, estava uma criança a brincar com umas flores campestres, guardando o milho que naquela eira seus pais tinham a secar. Recomendaram-lhe que não abandonasse a eira, mas a criança mortificada pela sede, esquece aquela recomendação e vem a casa pedir água. A mãe irada por a filha ter transgredido as suas ordens, não só lhe não deixou beber água, como a castigou e obrigou a voltar com sede para a eira. A pobrezinha lá foi chorando a sua desdita, e sentou-se na eira junto das flores colhidas já quase secas, como secos seus olhos estavam de chorar. Ninguém ouvia os seus gemidos, ninguém passava que a socorresse, e a infeliz não podendo por mais tempo suportar a sede que a devorava, lembrou-se de Nossa Senhora; ajoelhou, com as mãos erguidas, olhos fitos no céu-, aquele anjo depois de ter pronunciado as primeiras palavras da Ave Maria, vê junto de si, cercada de um resplendor imenso, a Rainha dos Anjos a dizer-lhe: «Não chores filha, procura nessa areia e encontrarás água.» A tremer, a criança, volve com as mãos a areia e encontra logo água cristalina com que matou a sede que a consumia. Poucos momentos depois, passaram por ali varias pessoas que ficaram admiradas de verem a criança a beber água num local onde bem sabiam não a haver horas antes, e interrogando-a, ouvem aqueles lábios juvenis que já sorriam de alegria, contar a milagrosa aparição de Nossa Senhora. A boa nova bem depressa se espalhou por toda a freguesia de Ansião e o povo correu a procurar naquela água remédio para as suas doenças, e levado de santo fervor mandou construir naquele lugar uma fonte de cantaria que é conhecida pelo nome de Fonte Santa em que mandaram gravar a seguinte inscrição: «ESTA FONTE APPARECEU A 11 DE AGOSTO DE 1623»
Alertada no livro de 1986 do Padre Coutinho por mencionar com aspas “Milagre” da Fonte Santa (…) Ansião, torna-se centro de peregrinações porque a fé popular divulga aos ventos a discutível aparição de Nª Sª no local que, a partir de tal acontecimento, é designado Fonte Santa (…) À fonte logo acorreram doentes, cegos, e aleijados que, ao lavarem-se com aquela água, ficaram curados, e porque faziam esmola em tanta abundância, em menos de um ano depois do milagre se fez uma igreja.”
Ora, estando perdido o conceito termal romano na região, com ganho do banho islâmico, ao maior órgão do corpo - a pele. Além de a refrescar, respirava e limpava-a de suores ressequidos matando bicheza, percevejos entre outros, dando a sensação de bem-estar momentâneo, fenómeno estratégico que foi usado à laia de água milagrosa!
Admite-se que a verdade foi contada distorcida ao Chantre de Évora Manuel Severim Faria, na sua
visita ao Santuário da Constantina em 1625 “ num seco e estéril monte brotou
água no tórrido 11 de agosto de 1623”. Aos dias d’hoje mostra-se
credível que foi um fenómeno cársico que fez exsurgir em tempo seco, a água do vale aquífero do Nabão, nas grutas do
Bate Água, por forte trovoada em dias anteriores, enchendo o desnível da cota
superior da bordadura do maciço. Em 1758, o Marquês de
Pombal solicitou a todos os padres resposta a um inquérito. Está perdido o da
vila de Ansião. Sobre o do padre Caetano Rodrigues da Lagarteira “ não nasce água alguma de verão ou inverno, só
quando o inverno é grande nascem algumas fontanheiras que fazendo sol em 8 dias
finda, e o povo delas bebe de poços e de fontes de fora”. Em 1956, no Jornal
Regeneração, de Figueiró dos Vinhos “
chuva intensa, com granizo, o Ribeiro da Vide subiu 1,5 metros.” Ciclicamente
há grandes trovoadas e enxurradas. Sem estatísticas, nem o conhecimento dos
algares, facilmente caíram na atribuição de milagre, pela água que lhes faltava.
Parece-me óbvio, que não fora uma intervenção do poder divino exercido
sobre a natureza. Realidade aclarada na visita ao poço romano do Minchinho, a farta
escadaria termina na medonha boca do algar. O milagre vingou,
sustentado pelas comunas da Constantina
e a da vila, aportados de Espanha com bagagem cultural, na centúria de 500. Povo
laico que profanou a fé cristã, sem a assumir. O termo laico foi usado no
preâmbulo do livro de 1996 - A Confraria de Nª Sª da Paz, do Dr. Manuel Dias. Clãs
judaicos, unidos de credo na boca, a intuito e engodo à sua acreditação, encapuçado
na fé cristã e, embuste ao poder curativo das águas ditas santas. Na verdade enganavam
crentes beatizados, sedentos de curas milagrosas que deixavam esmolas, o
produto final ambicionado. Visionários e agiotas credenciaram o milagre
na estrada medieval com aproveitamento dos viandantes, quem levou de graça a
mensagem e a difundiu, atraindo outros a vir procurar aquelas águas e deixar
dividendos. Já a água é vida, sendo bênção de boa oferta a todos. Esta centúria
foi propícia a análogos milagres; só alguns perduram.
O milagre da Fonte Santa foi descrito nas Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625 Cf. Joaquim Veríssimo Serrão
No Livro do Sr Padre Coutinho de 1986
E no Livro em 2015, do Engº Ricardo Charters d’Azevedo com raízes em Ansião e Maças de D Maria .
Ainda assim, o foi, mas, na ampliação da pequena ermida da Constantina. Só em 1975, houve o mérito de a erigir no epicentro da Fonte Santa. A capela que se encontra no local a sua execução fica a dever-se ao grande benemérito e amigo, filho da Constantina o Sr. João Santos Pires e sua esposa Graciana Ramos Loureiro que a suas expensas custeou toda a construção em 2008.
João Santos Pires com os irmãos e a esposa Graciana Ramos Loureiro
E, Guilherme da Silva Dias e sua esposa Joaquina Dias, ofereceram para o adro um pedestal com a Imagem de NªSªPaz.
Quanto à origem da Imagem de NSPaz, o Chantre relata divergências
(...) O povo da Constantina foi de noite buscar a Virgem à sacristia da matriz para os ansos não se darem conta (…) algumas pessoas mais devotas de NSª, lembraram-se de colocar no nicho da Fonte Santa uma imagem da Virgem e encontrando uma nas ruínas da antiga igreja paroquial de Ansião, em S. Lourenço, mandaram-na pintar e no meio de grandiosos festejos para lá a conduziram e ali se conservou até à construção da capela da Constantina.
Claro destorcimento. A Imagem da Virgem da antiga igreja de Ansião esteve guardada 32 anos na sacristia da nova matriz. Em roca, não sobreviria a intempéries se tivesse ficado nos escombros, nem cabia no pequeno nicho da Fonte Santa, por não a suportar em altura…A única verdade é que foi pintada. Já antes sugeri que o mentor que a levou para a Constantina, fora o seu juiz, pelo poder detido.
Admite-se que os blocos em cantaria da Fonte Santa e o lintel sejam possível reutilização da antiga igreja por o talhe se assemelhar aos muros do ribeiro da Igreja, a nascente do cemitério – a merecer estudo.
De todas as fontes no concelho, o exemplar mais elegante e bonito retrata-se na fonte de espaldar da Fonte Santa. Apresenta no lanço superior um pequeno nicho ladeado por motivos vegetalistas. Sem manutenção o lado norte há anos em ruina, onde não falta o letreiro (água não controlada) …
A vontade de anos para conhecer este Lugar que foi importante no passado de Ansião. Lamentavelmente aqui passei uma vez, mas nem há espaço condigno para estacionamento (?). Neste finado mês de setembro teimei parar, ainda bem, pois gostei muito de o conhecer.Desculpem a franqueza mas achei o sítio pequeno, atrofiado pela estrada de ligação aos Netos com outra variante a passar no seu tardoz. Fiquei com a má impressão (?) que no tempo os vizinhos se foram apoderando na largueza dos quintais em detrimento do adro, ao qual já não acorriam peregrinos...Seja o espanto pelo facto de ter vivido a minha infância e adolescência defronte do adro da Capela de Santo António que se mostra muito grande em todo o seu redor e antes foi pertença dos quintais da casa da Câmara e nem por isso na posterior venda alguém do espaço se apoderou...
file:///C:/Users/HP/Downloads/Ana%20Helena%20da%20Silva%20Delfino%20Duarte.pdf
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