O que sobrou da Quinta da Filipa d'Água junto a Alcaniça, na freguesia
da Caparica em Almada, encravada entre a via rápida da Costa, sem alternativa nem de entrada nem de saída, a bem dizer a escassos 300 metros do interface do comboio no Pragal e uns 100 do Metro de superfície na paragem Boa Esperança com a avenida a passar-lhe na frente, mas por estar a uma cota inferior passa despercebida pelo canavial...
Vista do núcleo habitacional da Quinta Filipa d'Água
Vista do núcleo habitacional da Quinta Filipa d'Água
Se identifica à esquerda visto da avenida com o cruzamento da linha do Metro
Ao limite do canavial do terreno inculto há cerca de 40 anos esta quinta contígua à Filipa d'Água foi vendida em lotes ficando uma grande casa na entrada, que ainda conheci, um desses lotes era pertença de um familiar onde se vinha anualmente agricultar no ritual semear e arrancar batatas, cheguei aqui a vir algumas vezes.Com a montagem do estaleiro para as obras do Metro de superfície deitaram a casa abaixo, taparam o poço, hoje serve de poleiro a jovens desocupados de maus vícios, segundo ouvi de moradores, nem de propósito já na saída avistei um de andar apressado tombado para a frente com ar esganiçado, sorte a minha que ia adiantada no passo em relação a ele, caso me cruzasse no mesmo caminho difícil certo ficar assustada e aflita sem suster águas por certo escorreriam sem pedir licença ...
Nesse tempo o acesso era feito
pela via rápida, hoje cortado e pela estrada do Casquilho, a única que fazia a ligação de Almada à Costa de Caparica para em Alcaniça se dividia noutra estrada de
ligação à Sobreda, salpicada de quintas ligadas por azinhagas.Hoje a estrada alcatroada apenas até ao largo do poço para continuar em terra batida, sem saída (?) e antes da via rápida seguia para o Monte de Caparica.
Foto de sul para norte onde entronca na avenida
Acesso pela única estradaFoto de sul para norte onde entronca na avenida
Do lado esquerdo restos de um pequeno incêndio no canavial que deixa visível ombreiras e pardieiras de portas da casa que foi demolida, da casa da quinta que ainda cheguei a conhecer.
Poço da quinta Filipa d'Água e um ribeiro que corre ao lado
Ao longo dos anos proliferou construção de anexos e barracões em volta da casa da quinta e nos terrenos adjacentes.
Rico o ferro forjado da varanda
História desta quinta, encontrei um trecho interessante que passo a citar:
" referência à quinta Filipa d'Água, que fica em Alcaniça em Almada no Monte de Caparica. "
" O nome vem da sua instituidora, D. Filipa d'Água Leite Pereira, por volta de 1650."
"Com o nome original, apenas existe uma rua e agora uma rotunda na urbanização a norte da quinta."
"Existem notas sobre uma Capela. "
"Quanto aos edifícios que em tempos faziam a quinta, não me foi possível identificar, a saber: "(documento de 1868)..... arrendada a João Leitão, casas de habitação, adega, oficinas, tudo abarracado, vinha, árvores de fruto e terras de semeadura, a partir pelo Nascente com a estrada publica, Poente com Dona Maria Tomásia, norte com Francisco Nunes, e Sul com João Leitão, avaliada livre que é, em três contos cento e cinquenta mil reis. "
"O testamento de Guedes Pereira, explica a origem:
" Declaro mais que eu possuo uma quinta vinculada em morgado, instituída por João Gonçalves Castelo Branco e sua mulher Filipa d’Água Leite Pereira e meu pai com o dinheiro que havia dado para remissão da divida a que estava obrigada a dita quinta, à qual se anexaram algumas propriedades, a saber quinta grande de Alcaniça de que se pagam 40 réis de foro ao Convento da Rosa dos Paulistas e outra vinha que comprei no mesmo sitio de que se pagam oitocentos réis ao Convento de São Vicente de Fora e outro … juntei mais à dita quinta um quintal que nela tinha Tristão Guedes de Queiroz ; paga-se de foro 80.500 réis ou o que constar na assinatura do aforamento. Lisboa, ano de 1702"
Capela
de Nossa Senhora da Boa Esperança
Com data de 1589, porta para o
largo e entrada da sacristia para o átrio da quinta.
O
que faz transparecer? A capela de 1589 com orago
da capela o nome da quinta, porque assim acontecia noutras quintas das
redondezas. Sem saber se a casa é da mesma época (?)...o que não inviabiliza a propriedade já existir antes, uma forte possibilidade, porque estava na berma da estrada Almada/Sobreda.E por volta de 1650(?) supostamente a morgada Filipa d'Água na conceçao redutora típica de não conhecer a realidade da antiguidade da quinta, do seu nome primitivo(Nossa Senhora da Boa Esperança) e por ser boa pessoa, ajudar outros a quinta ganhou foro e vaidade do seu nome a se perpetuar na oralidade até hoje em ser conhecida pelo seu nome, Filipa d'Água (?).Em 1868, as confrontações a nascente com estrada pública, no local ainda existe resto do muro da quinta que a delimitava com a estrada.
Restos do muro da quinta que sustenta albergues em jeito de barracões onde senti vozes...
A janela ao fundo no canto esquerdo e outra que está tapada com um
anexo funcionou uma escola que uma das senhoras hoje com 83 anos, a
D.Helena aqui andou e um filho dela também.
O que estranhei?
A capela e a casa ligadas por um pátio com um portão em ferro forjado com data de 1883 e o nome Quinta de Nossa Senhora da Boa Esperança, o primitivo.
O que estranhei?
A capela e a casa ligadas por um pátio com um portão em ferro forjado com data de 1883 e o nome Quinta de Nossa Senhora da Boa Esperança, o primitivo.
Voltando
atrás, a quinta em 1589 tinha este nome que o perdeu por volta de
1650 (?) quando aqui morou Filipa d'Agua, para mais tarde em 1883 voltar a
ter o nome inicial , apesar de na oralidade o povo continuar ser conhecida por Filipa d'Água(?).
Disseram-me que a casa da quinta foi pertença da família, e
que o Fernão Mendes Pinto ( dizia a D.Helena, aquele da estátua que está no Pragal ) aqui viveu em pequeno (?). Ora não
pode ser verdade, ou pode (?) sabendo que Fernão Mendes Pinto nasceu por volta de 1509 em Montemor o Velho e morreu
em 1583 , tendo a capela a data de 1589, das duas uma, ou a
quinta já existia antes, uma grande probabilidade, que necessita de investigação para mais tarde ter sido construída a capela, ou então aqui nunca
viveu (?). Uma coisa é certa, aqui passou na mesma estrada onde estive a
caminho da quinta do Vale Roseiral na Sobreda .
Desde 1978 que recordo esta capela. Sem nada saber...Horror os fios de eletricidade e telecomunicações que se cruzam nos céus sem ordenamento, nem estética, só a pensar em pôr dinheiro no bolso, a empresa!
Teto abobadado com monograma sobreposto com dois "M" em evocação à Virgem Maria, pintado ao centro
encimado por uma coroa e um óculo na frontaria para dar luz e renovação
de ar.
Retábulo em talha branco com filetes a dourado, e altar, ao meio o oratório fechado por vidro com Nossa Senhora da Boa Esperança e dos lados duas mísulas com Nossa Senhora do Desterro e Santo António. Ao meio do altar um belo Cristo crucificado na Cruz com uma inscrição que só decifro Jesus de Nazaré...
Bela pia de água benta . No tempo anexos adoçados a sul provocando infiltrações estragaram a tijoleira do chão e as paredes. Tendo por isso sido o chão substituído por mosaico( se fosse em tijoleira artesanal) nem chocava, e as paredes por mural azulejar.
Sacristia pequena com chão em tijoleira primitivo e cómoda para guardar os paramentos da capela. Aqui foi celebrada missa ainda há poucos anos.No átrio de ligação da capela à casa da quinta dei de caras com uma grande pedra, que do outro lado pode ter um buraco, e ter sido uma pedra de lagar(?), porque aqui havia muita vinha, e esta quinta teve vinhas.
Um horror de anexos e casinhas no suposto lagar (?) adulteram a primitiva quinta, onde ainda se distinguem pelo menos dois arcos virados a sul.
Quinta da Boa Esperança
Sita na estrada do Casquilho na frente da quinta de Nossa Senhora da Conceição, ostenta data no portal de 1776 .
Restos de varandim em ferro forjado típico do séc. XVIII |
Resta a grande dúvida, quem mandou construir esta casa em 1776?
Um suposto herdeiro da quinta de Nossa Senhora da Boa Esperança, sita a sul (agora quinta Filipa d'Água), que se deslocou para norte da quinta para construir a sua casa na beira da estrada do Casquilho em 1776 (?).Ou então: Quinta de Nossa Senhora da Boa Esperança e Quinta da Boa Esperança são nomes distintos(?).
Voltar à quinta Filipa d'Água
Uma quintinha de uma herdeira com o nome Casal de S. João
Com as urbanizações adjacentes o jardim e a linha do Metro de superfície a norte de certa forma em harmonia estética, debalde depois da avenida a sul o total abandono, o que resta da quinta foi deixada ao desleixo em moldura entre canaviais de milhentas canas a dar com um pau, no meio uma parovela de lixo, semeada de anexos e barracões de madeira onde vive gente ... No mesmo o local do estaleiro do Metro de superfície, ainda assim a medo me aventurei sozinha a redescobri-la, tive a sorte de ter encontrado moradores muito simpáticos e acolhedores.
Silvas com amoras a transpor os muros e bungabílias...
Predominam contrastes na paisagem que se implementaram na década de 60/70 e na década de 90 no crescente abrupto de Bairros Sociais de rendas baixas, fora de portas de Almada, na Caparica, locais emblemáticos de vistas sobre Lisboa e a Arrábida, semeada de quintas esquartejadas dos seus terrenos outrora agrícolas, ficando à volta de 1000 metros quadrados em redor do casario com muita ruína, sem requalificação e outras simplesmente desapareceram totalmente para dar lugar a urbanizações...
A estação do Metro chama-se Boa Esperança
Ficaria bem à Câmara em parceria com a
Junta de Freguesia e dos Bombeiros proceder à limpeza dos arrabaldes circundantes do que resta da quinta conhecida por Filipa d'Água. As
pessoas pagam impostos por isso merecem viver no desafogo de lixo e
canavial. O que parece foi votada ao total abandono.
E se há algum morador que limpa o quarteirão da sua horta tem de primeiro proceder ao pagamento de uma taxa a Almada, avisar os Bombeiros e a Proteção Civil a dizer quando vai fazer a fogueira para queimar as canas e ainda tem de estar de prevenção com uma mangueira ligada, e mal acabada a fogueira tem de voltar a ligar aos bombeiros, a dizer que está tudo bem...
Visita para não se perderem as memórias do passado e das gentes!
E se há algum morador que limpa o quarteirão da sua horta tem de primeiro proceder ao pagamento de uma taxa a Almada, avisar os Bombeiros e a Proteção Civil a dizer quando vai fazer a fogueira para queimar as canas e ainda tem de estar de prevenção com uma mangueira ligada, e mal acabada a fogueira tem de voltar a ligar aos bombeiros, a dizer que está tudo bem...
Visita para não se perderem as memórias do passado e das gentes!
FONTES
http://quemencontrei.blogspot.pt/2015/04/a-quinta-filipa-dagua.html
Testemunhos da D.Helena e da D.Lurdes e mais um casal que lamentavelmente não perguntei o nome
ResponderExcluirSó hoje vi estes escritos publicados há 4 anos.
Saibam que dou muito valor a quem dá um pouco do seu tempo a escrever sobre coisas que o correr do tempo se encarregou de destruir.
Também eu conheci a Filipa d'Água e seus arredores como eram antes das invasões da "civilização", urbanizações, vias rápidas, e outras tais que vedaram acessos, destruíram caminhos com séculos de história.
Na minha infância, adolescência, juventude, percorri todos esses caminhos, conheci quase todas as quintas e o que lá se cultivava. Hoje grande parte delas está a "mato".
Frequentei muitas eiras de trigo no tempo das debulhas (o meu pai era da arte), noutros tempos uma faina muito movimentada e muito interessante, e trabalhei nalgumas dessas quintas com tractores.
Pilotei um tractor de 1904 (aprox.), rodas de ferro, motor de um só cilindro, alta cilindrada, a petróleo!
Curiosidades que caem no esquecimento, por exemplo aquela nascente de água fresca que existiu no caminho da Filipa d'Água para Norte, quase a chegar a Alcaniça, apareceu quando faziam a prospecção de petróleo aí por volta dos anos 1956-1958, e desapareceu com novos arruamentos quando o espaço rural foi urbanizado.
Estas coisas vão passando, ficam lá muito atrás e é bom recordar esses tempos...
Foi bom lembrar a escola primária da Filipa d'Água, conheci a professora, morava na rua do chafariz.
Bem haja por me (nos) fazer lembrar as "coysas antygas"
A nascente que refere poderia estar localizada onde começa a vala da enxurrada, precisamente no início do actual parque da Filipa d´Água? O topónimo Poço do Casal, que ficaria em frente da Quinta da Fomega, diz-lhe alguma coisa? Apreciei muito o seu comentário.
ExcluirCumprimentos,
Fernando Miguel
https://www.facebook.com/profile.php?id=100064656611102
Tem ideia se a nascente que refere se situava precisamente onde foi colocada uma simulação dum moinho de vento, quando da construção do parque da Filipa D´Água? Actuamente corre um fio de água para sul, que se pode considerar o início da Vala do Caramujo, com início no extremo norte do parque, e que corre para sul, mas que me parece ter origem artificial, provavelmente alimentada com água do Depósito do Raposo. A vala deixa de estar a céu aberto e volta a ele depois da estrada que segue para a estação do Pragal. O senhor tem alguma relação com um tractorista que habita a norte do Bairro dos Cooperativistas?
ExcluirFernando Miguel
Peço desculpas. Só agora li as v/ questões.
ExcluirDe facto a tal nascente que referi, a norte da quinta da Filipa d'água, não era do lado da quinta da Boa Esperança, mas sim do lado de Alcaniça. Na azinhaga que tinha início na Urraca de baixo, passava pela entrada da Quinta Grande, pelo lugar de Filipa d água, depois pela Quintinha, Quinta das Moucas e finalmente Alcaniça.
A vala referida, que vai correndo pelo parque, segue uma zona de Vale pré existente, depois entronca na vala da Vale de Mourelos, que vem desde o fundo da Quinta da Silveira de Cima.
Outra questão, o poço do casal, frente a Quinta da Fomega, eu conheço pelo poço do Pló. Ainda lá está, noutros tempos ficava em frente de um pequeno comércio do Sr. Pló.
O que aparece referenciado como Quinta do Poço do Casal, nomeadamente em cadernetas prediais, é a zona a sul da Quinta que foi de Francisco Duarte Canelas, actualmente dividida em três propriedades. Referenciou aí três poços, um dos quais se situa, soterrado, devido ao alargamento da antiga azinhaga da Filipa d,Àgua.O que está mais a sul pertenceria à Quinta Grande, num triângulo que confluía para a outra quinta a este que me lembro ser do senhor Marques que teve uma venda de leite. Quanto ao moinho simbólico, resultado da intervenção do IGAPHE, dá a ideia de que daí partia um linha de água, pois há uma pequena vala seca em direção à vala que actualmente é visível a partir do início do parque, está com água. Até aí o percurso da água é subterrâneo. Sabe onde é a nascente ou se a alimentação é oriunda artificialmente da estação elevatória do Raposo. Muito obrigado pela sua anterior resposta.
ExcluirAndei na escola da Filipa d'agua.
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